Interaction concept analysis based on the wilsonian method. A reflective study

Análise do conceito de interação fundamentada no método wilsoniano

Leila Moraes*, Mônica Oriá*, Lorita Pagliuca*

*Federal University of Ceará, CE, Brazil

 

 Abstract. Critical analysis of the interaction process in the nursing areas to develop a concept. Reflective study based on the wilsonian method of conceptual analysis. We analyze critically ten articles regarding the interaction process to identify the essential and non-essentials concept characteristics. The results were presented in accordance to the steps designed by the method. The essential characteristics were, as follows: interest, attention, sensitivity, wills, comprehensive language and communication between the involved ones and with the self. There was only one non-essential characteristic: the non-interaction. The Wilson method enables the discovery of the essential concept elements in order to let it clear, besides being efficient and of friendly use.

Keywords: interpersonal relations; concept formation; nursing

 Resumo. Análise crítica do processo de interação nas áreas da enfermagem para desenvolver um conceito. Estudo reflexivo baseado no método wilsoniano de análise conceitual. Analisaram-se criticamente dez artigos relacionados à interação para identificar as características essenciais e não-essenciais do conceito. Os resultados foram apresentados de acordo com os passos propostos pelo método. As características essenciais foram: interesse, atenção, sensibilidade, vontade, linguagem compreensiva e comunicação entre os envolvidos e consigo mesmo. Houve uma característica não-essencial: a não-interação. O método de Wilson possibilita a descoberta dos elementos essenciais do conceito com o propósito de torná-lo claro, além de ser eficaz e de fácil utilização.  

Palavras-chave: Relações interpessoais, formação de conceito, enfermagem.

  

Introdução

Como conceito, interação requer atenção e um estudo reflexivo, pois é a partir da interação estabelecida entre enfermeiro e cliente que ocorre o cuidado de enfermagem. Conceitos são abstrações, imagens mentais de um fenômeno com uma classificação que os distingue de outros fenômenos ou classes de fenômenos(1). Assim, os conceitos refletem observações, inferências, ações intuitivas e uma representação sistemática dos fenômenos.

Contudo, o conceito de interação pode ter uma variedade de significados. O processo de interação, por exemplo, foi classificado em interação simbólica (quando na interação entre os objetos emergem significados/símbolos) e não-simbólica (quando não emergem significados/símbolos)(2). Além disso, conforme alguns autores, o homem estabelece interação com objetos pessoais, físicos e abstratos(2). Dessa forma, a interação não está presente somente na promoção do cuidado de enfermagem, mas também nas diversas relações interpessoais, na interação do homem com a natureza, com sua espiritualidade, com seu self.

Outras disciplinas também utilizam o conceito de interação para construir as bases teóricas para sua práxis. Contudo fomos impulsionadas a conhecer e analisar criticamente o conceito de interação utilizado nas diversas áreas da enfermagem de forma a desenvolver um conceito acurado de interação passível de ser amplamente utilizado pelos enfermeiros.

 Método

O método wilsoniano de análise de conceito constituiu a base para o desenvolvimento deste estudo. Segundo esse método, a análise de conceito é relevante para o desenvolvimento da habilidade de responder a questões de natureza conceitual concedendo estrutura e propósito ao pensamento(3). Conforme observamos, este método foi considerado de fácil utilização, inclusive por estudantes de nível médio, tornando-se útil para clarificar o pensamento e a comunicação, além de ser uma estratégia particularmente viável para os casos nos quais o conceito é vago ou tem mais de um significado(3;4).

Didaticamente o método wilsoniano divide a análise de conceitos em onze passos, a serem seguidos na ordem proposta, embora alguns possam ser omitidos e o examinador os transfira para o seguinte. Omitir ou não algum passo vai depender da sensibilidade do analista ao fazer uso desta técnica, bem como do conceito que está sendo estudado(3).

A análise de cada um dos passos permitiu a elaboração de um diagrama para a melhor compreensão do método utilizado (Figura 1). Como evidenciado, o diagrama se divide em três setores específicos: lateral esquerdo, central e lateral direito.

Os passos que constituem o setor lateral esquerdo (Passos 1 e 2) revelam os momentos iniciais da análise de conceito em que o analista consolida as questões a serem investigadas. No setor central do diagrama (Passos de 3 a 7) buscam-se casos modelo, contrários, relacionados, limítrofes e imaginários na tentativa de identificar características essenciais e não-essenciais do conceito. Se for oportuno, é nesse setor que alguns dos passos podem ser omitidos. Por fim, os passos do setor lateral direito (Passos de 8 a 11) constituem os momentos nos quais o analista relaciona o conceito ao contexto social onde está inserido, surgindo novos questionamentos a serem respondidos para alcançar os resultados práticos e a consolidação do conceito.

 

Para dar prosseguimento ao estudo, a busca da literatura relacionada ao conceito de interação na área da enfermagem foi realizada na base de dados do LILACS, sendo encontradas 22 referências, das quais dez eram teses e doze artigos de periódicos. Diante da dificuldade de acessar as teses, utilizamos para este estudo somente os artigos. Entre os doze artigos listados, dois não foram localizados. Portanto, o estudo realizou a análise crítica de dez artigos. Cada um dos artigos foi lido e analisado pelas autoras sempre com vistas a identificar as características essenciais do conceito de interação. Os resultados serão apresentados de acordo com os passos propostos.

Resultados

  1. Isolamento das questões de conceito

O modelo distingue três tipos de questões as quais devem ser diferenciadas ao se analisar um conceito: questões de fato, aquelas que podem ser respondidas com o conhecimento disponível; questões de valor, respondidas baseadas em princípios morais de um indivíduo ou de uma sociedade; e questões de conceito, as quais envolvem significados e cujas respostas dependem do ponto de vista de quem analisa.

Embora o processo de interação seja necessário e indispensável à prática efetiva de enfermagem, isso não implica ser ele usado adequadamente por todos os enfermeiros. Como percebemos, tem sido comum a diminuição do envolvimento dos profissionais da área da saúde no processo de interação com os usuários(5), mas, segundo sabemos, no campo da saúde isso é praticamente impossível, pois interagir é um elemento-chave para quem cuida de gente. Na enfermagem, de modo especial, a interação deve ser vista como uma ponte que media o processo de comunicação humana, sendo, portanto parte integrante do cuidado de enfermagem(6).

Enfermagem é definida como um processo significante, terapêutico, interpessoal e educativo pelo fato de envolver interação entre duas ou mais pessoas, com meta comum, tendo como funções cooperar com outros processos humanos que tornam a saúde possível a pessoas e comunidades. É uma relação entre um indivíduo que está doente ou necessitado de serviços de saúde e um enfermeiro preparado para conhecer e responder às necessidades de assistência ao cliente. Esta meta proporciona o incentivo ao processo terapêutico, onde os envolvidos nessa relação, enfermeiro e cliente, aprendem e crescem como resultado da interação(7).

Apesar de a função educadora da enfermagem ser motivadora de mudanças de comportamentos nos aspectos de saúde, é necessário uma interação efetiva para ocorrer o processo de aprendizagem entre enfermeiro-cliente(8). Logo, diante deste contexto, utilizamos para o desenvolvimento deste estudo as seguintes questões norteadoras: 1. O que é interação? (questão de conceito); 2. A interação interfere nas respostas do cliente mediante o cuidado prestado pelo enfermeiro? (questão de fato); 3. A interação estabelecida entre enfermeiro e cliente é significativa para ambos? (questão de valor). Essas três questões serão respondidas à medida que avançamos nos passos propostos pelo método. 

  1. Descoberta de respostas certas

De maneira geral as questões de conceito têm mais de uma resposta correta, porém é insensato supor que os conceitos são completamente ilimitados e podem ser definidos aleatoriamente(3). Portanto, ao se analisar um conceito se faz preciso determinar os elementos essenciais e não-essenciais ao seu núcleo. Um conceito pode ser usado em dois ou mais contextos diferentes, cada um implicando um significado diferente.

A respeito dos elementos essenciais e não-essenciais do conceito, o analista deve ter sensibilidade aguçada para poder proceder a uma análise bem-sucedida, necessitando de clareza da linguagem e comunicação. Logo, nesse momento tenta-se identificar o núcleo do conceito mediante determinação dos elementos essenciais e não-essenciais, buscando na literatura informações sobre o conceito em análise. Assim, os artigos encontrados na base de dados foram lidos e analisados exaustivamente a fim de encontrar os elementos essenciais e não-essenciais do conceito de interação.

Interação pode parecer um conceito simples, mas a partir da literatura consultada evidenciamos  uma complexidade de significados de acordo com cada área estudada. Iniciamos nossa trajetória buscando os conceitos de interação constantes nos dicionários de sociologia. Assim, interação “significa atos, ações, atividades e movimentos inter-relacionados de dois ou mais indivíduos, mas também de animais e objetos, como as máquinas. Em geral, a palavra significa uma influência recíproca ativa” (9:391).

A interação envolve

“uma relação recíproca em um contexto social. Embora esse fato possa parecer óbvio, o conceito de interação repousa sobre uma distinção importante entre ação e comportamento. Comportamento inclui tudo que o indivíduo faz, de se coçar a escrever um romance ou jogar futebol. Ação, contudo, é um comportamento intencional baseado na idéia de como outras pessoas o interpretarão e a ele reagirão” (10:131).

 

Segundo evidenciam essas definições, a interação ocorre em diferentes situações e contextos sociais envolvendo pessoas e objetos. Contudo, além disso, a interação também ocorre na ação conjunta do homem com a natureza, com os animais, com seus sentimentos e consigo mesmo (self).

Como, de modo particular, a enfermagem é constituída de gente que cuida de gente, ressaltamos ainda a importância das trocas de experiências entre aqueles que se dispõem a escutar(5). Portanto, os aspectos da interação que dizem respeito à relação entre os indivíduos devem fundamentar nossa análise. Assim, a interação “é um processo de percepção e comunicação entre a pessoa e o ambiente e entre uma pessoa e outra, representada por comportamentos verbais e não-verbais, voltados para um objetivo”(11:145). Todos estes aspectos são importantes e devem ser considerados para a prática de enfermagem. Os passos seguintes discutirão os elementos essenciais da interação. 

  1. Casos modelo

Se considerarmos o setor central do diagrama, o método wilsoniano se refere aos casos estudados para identificar as características essenciais do conceito. Então, devemos nos perguntar: O que é essencial ao conceito de interação? Quais características não são essenciais?

Ao analisarmos a literatura encontramos vários elementos que podem ou não estar ligados ao conceito de interação. Entre esses elementos, sobressaem o processo de comunicação e a linguagem, habilidades ao relacionamento interpessoal, interação como um processo de comunicação entre os interlocutores com o surgimento de perguntas e respostas, a fim de se obter uma melhor compreensão do que se quer comunicar(6). Além disso, a interação é algo que media o processo de comunicação tornando-se integrante do cuidado(6).

Como processo, a interação envolve troca, é relacionar-se, juntar-se, momento de encontro, conversar, perceber, ouvir, escutar, enfim é um olhar caloroso, um sorriso acolhedor ou não(5;12). Logo, as leituras dos textos identificaram que as relações interpessoais e intrapessoais constituem exemplos típicos de interação. Assim, interação, relação interpessoal e intrapessoal possuem diversos elementos comuns, quais sejam: interesse, atenção, sensibilidade, vontade, linguagem compreensiva e comunicação.

Quando duas ou mais pessoas se encontram e existem o interesse e a vontade de estabelecer uma relação interpessoal, faz-se necessário lançar mão de estratégias que a viabilize. Nisso reside a relevância da atenção, linguagem compreensiva e comunicação para se estabelecer um processo interativo. Entretanto esse processo não se restringe à relação entre as pessoas, pois também se instaura com o self de cada indivíduo de forma a estabelecer uma relação intrapessoal.

Em alguns momentos o enfermeiro não mantém uma excelência na interação interpessoal com seus clientes por diversos motivos, a exemplo do medo do contágio e morte(13),  ou por não querer se envolver sentimentalmente. Isso denota a importância do autoconhecimento para o processo de interação, seja intrapessoal ou interpessoal.

Sobre interações enfermeiro-cliente elas possuem elementos comuns, embora desenvolvidos de forma diferente por cada um dos envolvidos no processo interativo. Portanto, é necessário reconhecer cada indivíduo com suas particularidades e sentimentos. O papel do enfermeiro no ato de cuidar é fazer com que o cliente desenvolva e reflita um entendimento sobre suas respostas emocionais e um significado de seu comportamento. Para isso o enfermeiro deve ser sensível às carências do cliente, aceitando-o como ele é de fato (14).

Na relação intrapessoal é necessário nos conhecermos a fim de percebermos que podemos afetar e sermos afetados pelo comportamento do outro, compreendendo assim por que o cliente pode reagir de formas distintas a um mesmo estímulo. Na realidade somos muito mais sensíveis a interações do que a estímulos. No ato de nossas interações é importante atentar para as reações que provocamos nos outros e em nós mesmos, a fim de caminharmos em direção ao autoconhecimento(8).

  1. Casos contrários

Por ser a interação um fenômeno que ocorre entre os homens, os objetos, a natureza e até mesmo com o self, a nosso ver é algo bastante presente no cotidiano do ser humano, tornando-se difícil visualizar seu caso contrário. Dessa forma, o caso contrário seria a “não-interação” que se estabelece a partir da ausência dos elementos característicos da interação, ou seja, a não-interação ocorre quando no encontro de duas ou mais pessoas não existem a atenção, o interesse, a vontade de interagir, de relacionar-se, de comunicar-se com o outro.

Isso é especialmente possível quando deixamos de interagir com os clientes e passamos a nos dedicar ao mero cumprimento de tarefas, à burocracia, ao gerenciamento dos serviços sem uma visão de coletividade, sem perceber as reais necessidades dos clientes.

Outro exemplo de não-interação seria a solidão tão freqüente na sociedade contemporânea, fruto da tecnologia exacerbada e do modelo econômico vigente, que privilegia uma minoria, além do estresse, da violência urbana, os quais levam as pessoas a se privarem em seu próprio mundo. Vale ressaltar que a solidão evita o contato, a comunicação, o diálogo com o outro, mas não impede que o sujeito solitário interaja consigo mesmo. Logo, não se pode absolutizar a não-interação. Este conceito seria relativo a diferentes situações.  

  1. Casos relacionados

Ao considerar que os conceitos não existem isoladamente, Wilson propôs o estudo de conceitos possivelmente relacionados ao conceito em análise. De alguma maneira os conceitos ou casos semelhantes estão relacionados entre si. Desse modo, é por meio do exame crítico da rede de conceitos que o analista pode gerar idéias sobre quais características do conceito estudado são essenciais ou não(4).

Na análise do conceito de interação foram evidenciados casos relacionados, os quais muitas vezes chegam a confundir o examinador, quais sejam: relacionamento terapêutico, comunicação, encontro e conversa.

No referente a interação e relacionamento terapêutico ambos possuem em seu entendimento características muito próximas. No entanto, pode-se estar interagindo sem haver um relacionamento terapêutico. Sobre esse aspecto, segundo evidenciamos, para a interação ser terapêutica se faz necessário que o enfermeiro reconheça o cliente como um ser único, importante e dotado de sentimentos como todas as outras pessoas, e que sua situação também é peculiar(12). Embora as interações terapêuticas possuam elementos comuns, elas são desenvolvidas de forma diferente por cada pessoa, conforme as características dos indivíduos envolvidos(12).

Ao se analisar o conceito interação, a comunicação foi um dos casos relacionados mais evidentes, pois é tida como a competência essencial e o maior meio para se alcançar o processo de relacionamento interpessoal(12), anteriormente apresentado como caso modelo em decorrência de possuir as características essenciais da interação.

Na interação enfermeiro-cliente, a comunicação ocorrida é fundamental, essencial e parte integrante do cuidado de enfermagem. Além disso, essa interação é facilitada quando há liberdade entre os interlocutores para se estabelecer uma linguagem compreensiva(6).

 6.      Casos limítrofes

Os casos limítrofes são definidos como aqueles em que o examinador não tem um consenso se determinado caso é ou não um exemplo do conceito estudado, onde ele passa a usar os exemplos difíceis de classificar. Dessa forma fica mais fácil o examinador identificar os elementos essenciais e não-essenciais do conceito analisado(4).

Em nossa análise entendemos o conceito de troca como um conceito limítrofe, pois embora enfermeiro e cliente possam estar interagindo, pode não estar havendo troca entre ambos ou com o próprio meio em que se dá a ação. Essa troca pode incluir experiências vividas, conhecimentos e sentimentos.

Aspectos como olhares, sorrisos, cumprimentos e até conversas descontraídas são tidos como interação(12), contudo nem sempre há troca entre as pessoas envolvidas na relação, porquanto olhares, sorrisos e cumprimentos podem não ser retribuídos, assim como pode não haver envolvimento e atenção de um dos participantes para com o outro. 

  1. Casos imaginários

O exame de casos imaginários deve ocorrer quando o examinador não consegue descobrir um número suficiente de exemplos diferentes para clarificar o conceito, ou seja, ele retira o conceito e seus elementos a partir de sua própria experiência de vida e profissional. Ainda conforme sugere Wilson tomar um conceito fora do seu contexto e usar a imaginação para compreender a experiência real é uma maneira proveitosa de alcançar os elementos essenciais do conceito em estudo(4).

Em virtude de os componentes relacionados à interação já terem sido discutidos nos casos modelo, contrários e relacionados, optamos por omitir esta etapa da análise. 

  1. Contexto social

Para analisar a natureza essencial do conceito é preciso conhecer o contexto social, particularmente as diferenças culturais, regionais e disciplinares. Para tanto, o examinador deve questionar ou avaliar quem, quando e por que deve usar o conceito, construindo assim o contexto social adequado para o uso do conceito. Por isso torna-se importante considerar a cultura da população na qual o conceito estudado está inserido e a utilização de linguagem compreensiva(3).

Durante nossa análise, segundo percebemos, a interação é utilizada nos mais diversos contextos, o que ratifica a relevância da interação. Ao mesmo tempo fica evidente que o conceito de interação é variável. Portanto, certos elementos essenciais às vezes estão mais evidentes do que outros, de acordo com uma área ou situação específica.

Para clarificar essa idéia citamos dois exemplos de situações vividas por enfermeiros de áreas distintas. A primeira seria a interação enfermeiro-cliente durante um relacionamento terapêutico, momento em que todos os elementos essenciais da interação (interesse, atenção, sensibilidade, vontade, linguagem compreensiva e comunicação) devem estar presentes para alcançar a meta desejada. A segunda situação diz respeito à interação enfermeiro-cliente vivenciada em uma UTI com um cliente comatoso. Nesse caso a interação está prejudicada porque o cliente não pode responder diretamente aos estímulos do enfermeiro que lhe presta cuidado. Contudo, a interação não deixa de existir porque o enfermeiro tem interesse, atenção, sensibilidade e vontade em prestar o cuidado ao cliente e, portanto, interage com ele.

Além desses fatores, por sermos profissionais em constante interação com as pessoas, devemos nos lembrar das diferentes crenças, valores e culturas que permeiam essas relações, estando conscientes da influência que sofremos e exercemos mutuamente por meio da linguagem(8).

Logo, ao realizarmos o cuidado de enfermagem, a interação deve ser vista como um mecanismo de adaptação do processo saúde-doença, pois ao investir na interação cliente-equipe de saúde-família-sociedade estamos contribuindo de forma significativa para o sucesso do cuidado, fortalecendo a não exclusão e o não-preconceito no ato de cuidar(13).

  1. Ansiedade subjacente

Na perspectiva do método wilsoniano, ao identificar os elementos essenciais do conceito e inseri-lo em um contexto social, surge a preocupação ou inquietação com a formação de bases para agir, ou seja, surge uma ansiedade em se saber para qual propósito o conceito será utilizado(4).

Ao analisarmos o conceito de interação vêm à tona novos questionamentos, tais como: Interação é uma forma de cuidado? Como outras disciplinas vêem a interação? Existem discussões na enfermagem sobre interação ou possíveis problemas gerados por ela? As discussões sobre interação são controversas?

Responder esses questionamentos é um exercício que finda na construção de respostas com caráter intensamente subjetivo as quais exigem do leitor uma reflexão ainda mais profunda. Contudo, advertimos a interação em si não é uma forma de cuidado, mas um meio para se alcançar o cuidado, e quanto mais desenvolvida em sua plenitude, com todas as suas características essenciais, mais proveitosa será ao cuidar humano.

Em termos de disciplina, a enfermagem vem cada vez mais se apropriando e reconhecendo a importância dessa prática de interagir, pois como já citado é um dos meios indispensáveis ao cuidado. Quanto às outras disciplinas, especificamente aquelas da área de saúde, elas também devem estar atentas para a importância da interação como a base da assistência prestada, principalmente ao homem moderno nascido junto com a tecnologia, o qual tem se revelado carente de relacionamentos interpessoais, comunicação com o outro e consigo mesmo.

Em relação a discussões sobre interação e possíveis problemas gerados por ela, elas são comuns em nosso meio profissional, pois um dos casos relacionados à interação é a comunicação, cuja excelência não é um processo tão fácil de alcançar, exigindo habilidade pessoal e profissional diante de algumas situações, tornando indispensável a utilização de instrumentos, técnicas, passos e características essenciais à sua realização. Essas discussões podem gerar problemas na enfermagem e com seus pares mas são fundamentais ao crescimento e amadurecimento da profissão como ciência.  

  1. Resultados práticos

O entendimento de um conceito deve promover alguma diferença em nossas vidas. Portanto, ao analisar o conceito de interação, percebemos seus elementos essenciais e tentamos identificar seus resultados práticos. Logo, nessa fase do modelo de análise são apontados os resultados possivelmente úteis para a prática diária da disciplina(3).

Dessa forma, o estudo do conceito de interação é relevante para o contexto vivenciado hoje quando na proposta do HumanizaSUS há um destaque especial para o processo de interação. Não se pode humanizar um serviço sem estimular a interação entre os atores que compõem o SUS. Preocupado com a fragmentação da rede assistencial e com a precária interação nas equipes e despreparo para lidar com a dimensão subjetiva nas práticas de atenção(15), o Ministério da Saúde propôs a Política Nacional de Humanização (PNH). A discussão das estratégias de implementação dessa política perpassa por uma correta interação entre os sujeitos e os espaços de gestão do SUS. Como é notório, o contexto social atual é tão alarmente que na PNH o Ministério da Saúde faz menção a uma

pesquisa recente que aponta que 72% das pessoas não confiam em ninguém, afirmou considerar como o desafio mais complexo, entre os inúmeros existentes, a superação da degradação das relações pessoais. Com a falta de interação entre os sujeitos, as ações de saúde perdem eficácia e as pessoas são reduzidas a objetos: tanto usuários como trabalhadores e gestores ficam submetidos a diferenciados coeficientes de desumanização(15:8).  

Portanto, a enfermagem deve estar consciente da necessidade de estabelecer efetivas interações com o cliente e com os membros da equipe multi e interdisciplinar, e da relevância desse processo para a construção da humanização, da cidadania e qualidade de vida de quem cuidamos. Vale ressaltar que “humanização se mede pela assistência prestada (...) que considere além do biológico, a empatia, respeito, troca de conhecimento, segurança, a escolha e participação ativa promovendo assim, uma assistência cidadã” (16)

  1. Linguagem dos resultados

Essa é a etapa final do método de análise. Nesse momento o analista define o conceito e seus elementos essenciais para identificar-lhe o melhor significado. Logo, diante do que foi analisado, a interação é um processo que envolve duas ou mais pessoas as quais, ao expressarem interesses, atenção, vontade e sensibilidade, relacionam-se entre si por meio de uma linguagem compreensiva para poder ocorrer a comunicação entre os envolvidos e consigo mesmo.

 

 

Considerações finais

O modelo de análise de conceitos proposto por Wilson possibilita a descoberta dos elementos essenciais do conceito com o propósito de torná-lo claro. Além disso, caracteriza-se por ser eficaz, de fácil utilização, não complicado e constitui uma estratégia útil para estimular o pensamento crítico na enfermagem.

Embora seja útil, devemos ressaltar suas limitações, pois o método não possibilita a produção de conceitos novos, não responde a todas as questões nas quais os conceitos podem ser utilizados em uma disciplina e nem pode dizer quais conceitos são mais adequados para a enfermagem.

O estudo de conceito na enfermagem é relevante para identificar quais deles são de interesse para a fundamentação da enfermagem como ciência. Por meio do estudo dos conceitos, alunos de enfermagem e os próprios enfermeiros fazem perguntas e tentam respondê-las, e, desse modo, contribuem para o desenvolvimento de um pensamento crítico, reflexivo e científico.

No decorrer da análise, o conceito de interação apresenta como características essenciais processo de comunicação e linguagem, habilidades ao relacionamento interpessoal e terapêutico, algo integrante do cuidado, que envolve troca, atenção, percepção, escuta, interesse, vontade de interagir, de relacionar-se, de comunicar-se com o outro. Se não houver essas características no ato da interação, surgem os casos contrários do conceito de interação. No conceito de interação identificamos sua relação direta com o relacionamento terapêutico, a comunicação, o encontro e a conversa.      

As análises produzidas por este estudo destacam a importância do conhecimento sobre interação para a prática do cuidado de enfermagem. Portanto, à medida que refletimos sobre o nosso fazer, buscamos a excelência do cuidado, da nossa prática profissional e da competência para o cuidado(8).  

Referências

      (1)   Meleis A. Theoretical nursing: definitions and interpretations. In: King I, Fawcett J, editors. The language of nursing theory and metatheory. Indianapolis (IN): Center Nursing Publishing; 1997. p. 31-40.

     (2)   Blumer H. Symbolic interactionism: perspective and method. Englewood Cliffs (NJ): Prentice-Hall; 1969.

     (3)   Wilson J. Thinking with concepts. Cambridge: Cambridge University Press; 1963.

     (4)   Avant K. The Wilson method of concept analysis. In: Rogers B, Knafl K, editors. Concept development in nursing: foundations, techniques and applications. 2nd ed. Philadelphia: W.B. Saunders; 2000. p. 55-64.

     (5)   Souza R, Pereira M, Kantorski L. Escuta terapêutica: instrumento essencial do cuidado em enfermagem. Rev Enferm UERJ 2003;11(1):92-7.

     (6)   Stefanelli M. Importância do processo de comunicação na assistência de enfermagem. Rev Esc Enferm USP 1981;15(3):239-45.

     (7)   Peplau HE. Relaciones interpersonales en enfermería: um marco de referência conceptual para la enfermería psicodinâmica. Barcelona: Masson-Salvat; 1993.

     (8)   Silva LM, Brasil VV, Guimarães HC, Savonitti BH, da Silva MJ. Non-verbal communication; reflections on body language. Rev Lat Am Enfermagem 2000 Aug;8(4):52-8.

     (9)   Outhwaite W, Bottomore T. Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1996.  

    (10)   Johnson AG. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1997.

    (11)   King I. A theory for nursing: systems, concepts, process. New York: John Willey & Sohs; 1981.

    (12)   Arita D, Fonseca A, Faleiros M. Vivendo a ressignificação do conceito de doente mental através da relação interpessoal: um relato de experiência. Cogitare Enferm 2002;7(1):84-8.

    (13)   França I. Convivendo com a soropositividade HIV/AIDS: do conceito aos preconceitos. Rev Bras Enferm 2000;53(4):491-8.

    (14)   Taylor CM. Manual de enfermagem psiquiátrica de Meness. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1992

   (15)   Ministério da Saúde (BR). Oficina Nacional HumanizaSUS: construindo a Política Nacional de Humanização. Brasília (DF); 2004.

 (16) Simões, SMF; Jesus, DV; Boechat, JS;. Delivery and birth humanization: policy for reducing the morbidity and the mortality of the mother and neonatal – Preview Note. Online Braz J. Nurs (OBJN-ISSN 1676-4285) [online] 2005 August; 4(2) Available in: www.uff.br/nepae/objn402simoesetal.htm

Received May 5th, 2006

Revised Jul 24th

Accept Aug 21th, 2006