ARTIGOS ORIGINAIS

 

Realização de visita técnica na formação de acadêmicos de enfermagem: estudo descritivo

 

Camila da Silva Marques Badaró1, Angélica Conceição Oliveira Coelho Fabri1, Raquel Líquer de Deus1, Herica Silva Dutra1

1Universidade Federal de Juiz de Fora

 


RESUMO
Objetivo: identificar, na percepção de acadêmicos de Enfermagem, se a realização de visitas técnicas contribui para a formação profissional e para o gerenciamento em enfermagem.
Método: estudo descritivo cujos dados foram obtidos em entrevistas semiestruturadas com 11 acadêmicos do curso de graduação em Enfermagem. Após transcrição das entrevistas, utilizou-se análise de conteúdo. 
Resultados: a visita técnica é uma ferramenta eficaz no processo de ensino-aprendizagem da administração em enfermagem, auxilia os acadêmicos na percepção da relação entre a teoria e a prática, proporciona o desenvolvimento de uma visão crítica e reflexiva sobre a realidade e favorece a percepção da relação entre gerenciamento em enfermagem e assistência/cuidado prestado ao paciente.
Conclusão: A visita técnica foi considerada uma ferramenta de ensino eficaz para promover uma aproximação com a realidade do mercado de trabalho diminuindo as distâncias entre teoria e prática.
Descritores: Enfermagem, Formação Profissional, Estudantes de Enfermagem, Serviços de Enfermagem, Administração dos Cuidados ao Paciente, Administração de Instituições de Saúde.


 

INTRODUÇÃO

Devido aos grandes avanços de um mundo cada vez mais globalizado e exigente quanto aos profissionais que estão sendo introduzidos no mercado de trabalho, é dever das instituições de ensino acompanhar as tendências do mercado e contribuir para uma formação profissional de qualidade(1). Para que isso ocorra, é preciso apoiar e dar subsídios para que os futuros enfermeiros se tornem profissionais que estão muito além da técnica(2), utilizando estratégias de ensino-aprendizagem que valorizem o diálogo e o debate de ideias entre os próprios alunos e com o professor(3), e estimulando o acadêmico a desenvolver raciocínio crítico-reflexivo sobre sua realidade(4).

O enfermeiro e sua equipe são responsáveis por prestar cuidados ao paciente no âmbito hospitalar, compartilhando o atendimento às necessidades do paciente/família com diversos serviços(5) de apoio técnico-administrativos, como lavanderia, nutrição e dietética, almoxarifado, recepção, farmácia, laboratório. Estes devem ter como objetivo comum garantir qualidade e agilidade na oferta dos serviços desenvolvidos e reduzir os custos da instituição.

Considera-se de suma importância manter uma relação constante de cooperação entre o enfermeiro e os responsáveis pelos setores de apoio técnico-administrativos, visando garantir todos os recursos necessários ao cuidado. O enfermeiro é responsável por supervisionar as condições de hotelaria, manter o estoque da unidade, garantir o funcionamento dos equipamentos, articular e encaminhar os procedimentos necessários à realização de exames complementares, conhecer e suprir as necessidades do paciente e acompanhante, oferecer um cuidado satisfatório(6).

Nesta perspectiva, a disciplina Administração em Enfermagem I, oferecida aos graduandos do 6º período da Universidade Federal de Juiz de Fora, utiliza como ferramenta de ensino a visita técnica (VT). Esta permite conhecer e avaliar como uma empresa ou um setor estão desenvolvendo suas atividades, observar sua estrutura e o trabalho desenvolvido pelas pessoas responsáveis pelo serviço. Após observar e comparar, é possível trocar informações, desenvolver novas práticas, ampliar conhecimentos e aprimorar o desenvolvimento do serviço(7).

No âmbito acadêmico, a VT consiste em uma atividade na qual os alunos dirigem-se a um setor específico dentro de uma instituição, conduzidos pelo professor juntamente com um profissional designado pela instituição. Tem como finalidade o desenvolvimento de um conjunto determinado de aprendizagens e a aproximação entre teoria e prática(8). No contexto da formação do enfermeiro, é importante a identificação e compreensão da totalidade das atividades desenvolvidas em estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS), sendo uma das estratégias a realização de VT aos serviços de apoio técnico-administrativos.

Dessa forma, torna-se relevante identificar a percepção dos acadêmicos de Enfermagem acerca da visita técnica: se esta estratégia é percebida como uma metodologia de ensino capaz de contribuir para sua formação profissional, se os mesmos identificam a relação entre os serviços de apoio técnico-administrativos e o serviço de enfermagem no atendimento às necessidades dos pacientes. Cabe ressaltar que essa abordagem tem sido pouco discutida no ensino em Enfermagem e que pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias ativas de ensino-aprendizagem na área e em outras profissões da área de saúde.

Assim, foi traçado o seguinte objetivo:  identificar, de acordo com a percepção de acadêmicos de Enfermagem, se a realização de visitas técnicas contribui para a formação profissional e para o gerenciamento em Enfermagem.

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, que permitiu a investigação das percepções dos sujeitos a respeito de uma dada realidade. A investigação foi desenvolvida em uma instituição de ensino pública do estado de Minas Gerais. Os sujeitos foram estudantes de graduação em Enfermagem, sem considerar questões de gênero, raça ou culturais. Os critérios de inclusão na pesquisa foram: ter idade igual ou superior a 18 anos, ser acadêmico regularmente matriculado, estar cursando a disciplina Administração em Enfermagem I e ter realizado VT em serviços de apoio hospitalar. Desenvolveu-se um roteiro de entrevista semiestruturada permitindo a flexibilidade das respostas no decorrer das entrevistas. Selecionou-se uma amostra por conveniência. Após explicar aos estudantes convidados os objetivos e método de coleta de dados, as entrevistas foram agendadas, gravadas na íntegra em gravador digital e transcritas pelo pesquisador para posterior análise. O número de entrevistas não foi estabelecido previamente, sendo conduzidas até ocorrer à reincidência das informações. Os dados foram coletados no mês de agosto de 2013 e as entrevistas duraram entre 20 e 40 minutos.

Para a realização da análise dos dados coletados, utilizou-se a análise de conteúdo na modalidade temática, com três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados e sua interpretação. A pré-análise consistiu na organização dos dados visando sistematizar as ideias iniciais. Posteriormente realizou-se a exploração do material, tendo em vista alcançar o núcleo de compreensão do texto. Por fim, o tratamento dos resultados e sua interpretação permitiu o estabelecimento de relações entre a realidade vivenciada e a intuição/reflexão(9).

Os dados da pesquisa foram coletados após apreciação e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição sob parecer número 238.541, sendo respeitados todos os aspectos éticos. A fim de garantir sigilo da identidade dos entrevistados, identificaram-se os sujeitos a partir da ordem de inclusão por um número arábico sequencial precedido da abreviatura Acad.


RESULTADOS

Foram entrevistados 11 acadêmicos de Enfermagem, sendo 10 do sexo feminino, com idade média de 25 anos, variando entre 21 e 46 anos.

A análise dos dados possibilitou elencar duas categorias temáticas que permitiram conhecer o ponto de vista dos entrevistados sobre a realização da VT: importância da realização de VT em enfermagem para a formação profissional do enfermeiro e interface entre os serviços de apoio técnico-administrativos e o gerenciamento em enfermagem.

Importância da realização de visita técnica em Enfermagem para a formação profissional do enfermeiro

Essa categoria buscou identificar a percepção global dos acadêmicos de Enfermagem sobre a realização de VT em serviços de apoio de instituições hospitalares e sua interface com as atividades de ensino-aprendizagem. Os participantes relataram a importância de utilizar a VT como estratégia para conhecer os serviços de apoio em EAS e permitir uma visão ampliada da instituição, além dos limites das unidades de atendimento ao paciente.

[...] faz com que a gente tenha uma noção mais palpável de como será trabalhar em equipe dentro de uma instituição hospitalar. (Acad.1)

[...] a importância da visita técnica pra mim seria mesmo conhecer cada setor [serviços de apoio técnico-administrativos], saber o que o setor faz, qual que é a utilidade dele naquele serviço [EAS] e a relação dele com a enfermagem. (Acad.3)

[...] pra você que vai lidar com os pacientes no hospital você já tem uma noção do que acontece. (Acad.10)

A VT, metodologia escolhida pela disciplina Administração em Enfermagem I, vem complementar as discussões desenvolvidas dentro de sala de aula e proporcionar uma aproximação do acadêmico com a realidade e com seu futuro profissional(10). A VT possibilitou conhecer um pouco da realidade hospitalar em que eles poderão atuar futuramente, bem como a de serviços e/ou setores técnico-administrativos com os quais terão que lidar durante o desenvolvimento das atividades assistenciais, enquanto enfermeiros.

Além disso, os discursos pontuaram o quanto a atividade desenvolvida permitiu aproximar teoria e prática, fortalecendo a apropriação do conhecimento por parte dos estudantes.

 [...] essa associação [teoria – prática] é extremamente importante porque é uma forma da gente compreender, de ficar mais palpável o que a gente viu na teoria; [...] a visita técnica é esse momento de você ver na prática o que acontece, o que você tá vendo na teoria. (Acad.5)

[...] elas juntas [teoria e prática] são capazes de dar uma noção ao aluno sobre o gerenciamento de enfermagem inserido no contexto hospitalar. (Acad.1)

Os entrevistados ressaltaram ainda a importância da teoria, ou seja, o estudo das leis, normas, resoluções, ser uma oportunidade para embasar seus conhecimentos. O estudo prévio favorece a realização da VT ao instrumentalizar o estudante a respeito da realidade que será investigada.
[...] esse conhecimento prévio é muito importante para você não chegar lá leigo, ter já um embasamento teórico para poder tá praticando aquilo. (Acad.3)

[...] a gente podia ver na prática o que que é aquilo que a gente estudou, se estava em conformidade ou se não, [...] a gente podia ver na teoria, nas legislações, nas normas, o que está sendo efetuado ali, se está em conformidade ou não. (Acad.5)

[...] dá pra gente associar também se eles [EAS] tão seguindo ou não o padrão, o que é correto. (Acad.9)

Foi possível identificar nas falas dos acadêmicos a necessidade da teoria caminhar junto da prática, com a intenção de facilitar a compreensão do conteúdo teórico e aproximar os acadêmicos da realidade, levando-os a construir o pensamento crítico-reflexivo.

Interface entre os serviços de apoio técnico-administrativos e o gerenciamento em enfermagem
Nesta categoria, buscou-se identificar a percepção dos estudantes a respeito da interface entre as atividades desenvolvidas pela enfermagem e as dos serviços de apoio técnico-administrativos, além de suas implicações no gerenciamento em enfermagem. Os acadêmicos relataram a interdependência entre os diferentes serviços de apoio e a enfermagem, de forma que as atividades de cada um, mesmo que distintas, são responsáveis em conjunto pelo sucesso do atendimento às demandas do paciente e de seus familiares.

[...] essa relação entre o serviço de apoio técnico-administrativo e a enfermagem é uma relação que tem que acontecer porque não se faz enfermagem sem esse apoio, sem eles estarem articulados. (Acad.6)

 [...] a ligação do serviço de apoio com a enfermagem seria de extrema relevância para o setor [de enfermagem] porque sem esse serviço de apoio você não tem como está administrando nem prestando assistência ao paciente. (Acad.3)

A articulação entre os serviços de enfermagem e os de apoio técnico-administrativo deve ser realizada de forma colaborativa e integradora, devendo o enfermeiro conhecer como funcionam, onde estão localizados, quais atividades desenvolvem e quem são os profissionais que ali atuam, tornando-os parceiros para a prestação do cuidado.

[...] o enfermeiro ele tem que entender o hospital como um todo, então essa relação [serviço de enfermagem e apoio técnico-administrativo] é muito forte, por isso a importância da gente conhecer a fundo mesmo o funcionamento desses serviços [apoio técnico-administrativo]. [...] porque o nosso serviço [enfermagem] [...] vai influenciar o deles [apoio técnico-administrativo] então a gente tem que entender esse espaço [EAS] como um todo mesmo. (Acad.5)

[...] é importante para o enfermeiro [...] saber como funciona os serviços de apoio ao redor do trabalho que ele faz. (Acad.10)

A VT proporcionou aos acadêmicos a possibilidade de articulação entre o cuidado (essência da Enfermagem) com as atividades desenvolvidas pelos serviços de apoio técnico-administrativos para o alcance do cuidado completo e de excelência.

[...] o grande objeto da enfermagem é o cuidado [...] Quando eu penso cuidado [...] eu tenho que ter esses apoios técnico-administrativos para eu subsidiar esse cuidado para que ele possa ser efetivamente realizado. Então eu preciso conhecer esses serviços [apoio técnico-administrativo], se eles tão funcionando bem, pra eu conseguir efetivamente realizar o meu cuidado [...] Eu acho os serviços de apoio são essenciais nesse sentido, pra enfermagem conseguir realizar realmente seu pleno cuidado. (Acad.8)

[...] depois que a gente fez as visitas técnicas, foi muito claro perceber que o serviço de apoio e a enfermagem eles estão diretamente ligados, porque um depende do outro, porque a enfermagem depende diretamente dos serviços [apoio técnico-administrativo], porque cada um tem uma especificidade, porque cada um vai atuar de uma forma diferente, vai contribuir de uma forma diferente pra prestação de um cuidado de uma assistência de qualidade. (Acad.9)

Alguns exemplos foram citados pelos acadêmicos para ilustrar a relação entre a enfermagem e os serviços de apoio.

[...] no caso da nutrição, que foi o que eu visitei, e a enfermagem, ela é de extrema importância na assistência porque [...] a enfermagem que acaba dando um retorno para eles de como tá a aceitação do paciente, se o paciente tá gostando ou não dessa alimentação [...]. (Acad.2)

[...] essa ligação é de suma importância porque no geral como você vai prestar uma assistência ao paciente que está ali acamado sendo que a equipe de limpeza não está atuando junto com você, por exemplo, limpeza da enfermaria, a desinfecção do leito, entendeu? Precisam tá te ajudando, então acho que essa ligação dos dois serviços é muito importante. (Acad.3)

Os discursos também revelaram que a VT pode ser um instrumento no desenvolvimento das atividades gerenciais do enfermeiro, pois permite um melhor conhecimento do todo no qual se insere o cuidado de enfermagem. O conhecimento da realidade e das atividades de outros setores favorece a gerência do cuidado e da unidade, integrando o cuidado direto e indireto em benefício do paciente.

Então, eu acho que a visita técnica como ferramenta de gerenciamento seria a importância da assistência ao paciente de cada setor, de ter que dar prioridade a certas coisas para poder tá gerenciando o serviço [de enfermagem] não deixando a assistência de lado, mas sim, também, tá gerenciando, administrando o setor para que nada fique tipo desacoplado, sempre integrando. (Acad.3)

[...] ela [VT] vem nos ajudar na medida em que enquanto graduandos nós já começamos a ter uma visão sobre quais os instrumentos nós vamos poder estar utilizando no dia a dia da prática profissional, pra prestar uma assistência de qualidade e com toda equipe envolvida para que o paciente seja sempre beneficiado. (Acad.1)

Os serviços de apoio técnico-administrativos e a enfermagem são alguns dos serviços que atuam em EAS e devem ser articulados de forma eficiente visando à prestação de uma assistência integral, resolutiva, humanizada e de qualidade.

 

DISCUSSÃO

A realização de VT possibilitou aos estudantes conhecer os diversos setores que atuam dentro de um EAS, a relação interdependente entre os profissionais desses setores e a relação entre os serviços de apoio técnico-administrativo, o enfermeiro e a equipe de enfermagem. Essa estratégia contribuiu também para que os acadêmicos desenvolvessem um olhar mais reflexivo sobre os serviços de saúde e como será sua atuação enquanto profissionais(11,12). O processo de transição de estudante a enfermeiro graduado permite ao futuro profissional desenvolver confiança e consolidar suas competências clínicas, além de desenvolver atitudes de trabalho e qualidades profissionais positivas(12). Assim, situações de ensino-aprendizagem que promovam o contato do estudante com a realidade do ambiente de trabalho, neste caso a realização de VT, podem ser consideradas positivas para o desenvolvimento de competências necessárias ao desempenho de seu futuro papel.

Nesse sentido, a realização de VT contribuiu também para uma mediação entre a realidade acadêmica e a profissional. Permitiu que os acadêmicos construíssem um conceito ampliado do serviço de saúde, além dos limites da atuação profissional da equipe de enfermagem e da assistência de enfermagem a ser prestada aos pacientes/famílias. Possibilitou também a observação de diferentes aspectos do processo de trabalho, incluindo o acesso a informações teóricas e práticas concretas sobre o universo do trabalho(13). Desta forma, o processo ensino-aprendizagem pode ter sua significação ampliada por meio do encontro de novos elementos de análise, avaliação e criação.

A VT, enquanto metodologia de ensino, busca complementar a visão teórica adquirida dentro de sala de aula e proporcionar uma aproximação do acadêmico com a realidade/prática e seu futuro profissional(14). Nesta concepção, a VT pode ser considerada um recurso didático e pedagógico, que se traduz em melhores resultados educacionais porque os discentes, além de ouvir, observam e vivenciam a prática da instituição, tornando o processo de aprendizagem mais motivador e relevante. Além disso, há a possibilidade de construção de vínculo efetivo entre profissionais dos serviços de saúde e instituições de ensino superior(15) para parceria mútua em busca de formação qualificada para o mercado de trabalho. Estas parceiras facilitam a construção de uma network, valorizam o conhecimento e experiência dos profissionais que já estão inseridos no mercado de trabalho e aumentam a compreensão e confiança do estudante(2) em relação ao seu aprendizado.

A teoria, aplicada durante a construção do roteiro da visita, de forma prévia a mesma, visa direcionar o que deve ser observado e investigado, sendo de suma importância para que a VT seja bem sucedida, pois proporciona uma comparação e aproximação entre a teoria e a prática(16). Soma-se ainda a oportunidade de exercitar o trabalho em equipe como uma estratégia para o desenvolvimento de habilidades e competências para a futura prática profissional(3).

A articulação entre teoria e prática deve ser compreendida como um todo inseparável na qual uma complementa a outra(17). A prática é necessária à solidificação da teoria, assim como a prática precisa ser fundamentada para permanecer inovadora e compatível aos ensinamentos. A interação teoria-prática proporciona a transformação dos sujeitos e o aprender a aprender(18).

Os enfermeiros devem possuir conhecimentos e habilidades que contribuam para a provisão de cuidados de qualidade baseados em evidências, além de capacidade para enfrentar os desafios cotidianos dos serviços de saúde fundamentados no pensamento crítico-reflexivo(2) para a tomada de decisões clínicas e gerenciais. Na formação do enfermeiro, o pensamento crítico-reflexivo deve ser considerado uma característica essencial utilizada na prática profissional futura e que depende de conhecimento e experiência profissional. O desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo está vinculado à aquisição de conhecimentos teóricos e práticos(17), sendo a VT uma estratégia de ensino-aprendizagem que pode contribuir nesse sentido.

A fim de aplicar os conhecimentos adquiridos de forma que possam sustentar a assistência de enfermagem e atender às necessidades dos pacientes/familiares, os acadêmicos de enfermagem devem sentir-se confiantes em sua habilidade de atuar profissionalmente e participar de maneira ativa junto a outros profissionais em serviços de saúde(2).  O enfermeiro deve possuir uma visão sistêmica, por conviver com o paciente durante toda a internação e pelo fato dele ser responsável por lidar com os diversos serviços de apoio técnico-administrativos para desenvolver uma atenção integral às necessidades do paciente.

Demonstra-se desta forma, a importância de se realizar uma comunicação efetiva com os diversos profissionais que atuam nos EAS. Pois, apesar do enfermeiro desempenhar um papel crucial para a manutenção de uma assistência de qualidade, isso só se torna possível quando há o envolvimento de outros atores neste processo(6). Existe uma interdependência entre o trabalho da equipe de enfermagem e as atividades desenvolvidas nos diferentes serviços de apoio técnico-administrativos, de forma que se influenciam mutuamente e contribuem cada qual com sua parcela para o atendimento de qualidade e integral às necessidades dos indivíduos.

Desta forma, pode-se considerar que a VT é uma estratégia para a formação de futuros enfermeiros na medida em que o exercício da enfermagem ocorre a partir do contato entre seres humanos e da relação estabelecida entre eles, possibilitando a percepção da necessidade de um sinergismo entre instituição-enfermeiro-paciente.

Espera-se do futuro profissional de enfermagem um desempenho custo-efetivo e uma variedade de habilidades no cuidado direto e indireto em enfermagem(15), o que determina a necessidade de uma formação cada vez mais ampliada e que inclua a vivência de situações concretas. Os enfermeiros devem estar preparados para atuar como gerentes(5,6) e as escolas de enfermagem tem o dever de instrumentalizá-los. Devem ser capazes de gerenciar recursos físicos, humanos, materiais e de informação(7) para garantir assistência integral ao paciente e sua família, a qual não acontece de forma independente de atividades realizadas pelos vários serviços de apoio técnico-administrativos que se desenvolvem nos EAS.

O conhecimento e a aproximação do enfermeiro com os serviços de apoio técnico-administrativos favorecem também o desenvolvimento das atividades gerenciais. O enfermeiro pode valer-se da VT como instrumento gerencial em diferentes circunstâncias para identificar e estabelecer estratégias de aproximação e parceria com quaisquer dos serviços de apoio técnico-administrativos, pois é por meio de relações de trabalho consistentes(6) que os processos complexos e variados que permeiam a assistência em saúde podem ser harmoniosamente conduzidos para o objetivo final que é a assistência de qualidade e resolutiva.

Cabe destacar a fusão entre o gerenciamento da assistência, desenvolvido pelo enfermeiro, e o cuidado direto em enfermagem. Nesse sentido, a VT auxiliou os estudantes na construção desta percepção. Pois quando se planeja, organiza, avalia e coordena a assistência prestada, está se buscando realizar um cuidado efetivo e com qualidade(19).

Para atingir o perfil profissional desejado para futuros enfermeiros, é importante incorporar métodos e estratégias de ensino(2), a exemplo da VT, que favoreçam a aquisição e aplicação de conhecimentos nos cenários assistenciais, possibilitem prestar assistência individualizada e humanizada, promovam as mudanças necessárias na assistência em saúde e o contribuam para o fortalecimento da enfermagem enquanto profissão e enquanto ciência.

 

CONCLUSÃO

Os acadêmicos entrevistados apontaram a importância da VT, realizada na prática da disciplina Administração em Enfermagem I, como uma ferramenta para o processo de ensino-aprendizagem na formação dos futuros enfermeiros. E devido ao fato das VTs serem realizadas em serviços de apoio técnico-administrativos de EAS, foi possível aos estudantes conhecerem diferentes aspectos de uma instituição de saúde e se aproximarem da realidade da profissão escolhida.

Dentre as vantagens da realização de VTs pode-se destacar a aproximação entre a teoria e a prática, facilitando a fixação do conteúdo; o desenvolvimento de uma visão crítica e reflexiva sobre a realidade de sua profissão; a percepção da relação entre gerenciamento em enfermagem e assistência/cuidado prestado ao paciente; e a visão ampliada da organização dos EAS e os diferentes serviços nela desenvolvidos. Ao conhecer a ferramenta e comprovar suas vantagens, o estudante poderá valer-se de sua experiência acadêmica como subsídio para o desenvolvimento de diferentes VTs futuramente em sua atividade profissional.

Na medida em que se conhecem os serviços desenvolvidos dentro de EAS e sua relação com a assistência de enfermagem, o enfermeiro pode ultrapassar os limites das enfermarias e, por meio de um canal de comunicação efetivo, favorecer a realização de um cuidado integral e de qualidade.

Como limitações da presente investigação pode-se destacar o envolvimento de um número pequeno de estudantes de uma mesma disciplina em uma única instituição de ensino. Dessa forma, os resultados obtidos refletem a percepção dos mesmos no período da coleta de dados.

Contudo, acredita-se que esta pesquisa possa contribuir para o uso da VT como estratégia de ensino-aprendizagem na enfermagem em diferentes realidades. Sugere-se a realização de novas investigações que possam discutir a percepção dos docentes a respeito da VT bem como sua aplicabilidade em outras disciplinas e cenários.


REFERÊNCIAS

1. Mourão LC, L'Abbate. Teaching implications in curricular transformations in the field of Health: a socio-historical analysis. Online braz j nurs [ periodic online ]. 2011 Dez [ cited 2015 Mar 16 ] 10(3). Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/3423/1136.

2. Baldwin A, Bentley K, Langtree T, Mills J. Achieving graduate outcomes in undergraduate nursing education: following the Yellow Brick Road. Nurse education in practice. 2014; 14(1):9-11.

3. Oermann MH. Technology and Teaching Innovations in Nursing Education: Engaging the Student. Nurse educator. 2015; 40(2):55-56.

4. Santos ADBD, Oliveira KKDd, Rosário SSDd, Lira ALBdC, Tourinho FSV, Santos VEPd. Strategies for teaching learning process in nursing graduate and Postgraduate nursing. Rev pesqui cuid fundam (Online). 2014; 6(3):1212-20.

5. Nascimento ACEC, Pinto ALR, Pereira CRA, Souza FEP, Vieira ZRS, Andrade GDB, et al. A Importância da Supervisão de Enfermagem nas Instituições de Saúde. Saúde e Pesquisa. 2013; 6(2):339-343.

6. Santos JLG, Prochnow AG, Silva DC, Cassettari SSR, Guerra ST, Erdmann AL. Managerial communication in hospital nursing: obstacles and how to overcome them.Online braz j nurs [ periodic online ]. 2012 Aug [ cited 2015 Mar 16 ] 11(2):392-407. Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/3761.

7. Lombardo PG, Silva PAC, Gerbassi CAB, La Cava ÂM, Chaves RI. Gerenciamento de Sinistro no Ambulatório de um Hospital Universitário: Reflexão Bibliográfica. Revista Acreditação. 2011; 1(1):101-23.

8. Nunes SC. O ensino em administração: análise à luz da abordagem das competências. Revista de Ciências da Administração. 2010; 12(28):198-223.

9. Bardin L. Análise de Conteúdo. 6. ed. São Paulo: Edições 70, 2011.

10. Sampaio LR, Pereira MAT, Jesus MLD, Pinheiro FA, Ribeiro MS, Menezes AHN, et al. Núcleos Temáticos: uma proposta pedagógica interdisciplinar para o ensino superior. Cadernos de Educação. 2012; (37):185-205.

11.  Kalinowski CE, Massoquetti RMD, Peres AM, Larocca LM, Cunha ICKO, Gonçalves LS, et al. Participative methods in teaching administration within nursing. Interface-Comunicação, Saúde, Educação. 2013; 17(47):959-67.

12.  Liaw SY, Koh Y, Dawood  R, Kowitlawakul Y, Zhou W, Lau, ST. Easing student transition to graduate nurse: a simulated professional learning environment (SIMPLE) for final year student nurses. Nurse Education Today. 2014; 34(3):349-355.

13.  Fortunato RA, Neffa E, Miranda MG. Potencialidades das visitas técnicas para o desenvolvimento de competências: o caso da horta comunitária do morro da coroa. Revista Ambiente e educação. 2012; 17(1):29-45.

14.  Paim AS, Iappe NT, Rocha DL. Metodologias de ensino utilizadas por docentes do curso de enfermagem: enfoque na metodologia problematizadora. Enfermería Global. 2015; 14(01):153-169.

15.  Wilson AME. New roles and challenges within the healthcare workforce: a Heideggerian perspective. Journal of Health Organization and Management. 2015; 29(1):2-9.

16.  Silva, MDC, Alves, KDS, Guarda, VLDM. A capacitação como propulsor da humanização nos meios de hospedagens. Revista Conexão UEPG. 2012; 8(1):100-109.

17.  Hatlevik IKR. The theory‐practice relationship: reflective skills and theoretical knowledge as key factors in bridging the gap between theory and practice in initial nursing education. Journal of advanced nursing. 2012; 68(4):868-877.

18.  Moreira F, Ferreira E. Teoria, prática e relação na formação inicial na enfermagem e na docência. Educação, Sociedade e Culturas. 2014; (41):127-148.

19.  Silva JCD, Rozendo CA, Brito FMDM, Costa TDJG. A percepção do formando de enfermagem sobre a função gerencial do enfermeiro. Rev eletrônica enferm. 2012; 14(2): 296-303.

 

 

Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a materia em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf

 


Recebido: 06/03/2015
Revisado: 02/02/2016
Aprovado: 15/02/2016