From nursing research to care-taking education:  a case study.

 Da prática de pesquisa à prática de formação para o cuidado de enfermagem: um estudo de caso.

 Lina Márcia Miguéis Berardinelli1; Iraci dos Santos1; Mariana Nepomuceno Giron1; Verônica Cordeiro dos Santos1; Diana da Silva Marinho1.

 

1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

 

ABSTRACT: Introduction: A selection from the project named Promoting Healthy Life Styles and Habits at the UERJ College of Nursing), where the professors departed from the following question: if we contribute to nurses’ education, whose essence is care-taking, can we teach them, while taking care and doing research? Objectives: To discuss care-taking learning-teaching process in the development of the project and analyze how students express the experience of developing research and learning care-taking at the same time. Methodology: Descriptive research of qualitative nature, whose subjects were six students. Data was collected in March 2009 through interviews. The theoretical basis was Paulo Freire’s concepts on education and educational process and Pedro Demo’s concepts on research. Data was submitted to content analysis. The following categories are found in the results: care-taking learning-teaching process, the influences of studying in the learning-teaching process and the experience of learning care-taking and researching through research. The conclusion was that, it is by getting along together, interacting in the same space, researching, teaching and learning, that nursing students learned the care-taking concepts – they went through a transformation process and will certainly help transform other subjects.

Key-words: Nursing education research; Students, nursing; Teaching ; Nursing care

 

RESUMO: Introdução: Recorte do projeto intitulado Promovendo Hábitos e Estilos de Vida Saudáveis na Faculdade de Enfermagem da UERJ, no qual as docentes partiram da seguinte questão: se contribuímos com a formação da enfermeira, cuja essência de sua profissão é o cuidado, podemos ensiná-la cuidando e pesquisando? Objetivos: discutir o processo de ensino-aprendizagem do cuidado no desenvolvimento do projeto e analisar de que maneira os alunos expressam a experiência de desenvolver a pesquisa e aprender o cuidado concomitantemente. Metodologia: Pesquisa descritiva, qualitativa, na modalidade estudo de caso, cujos sujeitos foram seis alunos. Os dados foram coletados em março de 2009 através de entrevista. A fundamentação teórica baseou-se nas concepções de Paulo Freire sobre educação e processo educativo e em Pedro Demo nas concepções de pesquisa. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo. Nos resultados, encontram-se as categorias: processo de ensino-aprendizagem do cuidado, as influências do estudo no processo de ensino-aprendizagem e a experiência de aprender a cuidar e pesquisar através da pesquisa. Concluiu-se que, na convivência, interagindo em um mesmo espaço, pesquisando, ensinando e aprendendo que os alunos de enfermagem internalizaram os conceitos de cuidado, transformando-se, e, certamente, ajudando a transformar outros sujeitos.

Palavras-chave: Pesquisa em educação de enfermagem; Estudantes de enfermagem; Ensino; Cuidados de Enfermagem.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Este trabalho é um recorte do Projeto Cuidando e Promovendo Hábitos e Estilos de Vida Saudáveis na Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FE/UERJ), apoiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ) e desenvolvido por alunos do Proiniciar, um Programa de Cota para Universitários da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a primeira Universidade do Brasil a adotar as cotas como Política de Ação Afirmativa1.

O Projeto Político Pedagógico da FE/UERJ privilegia um currículo essencialmente democrático, resgatando uma prática da cidadania que se pauta em uma educação crítica e reflexiva, que garante o desenvolvimento de atividades com alunos de graduação, ajudando-os na sua permanência, incentivando potencialidades, e empoderamento ao longo da trajetória acadêmica. Desse modo, ajudando-os na sua permanência na universidade.

Inicialmente, realizamos oficinas de educação em saúde com os alunos que faziam parte do Programa Proiniciar, de modo que elas possibilitassem a reflexão sobre hábitos saudáveis de vida2. Dessa maneira, defendemos e garantimos a aproximação dos alunos, provenientes de diferentes cursos de graduação e de diversas áreas de conhecimento à educação, à cultura, à cidadania e ao cuidado, através das ações de saúde. A estratégia da oficina de reflexão sobre Hábitos de Vida Saudáveis procurou estimular os jovens ao aprendizado do cuidado de si, ao conhecimento de si próprio e a transformação de cada indivíduo em agente multiplicador de vida saudável, difundindo cuidado e assegurando a vida dos grupos humanos 2.

Num segundo momento, já com uma proposta voltada para os alunos do Curso de Enfermagem, assumimos o compromisso docente de formação de jovens recém- ingressos no curso de graduação, implicando o desenvolvimento de competências e habilidades inerentes à formação de um profissional habilitado para o desenvolvimento de sua prática, além de potencializar e motivar esses alunos para a pesquisa.

Ora, se contribuímos com a formação da enfermeira, cuja essência de sua profissão é o cuidado, podemos ensiná-la, cuidando e pesquisando? Entendemos que o ambiente de pesquisa, é um espaço privilegiado de diálogo, de compartilhamento, reflexão e debate de idéias, cujas reflexões passam por um processo que inclui análise crítica do tema abordado, posição pessoal sobre a temática em pauta, articulação das idéias com o que se pretende pesquisar e a expressão escrita.  Assim, ao mesmo tempo em que o grupo pesquisador, formado por professores e alunos 3-5, desenvolve a pesquisa, aprende a cuidar e a pesquisar, incorporando conhecimentos da pesquisa e do cuidado, ou seja, enquanto ensinam a outros discentes, possibilitam a reflexão, numa rede social, sobre a própria saúde. O objeto de estudo foca a dimensão educativa nas relações entre pesquisa e cuidado. Objetivamos tanto discutir o processo de ensino-aprendizagem do cuidado no desenvolvimento do projeto Promovendo Hábitos e Estilos de Vida Saudáveis na Faculdade de Enfermagem da UERJ como analisar de que maneira os alunos expressam a sua experiência durante esse processo.

 

METODOLOGIA 

                            Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa, adotando a modalidade de estudo de caso. Essa modalidade de estudo é considerada como o delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto real, onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos 6.

                            Os principais propósitos da utilização do estudo de caso no âmbito das ciências sociais são determinados das seguintes maneiras: explorar situações de vida real cujos limites não estão claramente definidos; preservar o caráter unitário do objeto estudado; descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação, entre outros 6. Sendo assim, é possível estudar uma família ou qualquer outro grupo social um pequeno grupo, uma organização, um conjunto de relações, um papel social, um processo social, uma comunidade, uma nação ou mesmo toda uma cultura.

                            Portanto fundamentamos a modalidade estudo de caso em coerência com o objeto de estudo, focando a dimensão educativa nas relações entre pesquisa e cuidado de um grupo de alunos da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FE/UERJ), caracterizando-a como um conjunto de relações sociais imbricadas nas quais as pesquisadoras se inseriram no contexto para produzir dados no ambiente natural, em interação com os participantes, procurando apreender, com o mínimo de intervenção, os significados por eles atribuídos aos fenômenos estudados.

                            A pesquisa foi desenvolvida na FE/UERJ no período de fevereiro a junho de 2009. Os sujeitos do estudo foram seis acadêmicas de enfermagem, tendo em vista os seguintes critérios de inclusão: alunas participantes do Programa Proiniciar, interessadas no tema e em participar de todas as etapas de desenvolvimento da pesquisa de forma voluntária.

                       O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, atendendo à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde de pesquisas, que envolve seres humanos, sob o protocolo nº 290/05. A participação das acadêmicas no estudo se condicionou à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após a leitura e compreensão dos procedimentos éticos sobre o anonimato, os objetivos, as vantagens e desvantagens quanto à implementação da pesquisa.

                            Os dados foram produzidos através de entrevista semi-estruturada, individual, contendo seis perguntas abertas sobre a prática educativa e ensino-aprendizagem dos participantes.

Após a entrevista, os dados foram transcritos, organizados, distribuídos cronologicamente de acordo com as respostas, classificados e categorizados, segundo o método da análise de conteúdo, visto que este é um conjunto de técnicas de análise de comunicações 7.

                            Essa técnica de análise engloba tanto os conteúdos manifestos que pertencem ao campo objetivo, quanto os latentes, que correspondem àqueles que não estão aparentemente na mensagem, ou seja, estão no campo simbólico.

                            Após a transcrição das entrevistas, realizou-se leitura flutuante, onde se constatou que todas as entrevistas foram pertinentes, ou seja, corresponderam aos objetivos que suscitou a análise. Ao longo da leitura, observamos que os depoentes verbalizaram suas respostas de forma espontânea e clara, o que facilitou as escolhas das unidades de registro. Após a identificação das unidades de registros, os dados foram agrupados por convergência de conteúdo, emergindo três categorias analíticas. Denominou-se a primeira avaliação da efetividade do processo ensino-aprendizagem por meio da pesquisa; intitulou-se a segunda validação e utilização do conhecimento produzido pela pesquisa no campo da prática; versa a terceira sobre a avaliação da estratégia de ensino como significativa à aprendizagem.

             Os dados foram interpretados à luz das concepções sobre ensino/aprendizagem e educação. Nessa linha de raciocínio, buscou-se fundamentação teórica baseada não só na concepção de Homem8, que ensina e aprende nas suas relações cotidianas, como também nas concepções de ensino-aprendizagem e educação9,10  envolvendo a seguinte questão: o homem é um ser de relações, que está no mundo e com o mundo, no qual se insere não como objeto, mas como sujeito da história, que reflete e age sobre a realidade para transformá-la. Nessa dinâmica, busca melhoria de suas condições de vida e, por meio do trabalho, cria, recria e transforma a realidade, num processo contínuo de aprendizagem 9.

                       Quanto às teorias de aprendizagem e desenvolvimento 11, conforme refere à autora, Piaget criou a teoria genética cognitiva propondo que o conhecimento é construído em ambientes naturais de interação social, estruturados culturalmente. Cada aluno constrói seu próprio aprendizado num processo de dentro para fora, baseado em experiências de fundo psicológico. Essas teorias buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender, partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do homem e tentam explicar a relação entre o conhecimento pré-existente e o novo conhecimento 11,12. A aprendizagem não seria apenas inteligência e construção de conhecimento, mas, basicamente, identificação pessoal e relação através da interação entre as pessoas. Assim, a educação tem um trajeto coincidente com o da pesquisa 13. Tanto a pesquisa como a educação envolvem processos complexos de ensino e aprendizagem.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

            Os depoimentos dos participantes mostram a maneira como se articularam as questões educativas da prática da pesquisa articulada à pratica de formação para o cuidado.

               

Avaliando a efetividade do processo de ensino-aprendizagem por meio da pesquisa 

 

                            Essa categoria retrata o consumo da pesquisa como estratégia de ensino, levando o aluno a correlacionar os distúrbios e agravos não transmissíveis com hábitos e estilo de vida, bem como compreender a importância de ações educativas voltadas à promoção da saúde, da população, de sua família e a sua, prevenindo-se de agravos conforme se observa nas falas abaixo:

               

Percebi através da pesquisa que estratégias de promoção da saúde e prevenção de agravos colaboram efetivamente para o não desenvolvimento de algumas doenças, ou então, demoram mais a aparecer.

 

Busquei entendimento sobre os conceitos relacionados ao tema através de leituras e estudos. Desse modo, percebi o quanto precisamos atuar, desenvolvendo metas educacionais com as pessoas.

 

Acredito que nos ajudou a repensar em como ajudar as pessoas a rever seus hábitos e estilos de vida saudáveis.

 

Ajudou a pensar melhor a minha saúde, a saúde da minha família em relação a buscar uma alimentação mais saudável.

 

Passei a compreender o motivo pelo qual grande parte da população está exposta a riscos e agravos crônicos.

 

Consegui entender melhor as relações para o desenvolvimento de uma doença causada por maus hábitos alimentares.

 

                            Esses depoimentos mostram que o ensino-aprendizagem do cuidar por meio da pesquisa exigiu leitura, reflexões, debates, métodos, técnicas e paciência. Considerar esses depoimentos é oportuno, pois reforça o paradigma da determinação social do processo saúde-doença e amplia as possibilidades de propor intervenções nos campos da promoção e proteção da saúde, particularmente nos distúrbios e agravos não transmissíveis, cujos índices de morbimortalidade são crescentes em todo país 14.

                       Verificou-se através da psicologia genético-cognitiva 11,12, que as teorias de Piaget e de Ausubel, as quais consideram a aprendizagem como um processo de conhecimento e compreensão de relações, valorizam as variáveis internas como mediadoras nas interações do organismo humano com o seu meio (quando novas idéias e conceitos são agregados à sua bagagem cognitiva) e incorporam também o conceito de aprendizagem significativa, que pressupõe material ou conteúdo potencialmente significativo a ser aprendido, isto é, que tenha um sentido para o educando e que este tenha disposição positiva para aprender.

                       Nesse sentido, concordamos que a aprendizagem é um processo que pressupõe conflito cognitivo e desenvolvimento do educando, que progride ao questionar suas construções e esquemas cognitivos anteriores pelos quais entendia a realidade 9,10. Esse processo é explicado por dois movimentos: a) o da assimilação - pela integração de objetos ou conhecimentos novos às estruturas construídas anteriormente pelo indivíduo; b) o da acomodação – que compreende a reformulação e/ou elaboração de novas estruturas 10,11

                        Na continuidade desse raciocínio, a efetividade do processo ensino-aprendizagem por meio da pesquisa levanta a possibilidade de “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” 9, a prática de ensinar o cuidado vai preparando os alunos, ratificando alguns conceitos, retificando outros e possibilitando nas relações que ele se transforme em um educador.

 

Validando e utilizando o conhecimento produzido pela pesquisa no campo de prática

 

    Os depoimentos que se seguem significam o momento em que o aluno legitima o conhecimento apreendido nas atividades de pesquisa (teórica) realizadas no campo de prática. A teoria faz sentido na produção do cuidado à saúde, por meio de suas ações fundamentadas pela ciência A validação do conhecimento dos alunos se expressa através dos seus gestos, nas suas formas de agir, ao se deparar com a realidade da prática e ao assumir o lugar do outro.

 

Influenciou em todas as áreas que atuei, desde a rede de atenção até os maiores níveis de complexidade. Nos campos de estágios, onde desenvolvemos nossa prática assistencial, pude orientar os clientes quanto em relação aos hábitos de vida saudáveis e seus benefícios a curto e longo prazo.

 

A construção da prática assistencial se deu quando fui para os campos de prática e me deparei com a realidade de tudo o que tínhamos visto e discutido, confirmando mais ainda a necessidade de uma intervenção primária com os indivíduos mais vulneráveis.

 

Debatemos sobre o autocuidado e meios de prevenção dos agravos à saúde com os colegas e pude perceber o quanto somos vulneráveis para o desenvolvimento de agravos a saúde de acordo com o nosso cotidiano.

 

Percebi que em geral somos muito indisciplinados. Isso me direcionou para a importância da assistência com atividades educativas.

 

Esse estudo me influenciou de tal forma que me fez ver a importância de olhar o indivíduo de maneira holisticamente, não observando somente a doença, mas tendo a preocupação de vê-lo como um todo.

 

Diante dessas falas percebe-se o quanto os depoentes foram se descobrindo e valorizando o aprendizado e o quanto o conhecimento adquirido pode influenciá-los junto às pessoas. Pode-se dizer que, independente da idade, a aprendizagem ocorre por meio de uma série de fenômenos que envolvem: necessidade ou curiosidade, dificuldades, desequilíbrio, motivação, estratégias, equilíbrio pela nova compreensão do(s) fato(s), satisfação, em uma seqüência que se repete à medida que surge(m) novo(s) desafio(s). Torna-se um processo de construção e reconstrução infinito e sucessivamente cada vez mais complexo que agrega estruturas mentais, experiências, informações no intercâmbio do ser humano com o seu meio 15.

Nesse caminhar, os alunos foram aprendendo que, historicamente, o ensino- aprendizagem é possível de acontecer trabalhando maneiras, caminhos e métodos de ensinar. Aprender precedeu a ensinar, em outras palavras, ensinar se diluía na suas próprias experiências de aprender.9       

 

Avaliando a estratégia de ensino como significativa à aprendizagem 

 

Essa última categoria avalia a estratégia de ensino a partir da experiência no desenvolvimento do trabalho e nas ações educativas de ensinar o cuidar através da pesquisa. Os participantes do processo foram unânimes ao afirmarem que o processo foi positivo, rico e estrategicamente bom. A vivência foi um desafio, mas oportunizou conhecimento.

 

                       Aprendi o processo de como se dá o desenvolvimento de uma pesquisa e suas questões metodológicas. Posso dizer que foi uma experiência muito rica. Durante todo o processo da pesquisa eu pude vivenciar a teoria com a prática.

                                         

                       Acredito que a pesquisa foi a melhor estratégia de aprendizagem, pois   através dela adquiri e construí novas conhecimentos, amadurecendo o meu lado profissional.

                       

                       Aprendi estar aberta aos desafios impostos pelo conhecimento na relação com o outro e suas complexidades a fim de tornar-me uma profissional flexível.

 

        Foi uma experiência muito enriquecedora, pois me possibilitou obter novos conhecimentos, como também foi importante para oferecer o melhor atendimento ao cliente (nas aulas práticas).

 

A revelação desses dados teve uma implicação tanto para quem realizou a pesquisa como para quem participou dela, pois é nessa dinâmica interativa, na relação com o outro, que acontece o aprendizado. Além disso, o processo de cuidar implica uma preocupação com a própria saúde, ou seja, primeiro aprende-se a cuidar de si para depois, cuidar do outro, sendo que para isso é preciso construir conhecimentos e relacionar as teorias com a prática para o cuidado mais fundamentado.

Nessas condições, compete ao formador organizar o meio em que o sujeito em formação desenvolve sua ação de modo que novos comportamentos esperados se manifestem e façam parte do seu repertório comportamental. 16. É nesse sentido que a educação tem um trajeto coincidente com o da pesquisa (11). Para o autor, a vida como tal é um espaço naturalmente educativo, à medida que induz à aprendizagem constante e burila a mente das pessoas 13.

Não é difícil compreender essa afirmação porque tanto a educação como a pesquisa envolvem processos complexos de ensino e aprendizagem, preocupam-se com a busca do saber e enfrentam constantes desafios. Além disso, trabalham com contraposição de idéias, métodos de descobertas e análise, utilizam-se da comunicação e se confrontam com modos de agir consolidados.  Preocupam-se, ainda, com a aplicação do saber, com a mudança de atitudes e de comportamento do homem, tendo como objetivo maior a transformação da realidade para a melhoria da qualidade de vida.

Nesse sentido, considerando a coerência do cuidar/educar-educar/cuidar, quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender, tanto mais se constrói e se desenvolve o que se denomina de “curiosidade epistemológica” 9 isso porque o ensino deve ser visto não apenas como uma tarefa de aprender, mas como possibilidade para o desenvolvimento da curiosidade de aprender e isso torna o educando, cada vez mais criador.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

    Conclui-se que, na convivência, interagindo em um mesmo espaço, pesquisando, ensinando e aprendendo os graduandos de enfermagem aprenderam os conceitos de cuidado, se transformaram e certamente ajudarão a transformar outros sujeitos. A aprendizagem no Projeto Promovendo Hábitos e Estilos de Vida Saudáveis na Faculdade de Enfermagem da UERJ, que integra o Proiniciar, ocorreu de forma processual, permeado de significados, sensações e sentimentos positivos, num clima alegre, dinâmico e de muitas descobertas.

    As descobertas de similaridade de idéias, formas de pensar, de agir e de muitos significados para as práticas de cuidado foram reveladas pelos depoimentos, pelo fato da ligação do tema às atividades acadêmicas que aconteciam concomitantemente. Além disso, a proposta do estudo estava de acordo com as necessidades e desejos dos alunos. Essa convergência transformou o trabalho em uma prática motivadora para o desenvolvimento do projeto, para pesquisar e para aprender o cuidado.

    Os alunos aprenderam a questionar, a se questionar e a levantar as questões de promoção da saúde com outros colegas de turma, entendendo o que acontece no cotidiano das pessoas e o que eles podem e devem fazer para contribuir com a saúde de sua família e nas ações educativas em seu entorno.

    O grupo foi comprometido, atuante, envolvente e soube tirar proveito de todas as situações desafiadoras, demonstrando força, sagacidade. Apesar de serem jovens, possuem maturidade e garra para vencer os obstáculos, pois em nenhum momento esmoreceram.

    Nesse contexto, os alunos conseguiram aliar a prática à teoria, refletindo, errando, acertando, uns ajudando os outros, construindo laços de amizades, de companheirismo, de solidariedade e, sobretudo, aplicando o conhecimento junto às pessoas com a preocupação de cuidar do outro de forma abrangente, associando com a maneira de ver o mundo, o homem e a vida em si como indivíduos únicos e intimamente associados.

 A revelação dos dados traz a cena, a forma de incentivar e potencializar a pesquisa junto à formação dos alunos na construção do conhecimento científico, sendo de particular relevância para aqueles com potencialidade e que precisam vencer desafios essenciais do sistema educacional como um todo. Potencialidades que são indispensáveis a todos os cidadãos e futuros profissionais trabalhadores, que necessitam aprender a aprender e, a saber, pensar, para intervirem de modo inovador, para além da aprendizagem em sala de aula. Além disso, uma relevância do estudo refere-se a demonstração da exequibilidade do educar/cuidar/pesquisar concomitantemente.

 

REFERÊNCIAS

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8. Boff L. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis: Vozes; 1997.

9. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra;1997.  

10. Freire P. Educação e mudança. 10ªed. São Paulo: Paz e Terra; 1985.

11. Parreiras COM. A aprendizagem na Teoria Psicológica Genético-Cognitiva de Piaget e Vygotski. Disponível em: http://www.geocities.com/celitaparreiras/genecog.htm, acesso em 04-07-09.

12. Ausubel DP. Novak, JD; Hanesian, H. 1980. O significado e a aprendizagem significativa. In: DP. Ausubel DP; Novak JD e Hanesian H.(org.). Psicología educacional. Rio de Janeiro: Interamericana; 1980

13. Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas: Autores Associados;1996.

14. Marcolino C, Santos L. Hypertension and Health Promotion: a qualitative study. Online Brazilian Journal of Nursing, North America, 8, jul. 2009. Available at: http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/article/view/j.1676-4285.2009.2281. Date accessed: 05 Oct. 2009.

15. Xavier OS. Ensinando e aprendendo pela pesquisa.São Paulo: UNIrevista .2006; 1(2).

16. Gómez AP. O pensamento prático do professor: a formação do professor como profissional reflexivo. In: Nóvoa A. (org.), Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, p. 93-114;1995.

 

Contribuição dos autores: Concepção e desenho: Lina Márcia Miguéis Berardinelli. Revisão Bibliográfica - Mariana N. Giron, Verônica dos Santos e Diana Marinho – Produção dos dados: Lina Márcia M. Berardinelli e Iraci dos Santos – Colaboração na organização dos dados: Mariana N. Giron, Verônica dos Santos e Diana Marinho. Análise de Conteúdo e categorização da temática: Mariana N. Giron, Verônica dos Santos e Diana Marinho. Análise e interpretação dos dados: Lina Márcia M. Berardinelli, Iraci dos Santos - Escrita do artigo: Lina Márcia Miguéis Berardinelli. Revisão Crítica do artigo: Iraci dos Santos e Lina Márcia M. Berardinelli – Aprovação final do artigo: Lina Márcia Miguéis Berardinelli e Iraci dos Santos.

Endereço para correspondência: Lina Márcia M. Berardinelli – Rua: Homem de Melo, Nº 55, Aptº 302, Bl.2. –Tijuca, Rio de Janeiro – Cep: 20510-180.