Ensino remoto em tempos de pandemia da covid-19: novas experiências e desafios

 

Alessandra Conceição Leite Funchal Camacho1

 

1 Universidade Federal Fluminense

 

 

RESUMO

Objetivo: Refletir sobre o ensino remoto como possibilidade de novas experiências e desafios em tempos de pandemia da Covid-19. Método: Análise reflexiva sobre as novas experiências e desafios no ensino remoto durante a pandemia da covid-19. Resultado: O ensino remoto traz a oportunidade de integrar aulas de maneira síncrona (em tempo real) através webconferência e atividades assíncronas (não se efetivam em tempo real) que possibilitam o uso de ferramentas interativas de aprendizagem estimuladas pelo professor, mediador do conhecimento, em especial da Enfermagem. Conclusão: Recomenda-se que o professor promova a interatividade permitindo que o aluno, usufruindo dos recursos disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem, possa compor elementos dos conteúdos discutidos com experiências positivas de aprendizagem.

Descritores: Educação Online; Tecnologia Educacional; Coronavírus; Enfermagem.

 

 

No cenário mundial, inclusive no Brasil, foram tomadas medidas de isolamento social como forma de prevenir e atenuar a propagação da COVID-19, onde a Organização Mundial da Saúde a declarou como uma pandemia em março de 2020(1). Nesta perspectiva, muitas instituições de ensino tiveram que suspender suas aulas e atividades presenciais sejam estas administrativas e de ensino.

Diante desta situação, o Ministério da Educação, publicou a Portaria nº 343, de 17 de março de 2020 que dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19. Esta mesma portaria destaca que é de responsabilidade das instituições de ensino a definição das disciplinas que poderão ser substituídas, a disponibilização de ferramentas aos alunos que permitam o acompanhamento dos conteúdos ofertados bem como a realização de avaliações durante o período da autorização(2).

Muitas instituições de ensino superior realizaram planejamentos de retorno das atividades acadêmicas e administrativas de forma remota dando a oportunidade discussões sobre essa modalidade de ensino e de novas experiências voltadas para a capacitação do professor.

Nesta nova realidade, o ambiente virtual de aprendizagem, disposto como veículo, permitiu ao docente elaborar o planejamento remoto de suas aulas, mediada por dispositivos tecnológicos diversos. No caso da Universidade Federal Fluminense, nos foram disponibilizados o pacote Gsuíte com vários aplicativos para o desenvolvimento do ensino remoto no Google tais como: Meet, Classroom, Docs, Planilhas, Apresentações, Agenda, Jamboard entre outros visando a interatividade e a criatividade.

Destaca-se que o processo de capacitação docente e discente se fizeram necessários, o que também vislumbrou na visão da universidade a disponibilidade de recursos para que essa realidade se tornasse possível para ambas as partes. Essa nova forma de ensinar com recursos didáticos informáticos exigiu uma preparação e um planejamento das atividades que pudessem oportunizar momentos de aprendizagem ativa com significado e possibilidades de aprendizagem tanto para o aluno quanto para o professor(3).

Dessa forma, o ensino presencial físico precisou ser realizado nos meios digitais. As aulas passaram a ocorrer num tempo síncrono (seguindo os princípios do ensino presencial), com videoaula, aula expositiva por sistema de webconferência pelo Meet, e as atividades seguiram outros horários durante a semana no espaço de um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) de forma assíncrona. Essa é a forma como se projeta a presença por meio da tecnologia no momento no ensino remoto.

Na fase de oportunidade de novas experiências, o professor deve buscar refletir sobre o ensino remoto na visão docente e, também na visão discente (colocando-se no lugar do outro). Para tanto, a busca inicial deve ser voltada para um planejamento que vise amenizar angústias como: disponibilidade de vídeos explicando aos alunos sobre o pacote Gsuíte, sobre o Google Classroom e a apresentação da disciplina (desde o conteúdo programático, objetivos de aprendizagem e atividades com suas respectivas pontuações). Este tópico denomino de “Ambientação e Apresentação da disciplina” como destaque ao Design Instrucional para melhor compreensão do Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Em algumas oportunidades, é importante elaborar tutoriais explicativos sobre o acesso às atividades que também auxiliam na condução das aulas, dirimindo dúvidas no ensino remoto.

No desencadeamento dessas novas experiências, destaca-se o planejamento e o desenvolvimento do conteúdo programático da disciplina. De acordo com o perfil da disciplina (pós-graduação ou graduação) o docente pode optar pela organização por datas de forma a sinalizar ao aluno o conteúdo ministrado através de tópico com indicação dos conteúdos da aula especificada e atividades assíncronas.

Na oportunidade de averiguação do processo de ensino e aprendizagem de forma contínua, é possível se perguntar: como garanti-la?

Identificando formas de contato efetivas pelo registro das funcionalidades do AVA, como a participação e discussões nas aulas online síncronas e nas atividades assíncronas, nos feedbacks e nas contribuições dentro do ambiente (no mural, nos fóruns de debates).

Através das ferramentas, a interatividade entre professores e alunos pode construir relações ricas de troca de conhecimentos. Nesta perspectiva, os conteúdos de multimídia desenvolvidos pelos professores/conteudistas e postados através de textos, vídeos e inserção de anexos, permitem que as tarefas possam ser criadas na hora ou programadas, tornando-as perfeitas tanto para as disciplinas de curta ou de longa duração. Os alunos são convidados a responder às tarefas, sendo avaliados pelo professor no próprio ambiente virtual de aprendizagem.

Com essa realidade, surgiu a necessidade de flexibilização de horários, gravação de aulas online para que os alunos pudessem ter acesso aos conteúdos em outros momentos. Houve também a flexibilidade no controle de frequência dos alunos através do acesso no AVA.

No entanto, cabe tecer algumas considerações sobre os desafios no ensino remoto tais como: a disponibilidade efetiva da internet e de outros recursos tecnológicos que possibilitem a ocorrência do ensino remoto; a capacitação (docente e discente) constante diante da velocidade em que os recursos tecnológicos são modificados e disponibilizados; a importância da interação entre os docentes no transcurso da disciplina para que a mesma possa ocorrer de forma visível para o aluno de acordo com o planejamento remoto disposto no início; disponibilidade docente para constante feedback ao discente que coadune com a proposta da aula ministrada visando um aprendizado colaborativo; a visibilidade do cuidado com o outro através de um aprendizado integrado e cooperativo no âmbito do ensino remoto.

Como recomendação, é pertinente uma avaliação final da disciplina pelo aluno sobre o ensino remoto desenvolvido com vistas à racionalidade educativa que coadunem com o projeto político pedagógico do curso.

Diante desta realidade sobre a Pandemia do COVID-19 recomenda-se que o professor traga intervenções significativas, de modo que cada indivíduo, usufruindo dos recursos disponíveis, possa compor cenários em sintonia com os elementos próprios de seu contexto e consiga transformar seu universo intelectual com experiências positivas de aprendizagem.

Não há nesse momento respostas e saídas imediatas para solucionar o problema da Pandemia, mas podemos juntos aproveitar esse momento para criar um grande fórum de debates e discutir as trilhas que podem ser construídas pensando num processo educacional de qualidade. Esta diretiva está no delineando de uma perspectiva educacional do ensino de Enfermagem que possibilite o planejamento de estratégias que viabilizem uma discussão crítica do momento que estamos vivendo.

Além disso, o ensino remoto deve ser inclusivo, propondo ações e medidas que visem assegurar melhoria da qualidade do ensino, com o investimento em uma ampla formação dos docentes e a ruptura de barreiras atitudinais.

O momento é de novas experiências e de avançar conhecendo os desafios operantes na atualidade com o pleno entendimento que o ensino remoto nos trazem reflexões sobre a complexidade futura diante da Pandemia do Covid-19.

 

REFERÊNCIAS

 

1. World Helath Organization. Coronavirus disease 2019 (COVID-19): situation Report–51. WHO [Internet]. 2020 [cited 2020 Nov 13]. Available from: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200311-sitrep-51-covid-19.pdf?sfvrsn=1ba62e57_10

 

2. Brasil. Ministério da Educação. Portaria nº 343, de 17 de Março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus-COVID-19. Brasília [Internet]. 2020  [cited 2020 Nov 13]. Available from: https://www.mec.gov.br/

 

3. Camacho ACLF; Joaquim FL; Menezes HF. Possibilidades para o design didático em disciplinas online na saúde. Research, Society Development [Internet]. 2020 [cited 2020 Nov 13]; 9(4):1-10. Available from: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/2907/2169