Adolescents' perception on environmental health: research-action in school space

Percepção de adolescentes acerca da saúde ambiental: pesquisa-ação no espaço escolar

Eveline Pinheiro Beserra 1, Maria Dalva Santos Alves 1, Maria Raquel Rigotto 1

1 Universidade Federal do Ceará, CE, Brasil

Abstract: Problem: Environmental conscience needs spaces of reflection on health. Objective: To know, in school space, the adolescents' perception on environmental health. Method: This is a descriptive-exploratory study with qualitative approach carried out a Fundamental Education School of a municipal district of Ceará-Brazil with seventeen adolescents in March 2009. The instruments and procedures used were observation, field diary, tape recorder and group approach. In the group approach the students elaborated music lyrics, parodies or poems. The data analysis was based on the discursive practices. Results: Nurses interfere at the school performing actions related to environmental education in a space of debate and collective growth with adolescents, in other words, they raise in people the responsibility with nature and the concern with new relations committed with the environment. In this research-action it was observed that nurses can be environmental educators, interfering in this area to provide the groups discussions contextualized to their reality, favoring reflections on relations committed with the socio-environmental. Conclusion: It was verified that is necessary to use different collection methods to explore the group technique, because it allows a mutual exchange through the dialogue among adolescents.    

Keywords: Environmental Health. Nursing. Health Education. 

Resumo: Problema: A consciência ambiental necessita de espaços de reflexão sobre saúde. Objetivo: Conhecer, no espaço escolar, a percepção de adolescentes acerca da saúde ambiental. Método: Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, com abordagem qualitativa, realizado numa Escola de Ensino Fundamental de um município do Ceará com dezessete adolescentes em março de 2009. Os instrumentos e procedimentos que foram utilizados foi observação, diário de campo, gravador e abordagem grupal. Nesta foi elaborada letras de músicas, paródias ou poemas pelos alunos. A análise dos dados foi baseada nas práticas discursivas. Resultados: O enfermeiro insere-se na escola efetuando ações relacionadas à educação ambiental num espaço de debate e crescimento coletivo com adolescentes, ou seja, faz despertar nas pessoas a responsabilidade com a natureza e preocupação com novas relações comprometidas com o meio ambiente. Nessa pesquisa-ação, observou-se que o enfermeiro pode ser um educador ambiental, inserir-se nesse espaço para proporcionar aos grupos discussões contextualizadas à realidade deles, favorecendo reflexões sobre relações comprometidas com o socio-ambiental. Conclusão: Constatou-se que é necessário utilizar diferentes métodos de coleta para explorar a técnica grupal, pois permite uma troca mútua pelo estabelecimento do diálogo entre adolescentes.

Palavras-chave: Saúde Ambiental. Enfermagem. Educação em Saúde. 

Introdução

O enfermeiro tem como alicerce o cuidado. Este se direciona ao bem-estar do indivíduo, sendo que, nos últimos anos, houve um considerável avanço na organização dos modelos conceituais de Enfermagem, quando foram discutidos aspectos comuns, que são essenciais à prática do enfermeiro, focalizados no ser humano, no ambiente e na saúde 1.

Neste contexto, os enfermeiros desenvolvem o papel sanitário na comunidade, a fim de encontrar um equilíbrio na realização de ações de Promoção da Saúde, sendo valiosa a compreensão dessas ações nos cuidados de saúde primários 2, logo, em razão dessa atuação, torna-se necessário refletir sobre a inserção do enfermeiro nesse campo por meio de atividades educativas na saúde ambiental.

A educação engloba a comunidade e o individuo em diferentes desafios impostos pela sociedade, dentre estes o da reflexão sobre o meio ambiente. A saúde ambiental é uma questão muito discutida atualmente, uma vez que as conseqüências do desequilíbrio ecológico afetam diretamente a vida humana.

Um local propício para essa ação de Enfermagem é a escola, pois caracteriza-se como um veículo de educação que demonstra seu comprometimento social, desde o momento em que proporciona para seus alunos o significado de cidadania, ensinando aos jovens a garantir seus direitos e cumprir seus deveres, é um espaço de formação crítica. Com isso, eles têm de contestar comportamentos inadequados à educação e à saúde 3.

Percebe-se a Educação Ambiental como a compreensão dos sentidos da realidade, por meio da problematização das questões ambientais, devendo ser inseridos nas discussões das forças sociais proporcionar novas possibilidades de compreensão do compromisso dos sujeitos na saúde ambiental 4.

Diante dos desafios diários, o enfermeiro tem seus pressupostos focalizados nas percepções de Florence e em tudo aquilo que a Enfermagem, como ciência, vem desenvolvendo na busca de maior compreensão da realidade durante a implementação do seu cuidado, como profissional apto a desencadear questões problematizadoras com membros da comunidade com vistas à atenção à saúde 5.

Logo, objetivou-se conhecer, no espaço escolar, a percepção de adolescentes acerca da saúde ambiental.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo exploratório, com abordagem qualitativa, que utilizou a pesquisa-ação. Esta estabelece uma relação existente entre a pesquisa e a sociedade, permitindo o levantamento de questões que envolvem compromisso com a práxis e a reflexão social 6.

A pesquisa-ação cobre os itens que se referem à ação conjunta entre pesquisador-pesquisados; com o favorecimento à organização de condições de autoformação e emancipação aos sujeitos da ação 7.

O estudo foi desenvolvido numa escola pública de ensino fundamental de um município localizado há 35 km da capital do Ceará. Essa localização encontra-se contextualizada nas proximidades da proposta de construção de uma Usina Termelétrica a carvão mineral. Deve-se destacar que a queima de carvão em indústrias e termelétricas causa graves impactos socioambientais, pela emissão do dióxido de enxofre (SO2) e dos óxidos de nitrogênio (NOx), levando a produção de chuva ácida. Outro ponto importante é o comprometimento que pode existir à saúde humana em relação ao surgimento de doenças respiratórias, como asma, bronquite, enfisema pulmonar e até mesmo a pneumoconiose 8.

Os sujeitos do estudo foram dezessete adolescentes, três meninos e 14 meninas, sendo considerado adolescente conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente 9, o indivíduo entre doze e dezoito anos de idade.

Eram jovens de 12 a 14 anos que viviam numa comunidade rural, onde os pais, na maioria agricultores, sentindo-se ameaçados pela implantação da termoelétrica, estavam lutando por seu espaço, vivenciando de forma participativa nesse processo por meio da assiduidade nas discussões na assembléia e entre a própria organização comunitária.

O número de participantes foi intencional. Esse tipo de seleção ocorre quando o pesquisador faz sua escolha por juízo particular 10. No caso do estudo, julgou-se 17 participantes a quantidade ideal para alcançar os objetivos propostos, uma vez que o mediador das discussões teve maior controle de conduzir o grupo com um número reduzido. Obedeceu-se aos seguintes critérios de inclusão: estarem devidamente matriculado na escola e ser indicado pelos professores.

O período da investigação aconteceu em março de 2009. Os instrumentos e procedimentos utilizados foram observação, diário de campo, gravador e abordagem grupal.

A abordagem grupal foi constituída por meio do diálogo com os estudantes participantes da pesquisa.  Adotou-se uma ação educativa de uma hora e meia, tendo como alicerce a pedagogia freireana. Esta que se utiliza de um animador organizando e coordenando o grupo, de modo a proporcionar a abertura de espaço para a participação dos educandos durantes os diálogos 11.

Nessa perspectiva, os adolescentes dividiram-se por afinidade, formando quatro equipes, uma com seis participantes, outra com cinco, a terceira com quatro e, por fim, uma dupla, com a atividade de compor uma música ou uma poesia sobre saúde ambiental, contudo, poderia também ser feita uma paródia. Nesse momento, o animador tinha o papel de manter-se na observação.

A música é rica em conotações, bem como expressa a significação de um grupo 12. Entende-se a música como um fazer que se faz pela ação do sujeito em relação com o contexto histórico-cultural,  sendo que não se estabelece relação apenas com a matéria musical em si, mas com toda uma rede de significados constituídos no mundo social, em contextos coletivos mais amplos e em aspectos singulares 13.

Na perspectiva de Paulo Freire, a educação tem como princípio a ação cultural relacionada à consciência crítica, vista como uma educação apresentadora de problemas, tendo a pedagogia crítica como uma práxis cultural, contribuindo para elevar a consciência das pessoas e favorecendo uma revolução pedagógica, em sua essência, significativa para todos 14.

A análise dos dados arrumou-se nas práticas discursivas com apoio nas narrativas realizadas pelos participantes. Essas têm como elemento construtivo a dinâmica, ou seja, descreve um processo de conversação. O repertório interpretativo desse processo nos serve de referência acerca dos aspectos culturalmente constituídos, trabalhando no nível de produção de sentidos para facilitar o entendimento da elaboração social dos conceitos que as pessoas possuem do mundo 15.

Foram respeitados os aspectos legais e éticos que envolvem pesquisas com seres humanos, conforme a Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. Também foi assegurado que a pesquisa não traria nenhum prejuízo às atividades escolares. O participante foi esclarecido sobre todos os seus objetivos, e os pais ou responsáveis precisavam assinar a autorização para a participação do menor no estudo, por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ressalta-se que o estudo foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará e aprovado na reunião do dia 19 de dezembro de 2008, sobre o protocolo nº 252/08. 

Resultados

Logo após a redação do poema ou das paródias, os alunos apresentaram os textos. 

Grupo 1- Poema

 

Estamos estudando

Não dá pra negar

Sobre saúde ambiental

E a poluição do ar.

 

Aprendendo novas coisas

Para poder melhorar...

Novas indústrias e o povo

Está a apelar.

Mas se não fazermos nada

A natureza vai acabar

Uma coisa não podemos negar

a termoelétrica vai chegar

Com muitos malefícios e prejudicar o ar.

 

Fizemos esse poema

Para algumas informações

Lhe dar, que nossas terras

Estão morrendo e não dá pra negar

E o homem não enxerga

Então, vamos nos conscientizar.

 

O poema acima retrata que eles sabem das possíveis conseqüências trazidas com a implantação de uma termoelétrica e a necessidade de que todos compreendam essa questão, quando utilizam a palavra conscientizar.

 

Grupo 2 - Paródia

Abra a sua cabecinha

E bote ela pra pensar

Pense no ambiente

Por que o mundo pode mudar

Pense rapaz pense rapaz

Sem a natureza não

Somos nada mais

Pense, pense, pense (bis)

Fique sabendo que o governo implantou uma termoelétrica que já desapropriou

Ou ou ou....

(Paródia da Música “Abre o Som” de  autoria de Dan Ventura e Fabio Santos Meneses)

               

O grupo escolheu uma música de forró para realizar uma paródia. Esse ritmo é o mais escutado no Ceará, caracterizando-se como importante questão cultural. A paródia feita pelos jovens tinha como alicerce um chamado para a reflexão acerca da saúde ambiental, como o poema do grupo 1, se refere também a conscientização.

 

Grupo 2 - Poema

A desapropriação

 

Agora vem o senhor

Com tal da desapropriação

Desapropriando essas comunidades que vivem do pedacinho de chão

De que tudo o que planta, colhe até seu próprio feijão.

O senhor vem inventando

Esse pólo industrial

Construindo a siderúrgica

Desapropriando o pessoal

E também a termoelétrica

a carvão mineral

Antes era um pequeno buraco

Feito por uma escavadeira

Agora está tirando piçarra da piçarreira.

O mundo está acabando com tanta poluição

E o que será de nós

Se sairmos do nosso pedacinho de chão.

Chaves e Bolso

Chegaram a uma conclusão

Lutar pela sua terra

E pelo seu pedacinho de chão

Como já se não bastasse

Essa poluição

Essa tal de siderúrgica

Vai trazer poluição

Doenças de todo tipo

Para essa população.

 

Nesse poema, eles retrataram o sentimento que têm com o risco da desapropriação pela implantação da termoelétrica.

 

Grupo 3 – Paródia I

 

Te pedi que cuidasse do planeta

Destruiu rios e florestas

Não parei, por muito tempo, antes de destruir

Li reli todos os seus jornais

Descobri todos os seus defeitos

Fiz manchetes para evitar a destruição

A gente começou na escola e eu pegando lixo e você jogando fora.

Você era aluno e adorava sujar praia, cinema, festinhas no ar.

Se tá sujando eu tô limpando

Se tá destruindo estou preservando

Eu reciclando e você brincando

Se quer brincar de se esconder têm que aprender a preservar o nosso chão.

(Paródia da Música “Palácios e Castelos” de Levi Lema)

 

A paródia relata também a necessidade de preservar a natureza por meio de alternância de ações, como também faz um apelo para uma consciência ecológica.

 

Grupo 3 – Paródia II

 

Moro num lugar numa casinha e com uma plantação

Sem desmatamento e sem poluição

Planeta terra

Tudo aqui uma floresta sem poluição

Uma fachada sem desmatação

E rios limpos

Tenho no quintal um pomar de frutas e de flor

E em meu planeta com amor

Plantei também ,plantei também

Que terra boa Ô ÔÔ

Que terra boa

Ganso caiu na lagoa

Sou eu andando nesse mundão.

(Paródia da Música “Vida Boa”, de Victor Chaves)

        

Já esta paródia caracteriza sua comunidade, o distrito simples do Ceará, onde eles nasceram e crescem contemplando a fertilidade da terra e suas belezas naturais. Eles valorizam seu espaço, bem como descrevem a simplicidade da região.

Grupo 4 – verso

 

O homem está acabando com o nosso planeta e com o verde de nossa natureza.

Será que ninguém pensa no mal que está fazendo contra si mesmo e aos outros?

O mundo está em nossas mãos, e nós a cada momento estamos o destruindo.

O ar que todo dia respiramos está acabando por conta das fábricas e usinas que estão chegando em nosso município.

 

Esses versos relatam a ação do homem sobre a natureza de forma maléfica, tanto individual como coletivamente, bem como questionam o homem sobre essas ações a fim de levá-lo a conscientização.

 

Discussão

     No poema do grupo 1, observa-se que os adolescentes preocupam-se em estudar sobre o que está acontecendo  em sua comunidade e os riscos por ela sofridos. Essa, por sua vez, denomina-se como uma sociedade tradicional. Portanto, mesmo em meio capitalista, busca preservar sua identidade 16.

Ainda sobre o poema do grupo 1, há a descrição da industrialização e suas repercussões, como também a percepção dos jovens sobre a importância do estabelecimento de um processo de conscientização.  Diante desse aspecto, é relevante considerar que conscientização é uma palavra muito complexa, pois envolve mudança de comportamento. Paulo Freire relata que a consciência propicia a inserção crítica da pessoa numa realidade desmistificada, levando a transformação do modo de pensar 17.

O grupo 2, em sua paródia, faz também um chamado a conscientização. Descrevem a vulnerabilidade que estão expostos pela desapropriação, sendo este fato que repercute na dinâmica da comunidade inteira em diferentes aspectos. Em relação à vulnerabilidade, é necessário compreender as esferas sociais, econômicas, culturais e institucionais que se integram a produção de riscos 18. A vulnerabilidade ambiental tem forte marca da história sociocultural do Brasil quando se relaciona ao saneamento ambiental inadequado decorrente da limitação de políticas públicas e mecanismos financeiros 19.

 No poema do grupo 2, observa-se que os jovens valorizam sua terra, descrevem itens que marca descaracterização de locais de seu distrito e mais uma vez relatam sobre o risco da desapropriação. Outro entendimento importante é o envolvimento da comunidade nesse processo quando descrevem: “Chaves e Bolso chegaram a uma conclusão: Lutar pela sua terra”. Surge no grupo a percepção do “empoderamento”, como meio capaz de favorecer à comunidade a lutar por sua cidadania, bem como por uma situação de vida melhor.

Segundo Rigotto e Augusto 20, em relação às práticas em saúde e ambiente, há necessidade de mais discussão no que se relaciona aos processos de adoecimento e morte, elaboração de políticas cabíveis a essas questões, como também sobre a dinâmica com a sociedade e seus movimentos para superar as dificuldades socioambientais.

Vivencia-se hoje uma dimensão complexa dos impactos do processo de industrialização-urbanização sobre a saúde da população. Inserem-se, neste âmbito, a exploração da vitalidade e dos sonhos dos jovens, a fragilidade das relações entre o trabalho e o ambiente e a incipiência da organização da sociedade diante dessa problemática 21.

Observa-se que, numa atividade educativa, o seguimento de ações permite identificar diferentes descobertas como também reafirmações de percepções semelhantes, fato justificado por se encontrarem no mesmo contexto; uma vez que relatam a percepção deles em relação os impactos já vivenciados.

Segundo Villar et al. 22, uma das dificuldades para a proteção dos ambientes naturais está na existência de diferenças nas percepções dos valores e da importância destes entre os indivíduos de culturas diferentes que desempenham funções distintas dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada pessoa. Haja vista a situação vivenciada pelos jovens, eles estão sensibilizados com a questão ambiental, tendo em suas produções chamadas para ações conscientes.

Na paródia I do Grupo 3, há descrição de ações que podem ser feitas individualmente para cuidar do meio. Já na paródia II do mesmo grupo, há novamente a valorização da sua região, reafirmando a caracterização de uma sociedade tradicional.

Por fim, os versos do grupo 4 que refletem novamente a preocupação dos jovens em sensibilizar outras pessoas acerca da saúde ambiental de sua região.

A comunidade deve buscar ações que favoreçam ser protagonista de sua história, capacitando-se a gerar processos de desenvolvimento autossustentável, por meio de mobilizações e práticas destinadas a promover e impulsionar grupos e comunidades em busca da sua autonomia 23.

Diante dos produtos dos grupos, observou-se que havia pontos em comum: a identificação de vulnerabilidade da comunidade, a necessidade de conscientização e o apelo à comunidade para realizar ações ecologicamente saudáveis.

Corrobora-se com Acioli em sua afirmativa que a compreensão do processo educativo, cultural e científico permite identificar a possibilidade de produção de novos conhecimentos, de caráter emancipador, constituídos a partir do movimento de troca e construção entre os saberes científico e popular, sendo características potencializadoras de mudanças 24.

Logo, deve-se pensar em estratégias pedagógicas de Enfermagem que potencializem a investigação, bem como a implementação de orientações para o bem-estar humano por meio de técnicas e métodos diferentes.

Importante compreender que “a educação é uma forma de cuidar e o cuidado é uma forma de educar” 25. Compreende-se como a educação que potencializa o cuidar deve estar incorporada à prática da Enfermagem, esta sempre pautada em prol da melhor qualidade de vida humana.

O enfermeiro tem o cuidado como elemento essencial em suas ações. Este cuidado é considerado importante para um bem social, pois está atrelado à vida e constitui uma das ações que visa à promoção da saúde, que se alicerça na necessidade de desenvolver habilidades pessoais como uma das estratégias que pode contribuir para o cuidado individual e coletivo, bem como no princípio do reforço da ação comunitária 26. Este descobre novos caminhos, assumindo uma postura crítica em relação à importância de seu papel nas práticas de saúde, como também na organização do sistema de saúde e na sociedade 27.

A integração plena com a comunidade no levantamento crítico das suas necessidades e problemas garante uma interpretação dialética e transdisciplinar da realidade para o desenvolvimento de autonomia. Algumas atitudes relacionadas com a afetividade, respeito, novo, disponibilidade à mudança, esperança, entre outros, são necessárias para trabalhar com a arte, cultura e subjetividade, ou seja, seus sentimentos, emoções e verdadeiros desejos, no intuito de fortalecer os processos de tomada de consciência e “empoderamento” 28.

O estabelecimento de uma relação de aprendizagem em pesquisa deve promover um espaço em que todos os envolvidos possam se posicionar, como sujeitos autônomos e ativos, a fim de que a apropriação do todo seja compartilhada, não caracterizando os participantes como meros objetos, que, passiva e mecanicamente, respondem às demandas da pesquisa, mas sim como sujeitos de ação 29.

Observa-se com esse estudo que o cuidado de Enfermagem deve-se ser direcionado ao bem-estar do indivíduo, família e comunidade e ser executado com um sentimento de solidariedade, sem desconsiderar que o ambiente é um fator relacionado à saúde humana.

 

Conclusão

A partir dessa descrição sobre a percepção de adolescentes acerca da saúde ambiental no espaço escolar, constatou-se que o enfermeiro pode inserir-se nesse espaço para proporcionar aos grupos discussões contextualizadas à realidade deles e favorecer reflexões sobre relações comprometidas com o socioambiental, uma vez que o cuidado alicerça sua prática.

No contexto do estudo, os jovens sentiam a vulnerabilidade da construção da termoelétrica e envolveram-se no processo de forma importante. A abordagem grupal, usando técnicas de paródias e poesias, favoreceu que emergisse do próprio grupo a percepção deles sobre saúde ambiental.

O enfermeiro, na escola, encontra-se num ambiente interessado na formação de cidadãos, sendo um espaço desafiante para realizar uma proposta de pesquisa-ação. A Enfermagem pode agir outras técnicas de coleta de dados interdisciplinares, como a utilizada no estudo.

 Saúde ambiental engloba o homem e o ambiente num aspecto bem mais ampliado. Constata-se que, por meio deste, foi possível conhecer adolescentes vulneráveis a desapropriação com medo do seu futuro e de possíveis perdas. Jovens, inseridos numa comunidade tradicional, debatendo sobre meio ambiente e valorização do seu distrito, tendo uma visão da importância da coletividade para o meio ambiente. 

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NOTA: Artigo extraído da Dissertação “Educação ambiental como espaço de atuação do enfermeiro” Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. 2009. Fortaleza. Data da aprovação: 17/11/2009. Banca examinadora: Profa.Dra. Maria Dalva Santos Alves; Profa.Dra. Raquel Maria Rigotto; Profa.Dra. Patricia Neyva da Costa Pinheiro e Profa.Dra. Maria Lúcia Duarte Pereira (membro suplente).

Contribuição dos autores: Concepção e desenho: Eveline Pinheiro Beserra e Maria Dalva Santos Alves; Análise e interpretação: Eveline Pinheiro Beserra; Maria Dalva Santos Alves e Raquel Maria Rigotto; Escrita do artigo: Eveline Pinheiro Beserra e Maria Dalva Santos Alves; Revisão crítica do artigo: Maria Dalva Santos Alves e Raquel Maria Rigotto; Aprovação final do artigo: Eveline Pinheiro Beserra e Maria Dalva Santos Alves Coleta de dados: Eveline Pinheiro Beserra; Pesquisa bibliográfica: Eveline Pinheiro Beserra, Maria Dalva Santos Alves e Raquel Maria Rigotto; Suporte administrativo, logístico e técnico: Universidade Federal do Ceará.

Agradecimento à Coordenação de aperfeiçoamento pessoal de nível superior.

Endereço para correspondência: Rua Álvaro Fernandes, 891, Montese. Fortaleza-CE. CEP: 60.420-570.