ORIGINAL

 

Percepções de estudantes de enfermagem sobre o reconhecimento da profissão em tempos de pandemia: estudo descritivo-exploratório

 

Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza1, Marcia de Souza Silva1, Anna Beatryz Marques Roque1, Desuite Helena Peçanha da Silva de Araujo1, Raquel Soares Pedro1, Giulia Campbell Saija1, Sheila Nascimento Pereira de Farias2, Samira Silva Santos Soares1

 

1Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

2Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

 

RESUMO

Objetivo: Analisar a percepção de estudantes de graduação em enfermagem sobre o reconhecimento conferido à profissão, bem como as situações que potencializam e/ou deterioram este reconhecimento profissional. Método: Pesquisa qualitativa, desenvolvida com 40 graduandos de enfermagem de uma universidade pública fluminense. A técnica de coleta foi a entrevista semiestruturada, realizada entre maio e junho de 2021. Utilizou-se o software Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (Iramuteq) para tratamento dos dados. Resultados: As situações que potencializaram o reconhecimento profissional foram a atuação da enfermagem na pandemia e o acolhimento durante a assistência. Impactaram negativamente no reconhecimento questões históricas, de gênero e a divisão técnica e social do trabalho, além das falhas na execução de procedimentos. Conclusão: Apesar do relevante destaque dado pela mídia à enfermagem, os estudantes consideram que a equivocada percepção da sociedade sobre o trabalho da enfermagem afeta o reconhecimento da profissão.

 

Descritores: Trabalho; Desejabilidade Social; Estudantes de Enfermagem.

 

INTRODUÇÃO

O trabalho da enfermagem tem como foco o cuidado ao ser humano, visando a promoção da saúde, a prevenção de agravos e a contribuição para a cura e a reabilitação das pessoas nos processos de saúde e doença. Portanto, é uma profissão relevante para a sociedade, pois a saúde, ou a falta dela, em âmbito macroestrutural, tem impactos na economia, na política, na educação e na segurança pública. Ademais, na dimensão subjetiva do ser humano, a ausência de saúde resulta em sofrimento psicofísico e social para as pessoas e suas famílias(1). No entanto, o estudo aponta para o baixo reconhecimento profissional da enfermagem no contexto brasileiro, apesar da relevância para a sociedade(2).

Essa  situação  se reflete  nos  salários desproporcionais e desatualizados frente ao trabalho empreendido e aos índices econômicos vigentes, nas longas e extenuantes jornadas de trabalho, nos inadequados e  indignos  ambientes  para  repouso, descanso  ou  alimentação no  trabalho, no ritmo laboral elevado e desgastante imposto pelo subdimensionamento  de  pessoal  e  nas  inapropriadas  condições de trabalho que quase inviabilizam  o  processo  laboral,  por  escassez  quali-quantitativa de recursos materiais(3).

O reconhecimento pelo trabalho desenvolvido não é desimportante e sim um elemento que protege e fortalece a subjetividade do trabalhador. Nesta perspectiva, o reconhecimento no trabalho ameniza as habituais vivências cotidianas de sofrimento do trabalhador e, ao mesmo tempo, propicia o sentimento de pertencimento e reveste de sentido o trabalho(4).

O trabalho detém valor pessoal e social, imprimindo vinculações subjetivas no sujeito, causadoras tanto de bem-estar quanto de mal-estar, sendo este último mobilizado também pela falta do reconhecimento no trabalho, o que pode afetar negativamente a saúde dos trabalhadores impactando, inadequadamente, a qualidade do serviço ofertado(5).

Atualmente, é importante considerar a centralidade que o enfermeiro exerce na organização do setor saúde e na assistência prestada. Tal fato foi reconhecido simbolicamente pela sociedade e pela mídia durante a pandemia da Covid-19(6). Todavia, este reconhecimento ainda se mostrou contraditório pois, apesar das palmas e homenagens recebidas, estes profissionais se depararam cotidianamente com inadequadas condições de trabalho que resultaram em adoecimento e morte de muitos profissionais durante a pandemia(7).

Do ponto de vista dos desafios para o reconhecimento material do trabalho da enfermagem, constata-se, por exemplo, que mesmo após a aprovação e sanção da Lei que trata sobre o piso salarial da profissão e as respectivas fontes de financiamento, os profissionais ainda aguardam a concretude desses atos nos contracheques da categoria(8). Tal fato indica que, dentre outros aspectos, o discente de enfermagem precisa, ao longo da sua formação, desenvolver um pensamento crítico-reflexivo e apropriar-se da ferramenta política, engajando-se nos debates políticos e na luta pela valorização e reconhecimento da profissão.

Nesse sentido, considerou-se relevante investigar como os estudantes do curso de graduação evidenciam o reconhecimento da enfermagem, inicialmente, a partir da perspectiva que trazem dos contextos sociais em que estão inseridos, coadunando com as vivências, mesmo que preliminares, advindas do processo de formação no referido curso. Por meio deste ângulo, busca-se captar a percepção que se apresenta pouco ou nada impregnada da atuação no mundo do trabalho a partir do que circula na sociedade.

Em busca bibliográfica realizada acerca da produção científica sobre a temática, identificou-se lacuna no conhecimento científico ao se captar somente uma obra que se aproxima da temática, sendo esta do ano de 2014 e nacional(9). Diante da problemática que envolve a temática do presente estudo, traçou-se o seguinte objetivo: analisar a percepção de estudantes de graduação em enfermagem sobre o reconhecimento conferido à profissão, bem como as situações que potencializam e/ou deterioram este reconhecimento profissional.

 

MÉTODO

A pesquisa caracterizou-se como qualitativa, descritiva e exploratória, realizada em universidade pública do Rio de Janeiro, Brasil. Os participantes foram 40 estudantes de graduação do curso de enfermagem em um universo de 355 discentes matriculados nos nove períodos do curso.

Para captar os participantes, elaborou-se um formulário digital, compreendendo o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e perguntas fechadas referentes ao perfil dos participantes. Solicitou-se aos representantes de turma que encaminhassem o formulário via aplicativo de mensagens (WhatsApp) e/ou endereço eletrônico às respectivas turmas, como convite à participação na pesquisa. À medida que os interessados em contribuir com a pesquisa preencheram o formulário eletrônico, estabeleceu-se contato para a continuidade da coleta de dados.

Para determinar o número de participantes, considerou-se o critério de reincidência das informações que se torna aplicável quando o conteúdo das informações se repete, indicando a possibilidade de finalizar a coleta e sinalizando a saturação dos dados.

Salienta-se que, devido à situação sanitária do país decorrente da pandemia da Covid-19, não foi possível a realização de um encontro presencial com os participantes, pois medidas de isolamento e distanciamento social foram instituídas pelas autoridades sanitárias.

Contataram-se estudantes dos nove períodos do curso, pois entendeu-se ser importante captar perspectivas diferenciadas e abrangentes sobre o tema. Os critérios de inclusão dos participantes foram: ser discente, independente do sexo, maior de 18 anos e ser egresso do ensino médio de instituições particulares ou públicas. Como critério de exclusão estabeleceu-se ser estudante afastado da instituição por doença ou trancamento durante o período de coleta de dados.

A coleta de dados ocorreu de maio a junho de 2021 por meio da técnica de entrevista semiestruturada. O roteiro da entrevista continha três questões: “fale sobre sua percepção acerca do reconhecimento profissional da enfermagem”, “discorra sobre as situações que potencializam o reconhecimento profissional da enfermagem” e “fale acerca das situações que podem fragilizar o reconhecimento profissional da enfermagem”. As entrevistas foram gravadas por meio de aparelho telefônico e, posteriormente, transcritas pela equipe de pesquisadores deste estudo. O tempo médio de duração das entrevistas foi de 30 minutos e a transcrição do conteúdo contabilizou 40 laudas, em espaço simples e fonte Times New Roman tamanho 12.

Para o tratamento dos dados, utilizou-se o software Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (Iramuteq), que permite a realização de análises estatísticas sobre textos(10). O Iramuteq possui cinco possibilidades de análise dos dados: análises lexicográficas, pesquisa por especificidade de grupos, classificação hierárquica descendente, análise de similitude e nuvem de palavras. Para fins deste estudo, adotou-se a análise lexical por meio da nuvem de palavras que dispõe, em forma gráfica, as palavras de acordo com a frequência. Assim, as palavras de maior tamanho são as que aparecem mais vezes no conteúdo analisado, e as de menor tamanho, as que aparecem com menor frequência(10).

A partir do tratamento dos dados realizado por meio do Iramuteq, procedeu-se à interpretação do sentido das palavras e, ao acessar os segmentos de texto em que as palavras apareceram, o léxico mais frequente fez sentido com relação ao contexto da discussão. Assim, a interpretação dos dados foi efetuada comparando com o que há na literatura envolvendo a temática do estudo.

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e seguiu o que se estabelece na Resolução no 466/12, recebendo aprovação mediante parecer nº 4.681.711. Outrossim, para garantir o anonimato dos participantes, criaram-se códigos que se caracterizaram pela letra E, significando entrevista, seguidos pelo número cardinal que denota a sequência em que essas entrevistas foram realizadas.

Ressalta-se, ainda, que o estudo considerou os checklists Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ) e Standards for Reporting Qualitative Research (SRQR), ferramentas que apoiam as investigações qualitativas recorrentemente usadas em investigações similares à proposta deste estudo(3,7).

 

RESULTADOS

A caracterização dos participantes mostrou que 35 (87,5%) eram do sexo feminino e cinco (12,5%) do sexo masculino. A média de idade foi de 24,2 anos. Em relação ao local onde cursaram o ensino médio, 18 (45%) graduandos concluíram em instituição pública e 22 (55%) em instituição privada. Quanto à distribuição dos participantes por período, obteve-se: quatro graduandos do 1º período, cinco do 2º, um do 3º, três do 4º, quatro do 5º, 12 do 6º, três do 7º, quatro do 8º e quatro do 9º.

Por meio do método de nuvem de palavras, identificou-se que algumas palavras apareceram com maior frequência: vacina/vacinação, procedimento, errado, técnico de enfermagem, leito, medicação, aplicar e cuidado, entre outras.  A partir da investigação destas palavras nos segmentos de texto, foi possível chegar aos resultados que possibilitaram o alcance do objetivo.

A Figura 1 representa a nuvem de palavras geradas pelo Iramuteq.  As palavras que aparecem em maior tamanho foram as mais citadas e, consequentemente, as que se apresentam em menor tamanho foram as menos incidentes nas entrevistas.

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Fonte: Elaborado pelas autoras, 2022.

Figura 1 - Nuvem de palavras gerada pelo Iramuteq. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2022

 

A análise da nuvem de palavras e dos segmentos de texto revelou as situações que potencializam o reconhecimento profissional e os aspectos que impactam negativamente neste reconhecimento.

 

Situações que potencializam o reconhecimento profissional

A pandemia da Covid-19 foi importante fator para fortalecer o reconhecimento da enfermagem, destacando-se a relevante atuação na vacinação contra o novo coronavírus.

 

Acho que principalmente por causa da pandemia da Covid-19, o enfermeiro está muito em evidência, o enfermeiro que fica do lado do paciente, o enfermeiro que tem feito todo o processo e as campanhas sobre a vacinação, é isso, acho que tem colocado a gente em evidência.  (E12)

 

Destacou-se, também, o acolhimento durante a assistência, através do qual torna-se possível a criação de vínculos e de uma relação de confiança com pacientes e familiares. Para facilitar essa construção, é importante que o profissional se mostre disposto a cuidar, escutar, adaptar-se à linguagem do paciente e esclarecer possíveis procedimentos que se façam necessários. Assim, a seriedade e competência do profissional no desenvolvimento do cuidado fazem a pessoa sentir-se especial e, deste modo, a enfermagem conquista respeito e admiração, potencializando seu reconhecimento.

 

Potencializar a nossa profissão através do cuidado empático, cuidar de uma forma melhor, com mais atenção, entender que cada paciente é um paciente, cada pessoa é uma pessoa e tem um contexto de vida. Acolher este paciente.  (E14)

 

Aspectos que impactam negativamente no reconhecimento profissional

Apesar do conhecimento científico, competências e habilidades da enfermagem, a sociedade resume a atuação da enfermagem com base em procedimentos como banho no leito, troca de curativos e aferição de sinais vitais.  Essas práticas são indispensáveis no cuidado em saúde, mas é importante que haja compreensão social de que a prática da enfermagem está para além dos referidos procedimentos.

 

A gente não está ali simplesmente para dar um banho no leito, para trocar o curativo, mas para prestar um cuidado humanizado, científico, holístico e que envolve muitas outras coisas que, às vezes, para as pessoas que não estão familiarizados com essa área podem ser coisas bobas, mas a gente sabe que faz diferença no cuidado baseado em evidências para a recuperação da saúde do paciente. (E2)

 

Outra equivocada percepção da sociedade, em geral, é que a enfermagem é submissa à medicina e que enfermeiros e técnicos têm atuação similar.

 

A gente ainda tem muita dificuldade de ter uma identidade dentro do próprio hospital com os pacientes porque se a gente não chega e se apresenta, às vezes, a gente é tratado como médico, aí, a gente fala: não, eu sou da enfermagem. Ou, então, todo mundo acha que a gente é técnico de enfermagem. (E35)

 

Acaba que ainda tem muito aquela visão de que o enfermeiro é ajudante do médico, principalmente por parte das pessoas que estão internadas que, às vezes, têm muita dificuldade de identificar quem é quem dentro do hospital, tanto que às vezes não sabem identificar que nós somos enfermeiros e não médicos. (E9)

 

Os participantes destacaram que os enfermeiros, por vezes, não se apropriam do conhecimento, tampouco assumem a própria autonomia, ficando à mercê da decisão final de outros profissionais. Essas omissões e a falta de iniciativa fortalecem a percepção de que a enfermagem é coadjuvante no processo saúde-doença das pessoas, fragilizando tanto o reconhecimento profissional quanto social da profissão.

 

Muitos profissionais que não enxergam que eles têm autonomia, que eles também são detentores do saber e ficam muito submissos aos médicos, acatam qualquer decisão que os médicos tomam. Então, acho que isso acaba contribuindo para essa visão de que somos apenas ajudantes dos médicos.  (E27)

 

Outro aspecto que surgiu foram os erros cometidos durante os processos laborais.  A administração de medicações erradas constitui um dos principais equívocos envolvendo a enfermagem.  Esse evento adverso, mesmo quando cometido por um único profissional, acomete toda a categoria, que perde créditos no ambiente de trabalho bem como no meio social, especialmente quando os casos são divulgados pela mídia.

 

A prestação do serviço em si é algo que pode trazer reconhecimento, como pode atrapalhar nesse reconhecimento, seja por conta de um erro de medicação, seja em um atendimento que não foi feito como deveria. (E38)

 

Assim, se por um lado a campanha de vacinação contra a Covid-19 deixou em evidência o relevante trabalho da enfermagem, por outro, os erros na aplicação das vacinas, as chamadas "vacinas de vento" não contendo o imunizante, bem como o furto de frascos com as doses, que rapidamente se espalharam pela mídia, fragilizaram este reconhecimento.

 

Essa questão de verem profissionais tanto técnicos de enfermagem quanto enfermeiros pegando a vacina e levando para casa, furtando, as "vacinas de vento", isso ficou mal para gente. A gente ficou mal visto tanto pelos colegas da saúde quanto pela sociedade. (E1)

 

DISCUSSÃO

Considerando a perspectiva dos estudantes evidenciada por meio da nuvem de palavras e dos segmentos de texto, verificou-se que o advento da Covid-19 teve papel dialético no reconhecimento profissional da enfermagem e na visibilidade social da profissão. Alguns fatos repercutiram positivamente neste reconhecimento mas, por outro lado, houve situações que impactaram negativamente essa identificação.

A Covid-19 é uma doença infecciosa causada por um novo tipo de coronavírus cuja identificação, primeiramente, ocorreu em dezembro de 2019, em Wuhan, na China, com aparição no Brasil em fevereiro de 2020(11).  Mediante essa situação, a vacinação contra a Covid-19 se mostrou uma das principais medidas para mitigar os impactos individuais e sociais da doença(12).

Nessa tessitura, o protagonismo da enfermagem nas práticas de imunização está bem caracterizado, visto que a categoria assumiu a responsabilidade técnica do setor nas unidades de atenção primária à saúde, local onde os imunizantes são administrados. Em torno dessa prática, estão o aconselhamento e a adesão à vacinação, a aproximação da população com as ações ofertadas pelas unidades de saúde com possível criação de vínculos, a geração de dados epidemiológicos de cobertura vacinal, as práticas de segurança na administração de imunobiológicos e a conservação, manuseio e descarte de resíduos(8).

Especificamente para a enfermagem, o contexto da pandemia da Covid-19 possibilitou a divulgação de uma parcela do trabalho que se mostra ímpar, atuando na linha de frente dessa crise sanitária(13). Com o avançar da pandemia, vacinas foram desenvolvidas e aprovadas, tornando possível o início das campanhas de vacinação cujo trabalho da enfermagem fez-se mister. No entanto, situações como a administração de seringas vazias não contendo o imunizante, bem como o furto de frascos com doses, atribuído a alguns profissionais de enfermagem, rapidamente se espalharam pela mídia, fragilizando o reconhecimento da profissão(14).

Salienta-se, também, que equívocos na assistência de enfermagem estão associadas à força de trabalho da categoria, como o déficit de profissionais, a sobrecarga de trabalho, a ausência de treinamento, as longas jornadas de trabalho e o aumento da rotatividade de profissionais. Essas situações destacadas pelos estudantes geram baixa concentração e atenção nos profissionais, propiciando a ocorrência de erros(15).

O trabalho da enfermagem é baseado em competências que são entendidas como alicerce para a efetividade das práticas gerenciais, assistenciais, de ensino e pesquisa. Assim, esse conjunto de saberes e habilidades é inerente ao cuidado científico exercido pela profissão. Os profissionais de enfermagem exercem as atividades em cenários diversos, lidando com modificações sociais e políticas que exigem visão holística e potencialidade da avaliação do contexto no qual os pacientes estão inseridos. Assim, é importante que os profissionais tenham capacidade de avaliação, planejamento e implementação de ações nos diversos cenários de atuação e no processo saúde-doença(16).

Considerando o que foi salientado pelos participantes, destaca-se que o cuidado, objeto de trabalho da enfermagem, precisa ser evidenciado no ensino e na assistência de enfermagem, com o entendimento de sua singularidade, devendo ser exercido de forma integral, ou seja, atendendo todas as necessidades apresentadas pelos que são cuidados. Ademais, esse cuidado deve ser tomado como o compromisso ético e moral da profissão(17). Ressalta-se, ainda, que é preciso dialogar com a sociedade sobre as inúmeras áreas de atuação da enfermagem, as competências e habilidades desses profissionais e a divisão técnica do trabalho. Também é preciso esclarecer o papel da Enfermagem na equipe de saúde e nos diversos contextos de atuação em saúde desconstruindo, assim, a visão popular que confere à medicina um status de poder. Tal visão cria uma hierarquia na qual os médicos estão no topo de uma relação vertical, com competências adquiridas a partir de processos de qualificação em detrimento das funções desenvolvidas pela enfermagem. Por sua vez, tais funções estariam ligadas às qualidades femininas, exigindo uma postura submissa a outros profissionais (especialmente aos profissionais do sexo masculino)(1,3).

Ademais, não se pode olvidar que, por ser uma profissão historicamente feminina, a enfermagem ainda precisa superar as desigualdades e injustiças sociais decorrentes das funções sociais, de gênero e da divisão sexual do trabalho que está ancorada em concepções que estabelecem as competências masculinas adquiridas no processo de qualificação em detrimento das funções femininas ligadas às qualidades do sexo.

Destaca-se que, seja qual for a prática assistencial e o local de inserção, o profissional de enfermagem deve estar capacitado para exercer as funções com embasamento teórico e científico e capacidade de interferência, com potencial de contribuir com melhorias nos processos de saúde dos indivíduos. Também é relevante pensar que, na prática do cuidado, utilizam-se diversos tipos de tecnologias de caráter científico que auxiliam o enfermeiro a cumprir a função social de prestar cuidado aos indivíduos(18).

Esse cuidado, baseado em evidências gera impactos positivos na prática laboral e auxilia na tomada de decisão. Assume-se, assim, a cientificidade da enfermagem que eleva a profissão a ser produtora e consumidora de ciência e diferencia a prática profissional, cujo saber tem profundo alicerce que a ampara, além de fortalecer sua relevância social(19).

No entanto, há motivos para que a população cometa equívocos ou tenha entendimentos superficiais sobre a enfermagem, por exemplo, não diferenciando o enfermeiro do técnico de enfermagem, conforme evidenciado no segmento de texto destacado nos resultados deste estudo. Neste contexto, a diferenciação social muitas vezes não acontece pelo fato de a sociedade desconhecer o papel do técnico de enfermagem e do enfermeiro e suas atribuições na equipe de enfermagem(20).

Estudo revela que os técnicos de enfermagem, frequentemente, realizam o trabalho que deveria estar sendo executado pelos enfermeiros, mesmo que muitas dessas atividades sejam privativas desses profissionais, como colher gasometria arterial e realizar sondagem vesical de demora, entre outras(20). Portanto, a dificuldade da população de não conseguir diferenciar os enfermeiros dos técnicos de enfermagem também ocorre pela delegação indevida de atividades.

Outro aspecto que merece destaque e que foi apontado pelos estudantes relaciona-se à autonomia da profissão. A autonomia pode ser compreendida como a liberdade ou independência moral e intelectual, de modo que o indivíduo possa tomar decisões baseadas em leis próprias. Trazendo tal significado para a prática profissional, a enfermagem deve pautar suas ações em um Código de Ética, o qual dispõe de direitos, responsabilidades, deveres e proibições, bem como legislações. De acordo com o Código de Ética, o profissional de enfermagem deve atuar com autonomia e em conformidade com os princípios éticos e legais, com rigor técnico, científico e filosófico, respeitando a integralidade do indivíduo(21).

Nessa perspectiva, a cientificidade da profissão está diretamente relacionada à autonomia, permitindo a execução de atividades com competência e de forma resolutiva. Com o objetivo de fomentar a prática embasada na ciência, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), por meio da Resolução 358/2009, estabeleceu a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), de modo a organizar o trabalho quanto ao método, pessoal e instrumentos, possibilitando a execução do processo de enfermagem e padronizando-o.  Assim, a SAE torna-se importante ferramenta para promover e proteger a autonomia da enfermagem, no entanto, algumas dificuldades como a falta de interesse, a escassez de tempo, o déficit de conhecimento e a grande demanda de pacientes resultam na baixa adesão a este método de trabalho na realidade de profissionais de muitas instituições de saúde(23).

Os profissionais de enfermagem são responsáveis por uma série de atividades assistenciais e gerenciais e, para desenvolver as atribuições acompanhando os avanços científicos e tecnológicos, faz-se necessária atualização permanente. Nesse contexto, a Prática Baseada em Evidências (PBE) tem se mostrado ferramenta útil.  A PBE é um movimento que teve início no Canadá e tem por objetivo proporcionar a melhoria da assistência e do ensino em saúde(24).

A PBE engloba três componentes indissociáveis, experiência clínica, preferência do paciente e evidência científica. Neste sentido, fundamenta-se no encorajamento ao uso de resultados de pesquisa para atender aos problemas de saúde da população de forma resolutiva e satisfatória, aliado às escolhas do usuário e à prática clínica, bem como para auxiliar na tomada de decisão(24).

As falhas ocorridas em decorrência da assistência em saúde frequentemente têm a enfermagem como classe envolvida, o que culmina em desvalorização da profissão, principalmente, quando há divulgação midiática. No entanto, pouco se relata sobre as condições de trabalho às quais os profissionais de enfermagem são submetidos, como sobrecarga de trabalho, salários diminutos e necessidade de multiemprego, o que culmina em cansaço, baixa atenção e concentração, escassez de recursos materiais e pessoais e elevada carga horária laboral. Esses fatores tornam a enfermagem mais vulnerável e favorecem a ocorrência de incidentes(25).

Outros aspectos importantes que emergiram nos segmentos de texto foram o acolhimento e a empatia durante o cuidado de enfermagem. O termo empatia teve origem na Alemanha e pode ser definido como a capacidade de compreender os componentes emocionais de alguém e as referências como se fosse essa pessoa, livre de julgamentos e de modo a auxiliá-la a encontrar meios para lidar com as adversidades da vida. Deste modo, o cuidador deve dispor de ferramentas terapêuticas básicas, como a escuta ativa, a empatia, o acolhimento e o vínculo, viabilizando a construção de uma relação de confiança(26).

A comunicação entre o enfermeiro e o cliente é um dos pontos fundamentais no cuidado, por meio da qual é possível a construção de vínculos. Nessa comunicação, estão envolvidas habilidades interpessoais do profissional, bem como conhecimentos, inteligência emocional e atitudes. De acordo com essas variáveis, pode haver facilidade em alcançar relacionamento integral e construtivo com o outro que se sentirá acolhido e legitimado nas dimensões emocionais, culturais, psíquicas e sociais. Do contrário, haverá dificuldades, como a criação de barreiras na comunicação e distanciamento do usuário(26).

Entende-se que a limitação do estudo foi em relação à coleta de dados ter ocorrido em um único cenário, o qual possui especificidades do ensino e da região onde a instituição está situada. Neste sentido, os resultados podem não ser generalizáveis. No entanto, esta pesquisa pode servir de incremento para estudos multicêntricos que mapeiem de forma mais abrangente a percepção de estudantes de enfermagem, abrangendo as diferentes regiões do país, sobre o reconhecimento da profissão.  

 

CONCLUSÃO

Diante dos resultados, foi possível verificar que as situações que potencializaram o reconhecimento profissional foram a atuação da enfermagem na pandemia e o acolhimento durante a assistência. Impactaram negativamente o reconhecimento das questões históricas, de gênero e aquelas relacionadas à divisão técnica e social do trabalho, além das falhas na execução de procedimentos.

Ademais, os estudantes de enfermagem consideraram que apesar do relevante destaque dado pela mídia à enfermagem, ainda há uma equivocada percepção da sociedade sobre o trabalho deste coletivo profissional. Sendo assim, é fundamental discutir tal reconhecimento no contexto da graduação, fora dele e nos diversos espaços sociais, trazendo para a sociedade os esclarecimentos pertinentes sobre as atribuições e competências da enfermagem.

 

*Artigo extraído da Dissertação de Mestrado “Análise sobre o reconhecimento profissional na perspectiva de graduandos de enfermagem em tempos de Covid-19” apresentada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

 

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

 

FINANCIAMENTO

O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Processo nº 306056/2020-8.

 

 REFERÊNCIAS

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Submissão: 02/08/2022

Aprovado: 24/04/2023

 

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA

Concepção do projeto: Souza NVDO, Pedro RS

Obtenção de dados: Pedro RS

Análise e interpretação dos dados: Souza NVDO, Pedro RS, Silva MS, Roque ABM, Araújo DHPS, Pedro RS, Saija GC, Farias SNP, Soares SSS

Redação textual e/ou revisão crítica do conteúdo intelectual: Souza NVDO, Pedro RS, Silva MS, Roque ABM, Araújo DHPS, Pedro RS, Saija GC, Farias SNP, Soares SSS

Aprovação final do texto a ser publicada: Souza NVDO, Pedro RS, Silva MS, Roque ABM, Araújo DHPS, Pedro RS, Saija GC, Farias SNP, Soares SSS

Responsabilidade pelo texto na garantia da exatidão e integridade de qualquer parte da obra: Souza NVDO, Pedro RS

 

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