RESUMO DE TESES E DISSERTAÇÕES

 

Educação permanente no cotidiano das novas práticas em saúde mental: pesquisa intervenção

 

Amanda dos Santos Mota1, Ana Lucia Abrahão da Silva1, Ândrea Cardoso de Souza1

1Universidade Federal Fluminense

 


RESUMO
Objetivo: analisar o processo de institucionalização da educação permanente em hospital psiquiátrico, a partir da dinâmica do trabalho da equipe de enfermagem em encontros de reflexão sobre o trabalho.
Método: pesquisa descritiva, qualitativa, do tipo intervenção, realizada em Niterói-RJ, entre outubro de 2012 e abril de 2013. Técnicas de coleta de dados: observação, diário de campo e grupo de discussão. Amostra: 27 profissionais de enfermagem. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo temática, com base na Análise Institucional.

Resultados: identificaram-se como categorias: (i) Ser ouvido; (ii) A dinâmica processual do trabalho em saúde.
Descritores: Educação Permanente em Saúde; Enfermagem Psiquiátrica; Ambiente de Trabalho.


 

INTRODUÇÃO

A reflexão sobre o exercício de compartilhar experiências e saberes no trabalho cooperativo pode contribuir para que a equipe de enfermagem repense suas práticas para além de um saber eminentemente técnico. A prática da equipe de enfermagem é marcada por conflitos derivados da transição paradigmática nos modos de intervenção em saúde mental, em que pese às mudanças emanadas da Reforma Psiquiátrica(1). Nessa configuração, a Educação Permanente em Saúde (EPS) apresenta-se como eixo possibilitador de superação das dificuldades cotidianas(2,3).

 

QUESTÕES NORTEADORAS

Qual o uso que a equipe de enfermagem tem feito do espaço de EPS oferecido no interior do Hospital Psiquiátrico de Jurujuba (HPJ)?
A educação permanente realizada pela equipe de enfermagem promove mudanças no HPJ?

 

OBJETIVOS

Analisar o processo de institucionalização da EPS em um hospital psiquiátrico, a partir da dinâmica do trabalho da equipe de enfermagem em encontros de reflexão sobre o trabalho em saúde mental.

 

MÉTODO

Pesquisa descritiva, qualitativa, do tipo intervenção, que teve como cenário o HPJ, hospital público de internação psiquiátrica do município de Niterói, RJ. Técnicas de coleta de dados: observação, diário de campo e grupos de discussão, no período entre outubro de 2012 e abril de 2013.

A intervenção da pesquisa se deu no último encontro de discussão pesquisado, em que, no sentido de fomentar a discussão e registrar as percepções e discursos dos sujeitos, foi elaborado um caso analisador a partir da criação de um caso fictício. Este foi encenado por graduandos, os quais representaram enfermeiros e técnicos de enfermagem, mediante pequenas esquetes(3). Questões exploradas: silêncio, sono, resistência em sentar na roda, figuras de poder, troca de saberes a partir das experiências e o desejo de fazer diferente.

Participaram do estudo 27 profissionais de enfermagem elegíveis segundo os seguintes critérios de inclusão: possuir vínculo empregatício com o HPJ; atuar na enfermagem há mais de um ano; frequentar regularmente o espaço do grupo de discussão. Critérios de exclusão: profissionais sem experiência no campo da saúde mental; alunos ou estagiários de graduação; profissionais licenciados ou ausentes no momento da coleta dos dados.

O tratamento dos dados utilizou referencial teórico da Análise Institucional. Para tanto, os discursos manifestados durante o grupo de discussão, realizado após dinâmica das esquetes, foram submetidos à análise de conteúdo temática e; os dados emergidos da observação e diário de campo foram submetidos à analise descritiva.

 

RESULTADOS

Identificaram-se dois núcleos de sentido: (i) Ser ouvido, na qual se constatou, no cenário do grupo, a coexistência da sensação de não serem escutados pelos outros membros da equipe, a dificuldade de empoderamento e a insegurança na maneira de se expressarem; (ii) A dinâmica processual do trabalho em saúde, que englobou condicionantes que fazem parte do processo de trabalho no campo da saúde, quais sejam: jornada de trabalho extensa, baixa remuneração e o intenso envolvimento com os limites humanos, como a dor e o sofrimento psíquico; o interesse em participar do grupo quando na discussão de casos distintos, complexos e; a dificuldade dos demais membros da equipe em se ocupar do posto de enfermagem para a viabilização do grupo e a resistência da própria equipe de enfermagem de sair desse lugar.

 

CONCLUSÃO

Esta pesquisa permitiu compreender que a equipe de enfermagem tem sido convocada a incorporar novas formas de compreender e promover a assistência, o que direciona para a prática voltada à reflexão do processo de trabalho. Assim, a estratégia de EPS, por meio do espaço de discussão do trabalho realizado semanalmente, às quartas-feiras, tem sido entendida, ao mesmo tempo, como uma prática de ensino-aprendizagem e como uma política de educação na saúde(5), tendo em vista a complexidade do trabalho em saúde. Isto é o que torna o espaço de EPS do HPJ um lugar de intercâmbio, de possível ‘estranhamento’ de saberes e da ‘desacomodação’ com os conhecimentos e práticas vigentes.

 

REFERÊNCIAS

1. Amarante P. Reforma Psiquiátrica e Epistemiologia. Cad Bras Saúde Ment. 2009;1(1):1-7.

2. Mota A, Abrahao AL, Souza AC. Permanent education fostering new practices in mental health: A descriptive study. Online braz j nurs [ Internet ]. 2012 Sept [ cited 2013 Aug 28 ]11(2):453-6. Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/3970. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1676-4285.2012S009

3. Medeiros AC, Pereira QLC, Siqueira HCH, Cecagno ID, Moraes CL. Gestão participativa na educação permanente em saúde: olhar das enfermeiras. Rev Bras Enferm. 2010; 63(1):38-42.

4. Sanches ICP. O acompanhante e os desafios do cuidado hospitalar: acesso ou barreira? Niterói. Dissertação [ Mestrado em Enfermagem ] - Universidade Federal Fluminense; 2012.

5. Ceccim RB, Ferla AA. Educação e saúde: ensino e cidadania como travessia de fronteiras. Trab educ saúde. 2009; 6(3):443-56.

 

 

 

Data da Defesa: Dissertação defendida em 22 de agosto de 2013.

Componentes da banca: Drª Ana Lucia Abrahão da Silva, UFF (Orientadora e presidente); Drª Ândrea Cardoso da Silva, UFF (Coorientadora); Drª Ana Paula Freitas Guljor, HPJ (1ª Examinadora); Drª Nereida Lúcia Palko dos Santos, UFRJ (2ª Examinadora); Drª Marilda Andrade, UFF (1ª Suplente).

Referência: Mota, AS. A educação permanente no cotidiano das novas práticas em saúde mental. Niterói. Dissertação [ Mestrado em Enfermagem ] - Universidade Federal Fluminense; 2013.

 

 

Recebido: 31/08/2013
Revisado: 13/09/2013
Aprovado: 15/09/2013