The teaching-learning process of the nursing diagnosis – a literary analysis.

O processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem, na ótica de estudos acadêmicos

Greicy Kelly Gouveia Dias Bittencourt 1  Maria da Graça Oliveira Crossetti 1

1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS, Brasil

Abstract The nursing diagnosis is a complex intellectual activity demanding teaching strategies that stimulate the clinical reasoning from the professional formation. This study aims to discuss the teaching-learning process of the nursing diagnosis through results of studies that emphasized the nursing diagnosis and its implications in the teaching. To analyze the researches, it was done an attentive reading  and another one in full to identify similar themes in them. As a result of this analysis, two themes were revealed: the clinical reasoning in the identification of the nursing diagnosis and the teaching-learning process of the nursing diagnosis. The researches emphasize the importance of the clinical reasoning in the identification of the nursing diagnosis and they show the relevance of the critical thought in the  teaching of it. It is evidenced that this teaching should extrapolate technical dimension and be based on strategies that stimulate critical and logical thought and clinical reasoning. 

Key-words: nursing process, education, nursing, nursing diagnosis 

Resumo  O diagnóstico de enfermagem é uma atividade intelectual complexa requerendo estratégias de ensino que estimulem o raciocínio clínico desde a formação profissional.  O objetivo deste estudo é discutir o processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem através de resultados de pesquisas que enfatizaram o diagnóstico de enfermagem e suas implicações no ensino. Para analisar as pesquisas, fez-se uma leitura atentiva e uma na íntegra visando identificar temáticas semelhantes entre elas. Desta análise, revelaram-se dois temas: o raciocínio clínico na identificação do diagnóstico de enfermagem e o processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem. As pesquisas enfatizam a importância do raciocínio clínico na identificação do diagnóstico de enfermagem e mostram a relevância do pensamento crítico no seu ensino. Evidencia-se que esse ensino deve extrapolar sua dimensão técnica e pautar-se em estratégias que estimulem o pensamento crítico e lógico e o raciocínio clínico.

Palavras-chave: processo de enfermagem; educação, enfermagem; diagnóstico de enfermagem

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A construção do diagnóstico de enfermagem assume vital importância durante a aplicação do processo de enfermagem por ser considerada a atividade intelectual que o enfermeiro precisa desempenhar no seu cotidiano, a fim de julgar as respostas humanas que exigem os cuidados de enfermagem. O processo diagnóstico em enfermagem é um elemento fundamental na tomada de decisão do enfermeiro por oportunizar a identificação de evidências, a partir de informações verdadeiras, relativas às reais condições do indivíduo, possibilitando a identificação do diagnóstico de enfermagem correto com conseqüentes intervenções adequadas e alcance de resultados eficazes (1).

As etapas do processo diagnóstico em enfermagem podem variar de acordo o modelo teórico que se utiliza como referência, porém há três passos que são imprescindíveis e comuns a todos os modelos conhecidos. O primeiro deles é a obtenção de dados sobre o paciente e a situação que está sendo vivenciada por ele; o segundo se relaciona com a interpretação e o agrupamento desses dados em conformidade com as relações existentes entre eles e, por fim, a tomada de decisão sobre que conceito diagnóstico retrata com mais exatidão o agrupamento dos dados do paciente (2).

 O processo diagnóstico em enfermagem envolve a interação de processos interpessoais, técnicos e intelectuais. Os processos interpessoais consistem na comunicação com o paciente e com outros profissionais de saúde com o objetivo de obter e analisar os dados e tomar decisões. Os processos técnicos envolvem o uso de ferramentas e de habilidades específicas, como: coleta da história de saúde de uma pessoa avaliando-a como indivíduo, família e comunidade e realização de exame físico. Os processos intelectuais incluem o desenvolvimento da inteligência e o emprego do pensamento crítico (3).

O diagnóstico de enfermagem representa uma mudança de paradigma de uma profissão voltada para os aspectos biomédicos para uma profissão que busca sua função independente, ao focalizar as respostas fisiológicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais do indivíduo, família e comunidade que dêem respaldo ao cuidado de enfermagem, propiciando a base científica para as ações autônomas (4).  Nesse sentido, um aspecto importante refere-se ao ensinar e ao aprender o processo diagnóstico por se tratar de um processo interpretativo e complexo de julgamento e raciocínio clínico, que envolve habilidades de pensamento crítico e de tomada de decisão.

A identificação de um diagnóstico preciso constitui-se numa das etapas mais complexas do processo de enfermagem e o seu estabelecimento incorreto pode acarretar conseqüências ao paciente. Diante desse contexto, entende-se a relevância de instigar reflexões acerca do processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem na perspectiva da formação de enfermeiros com habilidades críticas e reflexivas sobre o cuidar em enfermagem. Neste estudo, objetivou-se discutir o processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem através da análise de pesquisas relacionadas com a temática buscando-se identificar seus pontos de convergência. 

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

Trata-se de um estudo reflexivo em que se selecionaram, para análise, duas teses de doutorado (4,5) que tiveram como tema central o diagnóstico de enfermagem e suas implicações no ensino-aprendizado de enfermagem. A escolha dos estudos se deu a partir da sugestão da temática proposta na disciplina Fundamentos e Práticas de Enfermagem e de Saúde e ocorreu de forma intencional. Selecionaram-se estudos que abordassem a utilização do diagnóstico de enfermagem na perspectiva do entendimento de suas implicações no ensino de enfermagem.

Um dos estudos (4) foi desenvolvido com o objetivo de analisar as concepções de discentes e de docentes sobre competências e sua relação com o processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem. Destacaram-se os resultados desse estudo no que diz respeito à relação das competências com o processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem. Tratou-se de um estudo qualitativo cujas informações foram coletadas por meio de entrevistas individuais e de dois grupos focais, um de discentes e outro de docentes. Os resultados do estudo foram apresentados em três categorias de análise que a autora denominou de: relação com os saberes/conhecimentos, estratégias de ensino-aprendizagem e contexto Institucional do Curso.

O outro estudo (5) teve por objetivo compreender a experiência do raciocínio clínico de enfermeiros especialistas. Tratou-se de um estudo qualitativo desenvolvido na perspectiva de aprofundamento na compreensão do raciocínio diagnóstico do enfermeiro na prática clínica. O entendimento sobre esse raciocínio é prioritário para promover eficiência e qualidade no cuidado, em função da identificação precoce das necessidades de cuidado e da intervenção imediata, além de proporcionar o desenvolvimento de estratégias de capacitação de profissionais com habilidades diagnósticas. Neste estudo, desenvolveu-se um modelo teórico representativo da experiência do raciocínio clínico de enfermeiros especialistas a partir de suas ações que foi definido por três construtos: encontrando-se no desafio do cuidar, cuidando e atribuindo valor ao cuidar.

Para a discussão desses estudos, utilizou-se a análise de conteúdo proposta por Bardin (6). Fez-se uma leitura atentiva dos estudos com o intuito de conhecer os objetivos e analisar os principais resultados a fim de identificar semelhanças entre os estudos. Em seguida, fez-se uma leitura dos estudos na íntegra visando identificar as temáticas semelhantes entre eles para, posteriormente, agrupá-las. Desta análise, revelaram-se dois temas convergentes: o raciocínio clínico na identificação do diagnóstico de enfermagem e o processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem. Após a identificação das temáticas, enfatizaram-se alguns pontos de convergências entre eles.  

CONVERGÊNCIAS ENTRE OS ESTUDOS ANALISADOS

Os resultados dos estudos enfatizam a importância do raciocínio clínico durante a identificação do diagnóstico de enfermagem e mostram a relevância do desenvolvimento de habilidades do pensamento crítico durante o processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem na perspectiva da formação de enfermeiros com aptidão analítica e cognitiva e, principalmente, de profissionais capazes de utilizar sua capacidade de percepção e de comunicação para identificar as necessidades de saúde de seus pacientes a fim de estabelecer os cuidados necessários.

O raciocínio clínico na identificação do diagnóstico de enfermagem

Ao voltar-se para o cuidado individualizado e para a utilização do processo de enfermagem, o enfermeiro se defronta com a prática do julgamento clínico e do raciocínio diagnóstico envolvidos na tomada de decisão sobre as ações de cuidado. Trata-se de uma prática complexa em que o profissional é responsável por assumir julgamentos, identificar os diagnósticos de enfermagem, tomar decisões e ser responsável pelos resultados de suas ações. Para tanto, precisa desenvolver sua capacidade de raciocínio clínico que envolve elementos como capacidade cognitiva, conhecimento clínico e experiência, integrados pela percepção intuitiva da situação como um todo.

O enfermeiro encontra-se no desafio de cuidar a partir de uma série de informações significativas e, de imediato, ativa habilidades para dar conta desse desafio. Essas habilidades envolvem a memória, o conhecimento clínico armazenado, a capacidade cognitiva, a disposição da rede de informações, a percepção intuitiva, a experiência, dentre outros. O enfermeiro no processo de cuidar percebe-se frente a um desafio que é lidar com incertezas e subjetividades inerentes aos julgamentos que norteiam suas decisões. A intuição funciona como um gatilho para iniciar o processo de raciocínio (5).

Quando o enfermeiro se vê cuidando, ele desencadeia uma seqüência de pensamentos que estão expressos por: fazendo interpretações/explanações sobre o evento observado; buscando dados adicionais para explicar a situação anterior; transformando a explanação anterior; e/ou intervindo; avaliando resultado; e obtendo reconhecimento. Essas três etapas acontecem ciclicamente e observa-se um movimento de ir e vir entre os dados e as interpretações. Esse exercício faz o enfermeiro “apurar” o seu julgamento até sentir confiança suficiente da explanação anterior (5).

Após o refinamento do seu julgamento, o enfermeiro se direciona para a intervenção, avaliação dos resultados e o reconhecimento de sua ação. De acordo com relatos de enfermeiros, para intervir eles buscam ou consideram alternativas de cuidados mais adequados para a situação sob julgamento e tomam condutas submetidas a critérios como prioridades, recursos disponíveis e obtenção de resultados. A avaliação dos resultados é a etapa subseqüente às intervenções e diz respeito às mudanças positivas ou negativas que o enfermeiro observa no paciente como conseqüência do seu cuidado (5).

A aplicabilidade do diagnóstico de enfermagem requer conhecimento, habilidades cognitivas, interpessoais e atitude do profissional que determinam o conteúdo e a qualidade dos resultados da sua utilização (4,5). A preocupação com o entendimento do raciocínio clínico do enfermeiro começou a adensar-se a partir da utilização de linguagens padronizadas para identificar os diagnósticos de enfermagem. Atenta-se para a necessidade de maior aprofundamento quanto ao raciocínio clínico do enfermeiro, pela compreensão do pensamento utilizado por ele para julgar e tomar decisões (5).

Destaca-se a relevância de utilização de estratégias que estimulem o raciocínio clínico, como exemplo os estudos de caso. Segundo relatos de discentes, ainda é priorizado no ensino a terminologia do diagnóstico de enfermagem e suas regras de redação vinculada mais ao uso de taxonomias do que ao raciocínio clínico. Enfatiza-se a importância do apoio computacional como favorecedor na elaboração do diagnóstico de enfermagem, contudo, ele deve ser usado após o aprendizado do raciocínio diagnóstico a fim de evitar a seleção de intervenções de enfermagem desvinculadas dos diagnósticos de enfermagem que o paciente realmente apresenta (4).

Reconhece-se a complexidade do tema como um desafio para os enfermeiros (4,5) e sugere-se o desenvolvimento de outros estudos para compreender como se desenvolve o raciocínio clínico na formação do enfermeiro (5)

O processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem

            Diante da complexidade de atuação do enfermeiro, questiona-se se a sua formação profissional favorece a capacitação necessária para desenvolver um profissional seguro na identificação dos diagnósticos de enfermagem e na tomada de decisão do cuidado (4,5). Ainda é necessário aprofundar conhecimentos sobre os processos cognitivos que o enfermeiro utiliza para se identificar as necessidades de cuidado de seus pacientes sendo necessário maior aprofundamento na compreensão do raciocínio diagnóstico com o objetivo de desenvolver estratégias de capacitação profissional (5).

Assegura-se que a capacidade diagnóstica de discentes da graduação em enfermagem evolui em função de sua experiência e de seus conhecimentos clínicos. Afirma-se que o conhecimento é um componente necessário do raciocínio diagnóstico, contudo insuficiente. A capacidade de acrescentar novas informações às estruturas de conhecimento existentes é essencial para a qualidade e precisão dos diagnósticos de enfermagem, para tanto ainda é necessário explorar a dimensão técnica do ensino e a avaliação do raciocínio diagnóstico na prática de enfermagem (5).

Destaca-se que, para alguns discentes, o ensino do diagnóstico de enfermagem requer maior embasamento científico em anatomia e fisiologia a fim de habilitar o aluno para a atividade diagnóstica. As disciplinas que contemplam as ciências humanas, algumas vezes, não despertam o interesse por parte dos alunos. Fica clara a importância que os discentes dão à dimensão técnico-científica em detrimento do pensar e do agir. Os discentes acreditam que o diagnóstico de enfermagem constitui um diferencial na formação do enfermeiro quando se estimula o pensamento crítico na sua formulação. Para eles, é necessária maior ênfase no ensino do processo diagnóstico ao longo da formação profissional e continuamente em várias disciplinas com embasamento nas ciências biológicas, humanísticas, sociais e de enfermagem (4).

Constatou-se, que o processo de enfermagem, na visão dos docentes, está atualmente consolidado como uma metodologia científica de cuidado ao indivíduo, família e comunidade. O diagnóstico de enfermagem, entretanto, representa uma mudança pouco aceita por alguns docentes, percebendo-se, ainda, a preocupação do ensino na dimensão técnica da competência (4). Menciona-se que o pensamento crítico consiste em pensar o que está se fazendo e o porquê de suas ações. Trata-se de uma perspectiva essencial na formação do discente porque envolve questionamentos constantes na identificação de problemas de saúde direcionando a um julgamento assertivo e nas tomadas de decisões. O diagnóstico de enfermagem impõe mudanças no processo de raciocínio, requerendo competências do docente e do discente (4,5).

Destaca-se que trabalhar com o diagnóstico de enfermagem, requer ampliação de conhecimentos, porém isso não significa desprezar ou desconsiderar o conhecimento prévio. Faz-se necessário, portanto, uma postura de reflexão e de conscientização do docente.  Trabalhar com o diagnóstico de enfermagem no ensino representa preparar o aluno para exercer a profissão com criatividade e flexibilidade que podem efetuar pequenas modificações no seu contexto de trabalho caracterizando competência profissional (4).

É inquestionável a importância da dimensão técnico-científica na formação do enfermeiro, contudo não é a única a ser contemplada no ensino do diagnóstico de enfermagem (4,5). O diagnosticar em enfermagem numa perspectiva integralizadora abarca as dimensões técnico-científica, humanística (ética, estética e cultural), de relacionamento pessoal e comunicativo da competência. Ratificou-se que o ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem requer o desenvolvimento dessas dimensões da competência por parte de discentes e de docentes (4)

REFLEXÕES ACERCA DOS RESULTADOS DOS ESTUDOS

A partir dos resultados dos estudos apresentados (4,5), podem-se apreender alguns pontos em comum a serem discutidos. No que diz respeito ao uso do diagnóstico de enfermagem há uma concordância de que sua aplicação na prática profissional favorece um cuidado individualizado de melhor qualidade e permite ao enfermeiro uma possibilidade real de atuação com base em competência e compromisso com os resultados da assistência oferecida aos pacientes. O diagnóstico de enfermagem instiga nos enfermeiros a busca por conhecimentos próprios em função das respostas fisiológicas, psicológicas, culturais e espirituais dos pacientes que fundamentem o cuidado de enfermagem.

Num estudo qualitativo, atenta-se para a necessidade de enfrentar o desafio da formação de profissionais de saúde numa perspectiva humanista, integrando-se a dimensão pessoal e profissional da formação e do desenvolvimento humano. Argumenta-se que o paradigma da racionalidade técnica, por si só, não é mais suficiente na formação de profissionais de saúde, sendo necessária uma perspectiva crítica-reflexiva que proporcione a emergência de profissionais críticos e compromissados com as transformações sociais e científicas e com competência técnica para assumir a complexidade do cuidar em saúde (7).

Enfatizam-se a importância do raciocínio clínico desde a formação do enfermeiro para a identificação do diagnóstico de enfermagem, uma vez que esse raciocínio extrapola a dimensão técnica do conhecimento (4,5). O processo diagnóstico em enfermagem requer habilidades de pensamento crítico e lógico, raciocínio clínico, intuição, habilidades interpessoais, espirituais, competência humanística (ética, estética e cultural), dentre outras (1, 3, 4,5).

Para tanto, ainda é necessário desenvolver e validar estratégias de ensino que extrapolem a dimensão técnica da competência profissional e maior conhecimento sobre os processos cognitivos que o enfermeiro utiliza para se identificar os diagnósticos de enfermagem, principalmente no que diz respeito à utilização de sistemas de classificação da prática profissional.

Os diagnósticos de enfermagem são classificados e definidos de forma que poderão ser utilizados em diferentes contextos da atuação profissional. No entanto, sua utilização necessita levar em consideração as diversidades culturais da prática profissional. Uma das possibilidades se dá através de estudos de confirmação de significado e de utilização dos conceitos na prática profissional (8). Assim, os diagnósticos de enfermagem poderão representar melhor as necessidades de saúde dos pacientes inseridos no contexto de atuação profissional.

A habilidade de pensamento crítico e de raciocínio clínico para diagnosticar as respostas humanas é passível de aprendizado e aprimoramento (2). No entanto, a aprendizagem é um processo contínuo que requer do enfermeiro a aquisição de novos conhecimentos, o refinamento de suas habilidades de pensar, de resolver problemas e de fazer julgamentos tornando-se aptos a fazer suposições, a apresentar idéias e a validar suas conclusões (9).

Alguns requisitos devem ser atendidos pelo profissional na execução do processo diagnóstico. O primeiro deles é a obtenção de dados relevantes, fidedignos e suficientes sobre o paciente e o segundo requisito refere-se ao processamento desses dados, ou seja, sua interpretação e combinação em concordância com as relações reais que existem entre eles (10).

Sendo assim, para apropriar-se desses requisitos, o enfermeiro necessita utilizar alguns hábitos mentais e habilidades cognitivas do pensamento crítico. Pensar criticamente requer hábitos mentais como confiança, perspectiva contextual, criatividade, flexibilidade, curiosidade, integridade intelectual, intuição, compreensão, perseverança e reflexão. Os pensadores críticos em enfermagem praticam habilidades cognitivas de análise, de aplicação de padrões, de discernimento, de busca de informações, de raciocínio lógico, de predição e de transformação de conhecimento (11). Acredita-se que o ensino de habilidades do pensamento crítico, na graduação em enfermagem, direciona para a formação de profissionais mais críticos e reflexivos sobre o processo de cuidar em enfermagem. Trata-se de um incentivo ao profissional a pensar criticamente antes de agir e esclarecer as possíveis causas dos problemas dos pacientes.

Um estudo sobre o ensino do processo de enfermagem no Brasil destaca a necessidade do desenvolvimento desse processo de forma teórico-prático, assim como através de discussões de estudos de casos na tentativa de estimular nos alunos de enfermagem o raciocínio clínico. Para os alunos, o raciocínio clínico na identificação do diagnóstico de enfermagem favorece o cuidado individualizado e integral aos clientes. Apresentam como sugestões a discussão sobre essa temática em todas as áreas do ensino da graduação em enfermagem (12).

As habilidades de pensamento crítico são essenciais na tomada de decisão do enfermeiro e precisam ser estimuladas desde o ensino de enfermagem. Para tanto, faz-se necessário o desenvolvimento de estratégias planejadas de ensino que compreendam os domínios de competência cognitiva, psicomotora e afetiva. Sugere-se o desenvolvimento de novas pesquisas para determinar e implementar estratégias inovadoras e alternativas para ajudar os discentes de enfermagem a utilizarem o pensamento crítico e as habilidades de tomada de decisão clínica (13).

Presume-se que investir esforços na qualificação do ensino na graduação em enfermagem na tentativa de facilitar a compreensão do diagnóstico de enfermagem pode favorecer a sistematização da assistência de enfermagem tendo em vista a formação de enfermeiros mais críticos e reflexivos sobre o cuidar em enfermegem.  Num estudo14 , cujo objetivo foi o de conhecer as percepções de enfermeiras sobre o processo de implantação dos diagnósticos de enfermagem, evidenciou-se que a utilização dos diagnósticos de enfermagem na prática de enfermagem possibilita o aperfeiçoamento e a atualização dos conhecimentos de enfermeiras proporcionando raciocínio clínico e visão crítica sobre a temática. Além disso, permite o registro do trabalho da Enfermagem resultando em maior visibilidade profissional.

Ao descrever as atitudes de enfermeiros e de estudantes de enfermagem frente ao conceito diagnóstico de enfermagem, conclui-se que ser estudante está associado a melhores atitudes frente ao diagnóstico de enfermagem quando comparado a ser enfermeiro formado. Recomenda-se que o diagnóstico de enfermagem deva ser intensamente abordado nos cursos de graduação em enfermagem, pois talvez disso dependa o fortalecimento de sua utilização na prática profissional (15). 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Evidencia-se a complexidade do raciocínio clínico para identificar o diagnóstico de enfermagem e a repercussão que esse tema representa para os enfermeiros por se tratar de um conhecimento que ainda precisa ser consolidado entre os próprios profissionais de enfermagem. Assim como o raciocínio clínico envolvido na identificação do diagnóstico de enfermagem constitui-se num desafio para os enfermeiros, o desenvolvimento de estratégias de ensino que estimulem esse raciocínio desde a sua formação também representa um desafio necessário em busca de melhorias para o exercício de um cuidado humanizado.

O desenvolvimento de habilidades do pensamento crítico, na graduação em enfermagem, direciona para a formação de profissionais mais críticos e reflexivos sobre o processo de cuidar em enfermagem. Trata-se de um incentivo ao profissional a pensar criticamente antes de agir e esclarecer as possíveis causas dos problemas dos pacientes assumindo a responsabilidade pela assistência de enfermagem prestada. Acredita-se que a formação de um enfermeiro crítico deve começar no ensino de enfermagem, de onde se provém a oportunidade para desenvolver atitudes críticas, criativas e transformadoras.

Percebe-se, no cotidiano, certa resistência por parte de alguns enfermeiros quanto à utilização do diagnóstico de enfermagem na prática profissional. No ensino de enfermagem, ainda há um maior interesse dos discentes em execução de técnicas de enfermagem em detrimento de atividades que exijam habilidades críticas, humanísticas e de relacionamento interpessoal. A identificação do diagnóstico de enfermagem constitui-se numa etapa do processo de enfermagem que demanda do discente maior raciocínio, uma vez que ele necessita associar os dados do paciente a fim de identificar o conceito diagnóstico que melhor represente suas necessidades de saúde.

Acredita-se que a identificação de um diagnóstico de enfermagem acurado requer o uso de habilidades de pensamento crítico e lógico e raciocínio clínico para que o conceito diagnóstico selecionado expresse as evidências identificadas com base na história do paciente.  A busca de características que evidenciem um diagnóstico de enfermagem permite ao futuro profissional de enfermagem desenvolver suas capacidades de analisar, avaliar, questionar, argumentar, além de estimular a seleção de cuidados condizentes com as necessidades de saúde do paciente.

Entende-se, portanto, que aplicar o processo de enfermagem quando se cuida de um indivíduo, família ou comunidade não significa seguir etapas rígidas, inflexíveis e generalizadas para todos os indivíduos. Quando se identifica um diagnóstico de enfermagem, é imprescindível uma postura crítica, ética e humanística a fim de compreender e valorizar a individualidade do paciente e suas peculiaridades. Além disso, é preciso levar em consideração o contexto em que ele está inserido para que os cuidados de enfermagem sejam coerentes e proporcionem resultados eficazes.

Dessa maneira, o processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem deve ser pautado em estratégias de ensino que estimulem o uso de habilidades cognitivas de pensamento crítico e lógico e do raciocínio clínico na perspectiva de uma abordagem integralizadora buscando-se identificar diagnósticos de enfermagem que expressem as necessidades de saúde do paciente. 

REFERÊNCIAS

1 Crossetti MGOC. Processo diagnóstico na enfermagem: condições para a tomada de decisão do enfermeiro. Enferm Atual. 2008 Jan-Fev; 8 (44): 45-50.

2 Carvalho EC, Garcia TR. Processo de enfermagem: o raciocínio e julgamento clínico no estabelecimento do diagnóstico de enfermagem. In: III FÓRUM MINEIRO DE ENFERMAGEM, 2002, Uberlândia, Minas Gerais. Anais... Sistematizar o cuidado: Uberlândia: UFU; 2002. p. 29-40.

3 Lunney M. Pensamento crítico e diagnósticos de enfermagem: estudos de caso e análises. Porto Alegre: Artmed; 2004.

4 Almeida MA. Competências e o processo ensino-aprendizagem do diagnóstico de enfermagem: concepções de docentes e discentes. [tese] Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 2002.

5 Corrêa CG. Raciocínio clínico: o desafio do cuidar [tese] São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2003.

6 Bardin L. Análise de conteúdo. 3 ed. Lisboa: Edições 70; 2004.

7 Silva RF, Sá-Chaves I. Formação reflexiva: representações dos professores acerca do uso de portfólio reflexivo na formação de médicos e enfermeiros. Interface – Comunic., Saúde, Educ., 2008. ISSN 1414-3283. ISSN online 1807-5762. 2008.

8 Bittencourt GKGD, Nóbrega MML. Meaning for the professional practice of terms attributed to actions of nursing: a descriptive study. Online braz j of nurs [serial on the Internet]. 2006 [Cited 2008 jun. 13]; 5(3). Available from: http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/article/view/308

9 Potter PA, Perry AG. Fundamentos de enfermagem: conceitos, processo e prática. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997.

10 Lopez M. O processo diagnóstico nas decisões clínicas: ciência, arte, ética. Rio de Janeiro: Revinter; 2001.

11 Scheffer BK, Rubenfeld MG. A concensus statement on critical thinking in nursing. J Nurs Educ. 2000 Nov; 39 (8): 352-59.

12 Cogo AL, Pedro E, Almeida M. Teaching of the Nursing Process in Brazil: literature review from 1996 to 2006. Online braz j of nurs [serial on the Internet]. 2006 [cited 2008 jun. 15]; 5(3). Available from: http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/article/view/542

13 Lima MAC, Cassiani SHB. Pensamento crítico: um enfoque na educação de enfermagem. Rev Latino-Am. Enferm. 2000 Jan; 8 (1): 23-30.

14 Elizalde AC, Almeida MA. Percepções de enfermeiras de um hospital universitário sobre a implantação dos diagnósticos de enfermagem. Rev Gaúcha Enferm. 2006 Dez; 27 (4): 564-74.

15 Oliva APV, Lopes DA, Volpato MP, Hayshi AAM. Atitudes de alunos e enfermeiros frente ao diagnóstico de enfermagem. Acta Paul. Enferm. 2005 Out-Dez; 18 (4): 361-7.

Contribuição dos autores: GKGD Bittencourt: concepção e desenho do estudo; análise e interpretação das teses; pesquisa bibliográfica; escrita do artigo e análise crítica. MGO Crossetti: concepção do estudo; análise e interpretação dos dados; avaliação crítica e aprovação final do artigo. 

Correspondência: Greicy Kelly Gouveia Dias Bittencourt (greicykel@gmail.com) Av Cristóvão Colombo, 4105 apt 902 B - CEP 90560-005 - Porto Alegre – RS – Brasil. Tel (51) 8110-0491