RESUMO DE TESES E DISSERTAÇÕES

 

Gerenciamento do cuidado prestado pelo enfermeiro a clientes em terapia intensiva: análise de conteúdo

 

 

Viviane Pinto Martins Barreto1, Teresa Tonini1, Beatriz Gerbassi Costa Aguiar2

1Universidade Federal Fluminense
2Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

 


RESUMO
Objetivos: identificar o processo gerencial do enfermeiro no cuidado direto prestado ao cliente internado em terapia intensiva; caracterizar como o processo de trabalho do enfermeiro intensivista direciona o cuidado ao cliente e; discutir o processo gerencial do cuidado direto no trabalho realizado pelo enfermeiro intensivista.


Método: estudo descritivo de abordagem qualitativa, realizado com 16 enfermeiros. Para a coleta de dados se utilizaram a entrevista semiestruturada, observação não participante e diário de campo. Os resultados foram categorizados e submetidos à análise de conteúdo de Bardin.

Resultados: o enfermeiro tem dois eixos norteadores de suas ações: mapa mental e real. Os desenhos feitos no mapa mental partem de um único centro, onde são irradiadas as informações. Todavia, ao implantar o planejamento elaborado mentalmente, criam um mapa real por se configurar como ação de fazer.

Conclusão: No gerenciamento da assistência, o enfermeiro se vê próximo ao cliente, ainda que não execute cuidados diretos.

Descritores: Enfermeiro, Gerência do Cuidado, Terapia Intensiva.


 

INTRODUÇÃO

Trata-se da gerência do cuidado direto prestado pelo enfermeiro a clientes internados em Centro de Terapia Intensiva (CTI). Observa-se que o desempenho do enfermeiro na gerência do cuidado direto tem sido direcionado com certo distanciamento do cliente, na medida em que buscam se envolver, durante seus plantões, com as ações gerenciais do cuidado indireto em termos administrativos. Parece haver delegação do cuidado direto aos demais membros da equipe sob sua responsabilidade. O gerenciamento do enfermeiro na prática clínica se fundamenta nas necessidades burocráticas e formais da organização(1). Neste processo, o profissional privilegia e compromete-se muito mais com os objetivos organizacionais, em detrimento do alcance de objetivos individuais dos funcionários e clientes, gerando descompassos provocadores de tensões, desmotivações e descrenças no âmbito do trabalho.

 

OBJETIVOS

1- Identificar o processo gerencial do enfermeiro em relação ao cuidado direto prestado ao cliente internado em terapia intensiva; 2- Caracterizar como o processo de trabalho do enfermeiro intensivista direciona o cuidado ao cliente em terapia intensiva; 3- Discutir o processo gerencial do cuidado direto no trabalho realizado pelo enfermeiro intensivista ao cliente internado em terapia intensiva.

 

MÉTODO

Pesquisa qualitativa, tipo descritiva, desenvolvida em um CTI e Unidade Coronariana de um Hospital Federal Universitário localizado no Rio de Janeiro. Foram entrevistados 16 enfermeiros, no período de maio a junho de 2008. Os resultados foram categorizados e submetidos à análise de conteúdo segundo Bardin(2), a partir da qual foi constituído o esqueleto-síntese que serviu de base para a discussão dos resultados. A pesquisa foi aprovada por Comitê de Ética, sob o número CAAE 0030.0.258.000.08.

 

RESULTADOS

O profissional tem dois eixos norteadores de suas ações que podem ser classificados como uma cartografia do processo de gerenciamento em enfermagem, ora denominados de mapas mentais e reais(3). Os mentais funcionam como o cérebro, sendo cada parte associada com o restante, criando conexões entre os conceitos de planejamento, intervenção e avaliação estabelecidos para cuidados de enfermagem relacionados à gestão de pessoal, material, equipamentos e tempo. O mapa real se configura como ação de fazer caracterizada por cuidado direto, cuidado indireto e atos burocráticos. Independente do mapa, o cliente é o objeto de cuidado do enfermeiro sob o princípio “bem cuidado”.

 

DISCUSSÃO

O enfermeiro se reconhece perto ao cliente, mesmo quando em atividades de cuidado indireto, uma vez que supervisiona o trabalho de sua equipe. Com foco no cliente em seu processo de trabalho, ele norteia suas ações a partir da gravidade do quadro clínico da clientela para avaliar a competência e escala de quem prestará os cuidados, estabelecer o espaço a ser ocupado e o tempo utilizado para cuidar, identificando o momento para intervenção. A característica marcante do cliente em terapia intensiva é sua gravidade e o risco iminente de morte, exigindo o saber fazer e o saber decidir do enfermeiro intensivista para avaliar e observar criteriosamente as necessidades/demandas de clientela; tomar decisões rápidas; dominar o complexo aparato tecnológico. Complexo porque se constitui de tecnologia leve, em que o enfermeiro é o instrumento-ação do cuidado direto que valoriza a subjetividade do cliente(4,5). Os enfermeiros dominam uma cultura construída em seus quadros temporais do processo de cuidar. O tempo pode ser considerado como cultura e tratado como princípio organizador das atividades, prioridades e materiais para atendimento de situações (in)esperadas. No mapa mental, ordenam-se ideias e tarefas com base em dados concretos do plantão, escala mensal e materiais/equipamentos disponíveis para gerenciamento do cuidado macro e indireto. Assim, realiza contínuas atividades com empenho, perseverança e obstinação em se desincumbir delas. Todavia, as descontinuidades existentes no seu processo gerencial, oriundas de más condições de trabalho, justificam comportamentos de obstinação cujos reflexos levam ao aparente afastamento do cuidado direto. O mapa real refere-se a orientações, supervisão, avaliação do cliente e da equipe de enfermagem, cuidado direto prestado ao cliente e ações burocráticas. Ele desempenha tarefas não como um executor de procedimentos, mas como profissional qualificado que avalia o cliente de forma integral e diagnostica suas necessidades, realiza intervenções de enfermagem e interage com os outros profissionais inseridos no cuidado ao cliente a fim de suprir todas as necessidades por ele apresentadas. Embora pouco tempo seja dedicado ao cuidado direto, ele ainda foca o cliente. Quando delega ações/atribuições privativas, ele supervisiona o cuidado prestado. Todavia, deve-se atentar para superposição de atribuições limitadoras ao contato com cliente.

 

CONCLUSÃO

No gerenciamento da assistência de enfermagem , cuja meta é o cliente bem cuidado, o enfermeiro se vê próximo ao cliente, ainda que não execute cuidados diretos. Há valorização do planejamento para cuidar de cliente crítico e oferecer condições adequadas de trabalho.

 

REFERÊNCIAS

1. Trevizan MA, Mendes IAC, Shinyashiki GT, Gray G. Nurses' management in the clinical practice: problems and challenges in search of competence. Rev Latino-Am Enfermagem. June 2006; 14(3):457-60.

2. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2008.

3. Triboli EPR. Mapas Mentais: uma introdução. São Caetano do Sul: Escola de Engenharia Mauá; 2004.

4. Figueiredo NMA, Carvalho V. O Corpo da Enfermeira como instrumento do cuidado. Rio de janeiro: Revinter; 1999.

5. Tonini T. Enfermeira instituída/instituinte: a subjetividade das estratégias de cuidar. Rio de Janeiro. Tese [ Doutorado em medicina social ] - Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2006.

 

 

Data da Defesa: Rio de Janeiro, 29 de março de 2009

Componentes da banca: Profa Dra Beatriz Gerbassi Costa Aguiar, Prof. Dr. Antônio Marcos Tosoli Gomes, Profa Dra Teresa Tonini, Profa Dra Josete Luzia Leite, Profa Dra Sônia Regina de Souza

Referência: Barreto, VPM. A gerência do cuidado prestado pelo enfermeiro a clientes internados em terapia intensiva [Dissertação]. Rio de Janeiro (RJ), Brasil: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2009.

 

 

Recebido: 09/11/2012
Revisado: 25/03/2013
Aprovado: 24/02/2013