How and why to be human milk donor?

Como e por que ser doadora de leite humano?

Cynara Gurgel Pereira1, Maria Vera Lúcia Moreira Leitão Cardoso1, Grazielle Roberta Freitas da Silva2, Maria Gorette Andrade Bezerra3

1.      Universidade Federal do Ceará - 2.      Universidade Federal do Piauí - 3.      Universidade de Fortaleza

  Abstract.It is a research developed at a Human Milk Bank to inquire as the mother givers had become Human Milk (HM) giver of a Human Milk Bank(HMB). To identify, according to these, which the reasons that had stimulated them to be givers.Qualitative research through a HMB in a maternity of great transport of Fortaleza-Ce in 2005. The collection of the data consisted of structuralized interview does not contend given of identification and two questions with 24 givers of HM through the domiciliary visit. The organization of the data was in Bardin (2004) through subjects and categories. After deep readings we extract the meaning of you say them. The subjects and categories that more importance were had been respectively “Use of informative resources” and “Written Communication”. Already the subjects and categories that had had little importance had been: “Situational adequacy” and “Visit to the Milk Bank.One concludes that the distribution of folders informative was to the way most common to become givers, the telephone used in the cadastre of the donation, and the milk excess was the first reason that had taken them the donation.

Keywords: Milk Human; donors; Milk Banks.

Resumo. Pesquisa realizada em um banco de leite para averiguar como as mães-nutrizes tornaram-se doadoras de Leite Humano(LH) de um Banco de Leite Humano(BLH). Identificar, segundo essas, quais os motivos que as impulsionaram a serem doadoras. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada através de um BLH numa maternidade de grande porte de Fortaleza-Ce em 2005. A coleta dos dados consistiu de entrevista não estruturada contendo dados de identificação e duas questões norteadoras com 24 doadoras de LH através da Visita Domiciliar.  A organização dos dados foi pautada em Bardin(2004) através de temas e categorias. Após leituras profundas extraímos o significado das falas. Os temas e categorias que mais se sobressaíram foram respectivamente Uso de recursos informativos e Comunicação escrita. Já os temas e categorias que tiveram menos importância foram: Adequação situacional, Visita ao Banco de Leite. Conclui-se que a distribuição dos folders informativos foi à maneira mais comum para se tornarem doadoras, o telefone utilizado no cadastramento da doação, e o excesso de leite foi o primeiro motivo que as levaram a doação. 

Descritores: Leite Humano; Doação; Bancos de Leite.        

INTRODUÇÃO

O aleitamento materno traz benefícios tanto para a saúde do bebê quanto para a da mãe. O Leite Humano (LH) contém todos os nutrientes na quantidade e qualidade necessárias para o desenvolvimento do recém-nascido (RN)(1). No LH há proteínas, ácidos graxos, enzimas, fatores de crescimento, proteção contra a retinopatia da prematuridade, hipotireoidismo neonatal, infecções, alergias e facilita a digestão. Além de proporcionar ao bebê maior desenvolvimento mental e crescimento físico(2).

Sabe-se que, o corpo da mãe ao amamentar retorna ao estado fisiológico mais rapidamente. Infelizmente nem todas as nutrizes amamentam seus bebês, seja por valores culturais, por desconhecimento dos benefícios do leite materno ou por algo que a impossibilite de amamentá-, por exemplo, pela separação geográfica entre a mãe e o filho ou quando essa é portadora do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), agente etiológico da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, o qual pode ser transmitido pelo leite materno(1)

Um caso típico de separação geográfica do binômio mãe-filho ocorre quando o RN necessita de internamento em Unidades Neonatais e a nutriz é impossibilitada de  amamentá-lo por residir distante da instituição. Estes bebês, no entanto, necessitam do leite materno, mesmo que não seja provindo de suas mães. Contudo, o único meio de se obter esse alimento é através do Banco de Leite Humano (BLH), onde são feitas análise das propriedades físico-químicas e microbianas do leite doado e em seguida a pasteurização, com a finalidade de evitar a transmissão de doenças, inclusive a AIDS(3).

Há inúmeros BLHs espalhados pelo Brasil, alguns são considerados Centros de Referências Estaduais e em um deles existe o Centro de Referência Nacional – Instituto Fernandes Figueira (RJ) (3). Para o funcionamento do BLH não é exigido somente uma estrutura física de um centro especializado, vinculado a um hospital infantil ou maternidade com profissionais e equipamentos necessários `a coleta, processamento e controle de qualidade. É fundamental que toda a equipe incentive e promova a adesão das mães-nutrizes para doação do aleitamento materno, explicando-as os benefícios desse ato para a população de receptores, os quais são, na maioria, sao RNs pré-termos internados nas Unidades Neonatais.

Nesse sentido compreende-se que o BLH apresenta necessidade de manter um fluxo contínuo e crescente de doadoras. Para aumentar esse contingente se faz pertinente conhecer os motivos que as levaram a doar o leite e como se tornaram doadoras. Este conhecimento e, consequentemente, divulgacao do mesmo, poderá oferecer subsídios para o desenvolvimento e estímulo a sociedade que permitam a uma adesão cada vez maior de doações.

Entretanto, os BLH, mesmo com a veiculação de propaganda na mídia e a tentativa de orientação e conscientização por parte de alguns profissionais, ainda têm uma pequena demanda de doadoras, se for considerado o quantitativo de RN que nascem prematuramente e/ou com outras condições que necessitem de leite doado. E, entre àquelas que são doadoras, é importante manter a orientação contínua sobre aleitamento materno e buscar a sua inserção na família e na sociedade para que se tornem agentes multiplicadores.

A quantidade de doações, freqüentemente, é insuficiente para as necessidades da instituição vinculada ao BLH, interferindo na demanda de LH resultando em, mesmo que indiretamente, no crescimento e desenvolvimento das crianças. Porém, o fluxo contínuo e crescente de doação de LH poderá possibilitar nutrição adequada aos RNs, das instituições vinculadas ao BLH, além de possibilitar condições de estocagem e distribuição para outras instituições. Assim, objetivou-se averiguar como as mães-nutrizes tornaram-se doadoras de Leite Humano (LH) de um Banco de Leite Humano (BLH); identificar, segundo essas, quais os motivos que as impulsionaram a ser doadoras.

MATERIAIS E MÉTODOS

Pesquisa com abordagem qualitativa, realizada em um Banco de Leite de uma maternidade de grande porte do município de Fortaleza-Ce.  As participantes foram 24 doadoras de leite humano cadastradas no BLH que doaram leite nos meses de junho e/ou julho de 2005 e, aceitaram participar do estudo. Esse período foi estabelecido com vistas à busca ativa de seus endereços residenciais, para posterior visitação.

Para identificação das participantes utilizou-se o livro de registro das doadoras. Como o município de Fortaleza é dividido em seis Secretarias Executivas Regionais (SER) e, devido à diversidade dos bairros onde residiam as doadoras, ou seja, as SER I e IV, optou-se por separar as mesmas com base na área de abrangência das regionais, com o objetivo de otimizar a pesquisa. Vale ressaltar que na SER I residiam 27 doadoras, das quais 7 se negaram a participar da pesquisa, e da SER IV participaram quatro doadoras.  

Para a coleta dos dados utilizou-se a Visita Domiciliar, momento em que foi realizada a técnica da entrevista não-estruturada composta de dados de identificação das doadoras e duas questões norteadoras. O registro dos dados foi realizado pelo próprio punho de uma das autoras. O período destinado à coleta foi o mês de Agosto de 2005, de segunda a sexta nos turnos manhã e tarde, respeitando-se a conveniência de horários para as participantes. Ressalta-se que os endereços residenciais foram extraídos do próprio cadastro do BH.

A organização e apresentação dos dados foram embasadas em Bardin(4) . Na etapa da pré-analise, foi realizada uma leitura flutuante, ou seja, uma leitura geral de todo o material. A seguir, realizou-se uma leitura exaustiva buscando a análise, em termo de codificações. A partir da compreensão e síntese dos resultados estes foram organizados em temas e categorias discutidos de acordo com a literatura pertinente. Ressalta-se que as falas foram codificadas com a letra “D” seguida de números arábicos.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Complexo Hospitalar da UFC. Foram respeitados os critérios para realização de pesquisas com seres humanos, conforme Resolução 196 de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde - Ministério da Saúde. As participantes assinaram um termo de consentimento, com direito a todas as informações a respeito do objetivo, metodologia e andamento do estudo, resguardando o anonimato, além da possibilidade de desistirem da pesquisa a qualquer momento, caso assim quisessem, sem nenhum prejuízo a sua pessoa.  

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

·         Caracterização socioeconômica das doadoras

Das 24 doadoras, sete se encontravam na fase da juventude, sendo que uma era adolescente. Entre as doadoras adultas as idades variaram de 25 a 38 anos. Em relação à escolaridade encontrou-se: três com ensino médio incompleto; uma com ensino fundamental incompleto; uma com superior incompleto; sete com ensino médio completo e doze concluíram o ensino superior. Quanto à renda familiar, quatro não revelaram o poder aquisitivo, dez tinham renda menor ou igual a cinco salários mínimos. Destas, uma relatou ser inferior a um salário mínimo; as outras dez apresentaram renda maior ou igual a dez salários mínimos, sendo que metade ultrapassa dezenove salários mínimos. No tocante ao estado civil, vinte e uma eram casadas ou viviam em união estável. Vale ressaltar que as solteiras se encontravam na fase da juventude e tinham baixo grau de escolaridade (ensino médio ou fundamental incompleto), duas destas relataram renda familiar inferior ou igual a três salários mínimos, a terceira não revelou o seu poder aquisitivo.

A realidade atual aponta que o baixo poder econômico e de instrução constituem entraves para a aprendizagem, seja no trabalho ou nos conhecimentos sobre amamentação. Em pesquisa realizada na região Nordeste constatou-se que o tempo de duração da amamentação exclusiva era maior em mães com escolaridade acima de 4 anos se comparada com as de escolaridade entre 0-4 anos(5) . Outras pesquisas mostraram que o aleitamento exclusivo é menor entre as adolescentes e que o desmame antes do sexto mês é maior nesta faixa etária(6) . Em outro estudo(5)  foi constatado que a duração do aleitamento é maior nas mulheres com idade superior a 30 anos em comparação com as encontradas na faixa etária entre 15 e 19 anos .

·         Dados referentes a como e porque ser doadora

 Os dados sobre ‘a forma de como as participantes se tornaram doadoras de leite materno foram organizados em um tema, a saber: Uso de recursos informativos. A partir desse, foram extraidas quatro categorias são elas: Comunicação escrita, Comunicação falada, Comunicação em massa e Ligação telefônica.

Tema: Uso de Recursos Informativos 

Os meios de comunicação exercem poderosa influência na nossa cultura. Refletem, recriam e difundem o que se torna importante socialmente(7).  É necessário que a população tenha conhecimento prévio sobre como entrar em contato com os Bancos de Leite Humano, caso contrário não se faz possível colocar em prática o desejo de doar.

Para a obtenção de informações referente ao BLH, a grande maioria das doadoras (21) citou alguns recursos informativos, os quais foram organizados em três categorias apresentadas a seguir.

Categoria: Comunicação escrita

O folder, enquanto comunicação escrita foi o mais citado por quase metade das doadoras (onze). Trata-se de um meio simples, de baixo custo e bastante eficaz.

Porque teve uma palestra lá na maternidade e deram um folheto, tinha tudo, tinha o telefone de lá do banco de leite. (D5)

Eu recebi um folheto lá na maternidade.... (D7)

Logo que ganhei o meu filho recebi um folder na maternidade de uma enfermeira que incentivou a doação (D12)

O BLH da maternidade que abrigou o estudo é de referência, visto que pode ser classificado como uma unidade destinada a desempenhar funções comuns como treinar, orientar, capacitar recursos humanos, desenvolver pesquisas operacionais, prestar consultoria técnica e dispor de um laboratório credenciado pelo Ministério da Saúde(3). Da rotina da instituição, faz parte a realização de visitas realizadas por funcionários às puérparas para orientações sobre o aleitamento materno e incentivo a sua doação.

Do mesmo modo, em um estudo(8) foi utilizado folhetos impressos com itens que continham informações detalhadas sobre os procedimentos odontológicos para minimizar a ansiedade na sala de espera de um consultório odontológico. Compararam o efeito desses impressos adotando um questionário para avaliar níveis de ansiedade e encontraram resultados mais animadores entre os pacientes que tiveram acesso às informações.

A utilização dessa metodologia com vistas a abordar a promoção à saúde é uma segura ferramenta para o profissional. Seria interessante que durante o pré-natal todas as gestantes recebessem na instituição onde está sendo acompanhada, postos ou hospitais vinculados ou não a Bancos de Leite Humano, orientação escrita, além da falada, não só da amamentação, mas também sobre doação e seus trâmites legais.  

Categoria: Comunicação falada

Nessa categoria foram incluídos profissionais de saúde, amigos e familiares como parte integrante dos recursos comunicativos responsáveis pelas informações sobre o BLH que foi apontado por cinco doadoras. Segue abaixo os principais depoimentos referentes ao ambiente social e familiar:

Minha ex-vizinha  ligou e o pessoal veio aqui buscar o leite.(D6)

"Porque as pessoas vinham na minha casa, as minhas amigas, e me aconselharam a doar."(D6)

Como se observa nas falas, o meio social tem grande influência para a aquisição de informações e conhecimento. As amigas e familiares servem como modelo, especialmente em assuntos relativos a feminilidade, pois conversam alguns problemas com as companheiras de sua idade(9).

Apesar das pessoas serem livres na sua tomada de decisão, elas são influenciadas por seus valores culturais, sua fé, sua família e pelo circulo de amizades(10). Diante do fato de que somente duas doadoras referiram o ambiente social e familiar como participantes na decisao para doar o leite, consideramos que se faz necessário conscientizar e instrumentar as doadoras de LH.

A orientação direta dos profissionais de saúde foi citada por apenas sete doadoras, apesar de todo o trabalho de divulgação e orientação a respeito da amamentação e doação de leite materno realizado pelo BLH desse estudo e o hospital materno obrigatoriamente vinculado a ele.

A Drª  me informou sobre o Banco de Leite..(D4)

Através de uma consulta com a enfermeira a qual me informou a respeito da doação.(D15)

Falei com uma amiga auxiliar de enfermagem da Maternidade Escola....(D17)

Nas falas percebe-se a presença dos profissionais de enfermagem, tanto o enfermeiro quanto o auxiliar. Assim, para enfrentar o desafio de se tornar agentes transformadores e de mudanças, deve-se reconhecer a necessidade de abandonar estratégias comunicacionais informativas e unilineares e, ao mesmo tempo, de adotar uma prática mais dialogada, sensível a essas demandas, compartilhando com o "outro" os novos sentidos dos novos caminhos dos novos sujeitos(7).

O que parece estar mais presente nos profissionais de enfermagem quando comparados aos outros profissionais de saúde, visto que foram citados por essas doadoras.  A compreensão de mensagens emitidas pode ser decisiva nos resultados a serem alcançados de acordo com as informações repassadas.

Em estudo realizado com 212 puérperas, que tiveram acompanhamento de no mínimo seis consultas de pré-natal, internadas no alojamento conjunto, mostrou que um quantitativo muito pequeno (26,9%) de puérperas foram orientadas durante o pré-natal sobre a doação de leite materno para os BLH. Assim como, a relevância dessas orientações para a saúde da criança, para a economia da família e, conseqüentemente, para a qualidade de vida da população(11).

É necessário que o setor saúde cumpra seu papel de educador e promotor da saúde. Assim, o enfermeiro como membro da equipe de saúde no cuidado ao binômio mãe-filho tem papel educativo e/ou assistencial no atendimento às mães que amamentam por adquirirem conhecimentos e habilidades nesta temática(12).                                                                            

Categoria: Comunicação em Massa

Os meios de comunicação em massa transmitem informações a um grande número de pessoas ao mesmo tempo. Desde a Revolução Industrial, tem crescido os impactos da tecnologia na vida, valores, caminhos e estilo de vida do homem. A técnica tem determinado como deveremos viver, trabalhar e usar o nosso tempo de lazer, como observa-se a televisão presente na casa da comunidade(10)

Acredita-se que a televisão pode abordar temas relativos ao aleitamento e BLH, incentivando à doação de leite materno, explicando como se entrar em contato, como se efetiva o processo de doação, suas inúmeras vantagens não só para aqueles que necessitam de leite materno, mas também para as doadoras, não deixando de abordar a melhor maneira de superar possíveis dificuldades. 

Outro meio tecnológico importante é a internet, através da qual se obtém informações em tempo real. Contudo, os meios de comunicação em massa foram citados apenas por três doadoras.

Pesquisei na internet e em seguida eu liguei para o informador e adquiri o telefone do Banco de Leite.  (D9)

 

O meu marido pegou o telefone do Banco de Leite pela televisão. (D20)

"Me sensibilizei com a reportagem pela mídia (televisão) quando estava grávida."(D15)

Falta informação! Eu tive que ligar para o 144 para ter o telefone do Banco de Leite...(D24)

Os meios de comunicação de massa são os veículos de comunicação que se destinam a um amplo público, assim a transmissão da mensagem detêm o alcance populacional mais abrangente possível (7,10).

Analisando duas das falas observa-se que a televisão tem o poder de sensibilizar possíveis doadoras, assim como informar telefones ou endereços úteis à sociedade. Mas as reportagens sobre doação são raras, o que deveriam ser constantes além de esclarecedoras, assim proporcionariam maior sensibilização às mulheres e sociedade e, aumento do número de doadoras.

A importância da internet neste estudo foi de informar o número do Banco de Leite Humano mais próximo da residência, neste caso, a potencial doadora encontra-se previamente sensibilizada.

Percebe-se que não foi relatado por nenhuma entrevistada o rádio e os jornais que poderiam dá uma contribuição maior à difusão da doação. Portanto, leva-se a crer que este meio de informação parece não ter sido ser contemplado, apesar de se saber que ele esta incluído entre os meios de comunicacao efetivos e presentes.

Categoria: Ligação Telefônica

Entre os vários meios de comunicação se destaca o uso do telefone para realizar o contato inicial ou finalizar a doação. Durante a ligação telefônica realizada ao banco de leite pergunta-se a respeito do estado de saúde da candidata a doação, além de serem repassadas todas as informações pertinentes à doação, não sendo necessária a ida ao BLH. Portanto, pela praticidade, acessibilidade e resolutividade que este meio oferece, ele foi citado por 21 doadoras.

...Tinha o telefone e liguei.(D3)

...me deu o telefone do Banco de Leite .Então eu liguei...(D4)

...eu liguei e o bombeiro veio buscar.(D7)

...Adquiri o telefone do Banco de Leite então falei com a enfermeira...(D9)

Resolvi ligar para o Banco de Leite e recebi todas as informações sobre a doação.(D23)

Importante constatar que a ligação telefônica foi o elo de comunicação direto utilizado pelas entrevistadas. Mesmo sendo o meio que mais surgiu no estudo, este é considerado um meio de comunicação interpessoal que tem menor impacto de disseminação de informações(10).

O uso do telefone requer gastos e poucos estudos retratam sua importância, porém parece ter eficácia na área de atendimento de urgência e emergência em alguns lugares do Brasil(13).

A seguir, apresentam-se os dados referentes aos motivos que levaram as participantes a serem doadoras e foram organizados em dois temas: Conhecimento e Adequação situacional.

Tema : Conhecimento

O conhecimento de algo é importante para que se possa tomar atitudes coerentes com relação à saúde. Mais da metade das doadoras, quatorze, relatou ter conhecimento em áreas relativas à amamentação/ doação, este conhecimento foi bastante significativo, principalmente em relação aos bebês internados na UIN. Nesse tema apresentam-se duas categorias: Necessidade de doação e Estímulo para a produção.

Categoria: Necessidade de doação

Segundo Diniz(2), apesar das dificuldades, até o momento, de se estabelecer uma dieta ideal para o recém-nascido pré-termo (RNPT) particularmente aqueles de muito baixo peso, o leite humano ainda é o alimento que fornece os maiores benefícios para o RNPT, particularmente pela sua excelência em qualidade.

O leite humano é o ideal para todas as crianças, incluindo aí os prematuros e RN doentes, com raras exceções. Deve ser iniciado o mais rápido possível(12).

Através dos resultados, percebe-se que o conhecimento da necessidade de LH para os RNs internados na UIN é de grande relevância para a doação. Pois, esse fator foi apontado por quase metade das doadoras (dez), sendo o conhecimento que mais predominou neste estudo.

  "Porque o leite salva vida ... eu fiquei em frente a UTI e eu via os carequinhas, para  que motivação maior, eles precisam."(D6)

"..eu vi que tinha muitas crianças prematuras precisando do leite."(D7)

"Porque eu vi o tanto de criança na maternidade precisando do leite."(D14)

"...e sabia da necessidade do leite para as crianças, até mesmo da UTI."(D18)

"... sabendo da necessidade da criança, porque leite salva uma vida."(D24)

Através das falas percebe-se que as doadoras se sensibilizam muito com a situação de saúde das crianças internadas em unidades de terapia intensiva.

Os avanços nos cuidados intensivos neonatais que proporcionam maior sobrevida aos bebês cada vez mais imaturos, aumentam a necessidade de se consumir leite materno pasteurizado armazenados nos bancos de leite humano. Os RNs, principalmente os prematuros extremos, necessitam de leite materno proveniente dos BLH em virtude da imaturidade do reflexo de sucção e deglutição, privando-os, assim, do seio materno(1,11).

Sabe-se que o fluxo contínuo e crescente de doação de LH possibilita que a manutenção deste alimento aos RNs. Entretanto apenas duas doadoras apontaram tal necessidade.

 "...e o Banco de Leite precisa de doadoras."(D10)

"...conhecia o trabalho do Banco de Leite e sei que eles estão sempre precisando..."(D13)

Essa necessidade relatada, instiga a se pensar que ao se ter mais estoque de LH, mais RN serão beneficiados, visto que, ao nascer a criança ainda não tem seus mecanismos de defesa formado, o leite materno vai desempenhar um importante papel no que diz respeito à proteção contra as infecções agindo como agente imunizador protegendo a criança contra anemia, hipernatremia, hipovitaminoses, desnutrição, distúrbios neuropsicomotor, problemas alérgicos, vai auxiliar no processo digestivo, visto que contém a enzima lípase para destruir a gordura(14).

Nessa perspectiva, a partir da década de 1970, inicia-se um movimento de resgate a cultura da amamentação, em resposta ao uso disseminado de leites de outras espécies. Logo após esse período deu-se a criação dos BLH no Brasil(3). Contudo, com o número crescente de bebês necessitando desse precioso alimento, faz-se urgente mais campanhas, projetos e parcerias com o objetivo de informar e encorajar a população para a importância da prática da doação do leite humano.

Tema : Adequação situacional

Esse tema aborda a doação como uma conseqüência de situações vividas pelas doadoras. Essas situações foram divididas em duas categorias: Produção excessiva de leite e Visita ao BLH.

Categoria: Produção excessiva de leite

O período em que se inicia a produção de leite é chamada apojadura ou "descida". O volume do leite produzido tende a aumentar gradativamente. Quanto mais rápido, após o nascimento, e mais freqüente se coloque o recém-nascido ao seio, maior será a produção de leite(1)

Esta grande produção de leite foi o que mais motivou a doação, citada por dezessete doadoras. É importante ressaltar que quase metade (oito) destas associaram o ato de doar com a maneira de evitar o desperdício de seu leite.

"Eu tinha muito leite... eu resolvi doar ao invés de estragar."(D2)

"...tinha pena do leite que jogava fora, porque tinha em excesso."(D9)

"Porque eu tinha muito leite, tenho muito leite, eu                                                                                     tinha que tirar, se não ia pedrar."(D10                                                                                    

"Quando o bebê nasceu tinha muito leite, ele não dava conta da quantidade de leite que saia, sobrava muito."(D15)

" É porque tinha muito leite, o seios ficavam doídos, tinha que tirar e eu não ia jogar fora."(D17)

Percebe-se uma sensibilização das doadoras ao constatarem o excesso de leite que seria desperdiçado. A solução encontrada por elas foi a doação ao banco de leite, ajudando inúmeras crianças.

É muito importante que os profissionais de saúde durante o pré-natal e pós-parto informem as gestantes e as puérperas a respeito da produção de leite, ressaltando a importância do leite materno para os recém-nascidos internados nas Unidades de Internação Neonatal e associando o fato de que a realização da ordenha evitará o desperdício do leite humano, além de estimular a sua produção.

Categoria: Visita ao BL

Os profissionais atuantes são capacitados a aproveitar as visitas das nutrizes ao BLH, independente do motivo que as levarem a procurar este serviço, para informarem-nas sobre a importância do aleitamento materno não só para o próprio filho, mas também à aqueles que encontram-se internados em UTIs neonatais impossibilitados de serem amamentados. Sensibilizando-as de que a única possibilidade de absorverem este alimento e melhorar a qualidade de vida é através de doações.  A atividade educativa realizada na instituição onde se desenvolveu o estudo é realizada de forma individual ou em grupo durante as consultas de pré-natal ou pós-parto. Aborda o tema aleitamento em forma de palestras, discussões informais e relatos de experiência(15).  Mesmo assim, entre as mães participantes desse estudo, parece que recorrer à visita como forma de conhecer a atuação desse tipo de serviço, bem como se tornarem doadoras não foi o principal objetivo. Em decorrência da praticidade da ligação telefônica, citada anteriormente, apenas três doadoras foram ao BHL e o intuito não era primeiramente o da doação, como mostram a s falas abaixo.

Fui receber o teste do pezinho e resolvi ir no Banco saber como fazer para doar(D1)

...eu fui lá no Banco de Leite para desmamar e lá elas me perguntaram se eu queria doar.(D16)

Eu fui para o Banco de Leite da Maternidade Escola aprender a desmamar..., elas do Banco de Leite perguntaram se eu queria doar...(D19)  

Nota-se que estas doadoras buscaram o serviço principalmente para aprender a como realizar a ordenha do leite materno. Contudo, saíram mais sensibilizadas a doar devido à participação dos profissionais, em especial do enfermeiro, ao instigar-lhes sobre o conhecimento do processo de doação.

A consulta de enfermagem é voltada para o atendimento a gestante sem intercorrências clínicos-obstétrica, visando oferecer assistência integral toco-ginecológica e educativa. Assim, o pré-natal é o período de maior contato entre a população feminina, os profissionais de saúde e a instituição, ao configurar o cenário para as orientações não somente sobre amamentação, mas também da doação de leite materno para BLHs(11). Nesse aspecto o enfermeiro pode explicar o procedimento, além de incentivar visitação a esse tipo de serviço.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Das 24 doadoras participantes, 21 eram casadas, com bom nível de escolaridade sendo que 12 tinham o ensino superior completo. Além disso, a sua maioria (17) foi considerada na faixa etária adulta. Referente à renda familiar dez afirmaram receber mensalmente mais de 10 salários mínimos. No que concerne a como as participantes se tornaram doadoras, das falas emergiram temas e categorias referentes ao processo de comunicacao para a doacao de LH, que entre a maioria (21) sobressaiu-se o uso da ligação telefônica para o BLH. As demais realizaram este contato e cadastro pessoalmente no BLH. Entretanto, vale ressaltar que o intuito da visita não era de se tornar doadora, mas sim, a realização da ordenha de leite. Os recursos utilizados para adquirir o número do telefone do BLH foi, principalmente, o folder informativo. A orientação dos profissionais de saúde motivou a doação de uma parcela significativa das entrevistadas; amigos e a mídia tiveram pouca influência na opinião das doadoras. 

O fator mais importante que motivou a doação de leite materno foi a grande produção deste leite pelas mães. Outro aspecto relevante foi o conhecimento da importância do leite para os recém-nascidos internados, motivador da doação de grande parte das doadoras. Sugere-se que os enfermeiros aprimorem a educação em saúde em unidades neonatais, no qual propiciem visitas ou informações às puérperas às unidades de médio e alto risco para sensibilização quanto à necessidade da doação. Além disso, é de suma importância que as orientações sobre a doação de leite sejam frequentemente vinculadas às orientações sobre amamentação.

 

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Contribuição de cada autor: - Concepção e desenho: Cynara Gurgel Pereira, Maria Vera Lúcia Moreira Leitão Cardoso - Análise e interpretação: Cynara Gurgel Pereira, Maria Vera Lúcia Moreira Leitão Cardoso - Escrita do Artigo: Cynara Gurgel Pereira, Maria Vera Lúcia Moreira Leitão Cardoso, Grazielle Roberta Freitas da Silva, Maria Gorette Andrade Bezerra.- Revisão crítica do artigo: Cynara Gurgel Pereira, Maria Vera Lúcia Moreira Leitão Cardoso, Grazielle Roberta Freitas da Silva, Maria Gorette Andrade Bezerra - Aprovação Final do Artigo: Maria Vera Lúcia Moreira Leitão Cardoso, Grazielle Roberta Freitas da Silva, Maria Gorette Andrade Bezerra – Coleta dos dados: Cynara Gurgel Pereira.

Endereço para correspondência: Grazielle Roberta Freitas da Silva.

Universidade Federal do Piauí, Campus Universitário Ministro Petrônio Portella. Departamento de Enfermagem. Bairro Ininga – Teresina-Pi- - Brasil - CEP - 64049-550. Fone: +55 (086) 3215-5862. E-mail: grazielle@ufpi.edu.br