Objetivo: verificar aspectos de vulnerabilidade individual e social relacionados ao diagnóstico e à potencialidade de adesão ao tratamento da tuberculose. Método: estudo descritivo, de recorte transversal, realizado com 39 doentes com tuberculose, em tratamento, em município do Nordeste brasileiro, em 2015. Resultados: menor potencial para adesão foi evidenciado por respostas desfavoráveis aos quesitos: impacto da tuberculose sobre o trabalho e concepção sobre a causalidade do processo saúde-doença. Diagnóstico estabelecido em período superior a 30 dias, falta de apoio ao tratamento no trabalho, reação negativa diante do diagnóstico, impacto negativo sobre a vida e falta de apoio familiar foram aspectos que podem potencializar a vulnerabilidade a não adesão. Discussão: o sucesso do tratamento está condicionado à complexidade de cada caso, devendo-se levar em consideração os ambientes familiar, profissional e social. A intersetorialidade das ações visa encontrar facilitadores na resolutividade dessa problemática.
Descritores: Vulnerabilidade em Saúde; Cooperação do Paciente; Terapêutica; Tuberculose.
Os aspectos de vulnerabilidade individual são determinados por condições cognitivas, comportamentais e sociais, e os aspectos de vulnerabilidade social integram as características do espaço social, as normas sociais vigentes, as normas institucionais, as relações de gênero e as iniquidades. Torna-se necessária a interpretação desses aspectos para o correto entendimento da adesão ao tratamento de doenças(1).
Considerando a tuberculose, seu tratamento diretamente observado (TDO) objetiva fortalecer o processo de adesão, prevenindo o aparecimento de cepas da micobactéria resistentes aos medicamentos, reduzindo os casos de abandono e aumentando a probabilidade de cura(2).
Nesse contexto, marcadores criados para detectar precocemente aspectos de vulnerabilidades na adesão ao tratamento de doentes com tuberculose, por meio de escores, apresentando forte potencialidade para o monitoramento dessa adesão no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS), podem aprimorar a vigilância de pessoas com a doença(3).
Verificar aspectos de vulnerabilidade individual e social relacionados ao diagnóstico e à potencialidade de adesão ao tratamento da tuberculose.
Estudo descritivo, de recorte transversal de pesquisa multicêntrica aprovada e financiada pelo edital Universal MCT/CNPq de nº 14/2013. Foi realizado com 39 doentes com tuberculose, em tratamento há no mínimo 30 dias, no município de Campina Grande, Paraíba, em 2015. Foram incluídos como participantes da pesquisa casos diagnosticados no período de setembro de 2014 a fevereiro de 2015. Os dados foram coletados em março de 2015.
Foram utilizadas como unidades de análise 20 marcadores, selecionados por expressarem elementos das vulnerabilidades individual e social à adesão ao tratamento da tuberculose. Os marcadores são relativos às dimensões contidas no instrumento de coleta de dados (validado para aplicação na APS)(3): condições sociais, contextos vulneráveis, processo saúde-doença e tratamento.
Para cada marcador há três possibilidades de respostas referentes aos escores 1, 2 ou 3. Os escores mais baixos sinalizam menores potenciais para a adesão ao tratamento, enquanto que os mais altos expressam maior potencial favorável à adesão.
Realizaram-se análises descritivas (frequências absolutas, relativas e gráficos boxplot) para visualizar a dispersão dos dados e análise fatorial de correspondência múltipla para evidenciar similaridades entre os dados. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), sob protocolo de nº 912.511.
Os marcadores que estiveram mais relacionados aos escores 1 (que indicam menor potencial de adesão) foram: impacto da tuberculose sobre o trabalho, concepção sobre a causalidade do processo saúde-doença e trabalho (condição empregatícia). Em contrapartida, os marcadores que estiveram mais fortemente relacionados aos escores 3 (que repercutem em maior potencialidade de adesão) foram: uso de drogas, vida (situação de moradia) e dificuldades no tratamento em relação à evolução da doença. Em seguida, a análise fatorial de correspondência múltipla privilegiou duas dimensões (dimensão 1 e 2). A localização da variável “tempo para o diagnóstico” nas duas dimensões permitiu observar que as melhores condições de adesão estiveram associadas ao quadrante 4 do plano fatorial (quando o diagnóstico foi realizado em tempo hábil e tiveram apoio à continuidade do tratamento pelos colegas de trabalho).
A probabilidade de adesão ao tratamento é maior, principalmente quando o doente possui alguma condição empregatícia, recebe incentivo e apoio de familiares e não apresenta impacto negativo sobre sua vida. O acontecimento de tais implicações na vida e no trabalho dos doentes pode proporcionar o atraso do diagnóstico, repercutindo em menor potencial de adesão ao tratamento.
Portanto, uma vez que a adesão ao tratamento da tuberculose é interferida por elementos de vulnerabilidade individual e social presentes no ambiente que o doente está inserido, é possível sinalizar indícios da não adesão e, consequentemente, estimular a adoção de medidas direcionadas ao público específico, tentando impedir o abandono
A utilização do instrumento foi importante para evidenciar marcadores em baixo potencial de vulnerabilidade à adesão ao tratamento da tuberculose, identificando quais deles necessitam de intervenção, recomendando-se a sua utilização na APS para o monitoramento da adesão ao tratamento da tuberculose pelo fato de se poder trabalhar antecipadamente ao processo de não adesão do tratamento, sendo possível interferir sobre ele, favorecendo a adesão à terapêutica. Quanto melhores forem as condições de vida e de trabalho (vulnerabilidades individual e social), mais precocemente pode ser realizado o diagnóstico, sendo ainda maiores as chances de uma repercussão mais positiva acontecer, representando fatores mais favoráveis à adesão à terapêutica. Logo, a intersetorialidade pode reorientar as ações na resolutividade dessa problemática.
Data da defesa da dissertação:
14 de junho de 2015.
Membros da Banca:
Profa. Dra. Tânia Maria Ribeiro Monteiro de Figueiredo (Presidente – UEPB), Profa. Dra. Maria Rita Bertolozzi (Membro Externo – USP), Prof. Dr. Edwirde Luiz Silva (Membro - UEPB).
Referência:
TEMOTEO, R. C. A. Adesão ao tratamento da tuberculose: aspectos de vulnerabilidade individual e social. 2015. 98f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, Brasil, 2015.
Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a matéria em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf
Recebido: 10/08/2017 Revisado: 08/08/2018 Aprovado: 08/08/2018