CONVITE EDITORIAL

 

Produção do conhecimento científico de enfermagem na área da Saúde da Mulher

 

Valdecyr Herdy Alves1

1Universidade Federal Fluminense

 


RESUMO
O cuidado com a saúde das mulheres é um grande desafio para as usuárias, os profissionais de saúde e o próprio Sistema Único de Saúde (SUS). A produção de conhecimento científico pela enfermagem, com enfoque na área da saúde da mulher, contribui para uma prática assistencial pautada em evidências científicas. De tal modo, a prática clínica pode dar ênfase às ações que norteiam o contexto dos serviços de saúde da mulher, a partir da ação técnica dos profissionais de saúde no campo das boas práticas. No entanto, uma observação atenta e criteriosa permite perceber que esse cuidado requer aprimoramento técnico e científico constante do profissional de enfermagem para fazer face às novas tecnologias, cuja utilização correta contribuirá para uma assistência de qualidade à qual a mulher tem direito. É, pois,  dever do profissional de enfermagem atendê-la em suas necessidades valendo-se dos saberes adquiridos durante a sua formação e também no cotidiano assistencial.
Descritores: Enfermagem; Saúde da Mulher, Sistema Único de Saúde.


 

O cuidado de enfermagem pautado nas práticas clínicas e baseado em evidências, focaliza a saúde da mulher sem danos e riscos, favorecendo o respeito à sua natureza e fisiologia, a redução da mortalidade materna e neonatal, bem como a autonomia feminina(1). A propósito, estratégias de fortalecimento dessas práticas clínicas vêm sendo adotadas com sucesso em países cujos sistemas de saúde são universais, a exemplo do Reino Unido e do Canadá. Nesses países, o National Institute for Health and Excellence (NICE) atua com recomendação e amplo suporte da Organização Mundial de Saúde, objetivando apoiar profissionais de saúde, gestores e usuários com diretrizes clínicas para subsidiar a qualidade da assistência. Trata-se, portanto, de modelo internacional de assistência exitoso, que vem despertando a atenção do Ministério da Saúde do Brasil, no sentido de viabilizar uma proposta de criação de modelo equivalente ao NICE para implantação na rede de atenção do SUS, beneficiando tanto os que nela atuam como os que dela usufruem.

A enfermagem brasileira, com bases legais para o exercício profissional, deve atentar para o fato de que a produção e divulgação de seus conhecimentos traduz a valorização da assistência à saúde da mulher com foco na ética, na habilidade e competência de seus profissionais, corroborando positivamente as iniciativas no campo dos direitos à saúde humana(2). Quanto aos princípios da universalidade, integralidade e equidade da atenção à saúde, só podem ser assegurados por meio do fortalecimento do SUS, com base em um marco constitucional de respeito e proteção aos direitos humanos(3,4,5).

No que diz respeito aos resultados das pesquisas científicas na área de enfermagem, ênfase é dada às reflexões, discussões e diretrizes para a prática assistencial e gestão de serviço na área da saúde da mulher(6). Sendo assim, a análise da produção do conhecimento da enfermagem na assistência à mulher, articulada com ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, indicam e reforçam a implementação de protocolos e diretrizes clínicas imprescindíveis para a garantia da qualidade assistencial.

Nesse sentido, a Estratégia Rede Cegonha articula a rede de atenção à saúde da mulher, validando esses protocolos e diretrizes clínicas colaborativas, compreendendo-os como estratégias de qualificação profissional pautadas nas boas práticas. Os protocolos e diretrizes, por sua vez, permitem à enfermagem realizar ações fundamentais como a consulta de enfermagem à saúde da mulher, a assistência ao parto e nascimento e a assistência no campo dos direitos sexuais e reprodutivos(7).

Faz-se necessária, porém, uma reflexão acerca do tema em foco: como utilizamos, na prática assistencial, o conhecimento científico produzido pela enfermagem brasileira? Importante é salientar que a relação entre a prática e o conhecimento tem favorecido o saber-fazer dos enfermeiros, isto é, o desenvolvimento de sua base teórica e prática com vistas ao cuidado fundamentado cientificamente. Nesse cenário, destacam-se relevantes conquistas no que se refere à ampliação do conhecimento e dos avanços tecnológicos na área da saúde e da enfermagem, em particular(8).

No entanto, nesse contexto de avanços, é imprescindível refletir a respeito de como fortalecer caminhos para associá-los a uma postura ético-política de “gente que cuida de gente”, ideia que configura a ciência e arte de fazer/ser enfermagem. Como medida imediata para o aprimoramento da profissão, e também para o alcance de sua maior visibilidade, faz-se mister valorizar e divulgar o conhecimento produzido pela enfermagem, de forma a qualificar cada vez mais o cuidado, objeto da profissão(8).

Vale destacar a importância da iniciação científica e da extensão, além do ensino de qualidade na graduação; e no âmbito da pós-graduação, o incentivo à produção de pesquisas voltadas ao compromisso da enfermagem com a qualidade de vida e saúde, isto é, a aplicabilidade dos seus resultado na prática assistencial, especialmente junto aos grupos populacionais mais vulneráveis(9).

Nesse sentido, a produção e difusão do conhecimento produzido são fundamentais, exigindo esforços para o fortalecimento dos periódicos científicos, dos eventos promovidos pelas associações científicas e pelo intercâmbio internacional. Sendo assim, iniciativas como a que ora faz o Online Brazilian Journal of Nursing são valiosas e devem servir de exemplo, por possibilitarem a abordagem de questões relevantes em termos assistenciais, especialmente no que tange à área da saúde da mulher.

 

REFERÊNCIAS

1. Lacerda RA, Egry EY, Fonseca RMGS, Lopes NA, Nunes BK, Batista AO, et al. Práticas baseadas em evidências publicadas no Brasil: identificação e reflexão na área da prevenção em saúde humana. Rev Esc EnfermUSP [ Internet ]. 2012 [ cited 08 dec 2013 ] 46(5): 1237-47. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n5/28.pdf

2. Winck DR, Brüggemann OM. Responsabilidade legal do enfermeiro em obstetrícia.Rev bras enferm [ Internet ] 2010 [ cited 08 dec 2013 ] 63(3): 464-9. Available fromhttp://www.scielo.br/pdf/reben/v63n3/a19v63n3.pdf

3. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios e diretrizes. Brasília: MS; 2011.

4. Ministério da Saúde (Brasil). Portaria nº 650, de 05 de Outubro de 2011. Dispõe sobre os Planos de Ação regional e municipal da Rede Cegonha. Diário Oficial da União 06 out 2011; Seção 1.

5. Pimenta LF, Ressel LB, Santos CC, Wilhelm LA. The perceptions of women about the choice of delivery modes: a descriptive study. Online braz j nurs [ Internet ]. 2010 [ cited 10 dec 2013 ①(1). Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/3963. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1676-4285.20133963

6. Goulart BNG, Chiari BM. Humanização das práticas do profissional de saúde: contribuições para reflexão.Ciênc saúde coletiva [ internet ]. 2010 [ cited 08 dec 2013 ] 15(1):255-68. Available from:http://www.scielo.br/pdf/csc/v15n1/a31v15n1.pdf

7. Lorenzetti J, Trindade LL, Pires DEP, Ramos FRS. Technology, technological innovation and health: a necessary reflection. Texto & contexto enferm. 2012; 21(2): 432-9.

8. Sousa LD, Lunardi Filho WD, Lunardi VL, Santos SSC, Santos CP. The scientific nursing production about the clinic: an integrativa review. Rev Esc Enferm USP [ internet ]. 2011 [ cited 08 dec 2013 ] 45(2): 494-500. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n2/en_v45n2a26.pdf

9. Fonseca RMGS, Oliveira RNG. Discussões sobre linhas de pesquisa nos seminários nacionais de pesquisa em Enfermagem, 1979-2011. Rev bras enferm [ internet ]. 2013[ cited 08 dec 2013 ] 66(spe): 66-75. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66nspe/v66nspea09.pdf

 

 

Recebido: 10/12/2013
Aprovado: 11/12/2013