ORIGINAL

 

Instrumento ilustrado para avaliar o conhecimento de idosos sobre prevenção do HIV/Aids: estudo metodológico

 

Priscila de Oliveira Cabral Melo1, Elizabeth Teixeira2, Ryanne Carolynne Marques Gomes Mendes1, Francisca Márcia Pereira Linhares1, Wilson Jorge Correia de Abreu3, Tatiane Gomes Guedes1

 

1 Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil

2 Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, AM, Brasil

3 Escola Superior de Enfermagem do Porto, Porto, Portugal

 

RESUMO

Objetivo: Construir e validar o conteúdo de um instrumento ilustrado para avaliar o conhecimento de pessoas idosas sobre a prevenção do HIV/Aids. Método: Estudo metodológico realizado em três etapas: revisão da literatura, construção e validação de conteúdo. A validação foi realizada de acordo com o modelo de Pasquali. Resultados: Da construção chegou-se a um instrumento com duas partes: caracterização da pessoa idosa e avaliação do conhecimento sobre a prevenção do HIV/Aids com 12 questões de múltipla escolha (“verdadeiro”, “falso” e “não sei”) ilustradas com imagens de idosos em situações quotidianas. Da validação com 10 juízes-especialistas atingiu-se o Índice de Validade de Conteúdo de 0,90. Conclusão: O instrumento construído foi considerado adequado pelos juízes e se apresenta como um dispositivo educacional para avaliar o conhecimento da pessoa idosa e, a partir disso, suscita ganhos para as intervenções de educação em saúde relativas à prevenção do HIV/Aids.

 

Descritores: HIV; Estudo de Validação; Idoso; Enfermagem.

 

INTRODUÇÃO

O prolongamento da vida sexual ativa das pessoas idosas, devido à expressiva transição demográfica brasileira e ao advento da indústria farmacêutica, tem implicado no aumento da prevalência de algumas doenças, dentre elas, a infecção pelo HIV(1-2). Dados do ano de 2020 do Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids – UNAIDS – evidenciaram 38 milhões de pessoas em todo o mundo vivendo com o HIV. Dessas, 1,7 milhões correspondem ao número total de novas infecções(3). No Brasil há registros de 342.459 casos de infecção pelo HIV na faixa etária idosa, ademais, evidencia-se um aumento de 38,5% na mortalidade desse público nos últimos dez anos, o que demonstra que esse agravo continua sendo crescente e cada vez mais preocupante na população idosa(4).

Há múltiplos fatores para o aumento do HIV/Aids nesse público, dentre eles o conteúdo das campanhas negligenciarem a veiculação de informações aos principais grupos vulneráveis, a exemplo dos idosos; a baixa escolaridade; a imunossenescência; e a falta de conhecimento sobre suas formas de prevenção e sobre a doença em si, o que leva ao descuido no uso de preservativo e em outros comportamentos de risco(5-6).

Esses fatores corroboram a ideia de oferecer mais expressividade e visibilidade ao debate sobre a saúde sexual das pessoas idosas, a exemplo da prevenção contra o HIV. Além de despertarem a importância da oferta de conhecimento a idosos sobre como viver e conviver, sem estigma e preconceito, com o fenômeno HIV/Aids, além de enfatizar a ideia que o idoso tem direito a viver a sua sexualidade de forma responsável e informada, priorizando a temática como objeto de políticas públicas, de modo a contribuir para a extinção do estereótipo de que a pessoa idosa é assexuada(5).

Diante dessa conjuntura e, tendo em vista que a atenção ao idoso é uma prioridade global, o enfermeiro, junto à equipe multiprofissional, precisa estar atento à realidade epidemiológica e, consequentemente, deve atuar como agente promotor do cuidado preventivo por meio da implementação de ações de educação em saúde(7). Neste contexto, destaca-se a realização de estudos de intervenção e os estudos metodológicos que visam a produção de Tecnologias Educacionais (TEs). Uma modalidade a se destacar são os instrumentos, ferramentas utilizadas para medir indicadores e atribuir valores numéricos a questões abstratas que possam ser mensuráveis. Quando aplicados, podem contribuir com o aprimoramento da práxis em saúde(8).

Uma das definições utilizadas para as TEs é: corpo de conhecimento que promove o preparo, aplicação e acompanhamento do processo educativo. Essas tecnologias instrumentalizam momentos de educação em saúde por meio da mediação entre o educador e a educação, para que assim seja possível edificar o conhecimento(9). Uma revisão sistemática sobre a construção de TEs que auxiliam na abordagem das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) no âmbito do HIV/Aids, evidenciou que as tecnologias têm sido cada vez mais produzidas devido à facilidade de uso, acesso e aceitação do público(10).

A escolha pela construção e validação de uma TE do tipo instrumento ilustrado sobre a prevenção de HIV/Aids para pessoas idosas justifica-se, além de todos os aspectos elencados anteriormente, pela necessidade de abordar essa temática de forma mais clara e elucidativa, por meio de imagens que favoreçam a identificação do idoso com as suas atividades cotidianas. O instrumento ilustrado poderá, ainda, tornar a abordagem do profissional sobre a saúde sexual da pessoa idosa mais empática e livre de tabus, pois favorecerá uma maior aproximação deste com o público-alvo. Além disso, as figuras maximizam o processo cognitivo, o que favorece o entendimento do idoso, a melhor compreensão e, consequentemente, uma resposta mais assertiva.

Os recursos educacionais ilustrados, podem ser utilizados individualmente ou de modo complementar a outras estratégias e servem para avaliar o conhecimento nas ações de educação em saúde ou para, a partir dessa avaliação, subsidiar a implementação de ações educativas. Assim, são dispositivos que facilitam o processo ensino-aprendizagem, que podem contribuir com a clareza e elucidação das informações de saúde, no entanto, antes de serem divulgados em âmbito científico, devem estar adequados para aplicação com o público a que se destina. Para tanto, é basilar o processo de validação(9).

O instrumento construído e validado por este estudo possibilitará não só uma investigação de modo ilustrativo, mas também tornará mais engajante e lúdico o processo educativo. A coleta das informações, por meio desse instrumento ilustrado, favorecerá o melhor planejamento das ações que atendam as reais necessidades do público-alvo. Neste sentido, objetivou-se construir e validar o conteúdo de um instrumento ilustrado para avaliar o conhecimento de pessoas idosas sobre a prevenção do HIV/Aids.

 

MÉTODO

Estudo metodológico desenvolvido de junho/2020 a janeiro/2021, em três etapas: revisão da literatura, construção e validação de conteúdo. Definiu-se como referencial teórico-metodológico o modelo de Pasquali, tendo como base os polos teórico, empírico e analítico. O polo teórico foi contemplado com a revisão narrativa da literatura intitulada “Instrumentos de avaliação do conhecimento de idosos sobre prevenção do HIV/Aids”; o polo empírico, com a validação de conteúdo; e o polo analítico, com a aplicação dos testes estatísticos(11).

Na primeira etapa ocorreu a revisão narrativa, no mês de junho/2020, por meio das bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scopus (Elsevier) e Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature (CINAHL), norteada pela seguinte pergunta de pesquisa: Quais são os instrumentos de avaliação disponíveis na literatura científica para avaliar o conhecimento do idoso sobre prevenção do HIV/Aids?. Dentre os instrumentos resgatados na revisão, destacou-se o Questionário de HIV na Terceira Idade - QHIV3I(12).

Na segunda etapa, utilizou-se o QHIV3I como referência para a organização estrutural do instrumento ilustrado. O instrumento foi construído com duas partes: a primeira sobre aspectos socioeconômicos; a segunda com questões de múltipla escolha com as alternativas: “verdadeiro”, “falso” e “não sei”. Este visa avaliar o conhecimento sobre prevenção de HIV/AIDS. Para o cálculo da pontuação do instrumento (13), considerou-se a vivência de uma das pesquisadoras, na qualidade de especialista em enfermagem gerontológica, bem como a consulta a fontes complementares sobre a temática em questão. O instrumento contém questionamentos curtos e objetivos sobre as situações cotidianas que envolvem o público idoso e o risco de infecção pelo HIV, e foi ilustrado com imagens de pessoas idosas desempenhando ações habituais.

Na terceira etapa, realizou-se a validação de conteúdo. Essa etapa contou com juízes especialistas selecionados por meio de recursos da Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir da ferramenta “busca de currículo” e “busca avançada”, com o uso dos seguintes especificadores: Infecções Sexualmente Transmissíveis; HIV; Enfermeiros; Gerontologia; Validação e Brasileiros. Após ser direcionado ao currículo, foram verificados os critérios de inclusão: ter experiência clínico-assistencial com o público-alvo de, no mínimo, três anos; ter trabalhos publicados em revistas e/ou eventos sobre o tema; ter trabalhos publicados em revistas e/ou eventos sobre construção e validação de Tecnologia Cuidativo Educacional (TCE) na área; ser especialista (lato sensu) e membro de Sociedade Científica na área(9). Foram excluídos os juízes que não responderam à carta-convite. O quantitativo de juízes seguiu a recomendação de Pasquali(14): de seis a 10 juízes.

A validação ocorreu em agosto de 2020 de forma online, considerando o contexto da pandemia da COVID-19. Cada juiz recebeu, via e-mail, uma carta-convite para participar da validação de conteúdo da TE. Ao aceitar, foi enviado outro e-mail com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para a assinatura e o link do Google Forms para responder o instrumento com questões sobre a validação de conteúdo de instrumentos, além do próprio instrumento ilustrado em formato Portable Document Format (PDF).

Para a coleta dos dados com os juízes especialistas, utilizou-se um instrumento validado composto por duas partes(15): a primeira com os dados de identificação e a segunda com questões específicas para a validação de instrumentos impressos. O referido instrumento dispõe as questões em três blocos, a saber: bloco I- Objetivos, com cinco questões; bloco II - Estrutura e apresentação, com 11 questões; e bloco III- Relevância, com cinco questões. As questões são respondidas por meio de escala Likert, com valores que variam de 1 a 4, sendo 1 para Totalmente Adequado (TA), 2 para Adequado (A), 3 para Parcialmente Adequado (PA) e 4 para inadequado (I).

Os dados foram organizados e armazenados em planilha do programa Excel. Para a análise foi adotada a estatística descritiva - determinadas as frequências absoluta e relativa. Considerou-se o Índice de Validade de Conteúdo (IVC) válido, os itens que apresentaram nível de concordância ≥ 80% nas opções TA e A(9).

Com vistas a estruturar e relatar melhor este estudo, foram seguidas as diretrizes do guia Revised Standards for Quality Improvement Reporting Excellence (SQUIRE 2.0).

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco, sob nº do parecer 4.258.634.

 

RESULTADOS

Realizou-se na primeira etapa uma revisão narrativa. A partir dela, emergiram sugestões de instrumentos de avaliação disponíveis na literatura para analisar o conhecimento das pessoas idosas sobre prevenção do HIV/aids. Estes, por não atenderem algumas demandas desejadas pelos pesquisadores (não conterem imagens e algumas questões específicas do cotidiano da pessoa idosa relativas à prevenção do HIV/aids), foram tomados como base para a construção do instrumento referido neste estudo.

Na segunda etapa, se deu a construção do instrumento. O instrumento foi constituído de duas partes: para a caracterização da pessoa idosa, contém tópicos sobre: escolaridade, nível socioeconômico, situação ocupacional, religião, ter ou não filhos, aspectos relacionados aos hábitos de vida; para a caracterização do conhecimento sobre a prevenção do HIV/Aids, contém 12 questões ilustradas.

O instrumento ilustrado é autoexplicativo, no entanto, recomenda-se que seja um profissional da área da saúde para aplicá-lo. As questões são de múltipla escolha com as opções: “verdadeiro”, “falso” e “não sei”. Respeitando o QHIV3I, o resultado do instrumento ilustrado deve ser analisado quantitativamente(13). A saber: nove ou mais questões corretas é indicativo que o idoso possui conhecimento acerca da doença, e resultados diferentes deste, revela pouco conhecimento do idosos sobre a infecção pelo HIV e a Aids. Destaca-se que a resposta “não sei” é classificada como incorreta, ou seja, demonstra a insuficiência de conhecimento sobre o assunto em questão.

Na terceira etapa participaram 10 juízes-especialistas. Quanto ao perfil, os 10 (100%) eram sexo feminino, 6 (60%) tinham doutorado, 3 (30%) mestrado e 1 (10%) especialização lato sensu, todos com mais de 10 anos de formação e com experiência de participação em pelo menos um processo de validação de tecnologias educacionais.

No domínio “Objetivos”, obtiveram-se 43 marcações para TA (86%), 6 (12 %) para A, 1 (2 %) para PA e, 0 (0%) para I. Não houve sugestões para esse domínio. A pontuação de TA e A totalizou 50 marcações, representando 100 % das respostas válidas. O IVC total do domínio “objetivos” foi 1,00 (Tabela 1).

 

Tabela 1 – Respostas dos juízes quanto ao domínio “objetivos” da validação do instrumento ilustrado (n=10). Recife, PE, Brasil, 2021

 

                      Objetivos

Validação

TA

1

A

2

PA

3

I

4

IVC*

1.1 As informações/conteúdos dos instrumentos de pré e pós-teste são ou estão coerentes com as necessidades cotidianas do público-alvo.

8

2

0

0

1,00

1.2 As informações/conteúdos dos instrumentos de pré e pós-teste são importantes para a qualidade de vida do público-alvo.

9

1

0

0

1,00

1.3 Os instrumentos de pré e pós- teste convidam e/ou instigam a mudanças de comportamento, hábitos e atitudes.

8

2

0

0

1,00

1.4. Os instrumentos de pré e pós-teste podem circular no meio científico da área da saúde.

10

0

0

0

1,00

1.5 Os instrumentos pré e pós-teste atendem ao objetivo que se propõe atingir com as pessoas idosas. (Objetivo: mensurar o escore de conhecimento da pessoa idosa sobre prevenção do HIV/Aids antes da intervenção educacional com o jogo mural do risco e após a intervenção educacional com o mesmo jogo).

9

1

0

0

1,00

Escore

43

6

1

0

50

Percentual

86,00%

12,00%

2,00%

0%

100%

IVC global

                            1,00

Fonte: Elaborada pelos autores, 2021.

Nota: 1. TA=Totalmente Adequado; 2. A=Adequado; 3. PA=Parcialmente Adequado; 4. I= Inadequado.

 

No domínio “Estrutura e Apresentação”, obtiveram-se 86 marcações para TA (77,48%), 18 (16,22%) para A, 5 (0,45%) para PA e 2 (0,18%) para I. As sugestões foram: reestruturação textual e de sequência das perguntas e alteração da dimensão das imagens para favorecer a visualização e a projeção da pessoa idosa nas situações cotidianas.

As pontuações de TA e A totalizaram 104 marcações, representando 93,69% das respostas válidas. O IVC total foi 0,95 o que representou a validação do conteúdo quanto ao objetivo proposto (Tabela 2).

 

Tabela 2 – Respostas dos juízes quanto ao domínio “Estrutura e apresentação” da validação do instrumento ilustrado (n=10). Recife, PE, Brasil, 2021

 

Validação

Estrutura e Apresentação

TA

1

A

2

PA

3

I

4

IVC*

2.1 Os instrumentos pré e pós-teste são apropriados para serem utilizados com o público idoso.

7

2

1

0

0,90

2.2 A linguagem dos instrumentos pré e pós-teste é clara e objetiva.

9

1

0

0

1,00

2.3 As informações apresentadas nos instrumentos estão cientificamente corretas.

8

2

0

0

1,00

2.4 Os instrumentos pré e pós-teste estão apropriados ao nível sociocultural do público-alvo (pessoas idosas).

8

2

0

0

1,00

2.5 Há uma sequência lógica do conteúdo proposto nos instrumentos pré e pós-teste.

7

2

1

0

0,90

2.6 As informações estão bem estruturas em concordância e ortografia.

9

1

0

0

1,00

2.7 O estilo da redação corresponde ao nível de conhecimento do público-alvo (pessoas idosas).

7

2

1

0

1,00

2.8 A apresentação dos instrumentos de pré e pós-teste está adequada para as pessoas idosas.

10

0

0

0

1,00

2.9 O tamanho dos títulos e dos tópicos estão adequados.

8

2

0

0

1,00

2.10 As ilustrações estão expressivas e suficientes. *o instrumento será utilizado pela pesquisadora para investigar o conhecimento da pessoa idosa sobre a prevenção do HIV.

2.11 A extensão dos instrumentos pré e pós-teste (número de páginas) está adequado para ser utilizado com as pessoas idosas.

6

 

 

 

 

6

2

 

 

 

 

2

1

 

 

 

 

1

1

 

 

 

 

1

 

0,80

 

 

 

 

0,80

Escore                                                                                                   

86

18

    5

2

111

Percentual

77,48%

16,22%

0,45%

0,18%

100%

IVC global

0,95

Fonte: Elaborada pelos autores, 2021.

Nota: 1.TA=Totalmente Adequado; 2.A=Adequado; 3.PA=Parcialmente adequado; 4.I= Inadequado.

 

No domínio “Relevância”, obtiveram-se 45 marcações para TA (90%), 5 (10%) para A, 0 (0%) para PA, e 0 (0%) para I. Não houve sugestões para esse domínio. De acordo com a avaliação dos juízes, TA e A totalizaram juntos 50 marcações, representando 100 % das respostas válidas. O IVC do bloco foi 0,96 o que representou a validação do conteúdo quanto ao objetivo proposto (Tabela 3).

 

Tabela 3 – Respostas dos juízes quanto ao domínio “Relevância” da validação do instrumento ilustrado (n=10). Recife, PE, Brasil, 2021

 

Validação

                     Relevância

TA

1

A

2

PA

3

I

4

IVC*

3.1 Os temas trazidos pelos instrumentos de pré e pós-teste retratam aspectos-chave que devem ser reforçados em relação a prevenção do HIV por parte das pessoas idosas.

10

0

0

0

1,00

3.2 O material educativo permite o aprendizado sobre prevenção do HIV/Aids em diferentes contextos.

7

2

1

0

0,90

3.3 Os instrumentos de pré e pós- teste propõem a construção de conhecimentos sobre prevenção do HIV/Aids.

7

2

1

0

0,90

3.4 Os instrumentos de pré e pós- teste abordam os assuntos necessários para a prevenção do HIV/Aids pelas pessoas idosas.

9

1

0

0

1,00

3.5 Os instrumentos pré e pós-teste estão adequados para serem usados por profissionais da área da saúde com as pessoas idosas.

10

0

0

0

1,00

Escore

45

 5

0

0

50

Percentual

90,00%

10,00%

0%

0

100%

IVC global

0,96

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

Nota: (1) TA=Totalmente Adequado; (2) A=Adequado; (3) PA=Parcialmente adequado; (4) I= Inadequado.

 

As sugestões dos juízes foram analisadas e, quando pertinentes, acatadas. Quanto aos ajustes na estrutura e apresentação, destaca-se: na primeira parte foram acrescentadas questões alusivas ao aspecto socioeconômico (renda, quantidade de filhos, situação ocupacional e aspectos relacionados aos hábitos de vida e comportamento de saúde); na segunda parte foram realizados ajustes na sequência lógica do conteúdo proposto, foram revisadas as imagens da questão 5 e questão 11 e inseridas imagens que retratassem a realidade das pessoas idosas, como: prática de hidroginástica e idosos se relacionando com profissional do sexo.

Após a inserção das sugestões dos juízes, a versão final do instrumento ficou com três páginas: a página 1 com questões relativas à caracterização das pessoas idosas; as páginas dois e três com as 12 questões ilustrativas alusivas à prevenção do HIV/Aids, com dimensão 10 x 10 cm, para não comprometer o entendimento do idoso. As imagens do tabuleiro do jogo foram construídas junto com pessoas idosas por meio de uma ação de educação em saúde sobre a temática e depois foram reproduzidas graficamente por um designer. Durante o processo criativo de construção e ajustes das imagens, os juízes e os autores analisaram a percepção das pessoas idosas sobre a prevenção do HIV, bem como buscaram clarificar de modo mais lúdico possível as situações cotidianas – que remetiam ao risco de infecção pelo HIV/aids - de acordo com a realidade vivida pela própria pessoa idosa. Segue abaixo as três páginas do instrumento ilustrado (Figura 1).

 

Texto

Descrição gerada automaticamente

Uma imagem contendo Diagrama

Descrição gerada automaticamenteUma imagem contendo Calendário

Descrição gerada automaticamente

Figura 1 – Páginas do instrumento ilustrado para avaliar o conhecimento de idosos sobre prevenção do HIV/Aids. Recife, PE, Brasil, 2021

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

 

DISCUSSÃO

Este estudo tem como produto uma inovação tecnológica do tipo instrumento que avalia, por meio de escore, o conhecimento de idosos sobre a prevenção do HIV/Aids a partir de sentenças frasais objetivas, associadas a ilustrações de idosos em situações cotidianas que podem ou não implicar em risco de infecção pelo HIV/Aids, todas validadas semanticamente(16). Avaliar o conhecimento dos idosos é fundamental para identificar a sua realidade e, a partir disso, implementar as ações de educação em saúde. A referida TE, relacionada à assistência à saúde sexual de idosos, pode ser utilizada na prática clínica de enfermeiros que realizam intervenções educacionais em saúde com essa população nos níveis primários, secundários e terciários de atenção à saúde, a exemplo de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), intervenções socioculturais, intervenções em contexto familiar, intervenção em contextos de educação formal de idosos e no âmbito acadêmico.

No entanto, é a validação que confere a adequação da TE para que ela possa ser utilizada amplamente nos diversos contextos acadêmico e assistenciais. O planejamento e a organização de um instrumento impresso requer uma grande atenção no que se refere à constituição textual, imagética, harmonia das cores, espaçamento, tipo de fonte utilizada entre outros aspectos(17-18). Nesse sentido, a validação de conteúdo realizada nesse estudo propiciou a identificação de aspectos de melhora no conteúdo e na estrutura do instrumento ilustrado.

Evidências mostram que a prática de intervenções de educação em saúde com o uso de TEs tem impactado positivamente na prevenção e promoção da saúde dos idosos(1). Diante do exposto, com base nos benefícios das tecnologias nas ações de saúde(19) e a partir do entendimento de que a atenção a saúde do idoso perpassa todos os níveis de atenção à saúde e, portanto, deve atender às necessidades inerentes a essa fase da vida de forma integral(20), idealizou-se o “Instrumento ilustrado acerca do conhecimento sobre prevenção do HIV/Aids para idosos”. Ratifica-se, portanto, que a identificação do conhecimento da pessoa idosa por meio desse instrumento é necessária para embasar estratégias de educação em saúde para esse público a partir da identificação do nível de conhecimento e das próprias necessidades deles. Acredita-se que as evidências geradas pelo uso do instrumento possam embasar as discussões sobre a temática em questão e, ainda, abordar a diversidade social, econômica e cultural por meio das informações coletadas na primeira parte do instrumento.

Tomou-se ponto definidor para a construção do instrumento validado por este estudo a necessidade de ofertar à comunidade um recurso capaz de aproximar o enfermeiro do conhecimento do idoso sobre a prevenção do HIV/Aids. Percebeu-se a carência de um instrumento, ancorado em evidências científicas, que abordasse essa prevenção com a presença de ilustrações que facilitassem o entendimento do idoso e o aproximasse da temática por meio de situações cotidianas vivenciadas por eles mesmos, tendo em vista que as práticas educativas que utilizam TEs baseadas em evidências implicam maior robustez nos resultados do cuidado preventivo(19).

As ações de educação em saúde com o uso de TEs podem favorecer significativamente o processo de ensino-aprendizagem, fomentar um estilo de vida mais saudável e instigar o cuidado preventivo. Elas ajudam, ainda, no intermédio de informações sobre a Aids, favorecendo o acolhimento. Desse modo, no sentido se de favorecer a prática assistencial, estudos estão investindo cada vez mais no desenvolvimento de TEs na área da enfermagem(20).

Ademais, dado os altos índices de HIV e o pouco conhecimento dos idosos em relação à prevenção do HIV não se pode desconsiderar a necessidade de atenção premente a esse público. As ações de educação em saúde, por sua vez, favorecem significativamente o processo educativo, pois ofertam conhecimentos de forma colaborativa e, promovem o estímulo à reflexão e à capacidade de tomada de decisão no que diz respeito às questões que envolvem o cuidado à saúde(19-20).

Nesse sentido, acredita-se que o instrumento validado possa auxiliar profissionais de saúde a investigar o conhecimento dos idosos sobre a prevenção do HIV/Aids de modo mais lúdico e que a coleta das informações possa embasar as medidas preventivas e intervencionistas, direcionadas à saúde sexual dessas pessoas de forma mais assertiva. Poderá contribuir, também, para uma assistência à saúde sexual cada vez mais acolhedora, interativa, inovadora e inclusiva.

Portanto, para favorecer o engajamento do público idoso ao serviço de saúde, há que se investir no uso de TEs que propiciem a aproximação deles, visando o acolhimento e a escuta ativa das reais demandas de saúde desse público, a exemplo da TE relatada neste estudo. Acredita-se que a partir da coleta de informações sobre o conhecimento do idoso acerca dos conteúdos sobre saúde sexual, especificamente sobre prevenção do HIV/Aids, poderão ser planejadas e executadas ações educativas mais eficazes, direcionadas e impactantes na vida dessas pessoas, com repercussão no autocuidado sexual.

Aponta-se como limitação do estudo a não realização da avaliação semântica do instrumento, sendo necessária a realização de pesquisas com tal finalidade.

Destaca-se que o processo de validação de conteúdo conferiu ao instrumento a garantia da adequação para o uso com a pessoa idosa. Este estudo pretende contribuir com o avanço do conhecimento científico e trazer implicações para a área de saúde e da enfermagem gerontológica, visto que possibilita que os enfermeiros e os demais profissionais de saúde utilizem o instrumento em diversos contextos do cuidar, com vista a prevenir o HIV/Aids nesta população, a qual é altamente vulnerável às ISTs; tendo em vista a importância da enfermagem nesse contexto preventivo, sobretudo por meio da escuta qualificada e do acolhimento.

 

CONCLUSÃO

O instrumento ilustrado para avaliar o conhecimento de pessoas idosas sobre a prevenção do HIV/Aids foi construído e o seu conteúdo foi considerado válido por juízes. Este traz uma contribuição para o arcabouço científico da área da enfermagem, sobretudo da gerontológica. Sua aplicabilidade pode permear diferentes contextos e realidades na qual os idosos estão inseridos. É uma produção científica que evidencia rotas para a ciência aplicada na enfermagem em nível nacional e internacional. Ademais, incentiva o desenvolvimento de ações educacionais e de outros estudos de construção, validação e aplicação de instrumentos.

 

*Artigo extraído da tese de doutorado “A efetividade de um jogo de tabuleiro sobre prevenção do HIV/Aids no conhecimento de pessoas idosas em contexto escolar”, apresentada à Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil.

 

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

 

FINANCIAMENTO

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES), conforme código de financiamento 001.

 

REFERÊNCIAS

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Submissão: 06/10/2021

Aprovado: 10/03/2022

 

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA

Concepção do projeto: Melo POC, Abreu WJC, Guedes TG

Obtenção de dados: Melo POC

Análise e interpretação dos dados: Melo POC

Redação textual e/ou revisão crítica do conteúdo intelectual: Melo POC, Teixeira E, Mendes RCMG, Linhares FMP, Abreu WJC, Guedes TG

Aprovação final do texto a ser publicada: Melo POC, Teixeira E, Mendes RCMG, Linhares FMP, Abreu WJC, Guedes TG

Responsabilidade pelo texto na garantia da exatidão e integridade de qualquer parte da obra: Melo POC, Teixeira E, Mendes RCMG, Linhares FMP, Abreu WJC, Guedes TG

 

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