ORIGINAL

 

Atitudes, conhecimento e interesse dos futuros profissionais em relação à geriatria: um estudo transversal

 

Marina Mariano Roquetti Borges1, Maria Giovana Borges Saidel1, Daniella Pires Nunes1, Maria Helena Melo Lima1, Ana Railka de Souza Oliveira-Kumakura1

 

1 Universidade de Campinas, Campinas, SP, Brasil

 

ABSTRACT

Objetivo: este estudo teve como objetivo analisar as atitudes, conhecimentos e interesse dos estudantes de saúde em relação à geriatria e gerontologia e avaliar suas associações. Método: participaram do estudo 225 estudantes do último ano dos cursos de Enfermagem, Medicina, Fonoaudiologia, Farmácia e Educação Física. Os questionários incluíram um formulário de características demográficas, a Escala de Diferencial Semântico de Envelhecimento e Questionário Palmore - Fatos sobre o envelhecimento. Foram utilizados modelos de regressão múltipla. Resultados: a atitude em relação aos idosos foi negativa (50,67%) e associada ao menor interesse. O nível de conhecimento foi melhor entre os estudantes de Enfermagem, Medicina e estudantes mais velhos. O aumento do conhecimento se relacionou com a atitude e, no total, 71,43% apresentavam interesse em geriatria. O interesse esteve fortemente associado ao gênero feminino. Conclusão: os estudantes apresentaram um alto nível de conhecimento, interesse em geriatria e uma atitude negativa em relação aos cuidados geriátricos. Ações focadas na capacitação em geriatria devem ser implementadas.

 

Descritores: Atitude; Envelhecimento; Estudantes de Ciências da Saúde.

 

INTRODUÇÃO

Com o aumento da expectativa de vida, taxas de fertilidade reduzidas e avanços tecnológicos, a população de idosos cresceu no mundo inteiro trazendo consigo desafios sociais, econômicos e de saúde(1).

Ainda que tenhamos visto mudanças na saúde, o número crescente de idosos leva a um aumento da demanda por serviços especializados(2). Estas questões não estão restritas aos países em desenvolvimento e os sistemas de saúde atuais não podem atender às demandas relacionadas ao envelhecimento(3). Além disso, a senescência resulta em perdas funcionais, mentais e cognitivas, aumentando a vulnerabilidade, a morbidez e a incapacidade(3).

Não há dúvidas quanto às peculiaridades de indivíduos idosos. Eles necessitam de uma avaliação abrangente, tendo a capacidade funcional como principal requisito para seus cuidados. Como consequência, profissionais de saúde qualificados devem atender às características dessa população de forma integrada(3). A literatura relata insuficiência de equipes multidisciplinares com conhecimentos necessários para atuar em diferentes níveis de atendimento aos idosos(1). Além disso, vários fatores têm sido associados ao cuidado desse grupo, incluindo a falta de interesse(3). Sendo assim, é essencial que haja investimentos na formação acadêmica, com disciplinas voltadas ao ensino abrangente sobre o tema(4,5).

Como consequência, surgiram as seguintes questões: Qual é o nível atual de conhecimento, interesse e atitude dos futuros profissionais de saúde em relação à geriatria e à gerontologia? Dada a crescente demanda por atendimento aos idosos nos serviços de saúde, como estes três domínios estão relacionados?

Na universidade, o envolvimento e o engajamento dos estudantes com a geriatria e a gerontologia podem permitir a aquisição de conhecimentos, um componente cognitivo que, juntamente com as crenças, pode ser compartilhado. O conhecimento influencia as percepções sobre o mundo; quando compartilhado com um grupo social, essas percepções podem fortalecer as conexões com a cultura e aumentar o grau de envolvimento e participação ativa dos membros do grupo.

Atitude é definida como um "estado de prontidão mental ou neural, organizado pela experiência, exercendo uma diretiva ou influência dinâmica sobre a resposta do indivíduo a todos os objetos e situações com os quais ele está relacionado". Em outras palavras, é a maneira como uma pessoa sente, percebe e se comporta(6). Alguns estudos indicam que a atitude pode influenciar o cuidado das pessoas idosas(7).

Ainda há muitas questões relacionadas ao aprendizado da geriatria; o baixo interesse nesta carreira pode ser devido à falta de exposição, a natureza deste tipo de trabalho, a percepção do baixo status da profissão e as recompensas financeiras(8).

Existe uma correlação entre o interesse e os valores pessoais, e como consequência as escolhas dos estudantes em sua prática profissional estão relacionadas aos seus interesses. A literatura mostra que o desenvolvimento da empatia dos estudantes de graduação pode melhorar as atitudes positivas nos cuidados às pessoas idosas(9).

Foram identificadas associações entre conhecimento, atitude e interesse(10). Enquanto o conhecimento e a atitude são influenciados por fatores externos, emprego e individuais(11), o interesse é determinado pela experiência prévia, reconhecimento da profissão, condições de trabalho, atitudes e conhecimento(10).

Promover a inclusão do conteúdo gerontológico na grade curricular e o desenvolvimento de uma atitude positiva em relação aos cuidados das idosos, constitui um desafio para os estudantes de saúde(12). Este estudo teve como objetivo examinar as atitudes, conhecimentos e interesse dos estudantes de saúde em relação à geriatria e gerontologia e avaliar as associações.

 

MÉTODO

 

Desenho do estudo

Realizou-se um estudo quantitativo transversal de acordo com as diretrizes do Relatório de Estudos Observacionais em Epidemiologia (Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology - STROBE).

 

Participantes

Os participantes do estudo foram estudantes de saúde, com conteúdo gerontológico em seus currículos, no último ano de bacharelado (Enfermagem, Medicina, Fonoaudiologia, Farmácia e Educação Física), de uma universidade pública do estado de São Paulo, Brasil.

Todos os estudantes elegíveis tinham horas clínicas de supervisão e atividades práticas envolvendo o cuidado de idosos em ambientes comunitários ou hospitalares (N=540), exceto aqueles dos programas de Fonoaudiologia e Farmácia, que não possuem uma disciplina específica sobre o tema. Há cursos teóricos de 30 horas e 60 horas relacionados ao tema nos programas de Enfermagem e Educação Física, respectivamente. Os estudantes de Medicina em seu quarto ano de graduação completam 35 horas de prática em um ambiente geriátrico, e os do quinto ano, 60 horas em um ambulatório de geriatria.  

O tamanho da amostra foi estimado, considerando uma distribuição binomial, nível de significância de 5%, erro amostral de 3% e uma proporção de 0.50 (variação máxima), resultando em uma amostra de 225 estudantes de um total de 540, distribuídos da seguinte forma: 137/330 estudantes de Medicina; 42/100 Educação física; 17/40 Farmácia;, 17/40 Enfermagem; e 12/30 Fonoaudiologia. A seleção foi não-probabilística e por conveniência.

Como critérios de inclusão, para os estudantes de Enfermagem, Fonoaudiologia, Farmácia e Educação Física foi de estarem em seu último ano do curso de graduação; os de Medicina, no quarto, quinto e sexto anos. Os estudantes que não preenchessem os questionários corretamente foram excluídos.

 

Procedimentos

A coleta de dados foi realizada de setembro a dezembro de 2019. Os estudantes foram convidados a participar por e-mail e todos os participantes potenciais foram contatados por um estudante de enfermagem do último ano do programa de graduação. Todos os estudantes que optaram por participar preencheram um formulário de consentimento. Os questionários auto-administrados foram distribuídos aos participantes, que necessitaram de 20 a 40 minutos aproximadamente para preenchê-los.

 

Considerações éticas

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos da Universidade de Campinas (Unicamp) e seguiu os princípios da Declaração de Helsinque. Todos os participantes assinaram o formulário de consentimento livre e esclarecido.

 

Instrumentos

A equipe de pesquisa desenvolveu um questionário para o estudo abordando características demográficas (idade e sexo), contato com pessoas idosas na família (quem, quando e como) e na universidade, perguntas relacionadas ao interesse em geriatria e gerontologia, e relacionadas à prestação de cuidados às pessoas idosas.

 

Escala de Diferencial Semântico de Envelhecimento (Aging Semantic Differential Scale - ASDS)

O ASDS foi desenvolvido no Brasil para avaliar atitudes perante os idosos, obtendo uma boa consistência interna (alfa de Cronbach=0.89-0.94)(13). Esta escala compreende 30 adjetivos pareados, tais como “sábio-tolo" e “aceitado-rejeitado" e envolve os seguintes domínios: Cognição com dez itens (adaptação social refletida pelo processamento de informações e na resolução de problemas); Agência, seis itens (autonomia e instrumentalização para realizar ações); Relacionamento interpessoal, sete itens (interação social, avaliada por aspectos afetivo-motivacionais); e Persona, sete itens (rótulos sociais para designar ou diferenciar pessoas idosas). Escores abaixo de três foram considerados positivos, três neutros, e negativo para três ou acima(13).

 

Questionário Palmore - Fatos sobre o envelhecimento (Palmore Fact on Aging Quiz - PFAQ)

O PFAQ é composto de 25 perguntas de múltipla escolha, com quatro opções e uma resposta "não conheço" que aborda o conhecimento geral sobre os idosos e o processo de envelhecimento. O PFAQ é utilizado mundialmente(14,15) e foi adaptado e validado para a cultura brasileira, apresentando uma boa consistência interna (alfa do Cronbach=0.75)(13). Suas questões abrangem os domínios cognitivo, físico, psicológico e social. Por exemplo, no domínio físico, há uma pergunta sobre a capacidade pulmonar; no domínio social, há uma pergunta sobre a proporção de brasileiros com mais de 65 anos que vivem em lares de idosos. De acordo com um estudo anterior, adotou-se a seguinte classificação(12): 11 ou menos respostas corretas = baixo nível de conhecimento, e mais de 11 respostas corretas = alto nível de conhecimento.

 

Analise dos dados

Para o processamento de dados, foi utilizada a SAS software for Windows, versão 9.4, com um nível de significância de 5%.

Primeiramente, foi realizada uma análise descritiva. Em seguida, o teste Shapiro-Wilk foi empregado para testar a normalidade e o teste Mann-Whitney para comparações entre as variáveis quantitativas e qualitativas em duas categorias. A comparação com uma variável qualitativa em mais de duas categorias, foi obtida por meio do teste Kruskal-Wallis seguido pelo pós-teste de Dunn. O teste Qui-quadrado e o teste exato de Fisher foram usados para testar as associações entre as variáveis qualitativas. As associações entre variáveis quantitativas foram obtidas pelo coeficiente Spearman com base nas seguintes diretrizes(16): 0,1 a 0,29 - correlação fraca; 0,30 a 0,49 - correlação moderada; e 0,50 e acima - correlação forte.

Foram desenvolvidos modelos de regressão linear múltipla, e os escores totais obtidos para atitude e conhecimento foram considerados variáveis dependentes. Foram calculadas as estimativas de coeficientes de regressão, intervalos de confiança e valores de p. Para a variável "interesse em geriatria e gerontologia", utilizando-se o modelo de Poisson e estimados os índices de prevalência, intervalos de confiança e valores de p. As variáveis com um valor de p≤0,20 foram selecionadas para análise posterior

 

RESULTADOS

 

Características dos participantes

No total, 244 estudantes aceitaram participar do estudo, dos quais 19 não preencheram todas as escalas e foram excluídos. A idade média encontrada entre os 225 participantes foi de 23,95 (DP=3,32) anos, 57,33% eram mulheres e 60,89% eram estudantes de Medicina. No total, 93,33% tinham contato com pessoas idosas da família e 83,04% tinham avós vivos, 80,27% dos quais tinham contato com eles. O contato com os idosos era semanal (31,84%) ou mensal (25,56%), e principalmente em datas comemorativas. Em relação a essa associação, 80,44% eram afetuosos e 72% respeitadores (Tabela 1).

Na universidade, 85,33% relataram ter experiências com idosos durante o curso, que ocorreram em estágios hospitalares, na assistência básica ou em ginásios no caso de estudantes de educação física (Tabela 1). Em relação à geriatria/gerontologia, dos 196 estudantes expostos a esse conteúdo específico, 57,14% já o haviam estudado anteriormente.

 

Caracterização das principais variáveis de pesquisa

A atitude geral foi negativa (50,67%, ASDS médio = 11,87), e mais evidente nos domínios de Cognição e Relacionamento Social. Os domínios Agência e Persona da ASDS apresentaram uma atitude mais positiva. O nível médio de conhecimento dos estudantes sobre a velhice foi alto (60,55%, PFAQ médio=11,87), principalmente nos domínios Cognição e Físico; e mais baixo nos domínios Social e Psicológico (Tabela 1). O interesse em geriatria/gerontologia foi de 71,43%, mas o de cuidar exclusivamente de idosos foi de 18,75% (Tabela 1).

 

Tabela 1 - Características descritivas dos estudantes de saúde (n = 225). São Paulo, SP, Brasil, 2019

Variáveis

n (%)

Média (SD)(a)

Intervalo

Idade

 

23,95 (3,32)

20 – 48

Feminino

129 (57,33)

 

 

Curso

 

 

 

Medicina

137 (60,89)

 

 

Educação Física

42 (18,67)

 

 

Enfermagem

17 (7,56)

 

 

Farmácia

17 (7,56)

 

 

Fonoaudiologia

12 (5,33)

 

 

Idosos na família

210 (93,33)

 

 

Avós

186 (83,04)

 

 

Tios

58 (26,01)

 

 

Pais

29 (13,00)

 

 

Bisavós

6 (2,69)

 

 

Contato com idosos da família

 

 

 

Diariamente

15 (6,73)

 

 

Semanalmente

71 (31,84)

 

 

Mensalmente

57 (25,56)

 

 

Esporádico

66 (29,60)

 

 

Ausência

14 (6,28)

 

 

Relacionamento com idosos da família

 

 

 

Afetuoso

181 (80,44)

 

 

Respeitoso

162 (72,00)

 

 

Indiferente

11 (4,89)

 

 

Agressivo

4 (1,78)

 

 

Experiência com idosos na universidade

192 (85,33)

 

 

Aulas de Geriatria e Gerontologia concluídas (b)

112 (57,14)

 

 

Interesse em Geriatria e Gerontologia

160 (71,43)

 

 

Interesse em cuidar exclusivamente de idosos

42 (18,75)

 

 

Atitude

 

 

 

Domínio de Cognição

 

3,05 (0,40)

1,60 - 4,20

Domínio da Agência

 

2,89 (0,32)

2,00 - 3,67

Domínio das Relações Sociais

 

3,22 (0,35)

1,57 - 4,29

Domínio Persona

 

2,90 (0,28)

1,86 - 4,00

ASDS total(c)

 

3,03 (0,17)

2,40 - 3,57

Atitude positiva

87 (38,67)

 

 

Atitude neutra

24 (10,67)

 

 

Atitude negativa

114 (50,67)

 

 

Conhecimento

 

 

 

Domínio cognitivo

 

1,41 (0,62)

0,00 - 2,00

Domínio físico

 

4,07 (1,08)

1,00 - 6,00

Domínio psicológico

 

2,73 (1,16)

 0,00 - 5,00

Domínio social

 

1,68 (1,08)

 0,00 - 5,00

Domínio Psicológico, Social e Físico

 

0,83 (0,61)

0,00 - 2,00

Domínio misto

 

1,95 (0,96)

0,00 - 4,00

PFAQ total(d)

 

11,87 (2,44)

5,00 - 19,00

Baixo nível de conhecimento

86 (39,45)

 

 

Alto nível de conhecimento

132 (60,55)

 

 

Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.

(a) DP: desvio padrão; (b) Total: 196 (estudantes de Enfermagem, Educação Física e Medicina); (c) ASDS: Escala Diferencial Semântico Envelhecimento; (d) PFAQ: Questionário Palmore–Fatos sobre o Envelhecimento.

 

Associações entre as principais variáveis da pesquisa

Após o pós-teste de Dunn (p<0,05), os estudantes de Enfermagem apresentaram um PFAQ superior no domínio físico, quando comparados aos de Educação Física (4,82 vs. 3,83, diferença =0,99) e de Medicina (4,82 vs. 4,05, diferença=0,77). Os estudantes de Medicina obtiveram uma PFAQ média superior em relação aos de Educação Física nos domínios psicológico (2,93 vs. 2,26, diferença=0,67) e Psicológico/Social/Físico (0,94 vs. 0,60, diferença = 0,34), e também no PFAQ total (12,20 vs. 10,69, diferença = 1,51) (Tabela 2).

 

Tabela 2 - Comparação de idade e escores para atitude e conhecimento entre os estudantes (n = 225). São Paulo, SP, Brasil, 2019

Imagem 7

Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.

(a) ns: não significativo estatisticamente; (b) teste Kruskal-Wallis; (c) teste Mann-Whitney. (d) Pós-teste de Dunn.

 

Com relação à idade, os estudantes mais velhos obtiveram uma PFAQ mais elevada (Tabela 2). Após os testes de correlação de Spearman, observamos uma correlação positiva e fraca entre idade e conhecimento no domínio Social (r=0,1378) e no PFAQ total (r=0,1391) (Tabela 3). Uma correlação positiva e fraca foi encontrada entre o domínio psicológico do Conhecimento e o domínio cognição da Atitude (r= ,2150), e entre o domínio social do PFAQ e o ASDS total (r=0,1495) - (o aumento do conhecimento nestes domínios estava relacionado a uma atitude negativa). Houve também uma correlação negativa e fraca entre o conhecimento psicológico e o relacionamento social (r=-0,1467) indicando que o conhecimento alto esteve relacionado a uma atitude positiva (Tabela 3).

 

Tabela 3 - Coeficiente de correlação do Spearman (n = 225). São Paulo, SP, Brasil, 2019

Imagem 8

Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.

(a) p<0,05.

 

Identificamos que o contato com idosos da família (p=0,0120) e o não-interesse em cuidar exclusivamente de idosos (p=0,0125) estavam associados a uma atitude negativa no domínio de cognição. Experiência prévia na universidade associou-se a uma atitude negativa no domínio do relacionamento social (p=0,0398), e estudantes sem contato com avós mostraram uma atitude positiva no domínio da agência (p=0,0293) (Tabela 4).

 

Tabela 4 - Teste de associação entre interesse e classificação de conhecimento e atitude (n = 225). São Paulo, SP, Brasil, 2019

Variáveis

Sexo

Contato com idosos na família  

Contato com avós

 Interesse em cuidar exclusivamente de idosos

Aulas de Gerontologia e Geriatria

Experiência com idosos na universidade

 

Categorias

Feminino

Masculino

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Interesse em Gerontologia e Geriatria

Não

21,88

37,50

46,67

27,27

23,68

29,73

32.42

11.90

27.96

29.01

21.21

29.84

Sim

78,12

62,50

53,33

72,73

76,32

70,27

67.58

88.10

72.04

70.99

78.79

70.16

 

p=0,0104(a)

ns(b)

ns

p=0,0080(a)

ns

ns

Atitude - Domínio da Cognição

Positiva

35,66

30,21

20,00

34,29

31,58

33,87

28.57

52.38

36.17

31.30

36.36

32.81

Neutra

15,50

12,50

40,00

12,38

23,68

11,83

15.38

9.52

10.64

16.79

12.12

14.58

Negativa

48,84

57,29

40,00

53,33

44,74

54,30

56.04

38.10

53.19

51.91

51.52

52.60

 

ns

p=0,0120(a)

ns

p=0,0125(a)

ns

ns

Atitude - Domínio da agência

Positiva

51,16

55,21

60,00

52,38

55,26

52,69

51.10

59.52

53.19

52.67

51.52

53.13

Neutra

22,48

21,88

26,67

21,90

34,21

19,35

23.08

19.05

23.40

21.37

21.21

22.40

Negativa

26,36

22,92

13,33

25,71

10,53

27,96

25.82

21.43

23.40

25.95

27.27

24.48

 

ns

ns

p=0,0293(a)

ns

ns

ns

Atitude - Domínio das relações sociais

Positiva

18,60

17,71

33,33

17,14

15,79

18,82

19.23

14.29

18.09

18.32

33.33

15.63

Neutra

13,18

10,42

6,67

12,38

18,42

10,75

10.99

16.67

11.70

12.21

6.06

13.02

Negativa

68,22

71,88

60,00

70,48

65,79

70,43

69.78

69.05

70.21

69.47

60.61

71.35

 

ns

ns

ns

ns

ns

p=0,0398(a)

Atitude -Domínio da Persona

Positiva

53,49

57,29

40,00

56,19

52,63

55,91

56.04

50.00

55.32

54.96

48.48

56.25

Neutra

26,36

17,71

26,67

22,38

26,32

21,51

21.98

26.19

21.28

23.66

21.21

22.92

 

Negativa

20,16

25,00

33,33

21,43

21,05

22,58

21.98

23.81

23.40

21.37

30.30

20.83

 

 

ns

ns

ns

ns

ns

ns

Atitude total

Positiva

36,43

41,67

33,33

39,05

39,47

38,71

36.81

45.24

39.36

38.17

36.36

39.06

Neutra

13,95

6,25

20,00

10,00

7,89

11,29

9.34

16.67

10.64

10.69

18.18

9.38

Negativa

49,61

52,08

46,67

50,95

52,63

50,00

53.85

38.10

50.00

51.15

45.45

51.56

 

ns

ns

ns

ns

ns

ns

Conhecimento total

Nível baixo

39,02

40,00

53,33

38,42

47,37

37,99

40.00

35.71

32.58

44.19

42.42

38.92

Nível alto

60,98

60,00

46,67

61,58

52,63

62,01

60.00

64.29

67.42

55.81

57.58

61.08

 

ns

ns

ns

ns

ns

ns

Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.

(a) Teste qui-quadrado; (b) ns: não estatisticamente significativo.

 

Com relação à idade, os estudantes mais velhos apresentaram uma atitude neutra no domínio de persona (Tabela 2). Observamos uma correlação positiva e fraca entre idade e atitude no domínio de persona (r=0,1825) e no ASDS total (r=0,1449). Interesse em geriatria/gerontologia foi associado com o sexo feminino e com o interesse em cuidar exclusivamente de pessoas idosas (Tabela 3).

 

Modelos de regressão das principais variáveis de pesquisa

Não foi observada nenhuma associação significativa entre variáveis independentes e atitude. Observamos uma associação significante entre conhecimento e o programa. Houve uma associação negativa entre Fonoaudiologia e Educação Física com Enfermagem (curso de referência para o modelo), diminuindo a pontuação total do PFAQ para 2,32 e 2,27. Em termos de interesse em geriatria/gerontologia, os estudantes masculinos apresentaram uma probabilidade 22% menor, e aqueles interessados em cuidar exclusivamente de idosos demonstraram 1,25 vezes mais probabilidade de estarem interessados (Tabela 5).

 

Tabela 5 - Modelos de regressão múltipla (n = 225). São Paulo, SP, Brasil, 2019

Variáveis dependentes

Variáveis independentes

Coeficiente

IC 95%(a)

Valor p(d)

LI(b)

LS(c)

Atitude

Idade

0

-0,01

0,01

0,5988

Interesse em Geriatria e Gerontologia (Sim)

-0,02

-0,07

0,03

0,4642

Sexo (Masculino)

0

-0,05

0,04

0,8728

Sexo (Masculino)

0,03

-0,05

0,12

0,4466

Curso (Medicina)

-0,03

-0,17

0,11

0,6921

Curso (Fonoaudiologia)

0,03

-0,1

0,15

0,6973

Curso (Educação Física)

0,01

-0,1

0,11

0,9219

Aulas de gerontologia e gerontologia durante os cursos (Sim)

-0,01

-0,06

0,05

0,8154

Contato com idosos da família (Sim)

0,02

-0,08

0,12

0,749

Contato com os avós (Sim)

0,02

-0,05

0,09

0,536

Experiência com idosos na universidade (Sim)

-0,01

-0,09

0,06

0,6984

Aulas de gerontologia e gerontologia durante os cursos (Sim)

-0,04

-0,09

0,02

0,2368

PFAQ total

0,01

0

0,01

0,3002

Conhecimento

Idade

0,08

-0,02

0,18

0,1356

Interesse em Geriatria e Gerontologia (Sim)

-0,25

-0,97

0,48

0,5039

Sexo (Masculino)

-0,06

-0,74

0,62

0,8571

Sexo (Masculino)

-0,66

-10,91

0,6

0,3044

Curso (Medicina)

-20,32

-40,32

-0,32

0,0229

Curso (Fonoaudiologia)

-20,27

-30,72

-0,81

0,0023

Curso (Educação Física)

-0,86

-20,64

0,91

0,339

Aulas de gerontologia e gerontologia durante os cursos (Sim)

-0,4

-10,15

0,35

0,2912

Contato com idosos da família (Sim)

0,38

-10,02

10,78

0,594

Contato com os avós (Sim)

0,42

-0,56

10,41

0,3957

Experiência com idosos na universidade (Sim)

-0,3

-10,3

0,71

0,5617

Aulas de gerontologia e gerontologia durante os cursos (Sim)

0,4

-0,42

10,22

0,3421

Variáveis dependentes

Variáveis independentes

Taxa de prevalência

IC 95%(a)

Valor p(d)

LI

LS

Interesse no campo da Geriatria e Gerontologia

Idade

1,01

0,99

1,02

0,5641

Sexo (Masculino)

0,78

0,65

0,94

0,0086

Curso (Medicina)

1,03

0,73

1,45

0,8853

Curso (Fonoaudiologia)

1,25

0,82

1,88

0,2956

Curso (Educação Física)

1,27

0,89

1,8

0,1884

Curso (Farmácia)

0,99

0,59

1,64

0,9538

Aulas de gerontologia e gerontologia durante os cursos (Sim)

1,01

0,83

1,24

0,9095

Contato com idosos da família (Sim)

1,43

0,87

2,34

0,1575

Contato com os avós (Sim)

0,85

0,68

1,06

0,1415

Experiência com idosos na universidade (Sim)

0,94

0,75

1,18

0,6059

Interesse em cuidar exclusivamente de idosos (Sim)

1,25

1,07

1,47

0,0055

Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.

(a) IC: intervalo de confiança; (b) LI: limite inferior; (c) LS: limite superior; (d) modelo de regressão linear múltipla; (e) modelo de regressão de Poisson; neste caso, foi estimada a probabilidade de "Sim".

 

DISCUSSÃO

Este estudo avaliou o conhecimento e o interesse em geriatria e gerontologia dos futuros profissionais de saúde e suas atitudes em relação aos idosos. Embora os estudantes tivessem um nível de conhecimento adequado, isso não foi suficiente para gerar uma atitude positiva ou maior interesse nesse campo, como relatado em outros estudos(17-18).

Os resultados mostram que as atitudes dos estudantes de saúde eram negativas. Estudo anterior relatou conclusões mistas e contraditórias em relação às pessoas idosas: estereotipadas, inconsistentes, negativas, positivas na maioria das situações(6-7,17) ou mesmo neutras(18).

A maioria dos estudantes havia tido contato com idosos na família ou na universidade. Estudos mostram que o esforço para prestar cuidados, as dificuldades de comunicação e um trabalho tedioso poderiam levar a atitudes negativas(17). Observamos uma atitude negativa nos domínios cognição e social entre os estudantes que tiveram contato prévio com idosos. Embora o currículo dos cursos de saúde não tenha sido examinado, são necessárias intervenções. As sugestões encontradas incluem mudanças curriculares com contatos intergeracionais(19), experiências gerontológicas no início dos cursos(18), estratégias educacionais inovadoras(7), estudo em grupo e programas contínuos sobre o tema(17).

Identificamos fraca correlação entre atitude e conhecimento, porém correlação positiva entre atitude e idade (estudantes mais velhos mostraram uma atitude negativa). O aumento do conhecimento não está relacionado a uma atitude mais positiva em relação aos idosos(14), e tanto os estudantes de nível superior de graduação quanto os profissionais de saúde podem apresentar atitudes negativas(10). McCloskey et al.(18) observaram que a atitude está sendo traduzida para as áreas de prática.

O conhecimento dos estudantes em relação aos idosos e ao processo de envelhecimento mostraram níveis significativamente altos, semelhantes a outros estudos(18), apesar das flutuações(17). No entanto, a educação em geriatria precisa ser promovida, já que nem todos os programas cobrem esta temática. Para os programas sem aulas de geriatria e gerontologia, o nível de conhecimento foi maior no domínio físico e menor no social e psicológico.

Embora o conhecimento isoladamente não possa fornecer cuidados integrados aos idosos, esses dados indicam a necessidade de prosseguir com a discussão sobre o alcance do ensino gerontológico(18). Além da inclusão de conteúdos gerontológicos nos programas de saúde, precisamos acelerar o foco das doenças para o cuidado multidimensional e holístico. Os estudantes de Enfermagem demonstraram um nível mais elevado de interesse em razão de um curso que envolve cuidados holísticos, o que explica as diferenças encontradas.

Os achados relativos ao interesse no cuidado dos idosos destacaram que uma atitude negativa está relacionada a uma falta de interesse, como observado em estudos anteriores(17). Além disso, o conhecimento não apresentou correlação com um interesse aumentado. Apesar da falta de preferência por uma carreira gerontológica entre os estudantes(18), o interesse em cuidar de idosos estava associado ao interesse em geriatria/gerontologia.

O sexo também esteve associado ao interesse em geriatria e gerontologia (estudantes do sexo feminino mostraram mais interesse). Esta associação está possivelmente ligada a questões sociais; as mulheres estão envolvidas em profissões semelhantes àquelas exercidas em sua vida diária, tais como o cuidado dos pais/avós. Esta constatação também foi relatada em outro estudo que mostra que os estudantes masculinos tendem a valorizar mais a intervenção e a técnica do que as mulheres(5).

As limitações do estudo incluem o desenho em um único centro (a amostra pode não representar o Brasil como um todo), a amostragem de conveniência e o fato de que os estudos transversais não implicam em causalidade. Além disso, o conhecimento, a atitude em relação aos idosos, e o interesse são construções complexas que podem não ter sido capturadas pelos instrumentos utilizados. Finalmente, o conteúdo curricular de cada curso não foi examinado.

 

CONCLUSÃO

Os estudantes de saúde demonstraram um alto nível de conhecimento e interesse em geriatria e gerontologia, e uma atitude negativa em relação ao cuidado de idosos. O conhecimento sobre o tema foi associado negativamente à atitude e ao interesse. Os estudantes de Enfermagem e Medicina mostraram mais conhecimento sobre o tema, assim como os estudantes mais velhos. Ser mulher e interessada em cuidar de idosos aumentou a proporção de escolha para trabalhar em geriatria e gerontologia.

 

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

 

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Submissão: 28/10/2021

Aprovado: 08/06/2022

 

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA

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Responsabilidade pelo texto na garantia da exatidão e integridade de qualquer parte da obra: Borges MMR, Saidel MGB, Nunes DP, Lima MHM, Oliveira-Kumakura ARS

 

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