Mother’s knowledge about breastfeeding: a descriptive study

Conhecimento das mães sobre o aleitamento materno: estudo descritivo

 Kalyne AC Komarsson1, Mônica OB Oriá1, Regina CM Dodt2, Paulo C de Almeida3, Lorena B Ximenes1

 

1Universidade Federal do Ceará, CE, Brasil; 2Maternidade Escola Assis Chateaubriand, CE, Brasil; 3Universidade Estadual do Ceará, CE, Brasil


Abstract. Aims: Characterize the demographic profile of mothers who breastfeed exclusively or not, to verify the type of feeding offered to the infants and to inquire the mother’s knowledge about important points concerning breastfeeding. Methods: Quantitative, descriptive study involving 102 mothers followed at the Center for Family Development whom were selected randomly, by adopting the following criteria: mothers of suckling infants up to 2 years of life, exclusively breastfed or not. The research was conducted using individual interviews; collected data were processed using the Software Package for the Social Sciences (SPSS 13.0). Results: 93 (91.2%) families had income between 1 to 3 minimum salaries; 70.6% of the mothers had ages between 18 and 30 years; 76.5% of the infants were breastfed and 31.4% were exclusively breastfed. In relation to the maternal knowledge on breastfeeding, it was observed that the previous breastfeeding experience and duration were significantly associated with the right answers on breastfeeding free demand (p=0.018), and water presence in the composition of maternal milk (p=0.031), as indicated correctly by 92 (90.1%) and 79 (77.5%) of the mothers, respectively. Conclusions: The study found that the mothers demonstrated a good knowledge level about breastfeeding issues; however, this finding is not indicative of awareness or self-confidence in the context of child health promotion, therefore mothers have not breastfed their children in the expected manner yet. 

Keywords: Breast Feeding, Knowledge 

Resumo. Objetivos: caracterizar o perfil sociodemográfico das mães que amamentaram exclusivamente ou não, verificar o tipo de alimentação oferecida aos lactentes e averiguar o conhecimento das mães sobre pontos importantes do aleitamento materno. Métodos: Estudo quantitativo, descritivo envolvendo 102 mães de lactentes acompanhados no Centro de Desenvolvimento Familiar selecionadas aleatoriamente, adotando os seguintes critérios: mães de lactentes até o segundo ano de vida e que amamentaram ou que ainda continuavam amamentando seus filhos exclusivamente ou não. A pesquisa foi realizada a partir de entrevistas individuais e os dados foram processados no Software Package for the Social Sciences (SPSS 13.0). Resultados: 93 (91,2%), famílias tinham renda de 1 a 3 salários mínimos; 70,6% das mães tinham idades entre 18 e 30 anos; 76,5% das mães estavam amamentando sendo que 31,4% o faziam exclusivamente. Em relação ao conhecimento materno sobre o amamentação, observou-se que a experiência e duração do aleitamento materno anterior apresentou associação estatística significante em relação às assertivas sobre a amamentação em livre demanda (p=0,018), e presença de água na composição do leite materno (p=0,031), apontadas como corretas por 92 (90,1%) e 79 (77,5%) mães respectivamente. Conclusões: O estudo evidenciou que as mães têm demonstrado bom nível de conhecimento sobre aleitamento, contudo essa sinalização não é indicativa de tranqüilidade ou de vitória no contexto da promoção à saúde infantil, pois as mães ainda não têm amamentado seus filhos do modo esperado.

Palavras-chave: Aleitamento Materno, Conhecimento

 

Introdução

A OMS e o Ministério da Saúde do Brasil recomendam como medida de saúde pública que a amamentação exclusiva ocorra até os 6 meses de vida da criança, reconhecendo que a introdução precoce dos alimentos pode ser desvantajosa, devido ao aumento da morbi-mortalidade infantil(1,2). O leite materno é o alimento mais indicado para o lactente devido sua fácil digestão, alto valor nutricional e imunológico, proporciona menor risco de contaminação e é compatível com a imaturidade dos recém-nascidos e lactentes(3,4).

As vantagens da amamentação são indiscutíveis e beneficiam não só os lactentes mas também as nutrizes e a nação. Em relação aos lactentes ela garante a sobrevivência das crianças, particularmente, daquelas em condições desfavoráveis e/ou que nascem com baixo peso(1), a redução da mortalidade e morbidade infantil por diarréia(5), incidência de obesidade(6), dermatite atópica(7), infecções respiratórias(8) e otite média aguda(9). Para as nutrizes pode-se enumerar a redução do risco de câncer ovariano(10) e desmineralização óssea, em comparação com as mães que não amamentaram seus bebês(11), menor probabilidade de desenvolver osteoporose e câncer de mama(12), assim como podem também ter menos estresse e melhores interações sociais(13), e retornar ao peso pré-gravídico mais rapidamente(14). Para o país, a amamentação pode promover a redução das taxas de mortalidade infantil(15-16) e dos custos com os serviços de saúde da criança(17).

Mesmo com todos esses benefícios e os esforços para o incentivo ao aleitamento materno, a interrupção precoce continua acontecendo de maneira significativa. Isso não ocorre apenas no Brasil, mas se trata de uma tendência mundial pois a OMS afirma que apenas 35% das crianças são amamentadas de forma exclusiva nos primeiros meses de vida, sendo considerada a regressão desse quadro, um desafio para os profissionais da saúde(18). Além disso, observa-se que embora 96% das mulheres brasileiras iniciem o aleitamento materno, apenas 14,7% o fazem exclusivamente no período de 4 a 6 meses(19).

O comportamento da amamentação depende do conhecimento das vivências e experiências das mulheres de acordo com a situação econômica de cada uma, da cultura, das redes sociais de apoio e do próprio saber científico de cada época histórica e cultural(20). Para o profissional de saúde é imprescindível conhecer tais peculiaridades, pois o manejo adequado de tais características pode trazer benefícios não só para o núcleo familiar, mas à toda uma comunidade, conforme sua hegemonia.  

Dessa forma, alguns autores enfatizam a necessidade de se realizar mais estudos cujo foco esteja centrado na mulher(21).  Diante da relevância da temática procurou-se caracterizar o perfil sociodemográfico das mães que amamentaram exclusivamente ou não, verificar o tipo de alimentação oferecida aos lactentes e averiguar o conhecimento das mães sobre pontos importantes do aleitamento materno. 

Métodos

Optou-se pela abordagem quantitativa, de caráter descritivo. A população foi compreendida pelas mães de lactentes acompanhados no Centro de Desenvolvimento Familiar (CEDEFAM) da Universidade Federal do Ceará. O cálculo da amostra foi realizado conforme a fórmula das populações finitas, considerando um erro amostral de 8,6%, totalizando uma amostra de 102 mães. A seleção ocorreu de forma aleatória de acordo com a demanda do serviço durante os meses de outubro a dezembro de 2006, adotando os seguintes critérios: mães de lactentes até o segundo ano de vida, que aceitassem participar da pesquisa e que amamentaram ou que ainda continuavam amamentando seus filhos exclusivamente ou não. A amostra foi constituída por mães de crianças que estavam entre 17 dias até os dois anos de idade. Foram respeitadas as diretrizes instituídas pelo Conselho Nacional de Saúde (Resolução n.°196/96), sendo o estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (protocolo no 110/06).

A coleta de dados foi realizada a partir de entrevistas individuais utilizando formulários que abordavam dados sociodemográficos, o tipo de alimentação oferecida à criança e o conhecimento das mães sobre o aleitamento materno. Os dados foram tabulados e processados no Software Package for the Social Sciences (SPSS 13.0), fixando para todos os testes estatísticos o nível de significância de 0,05.

Para classificação do tipo de aleitamento foram adotadas as categorias de aleitamento materno propostas pela Organização Mundial de Saúde: aleitamento materno exclusivo (AME) - quando a criança recebe somente o leite materno, diretamente da mama ou extraído, e nenhum outro líquido ou sólido, com exceção de gotas ou xaropes de vitaminas, minerais e/ou medicamentos; aleitamento materno predominante (AMP) - quando o lactente recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água, como sucos de frutas e chás e aleitamento materno (AM) - quando a criança recebe leite materno, diretamente do seio ou extraído, independente de estar recebendo qualquer alimento ou líquido, incluindo leite não-humano(4). Para as crianças que não se encontravam nestas categorias, optou-se pela denominação alimentação complementar e/ou desmamada, quando as crianças, independente de sua faixa etária, foram alimentadas ao peito, porém, foram desmamadas precocemente ou se encontravam em alimentação complementar com a introdução de fórmulas lácteas. 

Resultados

Foi constatado que a maioria das famílias (n=93; 91,2%), tinha renda de um a três salários mínimos; 72 (70,6%) mães tinham idades entre 18 e 30 anos; 80 (78,4%) tinham nove ou mais anos de estudo; a maioria (n=85; 83,3%) tinha parceiro fixo e 79 (77,5%) exerciam trabalhos do lar sem qualquer atividade remunerada que pudesse colaborar com as despesas domésticas.

De acordo com a Tabela 1, pode-se observar que não houve associação estatística significante entre as variáveis sociodemográficas e o tipo de alimentação infantil. Foi verificado que a maioria das mães (n=78; 76,5%) estava oferecendo leite materno às suas crianças. Conforme as categorias da amamentação da OMS, das 102 mães, 32 (31,4%) estavam amamentando suas crianças em AME, 6 (5,9%) em AMP, 40 (39,2%) em AM e 24 (23,5%) estavam desmamadas e/ou em alimentação complementar. Nesse ínterim, observa-se a predominância do AM entre as que tinham renda familiar de 1 a 3 salários mínimos (38,7%); 18 a 30 anos de idade (37,5%); mais que 9 anos de estudo (37,5%); que eram donas de casa (44,3%) e conviviam com parceiro fixo (40%).

Tabela 1. Distribuição dos dados sociodemográficos das mães com crianças na fase de lactância segundo o tipo de alimentação infantil (aleitamento materno e alimentação complementar). Fortaleza, CE, 2006-2007.

Variáveis

Tipo de Alimentação

 

 

AME

AMP

AM

ALC/DES*

p

%

%

%

%

 

Renda (SM)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        < 1

1

14,3

1

14,3

4

57,1

1

14,3

0,579

        1 a 3

30

32,3

5

5,4

36

38,7

22

23,7

 

        ≥ 4

1

50,0

-

-

-

-

1

50,0

 

Faixa Etária

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        14 a 17

4

36,4

-

-

6

54,5

1

9,1

0,475

        18 a 30

24

33,6

5

6,9

27

37,5

16

22,2

 

        >30

4

21,1

1

5,3

7

36,8

7

36,8

 

Anos de estudo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        ≤ 8

7

31,8

1

4,5

10

45,5

4

18,2

0,868

        ≥ 9

25

31,1

5

6,3

30

37,5

20

25,0

 

Estado civil

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        Sem parceiro

7

41,2

2

11,8

6

35,3

2

11,8

0,381

        Com parceiro

25

29,4

4

4,7

34

40,0

22

25,9

 

Ocupação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        Dona de casa

22

27,8

6

7,6

35

44,3

16

20,3

0,138

        Autônoma

3

33,3

-

-

3

33,3

3

33,3

 

        Outros

7

50,0

-

-

2

40,0

5

25,9

 

* Alimentação Complementar e/ou desmamada; Razão de Máximo Verossimilhança (RMV); Salários mínimos (350,00 reais)

 

Quanto ao perfil alimentar das crianças, dividiu-se a faixa etária das mesmas em semestres, segundo o tipo de alimentação oferecida a elas, conforme o que se pode observar na Tabela 2. Foi identificado que a maioria das crianças encontrava-se entre 0 e 6 meses de idade (62,7%), sendo que 31 (48,4%) estavam em AME. Observa-se que dentre as crianças do segundo semestre de vida, restava apenas uma em AME. Ainda, nesta faixa etária verifica-se a predominância significativa de crianças em aleitamento materno, (n=13; 12,7%). Em contrapartida, as taxas de aleitamento das crianças que estão entre o terceiro e o quarto semestres, entram em um discreto decréscimo (n=8; 7,8%).

Tabela 2. Distribuição do tipo de alimentação das crianças segundo a idade em meses dos lactentes. Fortaleza, CE, 2006-2007.

Idade (mês)

Tipo de Alimentação

 

AME

AMP

AM

ALC/DES*

TOTAL

%

%

%

%

%

   <6m

31

30,4

6

5,9

19

18,6

8

7,8

64

62,7

   7 - 12m

1

1,0

-

-

13

12,7

5

4,9

19

18,6

  13 - 24m

-

-

-

-

8

7,8

11

10,8

19

18,6

TOTAL

32

31,4

6

5,9

40

39,1

24

23,5

102

100,0

* Alimentação complementar e/ou desmamada

Em relação ao conhecimento materno sobre o aleitamento materno exclusivo,  observa-se na Tabela 3 que a experiência e duração do aleitamento materno anterior apresentou associação estatística significante em relação às assertivas que tratam sobre a amamentação em livre demanda (p=0,018), e presença de água na composição do leite materno (p=0,031), apontadas como corretas por 92 (90,1%) e 79 (77,5%) mães respectivamente.  

Tabela 3. Distribuição do conhecimento das mães dos lactentes sobre aleitamento materno exclusivo segundo experiência e duração do aleitamento anterior. Fortaleza, CE, 2006-2007.

Assertivas sobre o aleitamento materno exclusivo

Tempo (mês)

Sem experiência

≤ 3

≥ 4

TOTAL

p

 

 

%

 

%

%

%

 

Possui tudo que a criança precisa

 

 

 

 

 

 

 

        Certo

58

93,5

7

87,5

31

96,9

  96

    94,1

0,592*

       Errado

4

6,5

1

12,5

1

3,1

6

5,9

 

Deve ser dado sob livre demanda

 

 

 

 

 

 

 

        Certo

53

85,5

7

87,5

32

100,0

92

90,1

0,018*

        Errado

9

14,5

1

12,5

-

-

10

9,8

 

Já possui água suficiente

 

 

 

 

        Certo

53

85,5

5

62,5

31

96,9

89

87,3

0,031*

        Errado

9

14,5

3

37,5

1

3,1

13

12,7

 

Outros alimentos podem causar substituição do AME

 

 

 

        Correto

46

72,4

7

 

87,5

26

81,3

79

77,4

0,576

        Errado

16

25,8

1

12,5

6

18,8

23

22,5

 

Exclusivo só até o 6º mês

 

 

 

 

 

 

 

 

        Correto

56

90,0

6

75,0

30

93,8

92

90,2

0,359*

        Errado

6

9,7

2

25,0

2

6,3

10

9,8

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

* Razão de Máximo Verossimilhança (RMV) ; pelo teste c²

 

Na Tabela 4 pode-se visualizar que das 102 mães do estudo, 45 (44,2%) realizaram planejamento familiar. Essa variável encontrou associação estatística significante com a assertiva relacionada ao fato de a amamentação proteger as mães de lactentes do câncer de mama e de ovário (p=0,046).  

Tabela 4. Distribuição do conhecimento das mães dos lactentes sobre os benefícios da amamentação para a saúde da mulher e da criança conforme a presença de planejamento familiar. Fortaleza, Ce, 2006-2007.

Assertivas sobre a amamentação e saúde da mulher/criança

                   Planejamento familiar

            Sim

Não

TOTAL

 

%

%

%

P*

A amamentação protege contra o câncer de mama e o de ovário

        Correto

40

88,9

56

98,2

96

94,2

0,046

        Errado

5

11,1

1

1,8

6

5,9

 

Alguns anticoncepcionais podem influenciar a produção do leite

        Correto

40

88,9

52

91,2

92

90,1

0,693

        Errado

5

11,1

5

8,8

10

9,8

 

Ajuda o desenvolvimento da criança e promove o vínculo entre mãe e filho

        Correto

45

100,0

57

100,0

102

100

-

        Errado

-

-

-

-

-

-

 

O leite materno protege a criança de infecções

        Correto

44

97,8

55

96,5

99

97,1

0,703

        Errado

1

2,2

2

3,5

3

2,9

 

* pelo teste c²

Discussão

Os avanços nas pesquisas sobre o aleitamento materno tem ajudado os profissionais a intervir de modo mais preciso no manejo da nutrição infantil. Reconhecendo a importância da alimentação para a saúde da criança, percebe-se o quanto o papel da mãe, e do núcleo familiar dessas crianças, é importante para o bem estar do filho quanto à prática do aleitamento materno exclusivo ou não.

 Por conseguinte, pode-se ressaltar que as variáveis sociodemográficas podem ter considerável influência no padrão alimentar das crianças de 0 a 2 anos de idade, sendo oportuno ressaltar o quanto as condições desfavoráveis podem ser decisivas nas escolhas e práticas de saúde em relação aos filhos.

A renda da maioria dessas famílias era insuficiente em relação aos gastos necessários à uma ideal qualidade de vida, pois apenas um ou dois salários mínimos certamente não são suficientes para custear as despesas com alimentação, vestuário, impostos, transporte, moradia, lazer, dentre outros, e tem-se observado que a baixa renda entre as famílias de lactentes tem causado um efeito negativo na duração do aleitamento exclusivo(22, 23). Contudo, nesse estudo a renda parece não ter afetado a escolha das mães entrevistadas em amamentar seus filhos.

Porém, um estudo realizado na região noroeste de Campinas, aponta a dependência do Sistema Único de Saúde (SUS) como um fator de proteção à amamentação exclusiva, o que torna a assertiva outrora citada controversa, pois os usuários do SUS geralmente têm renda e escolaridade inferiores à população que utiliza o serviço privado de saúde(24).

Em relação à idade materna, estudos focalizando o aleitamento materno exclusivo apontam que as mães com idade maior amamentam seus filhos por um tempo mais prolongado em comparação às mães adolescentes e primíparas com menos de 20 anos que tem 1,2 vezes mais chances de abandonar o AME antes da criança completar quatro meses(22, 25). Entretanto, observou-se que de modo proporcional as mães mais jovens amamentavam de modo semelhante às demais, contudo, sem considerar o tempo de amamentação do filho lactente.

Quanto à escolaridade, pode-se observar um número significativo de mães com 9 anos ou mais de estudo. Todavia, a literatura aponta que o maior tempo de duração do aleitamento materno e aleitamento exclusivo podem ser atribuídos, e tem suas chances aumentadas, à maior escolaridade materna(4,25). Algo intrigante observado nesse contexto, é que a escolaridade paterna, e não somente a materna, inferior ao primeiro grau completo traz risco de interrupção do aleitamento de 1,62 vezes maior em relação aos pais com maior grau de instrução(26). Isso nos remete à relevância da presença do pai junto à criança na fase de amamentação, período de vulnerabilidade do binômio mãe e filho.

Nesse estudo, as mulheres com companheiro fixo encontravam-se com seus filhos em aleitamento materno exclusivo ou em aleitamento materno. Entretanto, assim como a renda, idade e escolaridade, essa variável também não teve associação estatística significante, remetendo assim à necessidade de realizar estudos com abordagens qualitativas que possam avaliar de modo mais contundente as peculiaridades dessas mães quanto ao sentimento vivenciado por elas em relação à amamentação e ao papel desempenhado pelo companheiro nesse processo.

Com relação à ocupação materna, apenas 23 mães trabalhavam fora do lar; esse achado pode ser benéfico à amamentação quando considera-se estudos que apontam o trabalho materno como um elemento dificultador do aleitamento(23,27-28). Contudo, um estudo transversal, relata que a percentagem de crianças que mamaram mais de quatro meses é maior entre as mães com trabalho fora do lar, sendo que essa variável apresentou evidências de dependência com a escolaridade(4).

Foi verificado que um considerável número de lactentes já fazia uso de líquidos precocemente na dieta, fato apontado na literatura como negativo em virtude de causar uma má-absorção e má-biodisponibilidade de nutrientes, risco aumentado de diarréias, infecções respiratórias e alergias(25). Quanto aos outros tipos de amamentação nas crianças com até seis meses de vida, o aleitamento materno está como a principal forma de alimentação depois do aleitamento exclusivo. Isso pode ser considerado como um sinal de alerta para a equipe médica e de enfermagem; pois é necessário que se avalie o contexto familiar destas mães no intuito de atender melhor às suas reais necessidades, para então poder enfatizar as orientações focalizando os prejuízos da inserção de alimentos e fórmulas lácteas incorretamente e antes do tempo indicado pelas autoridades de saúde.

Os dados mostraram que uma criança no segundo semestre de vida ainda se encontrava em AME. Isso é desaconselhado tendo em vista a crescente necessidade de a criança ingerir, nesta fase, um número maior e mais diversificado de nutrientes, sendo importante para sua formação estrutural, física, desenvolvimento cognitivo e interação com os alimentos e meio onde habita(2).

A amamentação acrescida de alimentos complementares tem sido indicada pelas autoridades de saúde até os dois anos de vida ou mais(26,28). Essa prática não se mostrou freqüente no contexto investigado, talvez pelo crescimento rápido das crianças nessa faixa etária que desencoraja as mães a continuarem oferecendo o leite humano a seus filhos ou, muitas vezes, devido à ocorrência de uma nova gestação, causando a interrupção da amamentação atual.

Assim, considerando a crescente necessidade de intervenções direcionadas a essa população é conveniente que se saiba quais os reais déficits que impelem as mães a não exercer a amamentação em sua plenitude, além de ser este um modo de avaliar esses profissionais, de maneira indireta, quanto às práticas de ensino e educação em saúde. Corroborando com esse fato, estudos apontam a necessidade de se conhecer o status e a implementação do conhecimento sobre essa temática pelos profissionais de saúde(28).

Nesse ínterim, apesar da grande veiculação de informações pelos meios de comunicação em prol do aleitamento materno exclusivo, do incentivo governamental e não-governamental, a média de amamentação exclusiva ainda continua aquém do esperado por tais órgãos. Constata-se, portanto, que apenas a orientação não é capaz de garantir uma prática de amamentação com sucesso, mas é necessário envolvimento nas tomadas de decisão e proporcionar subsídios concretos para que esse êxito ocorra.

Por conseguinte, apesar das lacunas existentes na atenção básica que por vezes impossibilitam um real envolvimento profissional nesse contexto, a maioria das mães estava consciente da constituição completa do leite humano para o lactente e das demais peculiaridades do AME até o sexto mês de vida, sendo as mães que amamentaram por mais tempo as que tiveram maior número respostas corretas. Isso pode ser considerado um bom indício para uma prática de amamentação bem sucedida, pois é sabido que o leite humano tem para os neonatos e lactentes, de até seis meses de idade, além de compostos nutricionais (vitaminas, sais minerais e proteínas), substâncias que conferem proteção imunológica às crianças que o ingerem(3,22).

Denota-se, portanto, a importância de se estimular a realização de práticas de saúde pelas mães que visem também o seu bem-estar individual. Assim, os profissionais de saúde podem valer-se do planejamento familiar não apenas antes da gestação, mas também durante todo o período de lactação. Todos os pontos relacionados aos benefícios maternos e infantis da amamentação devem ser bastante focalizados pelo profissional que realiza o planejamento familiar, pois se pode interferir de modo eficaz na escolha de um método anticoncepcional compatível com a lactação, prevenindo uma nova gravidez e prolongando o período de amamentação e amenorréia.

Esse período no qual a mulher não está ovulando é considerado benéfico para sua saúde, pois, em especial, os ovários e as mamas não sofrem as alterações comuns a cada ciclo menstrual; alterações tais que ao longo dos anos podem se refletir em maior risco para os cânceres de mama e ovário, dentre outros(27). As mães que foram entrevistadas sobre esse assunto demonstraram conhecer sobre o efeito protetor da amamentação sobre seus ovários e mamas; e dentre as mães que erraram a assertiva, apenas uma não havia realizado planejamento familiar.

Apesar do conceito de saúde ser bem mais amplo do que a ausência de doença, a população considera um indivíduo saudável quando inexistem problemas infecciosos, congênitos ou cancerígenos, estando muitas vezes o desenvolvimento psicomotor, intelectual e afetivo dissociado desse conceito. Entretanto, as entrevistadas foram unânimes em concordar, que a amamentação tem relevância no desenvolvimento infantil e no bom relacionamento entre mãe e filho.

E, por fim, é comprovada e amplamente discutida a proteção proporcionada pelo leite humano para vários problemas infecciosos comuns em lactentes e neonatos e têm papel determinante na diminuição das taxas de morbi-mortalidade infantil(3,24-25). Dentre os problemas em pauta, destacam-se as infecções respiratórias e intestinais, problemas alérgicos (devido à inserção precoce de alimentos na dieta infantil). E nesse contexto, praticamente todas as mães entrevistadas demonstraram conhecer esse fato, afirmando sobre a capacidade de o leite conferir proteção a seus filhos contra esses problemas.    

Conclusões

Esse estudo evidenciou que as mães têm demonstrado bom nível de conhecimento sobre o aleitamento, contudo essa sinalização não é indicativa de tranqüilidade ou de vitória no contexto da promoção à saúde infantil. Pois, mesmo que a maioria tenha um bom conhecimento sobre a importância da amamentação as mães não têm amamentado seus filhos do modo esperado. A amamentação tem importância ímpar na saúde da criança e é considerada pelas autoridades da área como uma medida de saúde pública capaz de determinar melhores indicadores em relação à saúde da família, da mulher e da criança a fim de reverter às taxas de desnutrição e mortalidade por diarréia, infecções respiratórias, dentre outros.

Portanto, são relevantes as iniciativas que visam promover orientações e intervenções capazes de proporcionar conhecimento às mulheres que amamentam ou que pretendem amamentar, a fim de prolongar as taxas nacionais e internacionais de duração e qualidade do aleitamento, em especial, em regime exclusivo até os seis meses de idade.

Vale ressaltar ainda que o desenvolvimento de estratégias para a promoção do aleitamento materno exclusivo perpassa pelo conhecimento adquirido na clínica e no desenvolvimento de pesquisas, o que deve ser assumido como uma agenda prioritária enfocando potenciais co-fatores e suas inter-relações críticas para que novas e criativas ações possam ser implementadas.

 

Referências Bibliográficas:

1. Brasil. MS. Secretaria de Políticas de Saúde. Organização Pan-Americana de Saúde. Guia alimentar para crianças menores de dois anos. Brasília: Ministério da Saúde. 2002. 153p.

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Contribuição dos autores: -Concepção e desenho: Kalyne AC Komarsson, Lorena B Ximenes

-Análise e interpretação: Kalyne AC Komarsson, Lorena B Ximenes, Paulo C de Almeida, -Escrita do artigo: Kalyne AC Komarsson, Mônica OB Oriá, Regina CM Dodt, Paulo C de Almeida, Lorena B Ximenes -Revisão crítica do artigo: Kalyne AC Komarsson, Mônica OB Oriá, Regina CM Dodt, Paulo C de Almeida, Lorena B Ximenes -Aprovação final do artigo: Kalyne AC Komarsson, Mônica OB Oriá, Regina CM Dodt, Paulo C de Almeida, Lorena B Ximenes -Colheita de dados: Kalyne AC Komarsson -Provisão de pacientes, materiais ou recursos: CNPq
-Expertise em Estatística:
Paulo C de Almeida -Obtenção de suporte financeiro: CNPq -Pesquisa bibliográfica: Kalyne AC Komarsson, Mônica OB Oriá
 

Endereço para correspondência: Lorena B. Ximenes, Rua Gothardo Moraes, 1001, apt.410. Bairro: Dunas. Fortaleza-Ce. lbximenes@yahoo.com.br
 

Apoio de (opcional): Departamento de Enfermagem, UFC