NOTAS PRÉVIAS

 

Formação do enfermeiro e clínica da atividade: uma pesquisa-intervenção

 

Karla Maria Neves Memória-Lima1, Claudia Osório1, Ana Lúcia Abrahão1

1Universidade Federal Fluminense

 


RESUMO
Objetivos: Investigar a formação de enfermeiros em uma universidade pública federal com o objetivo de promover o desenvolvimento do processo de formação.
Problema: Como enriquecer o processo de formação dos enfermeiros levando em conta os desafios e perspectivas do trabalho?
Método: Pesquisa de abordagem qualitativa, nos moldes da pesquisa-intervenção, empregando o referencial da clínica da atividade. Os sujeitos da pesquisa são estudantes de enfermagem de uma universidade pública federal. Os dados serão coletados por meio da oficina de fotos, utilizando os recursos da fotocomposição e intervenção na imagem. O material será analisado seguindo os preceitos da clínica da atividade que preconiza a análise da motricidade dos diálogos. O período para coleta de dados é de janeiro a dezembro de 2014.
Descritores: Enfermagem; Educação em Saúde; Trabalho; Sistema Único de Saúde.


 

SITUAÇÃO PROBLEMA E SUA SIGNIFICÂNCIA

No Brasil, há uma busca por novos modos de produzir saúde. Isso tem gerado diferentes ações políticas, assistenciais e mudanças na formação profissional na área.

Desde a década de 1980, observam-se várias estratégias que priorizaram ações de promoção da saúde e prevenção de agravos. Algumas experiências dessa ordem levaram, por exemplo, à concepção de programas como o Estratégia Saúde da Família (ESF) e impulsionaram mudanças importantes na formação de profissionais para atender a realidade além dos muros do hospital. Este novo cenário exige enfermeiros que sejam capazes de estabelecer modos de trabalhar longe do ambiente do consultório. A prática na casa do paciente-usuário permite que haja maior compreensão do processo saúde-doença e suas formas de cuidado. Além disso, compreende-se que o trabalho do profissional de saúde no lar do usuário pode produzir singularidades no próprio profissional, no coletivo de trabalho e transformações que reverberam no contexto social em que atua(1).

Dentre os princípios que orientam este cenário, a integralidade coloca em destaque os aspectos sociais, culturais e econômicos da população assistida. Para que isso ocorra, os profissionais precisam trabalhar em equipe. Este aspecto evidencia um dos pontos críticos do trabalho: a dificuldade de se atuar em grupo, que vem denunciando a ausência de habilidades para estabelecer relações construtivas entre seus membros, já que elas não são plenamente desenvolvidas pelos cursos de graduação na maioria das profissões.

Uma das políticas governamentais para atender às novas demandas de formação foi delineada pelo Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde). Ele tem como objetivo reposicionar a formação, assegurando uma compreensão mais completa do processo saúde-doença para que possa haver o incremento na geração de conhecimento, no processo de formação e na assistência à população. O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) surgiu como desdobramento do Pró-Saúde e é uma estratégia para fortalecer a atenção básica, seguindo os princípios e necessidades do SUS, e tem como pressuposto a educação pelo trabalho(1).

Essas estratégias articulam-se às transformações nos modos de cuidar e gerir a saúde e acabam por provocar mudanças na formação do enfermeiro. A motivação para elaboração deste projeto de doutorado surgiu a partir do trabalho da pesquisadora, como psicóloga, em uma escola de enfermagem, onde foi possível entrar em contato com os entraves e perspectivas vividos pelos estudantes em seu processo de formação.

 

QUESTÕES NORTEADORAS

Como enriquecer o processo de formação dos enfermeiros, levando em conta os desafios e perspectivas do trabalho? Como o aspecto da criação presente na formação pode enriquecer a atividade de trabalho? Como potencializar o processo de formação e ampliar os recursos para a ação dos estudantes de enfermagem?

 

OBJETIVOS

Investigar a formação de enfermeiros em uma universidade pública federal, no estado do Rio de Janeiro, para promover o desenvolvimento do processo de formação; produzir conhecimento sobre a formação do enfermeiro, enfocando o aspecto da invenção, ou seja, no processo de formação viabilizar a criação de meios para lidar com os desafios e perspectivas do trabalho.

 

MÉTODO

Trata-se de pesquisa de abordagem qualitativa, nos moldes da pesquisa-intervenção, a ser desenvolvida em uma escola de enfermagem pública federal, no estado do Rio de Janeiro. Foram respeitados todos os aspectos éticos conforme legislação vigente. Para inclusão, os sujeitos deverão ser estudantes de universidade pública federal que integrem equipes do SUS. Serão excluídos alunos com idade inferior a 18 anos. Os alunos interessados serão organizados em um grupo de 8 a 12 participantes, número adequado à sustentação do debate a ser suscitado. Os dados serão coletados por meio da oficina de fotos, durante quatro encontros, entre janeiro e dezembro de 2014. Esse período é necessário para elaboração e execução da oficina de fotos, conforme está sendo realizada em várias organizações no Brasil, como hospitais, escolas e empresas públicas e privadas(2).

Essa oficina, método em clínica da atividade, utiliza especificamente o recurso da fotocomposição e da intervenção na imagem. As fotos serão confeccionadas pelos estudantes e são consideradas marcas da atividade de formação, que deflagra o debate e a reflexão no grupo estudado. Os dados serão analisados seguindo o princípio da linguística bakhtiniana, em que se acompanham os movimentos dialógicos para analisar a produção de sentidos. Passo a passo da oficina: recrutamento dos estudantes; orientação para confecção das fotos; debate sobre as fotos; restituição da pesquisa(2,3).

 

REFERÊNCIAS

1. Araújo AMPB, Abrahão AL. Analysis of training in the health area: a map of curricular changes in education. Online Braz J Nurs [ internet ]. 2012 [ cited 2014 May 25 ⑟(2):483-7. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/1676-285.2012S016

2. Silva CO. A fotografia como uma marca do trabalho: um método que convoca o protagonismo do trabalhador na invenção de mundos. In: Tittoni J, Zanela AV, organizadores. Imagens no pesquisar: experimentações. Porto Alegre: Dom Quixote; 2011. p. 211-226.

3. Clot Y. Trabalho e poder de agir. Belo Horizonte: Fabrefactum; 2010.

 

 

Dados do projeto
Projeto de tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense. Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Antônio Pedro/UFF (HUAP/UFF), com parecer número 447.338, em 01/11/2013.

 

Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a materia em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf

 

 

Recebido: 15/08/2014
Revisado: 26/08/2014
Aprovado: 26/08/2014