Sociodemographic profile of working students matriculated in the nursing undergraduate course at PRIVATE UniversiTY: A DESCRIPTIVE STUDY.

Perfil sóciodemográfico dos alunos trabalhadores que cursam a graduação em enfermagem em uma Universidade particular: UM ESTUDO DESCRITIVO.

Elizania Machado Teixeira1, Arlete Silva1

1 Universidade de Guarulhos

ABSTRACT: In Brazil there has been an increase of private nursing schools that offer a part-time Undergraduate Course, allowing students to take a job. This topic has roused the interest of academicians pursuing knowledge of the profile, and difficulties of these students, in order to contribute towards better nursing education. The purpose is to describe the sociodemographic, work and study-related characteristics of working students from the Nursing Undergraduate Course of a private university, São Paulo, Brazil . It is a descriptive survey. The population consisted of 406 students; of these, 250 (62%) were enrolled in the morning and 156 (38.00%) in the evening period; 334 (82.27%) women and 72 (17.73%) men, with average age of 30 and 29 years; 193 (47.54%) single and 158 (38.92%) married. The majority (70.68%) reported monthly income of US$ 230 to US$ 680, contributing partially (36.95%) to the family income, with primary activities including leisure, visiting friends and relatives (21.44%) and watching TV (19.14%). As regards the facts relating to work, 85% work in a job, with a workday of 31 or more hours per week (78%); 80.06% work at a hospital, as a nursing assistant or technician (65.77%).The results relating to the study demonstrate that 68% study a maximum of 4 hours/week and 19% do not study; the main reason for not paying attention to lessons is tiredness, stress and sleepiness (78.40%).

KEYWORDS: nursing; students; health occupations

RESUMO: Tem-se observado no Brasil, um aumento de escolas particulares de enfermagem que oferecem Curso de Graduação em tempo parcial, permitindo ao aluno exercer um trabalho. Este tema tem despertado o interesse de estudiosos, que procuram conhecer o perfil, dificuldades e expectativas desses alunos e, assim, contribuir para um melhor ensino de enfermagem. O objetivo deste estudo é descrever as características sociodemográficas, de trabalho e de estudo dos alunos trabalhadores do Curso de Graduação em Enfermagem de uma Universidade particular, São Paulo, Brasil. Trata-se de uma pesquisa descritiva, cujos dados foram coletados utilizando um questionário. A população constituiu-se de 406 alunos, presentes na sala de aula durante a coleta de dados e que exerciam atividade remunerada. Destes, 250 (62%) estavam matriculados no período matutino e 156 (38,00%) no vespertino; 334 (82,27%) mulheres e 72 (17,73%) homens, com idade média de 30 e 29 anos, respectivamente; 193 (47,54%) solteiros e 158 (38,92%) casados. A maioria (70,68%) referiu renda mensal de R$ 501,00 a R$ 1500,00, contribuindo parcialmente (36,95%) na renda familiar; como principais atividades de lazer, visitam amigos e familiares (21,44%) e assistem TV (19,14%). Quanto aos dados relacionados ao trabalho, 85,00% trabalha em um emprego, cumprindo jornada de trabalho de 31 ou mais horas semanais (78,00%); 80,06% trabalha em hospital, como auxiliar ou técnico de enfermagem (65,77%). Os resultados relativos ao estudo demonstram que 68,00% deles estudam no máximo 4 horas/ semana e 19,00% não estuda; a principal razão para não prestar atenção às aulas é o cansaço, estresse e sonolência (78,40%)

PALAVRAS-CHAVE: enfermagem; estudantes; saúde ocupacional.

Introdução

Nestes últimos anos, tem-se observado um aumento muito grande de escolas de enfermagem particulares, que oferecem o curso de Graduação em tempo parcial, permitindo ao aluno, simultaneamente, assumir uma atividade remunerada.

Este tema tem despertado o interesse de vários estudiosos, que procuram conhecer melhor o perfil dos alunos - trabalhadores, suas dificuldades e expectativas para, dessa forma, contribuir para a melhoria do ensino da enfermagem

No estudo desenvolvido por Ogasawara, Pavarini 1, sobre as características dos cursos de graduação em enfermagem oferecidos em tempo parcial, foi bastante marcante o fato desses cursos, mesmo sendo pagos, terem uma alta procura, pois possibilitavam ao aluno trabalhar.

Na década de 80, Nakamae, Tsunechiro2 observaram que os alunos que buscavam esses cursos eram, especialmente, aqueles que já trabalhavam na enfermagem, fosse como atendente, auxiliar e técnico de enfermagem, a fim de obterem melhor qualificação e ascensão profissional.

Nakamae, Araújo, Carneiro, Vieira, Coelho3, desenvolveram uma investigação com os estudantes de enfermagem de Minas Gerais e observaram que o número de alunos que trabalhava era menor nas escolas públicas (41%) que nas escolas particulares (68,0%).

Marra4 também encontrou uma maior freqüência de alunos –trabalhadores (73,3%) nas escolas privadas que funcionavam em período parcial; na única instituição que funcionava em tempo integral, a freqüência era de 22,9%

Observou-se ainda, nos estudos desenvolvidos por Nakamae, Araújo, Carneiro, Vieira, Coelho e Nakamae, Costa5 que a maioria dos estudantes trabalhava por necessidade de remuneração e também para adquirir experiência profissional.

Iglesias6 estudando a qualidade de vida dos alunos – trabalhadores, evidenciou que os alunos que cursam a graduação em enfermagem e simultaneamente trabalham, apresentam algumas características comuns, como por exemplo, uma faixa etária maior, e a opção por cursos em tempo parcial, é para poder manter os seus estudos.

Nesse contexto, onde o contingente de alunos – trabalhadores nos cursos de graduação em enfermagem oferecidos por escolas particulares em período parcial é cada vez maior, nos propomos a desenvolver o presente estudo.

OBJETIVO

          Descrever as características sociodemográficas, de trabalho e de estudo dos alunos-trabalhadores do curso de graduação em enfermagem de uma universidade particular.

MÉTODO

          Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória, de campo, transversal, realizada numa universidade particular.

A população foi constituída por todos os alunos matriculados no curso de Graduação em Enfermagem que estavam presentes na sala de aula no dia da coleta de dados e estavam exercendo alguma atividade remunerada, simultaneamente ao estudo, com vínculo empregatício ou não.

              Os dados foram coletados após a autorização da coordenadora do Curso e aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade, conforme a Resolução 196/967.

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário, constituído de perguntas abertas e fechadas, distribuídas em duas partes. Na primeira parte, constaram os dados sóciodemográficos e na segunda parte, os dados relacionados ao trabalho e estudo.

Os resultados foram agrupados utilizando-se um banco de dados criado em planilha no programa de computador Excel, apresentados na forma de tabelas e gráficos e analisados quantitativamente.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Características sóciodemográficas da população

A Universidade onde o estudo foi realizado conta com 839 alunos matriculados no curso de Graduação em Enfermagem, dentre os quais 406 (48,39%) são trabalhadores e estavam presentes na sala de aula no momento da coleta de dados e responderam o questionário.

Quanto ao período em que freqüentam o curso, a maior parte (62,00%) dos alunos trabalhadores está matriculada no período matutino, o que possibilita o trabalho nos horários vespertino e noturno.

            O estudo de Ogasawara, Pavarinitambém evidenciou a preferência dos alunos pelo período matutino para poderem trabalhar nos períodos noturno e vespertino.

TABELA 1. Distribuição dos alunos trabalhadores segundo as variáveis sócio-demográficas e sexo. São Paulo, 2005.

VARIÁVEIS

 

MULHERES

HOMENS

TOTAL

               

%

%

%

               

Idade/Anos

Min/Max

17/58

-

18/49

-

-

-

Média

30

-

29

-

-

-

               
               
 

Solteiro

158

38,92

35

8,62

193

47,54

 

Casado

129

31,78

29

7,14

158

38,92

Estado Civil

Amasiado

15

3,69

2

0,49

17

4,18

Divorciado

17

4,19

0

0,00

17

4,19

Separado

10

2,46

4

0,99

14

3,45

Viúvo

3

0,74

0

0,00

3

0,74

 

Em branco

2

0,49

2

0,49

4

0,98

 

TOTAL

334

82,27

72

17,73

406

100,00

               
               
 

Até 500

38

9,36

5

1,23

43

10,59

 

501 a 1000

112

27,59

22

5,42

134

33,01

Renda Mensal

1001 a 1500

131

32,27

24

5,91

155

38,18

(em R$)

1501 a 2000

33

8,13

14

3,45

47

11,58

 

Mais de 2000

15

3,69

7

1,72

22

 5,41

 

Em branco

5

1,23

0

0,00

5

1,23

 

TOTAL

334

82,27

72

17,73

406

100,00

               
               
 

Contribui parcialmente

132

32,51

18

4,43

150

36,94

Participação na vida

econômica da família 

É responsável pelo próprio sustento

83

20,44

21

5,17

104

25,61

Recebe ajuda financeira

82

20,20

16

3,94

98

24,14

É principal responsável pelo sustento

36

8,87

16

3,94

52

12,81

Em branco

1

0,25

1

0,25

2

0,50

 

TOTAL

334

82,27

72

17,73

406

100,00

Pelos dados da Tabela 1, pode-se observar uma prevalência de mulheres (82,27%), o que atesta a presença maciça das mesmas na enfermagem.

O estudo de Oguisso8 relata que “uma das portas de entrada mais antigas da mulher na força de trabalho remunerada foi a enfermagem e esta profissão é ainda predominantemente feminina em todo mundo”, o que referenda o resultado deste estudo.

            Em relação a faixa etária, a idade mínima das mulheres foi 17 anos e a máxima 58, sendo a média de 30 anos; nos homens a idade mínima foi 18 e a máxima 49, com média de 29 anos.

            Este resultado difere do estudo de Iglesias6  que observou idade média mais avançada nos homens (31,44).

            Em relação ao estado civil, a população constituiu-se principalmente dos alunos solteiros (47,54%), seguido dos alunos casados (38,92%). Estes resultados também foram observados no estudo de Iglesias6 e Marra4.

            Quanto a renda mensal observou-se maior freqüência entre R$ 1001,00 a R$1500,00 (38,18%) e R$ 501,00 a R$ 1000,00 (33,01%), ou seja, o equivalente a 1,5 a 5 salários mínimos vigentes no ano de 2005 (R$ 300,00); talvez este rendimento permita aos alunos contribuírem parcialmente com o sustento da família (36,94%) ou se responsabilizarem pelo seu próprio sustento (25,61%).

Este resultado pode ser reforçado pelo estudo de Nakamae, Araújo, Carneiro, Vieira, Coelho3 no qual relatam que metade dos alunos estudados por elas contribui nas despesas familiares sem serem os únicos responsáveis.      

Quanto a existência de filhos, 45% dos alunos trabalhadores são pais, a grande maioria com 1 ou 2 filhos; no entanto, nove (2,22%) alunos referiram ter 4 filhos. A idade deles variou entre 1 e 32 anos, sendo predominante a faixa etária de 5 a 10 anos.

Esse percentual é maior que o encontrado no estudo de Iglesias6 onde 35,08% dos alunos eram pais.

A atividade de lazer mais freqüentemente praticada pelos alunos no final de semana foi visitar amigos e familiares (21,44%), seguido de assistir TV (19,14%) e ir ao cinema (14,86).

Os resultados obtidos neste estudo foram similares aos de Iglesias6 que também observou como a atividade mais citada de lazer o assistir TV.

Dentre “outras” atividades de lazer, foram citadas o cuidar do lar, estudar e trabalhar, fato que chama a atenção, sugerindo que estes alunos se encontram tão envolvidos pela rotina que não estão conseguindo distinguir lazer de dever.

Resultados relativos ao trabalho.

TABELA 2 - Distribuição dos alunos trabalhadores segundo os resultados relativos ao trabalho. São Paulo, 2005

TRABALHO

MULHERES

HOMENS

TOTAL

%

%

%

               

Nº de empregos

Um

290

71,43

55

13,55

345

84,98

Dois

40

9,85

16

3,94

56

13.79

Três

2

0,49

1

0,25

3

0,74

Em branco

2

0,49

0

0

2

0,49

TOTAL

334

82.27

72

17,73

406

100,00

               

Horário

Noturno

164

37,44

50

11,41

214

48,85

Vespertino

138

31,51

22

5,02

160

36,53

Matutino

56

12,79

8

1,83

64

14,62

TOTAL

358

81,74

80

18,26

438

100,00

               

Vinculo Empregatício

Sim

248

61,09

58

14,28

306

75,37

Não

70

17,24

13

3,20

83

20,44

Em branco

16

3,94

1

0,25

17

4,19

TOTAL

334

82,27

72

17,73

406

100,00

               

Nº de horas trabalhadas/ semana

Até 12 h

40

9,86

6

1,47

46

11,33

De 12 a 20 h

5

1,23

5

1,23

10

2,46

De 21 a 30 h

31

7,64

4

0,99

35

8,63

De 31 a 40h

140

34,48

16

3,94

156

38,42

Mais de 40h

116

28,57

40

9,85

156

38,42

Em branco

2

0,49

1

0,25

3

0,74

TOTAL

334

82,27

72

17,73

406

100,00

               

Pelos dados apresentados na Tabela 2, observa-se que a maioria dos alunos (84,98%) tem um emprego; no entanto, 3 (0,74%) alunos referiram trabalhar em três locais, despendendo assim todo seu tempo trabalhando, mais de 40 horas/semana.

 Quanto ao período de trabalho, 214 (48,85%) alunos trabalham no período noturno, 36,53% no período vespertino e 14,62% no matutino. Este resultado era esperado, uma vez que a maioria (62,00%) dos alunos freqüenta o curso de enfermagem no período matutino, de forma a possibilitar o trabalho vespertino e noturno.

Vale lembrar que o aluno que trabalha no período noturno e estuda pela manhã, sai do seu plantão e vem direto para a sala de aula, extremamente sonolento e cansado, não conseguindo permanecer atento na aula.        

A maioria (75,37%) dos alunos trabalha com vínculo empregatício. No entanto, um percentual considerável (20,44%) não, ou seja, desenvolvem trabalho informal, sem direitos trabalhistas, refletindo a realidade vivenciada por muitos trabalhadores brasileiros.

A jornada de trabalho de 76,84% dos alunos é mais de 30 horas semanal e de 38,42% mais de 40 horas.

No estudo realizado por Nakamae, Araújo, Carneiro, Vieira, Coelho3 e Nunes, Negri, Montejani, Gabrielli, Pelá9 a carga horária semanal dos alunos era de até 40 horas, o que demonstra um aumento na jornada de trabalho dos mesmos.

Em relação ao ramo de atividade e função exercida, observa-se que a maioria (72,06%) dos alunos já trabalha na área de saúde, principalmente como auxiliar ou técnico de enfermagem (65,77%), o que demonstra a busca desses profissionais pela ascensão profissional e social dentro da própria área.

Estes resultados são semelhantes aos encontrados nos estudos de Ogasawara, Pavarini1 e Santos10, nos quais grande percentual de alunos de graduação em enfermagem trabalhava na área da saúde como auxiliares ou técnicos de enfermagem.

Outros ramos de atividade citados pelos alunos trabalhadores foram o comércio (8,58%), a educação (7,84%), indústria (2,45%), administração (1,72%) e prestação de serviços – segurança (1,72%).

Foram referidas também as funções de vendedor (4,65%), professor (3,67%), escriturário (3,18%) e recepcionista ( 3,18%).

Quanto ao tipo de instituição de saúde em que os alunos trabalham, o hospital foi citado por 80,06% deles; este resultado era de se esperar, pois é a instituição hospitalar que concentra a maior parte da força de trabalho de enfermagem. No entanto, deve-se ressaltar que alguns alunos trabalham nessas instituições como escriturário ou recepcionista.

Foram citadas também a clínica particular (5,79%), unidade básica de saúde (5,14%), laboratório e home care com igual percentual (1,93%), e ambulatório (1,29%), dentre outros.

Resultados relativos ao estudo.

TABELA 3 - Distribuição dos alunos trabalhadores segundo os resultados relativos ao estudo. São Paulo, 2005.

RESULTADOS RELATIVOS AO ESTUDO

MULHERES

HOMENS

TOTAL

%

%

%

               

Horas que dedicam aos estudos

Até 2 horas

133

32,76

24

5,91

157

38,67

De 2 a 4 horas

89

21,92

27

6,65

116

28,57

De 4 a 6 horas

28

6,90

6

1,48

34

8,38

Mais de 6 horas

17

4,19

4

0,99

21

5,18

Não estuda

67

16,50

9

2,21

76

18,71

Em branco

0

0

2

0,49

2

0,49

TOTAL

334

82,27

72

17,73

406

100,00

               

Reprovação e Dependências

Não

236

58,13

52

12,80

288

70.93

Sim

98

24,14

19

4,68

117

28,82

Em branco

0

0

1

0,25

1

0,25

TOTAL

334

82,27

72

17,73

406

100,00

               

Trancamento de Matrícula

Não

292

71,92

60

14,78

352

86,70

Sim

42

10,35

11

2,70

53

13,05

Em branco

0

0

1

0,25

1

0,25

TOTAL

334

82,27

72

17,73

406

100,00

Pelos dados apresentados na Tabela 3, observa-se que as horas dedicadas ao estudo fora da sala de aula, são mínimas ou nenhuma; 18,71% dos alunos referem não estudar por absoluta falta de tempo, enquanto 38,67% estudam até 2 horas/semana e 28,57%, de 2 a 4 horas/semana, o que significa 67,24% dos alunos estudando no máximo 4 horas por semana.

Dados observados por Nakamae, Costa5 corroboram estes resultados; estas autoras verificaram “alta incidência de alunos nas escolas particulares, que não estudam fora do período de aula ou se dedicam a isso de uma a cinco horas semanal”. 

Perguntados sobre a atenção durante as aulas, 78,40% dos alunos referiram o cansaço, o estresse e a sonolência como as principais razões para não se manterem atentos à aula; este resultado é bastante relevante, se considerar a jornada de trabalho e outras obrigações que estes têm a cumprir.

Mas outras razões também chamam a atenção, como a preocupação com outros assuntos (8,98%), conversas paralelas na classe (3,40%) e a presença de barulho (1,46%) externo e interno.

Vale ressaltar que 7,52% dos alunos referem não se manter atentos durante as aulas por elas serem monótonas. O professor precisa estar atento para esta parcela de alunos, de forma a buscar estratégias de ensino que despertem o interesse e o envolvimento dos mesmos.

Quanto a deixarem a sala antes do término da aula, os alunos alegaram principalmente, a incompatibilidade de horário entre trabalho e estudo (42,36%), isto é, para conseguirem chegar a tempo no trabalho, precisam sair antes da aula terminar; resolver assuntos pessoais ou familiares (22,29%), e até mesmo para dar conta das atividades relacionadas ao estudo, como estudar para as provas e preparar seminários (21,97%).

Vários alunos referiram problemas de saúde (6,05%) e cansaço, estresse e sonolência (3,82%).

Estes resultados são preocupantes, pois demonstram que o aluno trabalhador de enfermagem por ter uma rotina diária extenuante, utiliza o tempo destinado às aulas para tentar resolver as suas necessidades, sejam elas pessoais ou familiares, de trabalho, de estudo, e principalmente suas necessidades básicas de sono e descanso.

A maioria (71,00%) dos alunos não apresenta reprovação nem dependência nas disciplinas curriculares, o que demonstra que apesar das dificuldades eles ainda conseguem atingir as notas necessárias para aprovação. No entanto, 29,00% deles referem reprovação ou dependência, o que é um número bastante significativo.

Em relação ao trancamento de matrícula, a maioria deles (87,00%) não se utilizou desse recurso; os alunos que precisaram trancar matrícula (13,00%) apresentaram como justificativas, a dificuldade financeira, pois não podiam continuar arcando com os gastos da faculdade e ter ficado em dependência nas disciplinas que são pré-requisitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao terminar o presente estudo - perfil sócio demográfico, de trabalho e de estudo - dos alunos trabalhadores do curso de enfermagem, desenvolvido ao longo de um ano, permitiu conhecer melhor quem são esses alunos, as atividades que desenvolvem e as dificuldades que enfrentam para conciliar estudo e trabalho.

 Além disso, a experiência foi extremamente valiosa, me proporcionando dar os primeiros passos num processo de investigação científica, e trazendo respostas para algumas questões que me preocupam.

Sendo uma aluna de enfermagem que trabalha, vivenciei cada situação, cada depoimento dado pelos meus colegas de curso, que simultaneamente, estudam e trabalham.

Os resultados aqui apresentados podem oferecer subsídios para o educador conhecer melhor seu aluno, e propiciar uma reflexão a respeito da relação aluno trabalhador x professor e do processo ensino-aprendizagem.

O desenvolvimento deste estudo me mostrou que todos nós temos a capacidade de enfrentar novos desafios, superar nossas limitações, aprendendo a conviver e a vencer obstáculos internos e externos, em busca de nossos ideais. São estes desafios que nos fazem mais fortes, como pessoa e profissional.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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