A interdisciplinaridade na produção e divulgação do conhecimento em tempos de pandemia – um olhar da atual gestão da EEAAC

 

 

Enéas Rangel Teixeira1, Simone Martins Rembold1

 

1 Universidade Federal Fluminense

 

 

RESUMO

Esse trabalho tem como objetivo realizar uma breve reflexão sobre a produção e divulgação de conhecimento na enfermagem e na saúde. Assim destaca-se o papel da EEAAC na produção do conhecimento inerente a enfermagem e a suas interfaces no contexto da pandemia. Preconiza-se uma produção de conhecimento integrado ao contexto social diante dos avanços da ciência. O OBJN tem uma função primordial na difusão de conhecimentos científicos de enfermagem e áreas afins.  A atual gestão almeja avançar para que a revista tenha impacto significativo e acesso aberto.

Descritores: Conhecimento; Educação; Pandemias; Enfermagem

 

 

É com entusiasmo e otimismo que inauguramos a nova gestão do Online Brazilian Journal of Nursing (OBJN), num contexto em que se comemora o Ano Internacional da Enfermagem e o Bicentenário de Florence Nightingale. Concomitantemente, somos surpreendidos pela pandemia da Covid 19, que nos leva modificar as formas de relações sociais, de educar e de ensinar.

A Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) da Universidade Federal Fluminense nasce no cenário da II Guerra Mundial, em 1944, tendo à frente da fundação a Professora Aurora de Afonso Costa, numa junção entre a competência profissional, a decisão política e a emergência das demandas de cuidado de enfermagem na sociedade Fluminense. A Professora já se destacava na arte de fazer, ensinar e cuidar, buscando a competência científica, técnica e humana do cuidado, enfrentando os desafios e desbravando soluções diante dos problemas emergentes e contínuos do contexto social da época. Portanto, existe um legado histórico na enfermagem diante de guerras e epidemias, que emerge no momento atual e nos instiga a ações.

A EEAAC tem como missão a formação de Enfermeiros com competência técnica, científica, política e ética, bem como a produção do conhecimento através de pesquisas desenvolvidas nos programas de pós-graduação strito sensu, que se aprofunda nas ciências de enfermagem1, bem como na inter e transdisciplinaridade na difusão do conhecimento, tendo como principal veículo de divulgação a revista OBJN.

A instituição se caracteriza pela especificidade epistêmica no campo da saúde, e desenvolve ações reflexivas e normativas nos ciclos vitais humanos, contribuindo para o avanço da enfermagem como ciência e arte nas esferas técnica, ética, social e política. Há um compromisso com a formação de alto nível na graduação e pós-graduação, compatível com padrões nacionais e internacionais de enfermagem, seguindo os princípios de universalidade, igualdade, equidade e integralidade, preconizados no Sistema Único de Saúde (SUS), e reforçando os órgãos e entidades de classe, como os Conselhos Federal e Regional de Enfermagem, e a Associação Brasileira de Enfermagem –ABEn.

A EEAAC tem uma expressiva atuação na comunidade local através das ações de extensão, e uma dinâmica inter e transdisciplinar, acolhendo alunos e profissionais que contribuem para o conhecimento do cuidado de Enfermagem e de Saúde.

Portanto, esse editorial tem como objetivo realizar uma breve reflexão sobre a produção e divulgação de conhecimento na enfermagem e na saúde.

O contexto atual movediço, incerto, conduz ao desafio de lidar com as incertezas e aponta a necessidade de construção de um projeto de uma educação voltada para o futuro1 baseada numa cultura de paz e de respeito. Momento esse, que implica em lidar com as diversidades diante das adversidades, firmando uma abordagem de compreensão, cooperação, inclusão, com respeito às diferenças que enriquecem e se complementam, reconhecendo alteridade, na perspectiva de construção de uma sociedade justa, democrática e tolerante, com liberdade de expressão.

O momento é de desafios e implica numa posição política para garantir as conquistas sociais no campo da saúde e do trabalho, que remete à formação voltada para uma prática social, transformadora, criativa, inovadora e ética, contemplando medidas de reparação das desigualdades. A lógica de mercado excludente não pode ser o fulcro que rege a formação e a produção no trabalho.  

No âmbito institucional, é preciso encontrar saídas criativas, participativas, cooperativas e integradas, na busca de recursos para a manutenção das atividades e investimentos para subsidiar os avanços na formação e qualificação dos integrantes da Unidade, e promoção de um ambiente que gere boas relações de trabalho.

A contemporaneidade exige o cuidado com a vida, com o meio ambiente e com o planeta. Desse modo, a ecologia por si só é um ramo de conhecimento transdisciplinar; é preciso considerar o meio ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana. Cuidar implica em reparação, manutenção e persistência da vida

De modo correlato os ambientes virtuais e midiáticos estão imbricados nessa ambientação e sãos recursos que precisam ser considerados na produção dos conhecimentos e na promoção da qualidade de vida. Esses recursos remotos passam a ser utilizados durante esse momento de pandemia, de modo a tornar possível um trabalho nas modalidades de ensino, assistência com orientações em saúde, interações humanas, tanto profissionais e quanto familiares. A virtualidade é considerada com um nível de realidade, um produto sofisticado da cultura humana, incorporado à na nossa vida na contemporaneidade.

Destarte, diante da complexidade, é preciso ter espaços que possam gerar uma ambientação com segurança e acessibilidade para nosso trabalho de educação e formação, criando práticas sustentáveis e humanas, e considerando a biossegurança, a proteção da vida, o bem-estar humano, através da integração dos espaços físicos e virtuais.

Doravante, diante da pandemia da Covid-19, estamos sendo desafiados a reinventar nossas formas de viver e produzir. Precisaremos rever nossas concepções, métodos e abordagens. Em outras palavras, lidar com novas maneiras de cuidar e ensinar, com foco na preservação da vida. É nos espaços do cotidiano remotos e presenciais que as relações humanas ocorrem e se configuram numa rede de pessoas que interagem, agem e produzem conhecimento.

É preciso o resgate da promoção de saúde na Universidade, no qual a dimensão estética esteja integrada à arte de cuidar, ensinar e pesquisar3. Por conseguinte, é preciso produzir ações integradas e compartilhadas de conhecimentos, gerando rodas de conversa com inclusão dos integrantes da Unidade e usuários dos serviços de saúde. Vale ressaltar que o ensino e trabalho de cuidado implicam num olhar para si mesmo, cuidar cuidando, tendo em vista de que esse cuidar é uma interação social de pessoas, resultado de imbricações de saberes e práticas.

Destaca-se que a produção do conhecimento, comprometido com a autonomia da ciência brasileira e sua conexão com o saber mundial, são pilares no combate ao fundamentalismo, à segregação, ao controle coercitivo das diversidades, que garantem uma sociedade plural e pautada no espírito científico, que impulsiona o progresso do pensamento humano.

É preciso pensar na equidade e na saúde, de modo que a reflexão do contexto precisa acompanhar a formação e ações práticas, bem como desenvolver a capacidade de criação de soluções para os problemas de saúde da população.

A ciência, a arte e a profissão precisam avançar, mas é necessário ser criativo diante de forças que alienam e geram empecilhos para ensinar e pesquisar com qualidade, no qual o balizador é o bem-estar humano e a diminuição da iniquidade social. Para isso torna-se necessário uma implantação efetiva da interdisciplinaridade, realizando assim, conexões entre os Departamentos de Ensino, Coordenações de Graduação e Pós-Graduação, visando à construção de um plano de desenvolvimento da Unidade integrado à Universidade e com a sociedade.

Os produtos do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, como a inteligência artificial, a nanotecnologia, e a tecnologia da informação, devem ser integrados à formação do enfermeiro e dos profissionais de saúde. São de fato avanços, que não estão isentos de questões filosóficas e por si mesmo requerem uma consciência crítica perene. Pois os saberes são frutos da cognição humana, diante dos desejos e necessidades.

É necessário, portanto, fortalecer a conexão dos saberes1 das ciências da vida, humanas e sociais, desde o início da formação do enfermeiro, bem como a integração entre disciplinas, efetivando a interdisciplinaridade e a atitude transdisciplinar diante da tendência à fragmentação do conhecimento, do dualismo e da redução das pessoas a objetos. Almeja-se assim à conexão das disciplinas e das ações que incluem o território vivo, a subjetividade e tecnologias que produzam o bem-estar e o cuidado humanizado.

A EEAAC além de formar enfermeiros, acolhe profissionais de diversas áreas de conhecimento, cujo fulcro da produção de conhecimento e inovação é o cuidado, de modo a contribuir para a qualificação da rede de saúde e da produção de conhecimentos3. Ao mesmo tempo delineia a dimensão transdisciplinar dessa Escola, que em conjunto com as Ciências da Enfermagem precisa ser cultivado, mantido e se projetar. O que de certo implica numa reflexão e ação para a atualização de reorganização dos ramos de conhecimentos internos com suas respectivas subáreas e linhas de pesquisa.

O OBJN tem um papel central na difusão de conhecimentos científicos de enfermagem e áreas afins, e a atual gestão almeja avançar para que a revista seja referência nacional e internacional através da seleção de publicações originais, com impacto significativo e acesso aberto, visando à comunicação dos resultados de pesquisas da forma mais ampla possível. Pretende-se a agilidade nos prazos de submissão, utilização de um sistema de gerenciamento eletrônico para o processo editorial que assegure a sua padronização, uniformidade, agilidade, transparência e rastreabilidade, além da valorização dos aspectos éticos em pesquisa.

Destarte convidamos os leitores a acompanharem as publicações subsequentes, na perspectiva oferta de conteúdo de qualidade e relevância na área de enfermagem e de saúde.

REFERÊNCIAS

 

1. DALLAIRE C.D. Le savoir infirmier – Au coeur de la discipline et de la profession infirmière. Boucherville: GaëtanMorin, 2008.  

2. MORIN, E. O Conhecimento do Conhecimento. 4.ed. Porto Alegre: Sulina, 2008.

3. TEIXEIRA, ER. A propósito das Ciências do Cuidado em Saúde.  Online Braz J Nurs [Internet]. 2013 set. [Cited 2020 jul 30]; 12(3):427-30. Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/4570