Basic human needs achievement by nursing undergraduate students basic human needs achievement by nursing undergraduate students

Satisfação das necessidades humanas básicas pelos estudantes do curso de licenciatura em enfermagem

La satisfacción de las necesidades humanas básicas en los estudiantes del curso de licenciatura en enfermería

 João FFL Simões1, Eugênio Santana Franco1, Mônica Oliveira B. Oriá2

1. Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal.  2. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil

 Abstract: The conditions of daily life, in which the professional education is processed, their contexts, relational and social dimensions among different “actors” take an important place in this formative process. Thus, satisfaction of human basic needs (HBN) is a fundamental issue for students to achieve adequate personal and professional improvement. Moreover, it is important to investigate how HBN satisfaction is evolving in this group in order to plan interventional methodologies and to reorganize academic activities towards student psychological, social and cultural enhancement and to promote the self-evaluation of BHN priorities. The aim of this exploratory-descriptive study was to assess the Nursing undergraduate student perception to satisfy their BHN throughout a week. For data collection, an instrument of seven record sheets was built to record the time used by the scholars. From the data analyses, it was concluded that students had spent more time to sleep, rest and for learning, reaching 59.2% of full week occupation time. Although variations in the time spent to satisfy diverse needs throughout the week do exist, those were not significant. The need to prevent harm and to act according to beliefs and values were the ones that students had spent less time.

 Keywords: Quality of life; Students, Nursing; Education, Nursing.

 Resumo: As condições da vida quotidiana em que se processa a formação profissional, seus contextos e dimensões sociais das relações entre os diferentes “atores” ocupam lugar determinante na formação. Assim, é fundamental que os estudantes satisfaçam as suas necessidades humanas básicas (NHB) para que seu crescimento pessoal e profissional seja adequado. Além disso, é importante investigar como está decorrendo a satisfação das NHB neste grupo para planejar metodologias de intervenção e reestruturação de atividades acadêmicas para favorecer o desenvolvimento psicológico, social e cultural dos estudantes e promover a auto-avaliação da priorização de suas NHB. O objetivo deste estudo exploratório-descritivo foi avaliar a forma como os estudantes do curso de Licenciatura em Enfermagem percebem a satisfação das suas NHB ao longo de uma semana. Para a coleta de dados foi elaborado um instrumento composto por 7 planilhas de registro do tempo utilizado pelos estudantes. Da análise dos dados, concluiu-se que as necessidades onde os estudantes utilizaram mais tempo foram as de dormir e repousar e de aprender, com 59,2% de ocupação do tempo total da semana. Apesar de existirem variações no tempo utilizado para a satisfação das diversas necessidades ao longo da semana, estas não são significativas. As necessidades de evitar os perigos e de agir segundo as suas crenças e valores, foram as necessidades que os estudantes utilizaram menos tempo.

 Palavras-Chave: Qualidade de vida; Estudantes de enfermagem; Educação em Enfermagem

 RESUMEN: Las condiciones de la vida cotidiana en que se procesa la información profesional, sus contextos y dimensiones sociales de las relaciones entre los diferentes actores, ocupan lugar determinante en la formación. Así, es fundamental que los estudiantes satisfagan sus Necesidades Humanas Básicas (NHB) para que su crecimiento personal y profesional sea adecuado. Además se hace necesario investigar como se está comportando la satisfacción de las NHB en este grupo para planear metodologias de intervención y reestructuración de actividades académicas en el sentido de favorecer el desarrollo psicológico, social y cultural de los estudiantes y promover la autoevaluación de la priorización y de sus necesidades. El objetivo de este estúdio exploratório-descriptivo fue conocer la forma como los estudiantes del curso de Licenciatura en Enfermería perciben la satisfacción de sus NHB a lo largo de una semana. Para la recogida de datos fue elaborado un instrumento compuesto por siete (7) planillas de registro del tiempo utilizado por los estudiantes. Del análisis de los datos se concluye que las necesidades donde los estudiantes utilizam más tiempo fueron las de dormir, reposar y aprender, com 59.2% de ocupación del tiempo total de la semana. A pesar de existir variaciones en el tiempo utilizado para la satisfacción de las diversas necesidades a lo largo de la semana, estas no son significativas. Las necesidades de evitar los peligros y de comportasse según sus creencias y valores, fueron los necesidades donde los estudiantes utilizaran menos tiempo.

 Palabras-clave: Calidad de vida; Estudiantes de enfermería; Educación en Enfermería.

 INTRODUÇÃO

Uma das preocupações que marca a atualidade deste início de século prende-se, entre outros aspectos, à organização e implementação de um ensino de enfermagem que promova o desenvolvimento dos estudantes, não somente em áreas particulares do saber, mas, igualmente, ao nível do desenvolvimento pessoal e interpessoal enquanto elementos básicos na promoção de sujeitos autônomos capazes de agirem com eficácia nos contextos atuais e de desenvolverem formas de intervenção adequadas ao futuro que é, podemos dizê-lo, uma verdadeira incógnita.

A formação em Enfermagem dirige-se a um público que chega à situação de aprendizagem formal com uma história cultural, cognitiva e afetiva diversificada e única; os seus contributos são a mais valia a ter em conta na necessidade de ser escutado, respeitado e participante ativo na construção do saber profissional.

As primeiras etapas do percurso profissional são, de fato, determinantes para a aquisição da autonomia profissional, pois as respostas do meio às interações do estudante, primeiro na escola e depois no local de estágio, vão traçar a matriz do estilo que o indivíduo irá adotar na sua relação futura quando profissional.

Favorecer o desenvolvimento da autonomia supõe, portanto, uma atitude que estimule a iniciativa, mas que também deixe o estudante experimentar as consequências daí decorrentes. A conquista da autonomia necessita ainda do reforço de uma auto-imagem positiva. A pessoa e o meio envolvente mantêm uma relação de reciprocidade, sendo as respostas do meio determinantes para a auto-imagem de cada um de nós. Como podemos acreditar em nós se os outros não nos dão crédito nem sequer consideram as nossas potencialidades?

Autonomia é, de fato, um objetivo, um processo nunca acabado na relação pessoal do homem com o meio, mas não é uma utopia quando o respeito pela dignidade da pessoa está presente nas relações entre os homens.

Para alcançar esta autonomia temos que acreditar que a visão atual da enfermagem é a de uma profissão de interação humana, em que é fundamental cuidar e promover contextos de desenvolvimento social e que a formação deve adequar-se a este interesse prático.

Esta realidade tem-nos motivado algumas reflexões e preocupações neste domínio e, de algum modo, é a tela inspiradora e ativadora do estudo que descrevemos no presente artigo. Ponderar sobre esta realidade conduziu-nos à questão central que orienta a pesquisa. Pretendemos, assim, conhecer a forma como os estudantes do 1º ano do curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro - Portugal, no 1º semestre do ano letivo de 2005/2006, percebem a satisfação das suas Necessidades Humanas Básicas (NHB) a partir de uma visão holística, durante 7 dias consecutivos. 

FUNDAMENTAÇÃO

A formação em Enfermagem, hoje, deverá proporcionar aos estudantes conteúdos e métodos que lhes permitam adquirir novas atitudes e comportamentos no trabalho e constituírem saberes próprios. Assim, o reconhecimento da profissão exige que se criem condições necessárias para uma formação de qualidade, que permita aos enfermeiros exercerem a sua atividade com autonomia e responsabilidade.1

A Enfermagem é uma profissão em construção, e a função da formação inicial deverá ser a de favorecer o desenvolvimento global do estudante, considerando as suas capacidades, necessidades, expectativas e aspirações para que se transforme num adulto ativo e reflexivo na sociedade e no exercício da sua profissão, na produção de saberes e modelos profissionais necessários aquela construção.

O novo conceito de formação, considerando não apenas o desenvolvimento profissional do indivíduo, mas acentuando a dimensão do seu desenvolvimento pessoal, parece ser, no contexto atual da formação em Enfermagem, o ponto de vista mais adequado.2

A base filosófica da Enfermagem está mudando, daí porque é importante centrar a prática e a formação de enfermagem naquilo que a torna única na sua essência, ou seja, na visão holística da pessoa.3

A finalidade da formação à luz do atual contexto diz respeito ao desenvolvimento das pessoas e não apenas à aquisição de conhecimentos ou de técnicas. Os atuais cenários apontam para a valorização de saberes de outra natureza, relacionados, nomeadamente, com a autonomia, a adaptabilidade, o “aprender a aprender”.4

A tônica tem de ser posta na aquisição e desenvolvimento de novas competências, no desenvolvimento global do estudante e não apenas na aquisição de saberes específicos. A formação do enfermeiro é um percurso de apropriação pessoal e reflexivo dos saberes, de integração da sua experiência, em função das quais uma ação educativa adquire significado, gerindo eles próprios os apoios e influências exteriores ao longo do percurso.5

No percurso individual que leva à formação têm significado as experiências quotidianas próprias, as dos outros e a vivência em sociedade.

A formação é, portanto, um processo em que o formando se modifica, modifica as suas percepções e as suas representações acerca do real. É no percurso de formação que o estudante se situa quanto às concepções, crenças e valores que organizarão o seu pensamento e a sua ação profissional.

As condições reais da vida quotidiana em que se processa a formação, os contextos de formação e as dimensões sociais das relações entre os diferentes “atores” que se movimentam nesse contexto ocupam lugar determinante na formação. Assim, pensamos que é fundamental que os estudantes satisfaçam as suas NHB para que o seu crescimento pessoal e profissional seja o mais adequado, e faz-se necessário investigar como está decorrendo a satisfação das NHB no grupo sob estudo para que se possam planejar metodologias de intervenção e reestruturação de atividades acadêmicas no sentido de favorecer o desenvolvimento psicológico social e cultural dos estudantes e promover a auto-avaliação da priorização da satisfação de suas necessidades.

As catorze Necessidades Humanas Básicas de que trata Henderson delimitam a fronteira dos cuidados de Enfermagem.6-7 É da responsabilidade dos enfermeiros face às necessidades da pessoa, ajudá-la a evoluir no sentido de uma melhoria no estado de saúde, de forma a torná-la o mais independente possível na satisfação das Necessidades Humanas Básicas.

Tornar a pessoa autônoma não significa pressioná-la ou obrigá-la a fazer gestos que ela recusa, se ela não tem a força nem o desejo em fazê-lo. É necessário ter em conta que o respeito pela vontade da pessoa e pelas suas capacidades deve ser primordial e, de acordo com Henderson ajudar a pessoa a satisfazer as suas necessidades visa motivá-la para a autonomia.6

Henderson identifica catorze NHB6: necessidade de respirar; necessidade de beber e comer; necessidade de eliminar; necessidade de se mover e de manter uma boa postura; necessidade de dormir e repousar; necessidade de vestir-se e despir-se; necessidade de manter a temperatura do corpo nos limites do normal; necessidade de estar limpo e cuidado, e proteger os seus tegumentos; necessidade de evitar os perigos; necessidade de comunicar com os seus semelhantes; necessidade de agir segundo as suas crenças e os seus valores; necessidade de ocupar-se com vista a realizar-se; necessidade de se divertir; necessidade de aprender.

Quando uma necessidade não é satisfeita, a pessoa encontra-se ‘incompleta’, dependente, ou seja, em estado de desequilíbrio físico, psicológico, social ou espiritual.6 É neste contexto que assenta a nossa preocupação referente à satisfação das NHB pelos estudantes de Enfermagem.

Na literatura consultada encontraram-se alguns estudos que têm abordado a qualidade de vida nos estudantes de graduação em enfermagem.8,9 No entanto todos os estudos se baseiam na avaliação de indicadores de qualidade não específicos para estudantes.

Saupe et al 8 realizaram uma pesquisa com o objetivo de conhecer e avaliar a qualidade de vida dos estudantes utilizando o modelo WHOQOL Bref da Organização Mundial de Saúde, que se mostrou sensível para o diagnóstico pretendido. Os resultados indicaram que 64% dos estudantes refere satisfação com a sua qualidade de vida, mas 36% apresentam problemas significativos, que demandam necessidades específicas e que justificam a implantação de programas de apoio e suporte para enfrentamento das situações de sofrimento.

Outros autores referem que por meio do estudo dos indicadores de qualidade de vida é possível identificar qual o período em que os estudantes necessitam de maior apoio ou atenção por parte dos docentes.9 Referem ainda que é importante realizar futuras investigações nesta área de forma a comprovar a capacidade do IQV.9 

METODOLOGIA

Tipo de estudo

A opção metodológica orientou-se para uma abordagem quantitativa de natureza exploratória-descritiva, compatível com a preocupação em medir quantitativamente o tempo que cada estudante utilizou, diariamente e durante uma semana (7 dias), na satisfação das suas NHB.

Pretendeu-se, mais especificamente, identificar, no conjunto de atividades realizadas pelos estudantes, a satisfação das NHB, optando para tal por aquela que predominou em um determinado intervalo de tempo, analisar as NHB registradas por estes, identificar quais as NHB que se encontram satisfeitas ou não, identificar qual ou quais NHB ocupam mais tempo no quotidiano do estudante e compreender como o estudante distribui o seu tempo na satisfação das NHB. 

População estudada

A população foi constituída por todos os estudantes matriculados na disciplina de Fundamentos de Enfermagem I do 1º ano do curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro – Portugal (68 estudantes).

            Foi estabelecido inicialmente que este estudo só seria realizado se pelo menos 50% dos estudantes matriculados na referida disciplina preenchessem corretamente o instrumento de coleta de dados. Além disso, foram estabelecidos os seguintes critérios de exclusão: 1. menores de 18 anos sem autorização dos pais ou responsáveis; e 2. estudantes que não consentissem a participação no estudo. Dado que nenhum estudante obedecia a estes critérios de exclusão foram todos incluídos no estudo. 

Processo de coleta de dados

A construção do instrumento de coleta de dados resultou da consideração do objeto de estudo, dos objetivos delineados e do tipo de estudo a realizar.

Com o objetivo de obter o consentimento livre e esclarecido dos participantes, foi fornecido a cada estudante um formulário onde, após ser informado dos objetivos e relevância do estudo, das instruções de preenchimento, solicitada permissão para ter acesso e utilizar as informações e anotações realizadas por eles e garantido o sigilo de todas as informações, poderia dar o seu consentimento.

O instrumento de coleta de dados foi composto por três partes:

     Nota introdutória onde foram dadas as indicações de preenchimento e um breve glossário para uniformizar a linguagem utilizada entre investigadores e participantes;

     Caracterização do participante onde os alunos responderam a algumas questões que permitiram caracterizar a amostra;

     Avaliação das Necessidades Humanas Básicas que é composto por 7 planilhas correspondendo cada uma destas a um dia, permitindo assim ao estudante preencher a cada 5 minutos qual foi a Necessidade Humana Básica majoritariamente satisfeita naquele intervalo de tempo. Assim, antes do preenchimento o sujeito do estudo devia avaliar o conjunto das atividades que realizou naquele intervalo de tempo para satisfazer uma Necessidade Humana Básica e optar por aquela que predominou.

No contexto deste estudo consideramos NHB como sendo: “uma necessidade vital que a pessoa deve satisfazer a fim de conservar o seu equilíbrio físico, psicológico, social ou espiritual e de assegurar o seu desenvolvimento”.6:60

 As Necessidades Humanas Básicas de respirar e de manter a temperatura do corpo nos limites do normal, não são incluídas no presente estudo e consequentemente no preenchimento das planilhas disponibilizadas aos estudantes, devido estas necessidades serem continuamente satisfeitas em uma população saudável como a que foi envolvida neste estudo.

Os instrumentos de coleta de dados foram distribuídos pessoalmente, sendo realizada uma breve explicação do estudo. A todos os participantes garantimos e recomendamos que empregassem o anonimato.

O preenchimento das planilhas de registro do tempo utilizado para a satisfação das 12 necessidades humanas básicas avaliadas, decorreu de 12 a 18 de Janeiro de 2006. Após os 7 dias estabelecidos, foram recolhidos 48 instrumentos de forma que houve uma perda de quase 30% dos sujeitos inicialmente selecionados, o que não prejudicou o estudo pois o nosso objetivo era alcançar pelo menos 50% dos alunos matriculados na disciplina.

Na constituição do corpus foram estabelecidos alguns critérios de descontinuação. Assim, não seriam incluídos no corpus para posterior tratamento da informação, questionários que não tinham o termo de consentimento livre e esclarecido assinado e planilhas com mais de 25% das quadrículas incompletas. Dado que todos os instrumentos de coleta de dados estavam correta e completamente preenchidos, o corpus deste estudo foi constituído por 48 instrumentos. 

Tratamento da informação

O tratamento da informação constou da análise estatística e comparativa entre os resultados encontrados. Os dados foram compilados e a análise estatística realizada com o programa SPSS (versão 12.0 for Windows). A informação foi organizada em tabelas e gráficos para melhor compreensão dos resultados. Posteriormente a informação contida nos  gráficos foi analisada e discutida. 

Aspectos Éticos

A aprovação do estudo foi solicitada junto à direcção da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro - Portugal, tendo sido aprovado pelo Conselho Científico desta instituição. No sentido de obter a confirmação da aceitação de participação no estudo foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento após oferecidos todos os esclarecimentos sobre o estudo e dadas respostas às dúvidas manifestadas pelos estudantes. Finalmente, os pesquisadores oficializaram o registro do trabalho junto à Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro - Portugal, firmando um compromisso para a execução da pesquisa dentro dos padrões éticos e científicos recomendados.

Durante o estudo respeitou-se os direitos dos alunos em relação a privacidade, anonimato das informações e de retirar-se do estudo sem prejuízos pessoais ou acadêmicos se assim o desejassem.  

RESULTADOS

Caracterização da amostra

Relativamente ao gênero, a amostra foi constituída por 35 estudantes do gênero feminino (72,92%) e 13 estudantes do gênero masculino (27,08%). A predominância de estudantes do sexo feminino na área da enfermagem é algo identificado em diversos países. Em um estudo descritivo realizado em São Paulo foi identificado uma presença feminina de 82,27%.10 A idade dos alunos variou de 18 a 41 anos, sendo que a maioria (36/ 75%) tem 18 anos e 7 estudantes (14,60%) têm 19 anos.

A maioria dos estudantes (46/ 95,83%) não tinha atividade laboral além das atividades estudantis e 47 estudantes (97,92%) encontravam-se inscritos em 6 disciplinas no semestre em que ocorreu o estudo. A análise dos dados, também evidenciou que 36 estudantes (75%) tiveram 1 avaliação na semana estudada, 9 estudantes (18,75%) tiveram 2 avaliações e 2 estudantes (4,17%) tiveram 3 avaliações. Quanto ao número de avaliações na semana seguinte, verificamos que 30 estudantes (62,5%) teriam 4 avaliações, 13 estudantes (27,08%) 5 avaliações, 4 estudantes (8,33%) 3 avaliações e 1 estudante (2,08%) 1 avaliação. 

Apresentação e análise interpretativa

Como já foi referido anteriormente, as NHB de respirar e de manter a temperatura do corpo nos limites do normal, não foram incluídas no presente estudo. Com os objetivos de sistematizar e melhorar a apresentação gráfica dos dados, foi realizada uma legenda para as NHB estudadas, que estão apresentadas a seguir, correspondendo a cada uma delas um número seqüencial.

1.       Necessidade de beber e comer – “Ingestão, digestão e absorção da água e nutrientes necessários à vida”.6:65

2.       Necessidade de eliminar – “Rejeição, para o exterior do corpo, das substâncias inúteis e nocivas, e os resíduos produzidos pelo metabolismo”.6:68  No caso deste estudo a necessidade de eliminar inclui somente a eliminação urinária e fecal.

3.       Necessidade de se mover e de manter uma boa postura – “Exercer o movimento e a locomoção pela contração dos músculos comandados pelo sistema nervoso”.6:70

4.       Necessidade de dormir e repousar – “Suspensão do estado de consciência ou de atividade para permitir a reconstituição das forças físicas e psicológicas”.6:72

5.       Necessidade de vestir-se e despir-se – “Proteção do corpo em função do clima, das normas sociais, da decência e dos gostos pessoais”.6:73

6.       Necessidade de estar limpo e cuidado, e proteger os seus tegumentos – “Manutenção de um estado de limpeza, higiene e integridade da pele e do conjunto do aparelho tegumentário (tecido que cobre o corpo)”.6:76

7.       Necessidade de evitar os perigos – “Proteção contra as agressões internas e externas com vista à manutenção da sua integridade física e mental”.6:78

8.       Necessidade de se comunicar com os seus semelhantes – “Estabelecimento de laços com os outros, criação de relações significativas com os seus próximos e exercício da sua sexualidade”.6:79

9.       Necessidade de agir segundo as suas crenças e os seus valores – “Colocação em prática de valores religiosos ou de uma filosofia de vida”.6:81

10.   Necessidade de ocupar-se com vista a realizar-se – “Realização de ações que permitam à pessoa ser autônoma, utilizar os seus recursos para assumir os seus papéis, para ser útil aos outros e para se desenvolver”.6:83 Neste caso devia apenas registrar o tempo em sala de aula ou o tempo dispendido no exercício de outra profissão (no caso de ser trabalhador-estudante).

11.   Necessidade de se divertir – “Descontração física e psicológica por meio de lazeres e divertimentos”.6:84

12.   Necessidade de aprender – “Aquisição de conhecimentos”.6:85 Neste caso devia registrar o tempo dispendido no estudo, extra tempo letivo.

A análise do gráfico referente ao número de minutos que os estudantes utilizaram para a satisfação das NHB por semana, revelou que as necessidades para as quais os estudantes utilizaram mais tempo para as conseguirem satisfazer foram a necessidade de dormir e repousar (169.319 minutos/ semana) e a necessidade de aprender (116.137 minutos/semana) (Figura 1). Destes valores emergentes pode-se concluir que a soma do tempo gasto para a satisfação destas duas necessidades corresponde a 60,06% do tempo total da semana, sendo 24,44% a percentagem do tempo da semana que os estudantes utilizaram para satisfazer a necessidade de aprender.

Disponibilizar mais tempo para as necessidades de dormir e repousar e de aprender foi algo esperado, tendo em vista que os sujeitos deste estudo são estudantes e que a satisfação do sono e repouso está diretamente relacionada a aprendizagem, bem como, a coleta de dados ocorreu em um período no qual os estudantes estavam realizando suas avaliações.

Como foi solicitado aos estudantes que registrassem na necessidade de ocupar-se com vista a realizar-se o tempo dispendido em sala de aula, foi constatado, pela soma destes valores com a necessidade de aprender, que os 48 estudantes utilizaram cerca de 174.587 minutos/semana (36,73%) em atividades letivas.

Figura 1 – Número de minutos que o total de estudantes utilizaram para a satisfação das 12 necessidades humanas básicas por semana. 

A necessidade de evitar os perigos (2252 minutos/semana) e a necessidade de agir segundo as suas crenças e os seus valores (2759 minutos/ semana), foram as necessidades onde os estudantes utilizaram menos tempo. Vale ressaltar que apesar de no gráfico não surgir nenhuma necessidade insatisfeita, no registro realizado pelos estudantes, em alguns dias da semana alguns estudantes não conseguiram satisfazer todas as suas necessidades.

O número de minutos utilizados pelos estudantes para satisfazerem suas 12 necessidades humanas básicas distribuídas por dia da semana, encontra-se representada na Figura 2. A partir desta figura pode-se concluir que os estudantes, na sua globalidade, utilizam o mesmo tempo para satisfazer a maioria das suas necessidades, independentemente do dia da semana. As necessidades nas quais existe uma maior variação ao longo da semana são a necessidade de ocupar-se com vista a realizar-se, na qual diminui significativamente o tempo utilizado no Sábado e Domingo e a necessidade de aprender na qual o tempo utilizado é mais baixo na quinta e sexta-feira.

Figura 2 – Número de minutos utilizados pelos estudantes para a satisfação das 12 necessidades humanas básicas por dia da semana.

 

De acordo com o número de minutos que cada estudante utiliza na satisfação das necessidades humanas básicas na 5ª feira, verifica-se que as necessidades com maior tempo utilizado na sua satisfação são as necessidades de dormir e repousar, de ocupar-se com vista a realizar-se e de aprender (Figura 3). Verificou-se ainda que apesar de existirem variações no tempo que cada estudante utiliza na satisfação de cada necessidade, na maioria delas esta variação é mínima, de forma que os valores estão muito próximos uns dos outros. Onde existem variações mais evidentes na utilização do tempo por cada estudante é na necessidade de aprender.

 Figura 3 – Distribuição do número de minutos que cada estudante utiliza na satisfação das 12 necessidades humanas básicas na 5ª feira.

 

Em relação à sexta-feira a distribuição do número de minutos que cada estudante utilizou na satisfação das 12 necessidades, mostrou resultados muito semelhantes aos de 5ª feira, no entanto existiu um aumento visível no tempo que os estudantes utilizaram na satisfação das necessidades de se mover e de manter uma boa postura, de comunicar com os seus semelhantes e de se divertir. Estes resultados estão de acordo com o esperado pois terminando as atividades letivas da semana, os estudantes tendem a se deslocar para passar o fim de semana com os seus familiares e amigos visto que muitos deles se encontram deslocados da sua área de residência.

No que se refere ao Sábado foi evidenciado que o tempo utilizado na satisfação da necessidade de se mover e de manter uma boa postura diminui em relação a 6ª feira (Figura 4). O tempo utilizado para a satisfação da necessidade de ocupar-se com vista a realizar-se aumenta no caso de alguns estudantes, o que pode estar associado ao fato de alguns serem trabalhadores e estudantes. Também o tempo utilizado para a satisfação da necessidade de agir segundo as suas crenças e valores aumenta no caso de alguns estudantes. Ressaltamos um aspecto importante que se prende com a questão de que o tempo utilizado na satisfação da necessidade de aprender não diminuiu no sábado, mas pelo contrário, em alguns casos, até aumentou.

Figura 4 – Distribuição do número de minutos que cada estudante utiliza na satisfação das 12 necessidades humanas básicas no sábado.

 

Foi verificado que o tempo utilizado na satisfação da necessidade de se mover e de manter uma boa postura volta a aumentar com o regresso dos estudantes às atividades letivas. Foi evidenciado ainda que o tempo utilizado na satisfação das necessidades de agir segundo as suas crenças e os seus valores e de se divertir aumenta ao domingo. Apesar deste aumento fomos surpreendidos ao constatar que o tempo utilizado na satisfação da necessidade de aprender não diminuiu. Vale destacar que mesmo ao domingo existem vários estudantes que ocupam muito tempo na satisfação da necessidade de ocupar-se com vista a realizar-se.

Quanto à distribuição do número de minutos na 2ª feira, foi verificado que existiu uma diminuição do tempo utilizado na satisfação da necessidade de comunicar-se com os seus semelhantes e um aumento genérico no tempo utilizado na satisfação da necessidade de ocupar-se com vista a realizar-se (Figura 5). O tempo utilizado na satisfação da necessidade de se divertir diminui, assim como o tempo utilizado na satisfação das necessidades de agir segundo as suas crenças e os seus valores e de dormir e repousar. Ressalta-se o fato do tempo utilizado para a satisfação da necessidade de aprender ter aumentado na grande maioria dos estudantes.

Figura 5 – Distribuição do número de minutos que cada estudante utiliza na satisfação das 12 necessidades humanas básicas na 2ª feira.

 

Um dado interessante é que a distribuição do número de minutos que cada estudante utiliza na satisfação das 12 necessidades humanas básicas na 3ª feira, foi semelhante ao de 2ª feira, embora o pico do tempo utilizado para a satisfação da necessidade de ocupar-se com vista a realizar-se tenha aumentado ligeiramente 3ª feira. Por outro lado, podemos observar que o tempo utilizado na satisfação das necessidades de dormir e repousar e de comunicar com os seus semelhantes diminui, e, o tempo utilizado para a satisfação da necessidade de aprender aumenta, atingindo os valores mais altos registrados pelos estudantes durante a semana.

A análise das médias de minutos que o total de estudantes utilizou para a satisfação das necessidades humanas básicas por dia da semana, revelou o seguinte perfil (Quadro 1):

 CONCLUSÕES

A análise do conjunto dos dados apresentados evidencia que os estudantes do curso de licenciatura em enfermagem, durante os diversos dias da semana, ocupam mais tempo na satisfação das necessidades humanas básicas de dormir e repousar e de aprender. De realçar que este tempo ultrapassa metade do tempo total da semana. As necessidades onde os estudantes ocupam menos tempo são na necessidade de evitar os perigos e na necessidade de agir segundo as suas crenças e valores.

Um achado interessante prende-se com a constatação de que os estudantes ao longo dos dias de aulas, utilizam menos tempo na satisfação da necessidade de comunicar com os seus semelhantes do que durante o sábado e domingo. Outro achado importante é o fato de que apesar de à primeira vista não parecer que os estudantes não satisfizeram algumas necessidades durante os dias em avaliação, na realidade, nas planilhas de registro, existem algumas necessidades em que os estudantes não utilizaram nenhum tempo, como por exemplo a necessidade de evitar os perigos, a necessidade de comunicar com os seus semelhantes, a necessidade de agir segundo as suas crenças e valores e a necessidade de se divertir.

A finalizar, refere-se que um estudo desta natureza tem, como é óbvio, as suas limitações. As conclusões a que se chegou têm de ser lidas no contexto em que os dados foram colhidos, ou seja num período de avaliações. No entanto, e apesar das reservas levantadas, os resultados obtidos lançam uma série de questões de grande potencial para a avaliação das metodologias de ensino-aprendizagem utilizadas. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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 Contribuição dos autores:

-Concepção e desenho: João FFL Simões
-Análise e interpretação:
João FFL Simões, Eugênio Santana Franco
-Escrita do artigo:
João FFL Simões, Eugênio Santana Franco, Mônica Oliveira B. Oriá
-Revisão crítica do artigo:
Mônica Oliveira B. Oriá
-Aprovação final do artigo:
João FFL Simões, Eugênio Santana Franco, Mônica Oliveira B. Oriá

-Coleta de dados: João FFL Simões, Eugênio Santana Franco

-Provisão de pacientes, materiais ou recursos: Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal. 

-Expertise em Estatística: João FFL Simões
-Obtenção de suporte financeiro: Não houve suporte financeiro

-Pesquisa bibliográfica: João FFL Simões
-Suporte administrativo, logístico e técnico:
Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal. 

-Endereço para correspondência: João FFL Simões: Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro, Campus Universitário de Santiago, Edifício III, 3810-193 Aveiro – Portugal - e-mail: jflindo@essua.ua.pt


Received: Feb 8, 2007
 Revised Mar 20th, 2007
 Accept Jun 23rd, 2007