Quality of life of patients with heart failure: a quantitative study.
Qualidade de vida de clientes com insuficiência cardíaca: um estudo quantitativo.

 Liana Amorim Corrêa 1,2; Iraci dos Santos1; Ricardo Mourilhe Rocha1; Bernardo Rangel Tura2; Denilson Campos de Albuquerque1.

1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de janeiro, Brasil. 2 Instituto Nacional de Cardiologia, Rio de Janeiro, Brasil.

 Abstract. Introduction: Heart failure is a syndrome that affect 10 individuals in 1000 after 65 years old in the United States of America. It is considered the final way of all cardiologic diseases and is estimated to be the first cause of death in the world around 2025. Some studies point to poor quality of life in clients with this syndrome. Objective: This study sought to verify the contribution of nursing care based on sensitive listening contributes to improvement quality of life in heart failures clients. Method: It was a prospective quasi-experimental study that used the Minnesota questionnaire to evaluate the quality of life of heart failure  clients. Results: We observed a significant improvement of quality of life after 4 months of nursing care follow-up (20.8±18.1 vs. 32.9± 20.1 p <0.001) corroborating this finding to other found in previous studies. Conclusion: We concluded that the implementation of a technology that focuses the subject during nursing care has been shown to be effective and  improving health and quality of life of patients with heart failure.

Keywords: Nursing, quality of life, heart failure, chronic disease. 

Resumo. Introdução: A insuficiência Cardíaca é uma síndrome que acomete 10 indivíduos, em cada 1000, após os 65 anos de idade nos Estados Unidos da América.  Ela é considerada a via final de todas as doenças cardíacas e estima-se que será a primeira causa mortis no mundo em torno de 2025. Estudos apontam para má qualidade de vida dos clientes com esta síndrome. Objetivo: Neste estudo buscou-se verificar se a consulta de enfermagem baseada na escuta sensível contribui para melhora na qualidade de vida de clientes com insuficiência cardíaca. Metodologia: Optou-se por trabalhar com o método quantitativo, prospectivo, com delineamento anterior-posterior, utilizando o questionário de Minnesota (MLwHF) para mensurar a qualidade de vida.  Resultados: Observou-se melhora significativa da qualidade de vida após o acompanhamento de enfermagem em um período de 4 meses (20.8±18.1 vs. 32.9± 20.1 p <0.001), corroborando estes achados com outros estudos já realizados Conclusão: A implementação de uma tecnologia que privilegia a integralidade do sujeito durante a consulta de enfermagem se mostra eficaz na busca pela melhoria do atendimento em enfermagem, automaticamente propiciando saúde e qualidade de vida para os clientes.

Palavras-chave: Enfermagem, qualidade de vida, insuficiência cardíaca, doença crônica. 

INTRODUÇÃO 

A insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome que acomete 10 indivíduos, em cada 1000, após os 65 anos de idade nos Estados Unidos da América (USA)1. Ela é considerada a via final de todas as doenças cardíacas e estima-se que será a primeira causa mortis no mundo em torno de 2025.

A ocorrência desta síndrome, de acordo com a literatura, pode ter sua origem em causas primárias (distúrbio na contração muscular devido a uma anormalidade primária do músculo cardíaco, como ocorre nas miocardiopatias e miocardites viróticas) ou secundárias (por exemplo, a aterosclerose coronariana que causa isquemia e infarto do miocárdio, assim como, as patologias das válvulas cardíacas, hipertensão arterial sistêmica, entre outras). As manifestações clínicas mais freqüentes são: dispnéia, ortopnéias, dispnéia paroxística (noturna), respiração de Cheyne Stokes, fadiga, fraqueza, sintomas abdominais e, principalmente em idosos, sintomas cerebrais2.

A prevalência desta síndrome nos países desenvolvidos é de 1 a 2% da população, podendo chegar a 4,5% nos idosos. Esta taxa vem crescendo desde a década de 70, apesar dos avanços da medicina, principalmente na área farmacológica. No Brasil, de acordo com os dados do DATASUS em 2006, foram realizados aproximadamente 11,3 milhões de internações. Destas 298.380 foram admissões por IC, correspondendo a 26% de todas as hospitalizações por doença cardiovasculares3. Além disso, observa-se que a IC apresenta maior mortalidade do que muitas modalidades de câncer (bexiga, mama e próstata), perdendo apenas para o câncer de pulmão. Nos USA, sabe-se que o custo direto e indireto com IC gira em torno de 37 bilhões de dólares ao ano1.

A morte por IC é caracterizada principalmente pela pouca aderência ao tratamento proposto, a falta de controle dos sintomas, os altos níveis de depressão e baixa qualidade de vida4.

Para acompanhar esta clientela que cresce expressivamente em números no Brasil e principalmente no Rio de Janeiro são desenvolvidos trabalhos de pesquisa clínica por profissionais de saúde, na Clínica de Insuficiência Cardíaca do Centro de Estudos Cardiovasculares (CECAPE), pertencente ao serviço de Cardiologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE/UERJ). Neste local, além do desenvolvimento de estudos multicêntricos, inclusive com hipóteses de tratamento, também é realizado o acompanhamento ambulatorial de clientes com doenças cardíacas, em sua maioria com Insuficiência Cardíaca.

Nesse local foi possível desenvolver o cuidar/pesquisar proposto por Santos5  que considera o cotidiano do fazer profissional como o laboratório vivo que interliga o saber à prática. Assim, aliou-se a pesquisa à prática, cuja   pesquisa aqui relatada referiu-se à implementação da consulta de enfermagem baseada na escuta sensível de Barbier6. Neste trabalho, por meio desta, relata-se e compara-se seu efeito como uma tecnologia contribuinte para a qualidade de vida do cliente.

Então, a partir da convivência com os usuários da clínica de IC e após observações contínuas, nas quais detectou-se  que estes apresentavam um alto percentual de descompensação no seu equilíbrio psicobiológico7, devido a essa doença, foi formulado o problema de pesquisa: qual é a contribuição da consulta de enfermagem baseada na escuta sensível, na continuidade do cliente em tratamento ambulatorial para insuficiência cardíaca e a sua consequente qualidade de vida?

Ressalta-se que esta pesquisa é um recorte da dissertação de mestrado intitulada Qualidade de vida de clientes em consulta de enfermagem: estudo comparativo em uma clínica de insuficiência cardíaca,8 onde a autora principal deste artigo foi bolsista de pesquisa no período de seu desenvolvimento através do Programa de Apoio Técnico as Atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão (PROATEC) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

 

REFERENCIAL TEÓRICO

 

A enfermagem possui papel chave no acompanhamento dos clientes com IC, pois contribui de forma holística para a educação em saúde, visando esclarecer o processo de saúde/doença e a importância da manutenção do tratamento, incidindo na  sua qualidade de vida. O enfoque da consulta de enfermagem, neste trabalho, considera principalmente a  configuração de um espaço no qual o cuidar em enfermagem possa  se desenvolver mediante uma tecnologia criadora que privilegie a subjetividade, o lazer, a espiritualidade, o ambiente, o estilo de vida do cliente como fatores direcionadores para realização de um diagnóstico de enfermagem e elaboração de um plano de cuidados mais aderente a cada realidade específica 9.

       Quanto à Qualidade de Vida (QV), apesar de não haver um consenso sobre esta expressão entre os pesquisadores que estudam este tema, admite-se existir  concordância nas características abordadas: subjetividade, multidimensionalidade e presença de posições positivas e negativas10. O grupo de estudos da Organização Mundial de Saúde (THE WHOQOL GROUP) (OMS) define QV como a percepção do individuo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações10.  Após a leitura desta definição, percebe-se que a QV deve ser ajustada de acordo com o contexto vivido e a capacidade de adaptação de cada indivíduo frente às mudanças.

         Estudar qualidade de vida de clientes com doenças crônicas é algo que já vem ocorrendo há alguns anos, pois estes adquirem condições objetivas e subjetivas de vida e de relacionamento com sua família que tendem a melhorar ou piorar  o seu estado de saúde. O interesse, neste caso, é dimensionar se os avanços na área de tratamento/acompanhamento desses indivíduos contribuem para a melhora do seu bem estar físico e também dos outros que completam o ser como uma figura ativa na sociedade. Os profissionais da área da saúde conseguem influenciar diretamente sobre as condições de morbidade. Portanto, avaliar a percepção do cliente sobre como se configuram as intervenções de saúde, seja no tratamento dos agravos como na prevenção dos mesmos, é algo que ajuda a nortear as condutas e verificar a eficácia do trabalho.

 

A consulta de enfermagem apoiada na escuta sensível de Barbier

 

A consulta de enfermagem é uma atividade que proporciona ao enfermeiro condições para atuar de forma direta e independente com o cliente. Ela operacionaliza a prática profissional ambulatorial, pois é o instrumento para efetivação do processo de enfermagem. Vê-se que, além de se caracterizar como instrumento metodológico e tecnológico para o cuidar11, a consulta de enfermagem confere ao enfermeiro uma prática na qual o profissional pode delimitar seu fazer específico, utilizando sua competência e habilidades na interação com o ser humano. Releva-se que a autonomia do enfermeiro para realizar esta atividade encontra-se regulamentada na Lei n. 7.498/8612 do Conselho Regional de Enfermagem, que formalizou uma prática implementada desde 1925, a qual era reconhecida na comunidade da área da saúde como entrevista pós-clínica.

Acredita-se que a realização da consulta de enfermagem, com enfoque na escuta sensível de Barbier6, ajuda a identificar e compreender os fatores estressantes que afetam o cliente contribuindo para melhor definir as intervenções necessárias. Para praticarmos a escuta sensível, devemos reconhecer a pessoa em seu ser e aceitar deixar-se surpreender pelo desconhecido. A escuta sensível é um escutar/ver que se apóia na empatia, onde o pesquisador deve saber sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro e buscar no íntimo as atitudes, o sistema de idéias, de valores, de símbolos e mitos6. Portanto, é necessária uma relação estável de confiança mútua, onde até mesmo o silêncio do cliente torna-se o momento de desabafo de suas preocupações mais íntimas.

Ressalte-se que nesta pesquisa, apropriando-se deste conceito, o momento da consulta transformou-se; uma vez que propiciou um cuidar libertador, estabelecendo uma relação dialógica onde o respeito mútuo, entre cliente e profissional, foi tido como essencial e os saberes populares e científicos foram considerados. Portanto, o cuidar/pesquisar na modalidade de consulta de enfermagem baseada na escuta sensível como instrumento metodológico e tecnológico privilegia o “escutar/ver” apoiado na empatia, haja vista sua fundamentação na escuta sensível. Assim, a relação enfermeiro/cliente é estável, caracterizada pela confiança mútua. Neste caso, a apreciação do silêncio possibilita o desabafo do cliente.

Para desenvolver esta relação, à enfermeira é requerido abertura holística, pois  trata-se de uma relação de totalidade com o outro, da utilização dos sentidos corporais como instrumento de trabalho13. Durante a consulta, a enfermeira deve saber sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do cliente e buscar no íntimo as atitudes, o sistema de idéias, de valores, de símbolos e mitos. Recomenda-se ao ouvinte sensível um estado meditativo, de hipervigilância, o qual nada mais é, do que simplesmente a plena consciência de se estar com aquilo que é6.

Desse modo, a abordagem metodológica e tecnológica aos clientes com insuficiência cardíaca, na consulta de enfermagem baseada na escuta sensível considerou os três tipos de escuta: científico-clínica, poético-existencial e espiritual-filosófica.

Justifica-se a escolha da escuta sensível como um diferencial para implementar a consulta da enfermagem a partir da similitude do cuidar/pesquisar com a pesquisa-ação6. Para maior entendimento de como é aplicada a escuta sensível, cita-se o conceito de ser humano: “é uma totalidade dinâmica, biológica, psicológica, social, cultural, cósmica, indissociável”6. Desse modo, acredita-se que, para entender a integralidade do cliente, é preciso percebê-la nas dimensões que a compõem, ou seja, escutá-la a partir dele próprio, ouvir a expressão do seu silêncio sobre coisas quando ele não consegue se expressar por escrito ou oralmente.

 

METODOLOGIA

 

            Escolheu-se a abordagem quantitativa, prospectiva, por meio do método quase-experimental com delineamento anterior-posterior. Esse método tem sido usado na enfermagem para avaliar uma intervenção específica desta área do conhecimento14. Neste trabalho ele abrangeu a testagem de um novo procedimento clínico (consulta de enfermagem baseada na escuta sensível) que, por hipótese, melhoraria os resultados biofisiológicos, psicossociais e psicoespirtuais dos clientes, componentes de sua qualidade de vida.

Foram selecionados dois grupos de pesquisa: controle e intervenção. O grupo controle recebeu acompanhamento através de consultas de enfermagem, aplicando a escuta sensível de Barbier uma vez por mês e para o grupo intervenção, além destas, foi estabelecido contato telefônico semanal, a fim de firmar o pacto realizado e obter informações sobre o estado de saúde do cliente e o seguimento das orientações recebidas durante a consulta. Optou-se por ambos os grupos receberem a principal intervenção, os diferenciando pelo contato telefônico semanal (intervenção secundária), por entender que assim o fazendo não quebraríamos dois princípios fundamentais da bioética que são a não maleficiência e a beneficiência. Salienta-se que os contatos telefônicos realizados, também foram orientados pela escuta sensível de Barbier.

 A randomização foi aleatória simples e ocorreu após a seleção dos sujeitos. O período da intervenção foi compreendido entre os meses de março a agosto de 2006.

Contemplando o delineamento anterior/posterior, aplicou-se nas consultas baseline e 4ª (última) o Minnesota living with heart failure® questionnaire que avaliou os indicadores de qualidade de vida antes do início do follow-up e no final do mesmo. A escolha deste questionário se deu por ser uma ferramenta específica de medição de indicadores de qualidade de vida de clientes com IC. O questionário foi desenvolvido pelo pesquisador Thomas S. Rector, em 1984, na Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. No Brasil foi traduzido e validado por Carrara 15 e compõe-se de 21 questões com enfoque nas dimensões física, emocional e sócio-econômica, visando mensurar os efeitos da IC na qualidade de vida dos clientes. O questionário utiliza a escala de Likert de seis pontos (de zero a cinco), sendo o maior escore indicativo de pior qualidade de vida. O escore total é obtido por meio da soma das 21 questões, totalizando de 0 a 105 pontos. Quanto maior o número de pontos obtidos, maior descompensação em relação à doença e como ela pode repercutir na vida diária do cliente.

 

São variáveis do estudo:

Independentes – idade, sexo, cor, estado civil e classe funcional.

Intervenientes - a consulta de enfermagem baseada na escuta sensível e os contatos telefônicos semanais;

Dependente - o efeito das consultas de enfermagem aos clientes da clínica de IC avaliado através da aplicação do Minnesota living with heart failure® questionnaire. (Este avaliou os indicadores de qualidade de vida, no início e término do seguimento das consultas).  

Sujeitos da pesquisa e estratégia para produção de dados 

De uma amostra de 350 clientes cadastrados na clínica de IC do Serviço de Cardiologia do HUPE/UERJ, foram analisados 264 prontuários de clientes que freqüentavam regularmente este serviço. Foram selecionados e convidados a participar do estudo 54 clientes com insuficiência cardíaca em classe funcional I a III da New York Heart Association (NYHA). Os sujeitos  foram contactados mediante ligações telefônicas, tendo-se agendado as primeiras consultas de enfermagem de acordo com a disponibilidade do próprio.

Esses clientes foram admitidos no protocolo de pesquisa no período de 15/03/2006 a 16/05/2006, sendo a amostra composta por 50 clientes no total (4 não aceitaram o convite para participar)  e determinada para análise em 14/08/2006.

Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: ter IC de qualquer etiologia em classe funcional da NYHA I, II, ou III; sem condição de gravidade impedindo a participação no estudo (déficit cognitivo, problemas relacionados com a fala e audição e problemas locomotores);  ambos os sexos; idade > 18 anos; possuir contato telefônico disponível para efetuar e receber chamadas; estar em uso de pelo menos 85% da medicação prescrita; ter condições de assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com capacidade de compreensão preservada e o único critério de exclusão utilizado no processo de seleção foi: não comparecer a consulta médica há mais de 1 ano. Em relação à raça/etnia o próprio sujeito se auto classificava em relação a sua cor de pele. Como classificação dos resultados, preferimos utilizar dos termos não branco e branco para classificar os sujeitos.

A randomização foi aleatória e a distribuição dos sujeitos nos grupos de controle (Grupo I) ou intervenção (Grupo II) foi realizada por meio do sorteio dos números pré-recebidos pelos clientes, após o agendamento da 1ª consulta. Durante a coleta dos dados, dois integrantes  faleceram, e assim 48 clientes participaram da pesquisa até o término do estudo.

Foram planejadas 200 consultas de enfermagem, sendo realizadas 177 devido à faltas e óbitos. Para o grupo II, entre as consultas foram realizados os contatos telefônicos. Foram efetuados 225 contatos telefônicos em nove semanas (um contato semanal por cliente). Ressalte-se que as consultas foram desenvolvidas em data e horário diferentes das consultas médicas, visando estimular uma maior interação do enfermeiro com os clientes, condição indispensável para desenvolver a teoria da escuta sensível.

A investigação foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do  HUPE/UERJ,  Protocolo nº 1324, cumprindo-se as exigências da Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. Os sujeitos assinaram o TCLE após  conhecerem os objetivos, procedimentos de pesquisa e seus riscos e benefícios. Destaca-se que o CEP aprovou sua nomeação em relatório e nas decorrentes publicações  da investigação.

A análise estatística utilizada considerou as variáveis contínuas com média (mínimo-máximo) e desvio padrão que foram representadas por gráficos de boxplot.  Para fins de análise, foi considerado um valor de p < 0,05 como estatisticamente significativo. Para análise univariada, foram utilizados os testes de hipóteses T de Student, qui-quadrado e exato de Fisher.

            Recorda-se, que os escores do questionário de Minnesota são constituídos dos números 0 a 5. Esses números são atribuídos a todas as perguntas realizadas. Durante a aplicação do questionário é dada ao cliente a oportunidade de atribuir um número a cada pergunta como resposta. Isso reflete o grau de comprometimento do cliente (sua qualidade de vida) em relação àquela questão. Ao final do questionário, esses números dados como respostas são somados e assim é gerado o escore final total do questionário. Desta forma, foi avaliada a diferença entre os escores totais dos questionários aplicados na primeira e última consulta de enfermagem realizadas aos clientes. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Neste estudo as variáveis independente identificadas se dispuseram desta forma: a idade média encontrada no grupo Controle foi de 60,5 ± 11,7 e no grupo Intervenção a idade média foi 61,5 ±12,4 (p=0,76), tendo esta variável uma diferença não significativa . Em relação ao sexo, houve 56% de mulheres no grupo intervenção e 24% no grupo controle, conseqüentemente a presença do sexo masculino foi identificada com 44% no grupo intervenção e 76% no grupo controle, com (p=0,021). 90% dos nossos clientes se encontravam em classe funcional I ou II da NYHA (p = 0,4622). Quanto ao estado civil optou-se classificar em os que moravam acompanhados de familiares ou sozinhos, e 66% moravam em companhia de alguém enquanto 44% viviam sozinhos (p=0,103). Inexistiu diferença significativa relacionada a variável cor entre os grupos Intervenção e Controle (p=0,102). Porém nota-se que a população não branca representa a maioria com 54% do total frente à branca com 46%.

Com o avançar da idade, a IC torna-se um problema igual para todas as raças e sexos16. Isto corrobora com os dados encontrados sobre a cor, já que a proporção diferencial entre não brancos e brancos é inexpressiva.         

Contemplando o objetivo principal desta pesquisa, são apresentados os resultados sobre a aplicação do questionário Minnesota nos momentos inicial e final da implementação da consulta de enfermagem orientada pela tecnologia da escuta sensível. Quando analisamos a população total, o score da consulta final foi menor que o score da primeira consulta. (20,8 ± 18,1 vs 32, 9 ± 20,1 com  p<0,001). (ver figura 1).

 

Pode-se observar nesta figura 1 que houve uma melhora dos escores variando de 12 a 2 pontos entre o início do follow-up e o término. Releva-se, que a amostra total da presente investigação compõe-se de 48 clientes.

Quando comparados os grupos foi evidenciado o seguinte resultado:

Na figura 2 ressaltam-se as diferenças do escore mediante a amostra dos grupos Controle (36,4 ± 21,1 vs 24 ± 20.9 com p < 0,001) e Intervenção (29,4 ± 18,9 vs 17,7 ± 14,6 com p < 0,001). Sendo que no grupo Controle, houve uma melhora variando de 12 a zero ponto e no grupo Intervenção de 12 a quatro pontos (Figura 2). Constatando-se então, que houve melhora na qualidade de vida de todos os clientes, não havendo diferença estatística entre os grupos.

Visualizando a figura 2, nota-se que  a variação dos escores do questionário da consulta final do grupo Controle é muito próxima a do grupo Intervenção na primeira consulta. Releva-se que a variação máxima do grupo Intervenção se distancia muito mais entre as consultas que a do grupo Controle, assim como a variação máxima da consulta final no grupo Intervenção é igual à média da consulta inicial no grupo controle. O fato evidencia que, mesmo sem diferença estatística significante, a probabilidade de ter havido melhora no grupo Intervenção é maior que no grupo Controle. Também na figura 2, observa-se que no grupo Intervenção existe um maior número de sujeitos que possuem escores menores na consulta final. Devido ao grande número de intervenções de enfermagem realizadas para alcançar o objetivo de melhora na qualidade de vida destes pacientes, sugere-se a leitura da dissertação de mestrado que originou este artigo8.

Corroborando com os dados demonstrados nesta pesquisa, foram encontrados estudos, majoritariamente, norte-americanos, relatando melhora na qualidade de vida de clientes com IC e quando acompanhados por enfermeiros ambulatorialmente(17-21). No entanto, nestes artigos não foram mencionados a tecnologia da escuta sensível. Tais estudos utilizaram do desfecho qualidade de vida e alguns também usaram o Minnesota living with heart failure® questionnaire. O período de acompanhamento utilizado para mensurar a possível melhora na qualidade de vida dos clientes variaram entre três meses, seis meses ou doze meses comparados ao início do acompanhamento de enfermagem.

DeWalt e colaboradores demonstraram em sua pesquisa que clientes de baixa escolaridade que recebiam um livreto explicativo sobre o manejo de sua doença associado a uma sessão educacional particularizada com o enfermeiro, após três meses de acompanhamento tiveram uma melhora de 9.9 pontos no questionário de Minnesota 17. Já Riegel et al, conclui em seu trabalho que a qualidade de vida é similar em homens e mulheres que possuem a mesma classe funcional, idade, fração de ejeção e estado civil, 19 o que corrobora ao nosso estudo que também não apresentou diferenças significativas nestas variáveis.

Em relação ao uso do contato telefônico, orientado pela escuta sensível, para otimização do atendimento de enfermagem ao cliente com IC, ele tem se mostrado um instrumento satisfatório, que aliado a outros tipos de orientação aos clientes com IC consegue promover melhores desfechos no decorrer do tempo de acompanhamento (22,23). No estudo supracitado de DeWalt e colaboradores, também foram utilizados contatos telefônicos durante o acompanhamento e segundo os autores este também foi um fator determinante na qualidade de vida destes clientes 17. Wheeler EC, Waterhouse JK mostraram em seu estudo que a realização de contatos telefônicos diminuíram os desfecho reinternação hospitalar em 35% de clientes com IC, sendo que os que não receberam este tipo de contato diminuíram este desfecho em apenas 13% 23.       

CONCLUSÃO 

Constataram-se nesta pesquisa que os resultados obtidos a respeito da qualidade de vida de clientes com IC em tratamento ambulatorial, parecem ser precursores quando limitados a enfermagem brasileira. Neste estudo avaliou-se a QV antes e após o acompanhamento de enfermagem através da consulta de enfermagem, orientada pela tecnologia da escuta sensível,  demonstrando-se que a sua influência é significativa estatisticamente junto aos clientes com IC.

Assim como, Hershberger e colaboradores21 verificaram que o modelo de assistência focado em enfermeiras na orientação de cuidados primários para pacientes com IC mostrou-se viável e bem sucedido, quando avaliados desfechos como qualidade de vida, hospitalizações por todas as causas e visitas a emergência, concluiu-se pela validade do cuidar em saúde e enfermagem que quando se implementa a consulta de enfermagem de forma metodológica e tecnológica, apropriando-se de uma teoria que privilegia a integralidade do cliente, é possível propor intervenções terapêuticas que atuem na qualidade de vida. A partir desse contexto, evidencia-se a importância desta investigação e a influência que poderá ter em outras  pesquisas que surgirão na área de saúde e enfermagem brasileira.

           Apesar de se admitir as limitações existentes, principalmente em relação ao tamanho da amostra, salienta-se a importância dos achados científicos, pois  acredita-se que a consulta de enfermagem baseada na escuta sensível de Barbier foi um elemento diferencial para obtenção dos resultados sobre a qualidade de vida. Foi evidenciada a melhoria de ambos os grupos estudados, sendo que no grupo Intervenção adicionando-se, também, a estratégia de abordar o cliente, através de ligações telefônicas semanais baseadas na escuta sensível, demonstrou um maior número de sujeitos com acréscimo nos escores do Minnesota living with heart failure® questionnaire.  

Foi possível verificar que o Minnesota living with heart failure® questionnaire (um instrumento destinado a clientes com IC) atende às questões relacionadas a essa doença de forma abrangente. Sugeriu-se ainda, que no campo da pesquisa houvesse a institucionalização da consulta de enfermagem, uma vez que ela se mostrou eficaz no acompanhamento do cliente, sendo fundamental o treinamento dos enfermeiros para aplicar a escuta sensível no atendimento ao cliente. Como contribuição do estudo ressalta-se que esta atividade privativa do enfermeiro mediante a tecnologia da escuta sensível abre espaço para que este profissional desenvolva com propriedade a sistematização da assistência, identificando diagnósticos, implementando intervenções e avaliando os resultados dos cuidados ao cliente. Desse modo, evita-se a realização das pré e pós consultas médicas geralmente realizadas no acompanhamento ambulatorial.

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Contribuição dos Autores: Concepção e desenho: Liana Amorim Corrêa, Iraci dos Santos, Denilson Campos de Albuquerque – Análise e interpretação: Liana Amorim Corrêa, Iraci dos Santos, Denilson Campos de Albuquerque - Escrita do artigo: Liana Amorim Corrêa – Revisão Crítica do artigo: Iraci dos Santos, Ricardo Mourilhe Rocha, Denilson Campos de Albuquerque – Expertise Estatística: Bernardo Rangel Tura - Aprovação final do artigo: Ricardo Mourilhe Rocha, Iraci dos Santos, Denilson Campos de Albuquerque.

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