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Perinatal care: women's perception in the context of birth – qualitative study

Assistência perinatal: percepção de mulheres no contexto do nascimento – estudo qualitativo

 Maria Veraci Oliveira Queiroz1, Emanuelle de Oliveira Xavier1, Eysler Gonçalves Maia Brasil1, Rachel Franklin da Costa1

1 Universidade Estadual do Ceará, CE, Brasil.

 

Abstract: Problem: The high levels of morbidity and mortality among children and women can be caused by complications considered possible to avoid through a quality perinatal care. Objective: To describe women's perception concerning the assistance during the birth process of their kids. Method: Qualitative research carried out at a reference hospital in mother-child assistance in Fortaleza-CE-Brazil, in October and November 2008. The subjects were 13 mothers that participated in the focus group. Results: Women emphasized a good assistance, they showed the importance of correct and detailed information, but noticed the lack of bonding, because there are many professionals assisting the patients; they considered significant the companion's presence. Conclusion: The study brings in its discussions the way and the strategies to improve perinatal care in hospital unit, with special reference to interdisciplinary actions and the possibility of women's participation in choices and decisions concerning health, promoting their own autonomy. Nurses are important part in the team and their performance is preponderant in the assistance to women in the process of delivery.

 Keywords: Perinatal Care; Women; Quality of Health Care.

 Resumo: Problema: O elevado índice de morbidade e mortalidade na população de crianças e mulheres pode ser causado por complicações consideradas passíveis de serem evitadas por uma assistência perinatal de qualidade. Objetivo: descrever a percepção de mulheres acerca da assistência durante o processo de nascimento do seu filho. Método: Pesquisa qualitativa, realizada em um hospital de referência na assistência materno-infantil em Fortaleza-CE, nos meses de outubro e novembro de 2008. Os sujeitos foram 13 mães que participaram do grupo focal. Resultados: As mulheres enfatizaram um bom atendimento, mostraram a importância das informações corretas e de forma detalhada, mas perceberam a falta de vínculo, por serem muitos profissionais que atendem as pacientes; consideraram significativa a presença do acompanhante. Conclusão: O estudo traz em suas discussões o caminho e as estratégias para melhorar a assistência perinatal em unidade hospitalar com destaque às ações interdisciplinares e a possibilidade de participação das mulheres nas escolhas e decisões sobre a saúde, promovendo autonomia da mesma. A enfermeira desempenha relevante papel na equipe e sua atuação é preponderante na assistência à mulher em processo de parturição.

 Palavras-chave: Assistência Perinatal; Mulheres; Qualidade da assistência à saúde.

Introdução

A finalidade da assistência perinatal está em reduzir o elevado índice de morbidade e mortalidade na população de crianças e mulheres causadas por complicações consideradas passíveis de serem evitadas mediante detecção precoce e tratamento adequado nas fases da gravidez e do parto, momentos cruciais para um nascimento saudável. Nesse sentido, destacamos que a atenção integral à saúde da mulher e do seu filho pode ser aprimorada com aplicação racional e humanizada da tecnologia obstétrica e neonatal já disponível, de modo a alcançar níveis mais baixos de mortalidade materna e perinatal1.

A Organização Mundial de Saúde, na 10º Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), redefiniu o período perinatal, que se inicia em 22 semanas completas de gestação e se estende até sete dias completos após o nascimento2. A referida fase gestacional e de nascimento é significativa no acompanhamento das condições de saúde e na prevenção das doenças que acometem a mãe e o recém-nascido.

As causas de mortalidade de maior prevalência durante essa fase no mundo são a asfixia intra-uterina e intra-parto, o baixo peso ao nascer, as afecções respiratórias do recém-nascido, as infecções e a prematuridade3.

Grande parte das mortes perinatais e neonatais estão associadas a causas preveníveis, ligadas ao acesso aos serviços de saúde, à qualidade da assistência pré-natal, ao parto e ao puerpério4.

Com vistas à promoção da saúde, à prevenção das mortes perinatais e neonatais, assim como às atividades relacionadas ao parto humanizado, destacamos a criação do Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal pelo Ministério da Saúde em março de 2004 tem grande relevância, pois visa reduzir em 75% os índices de mortalidade materna e neonatal até 2015. Esse pacto está inserido na Agenda Nacional de Compromissos pela Saúde de 2005 e busca uma maior efetividade, eficiência e qualidade na assistência materno-infantil de acordo com os princípios da integralidade, da universalidade e da equidade no Sistema Único de Saúde (SUS)5. Esta iniciativa procura oferecer visibilidade aos problemas relacionados à saúde materna e da criança e promover estratégias para minimizá-los, além de viabilizar ações prioritárias na qualificação da assistência, reforçando aquelas já existentes, como a humanização.

Neste sentido, vale ressaltar que as iniciativas com a humanização do parto e os direitos reprodutivos das mulheres vêm, há décadas, participando de pautas dos movimentos feministas em saúde. Por sua vez, a humanização da assistência a crianças faz parte de um escopo mais direcionado ao atendimento de bebês de baixo peso, internados em UTI6.

Uma condição integrada à humanização é a qualidade da assistência, a qual destaca os aspectos técnicos e relacionais que devem ser observados em toda gestão. Na avaliação da qualidade do serviço de saúde o processo está relacionado às atividades da assistência, desde os diagnósticos, terapêuticas e reabilitação. São fenômenos complexos porque incluem o componente técnico e a relação interpessoal. Deve seguir a adoção de indicadores numa visão integral, contínua, interdisciplinar, incorporando as dimensões do processo saúde doença e os direitos sociais na garantia dessa assistência. No caso da assistência perinatal, faz-se necessário incorporar aspectos relevantes da atenção ao parto e ao nascimento na perspectiva de uma assistência desejável, assegurando os direitos dos usuários7.

O interesse neste estudo surgiu com a participação no projeto sobre avaliação da assistência perinatal: análise dos determinantes da qualidade e indicadores de saúde cujo objetivo principal era a avaliação da referida assistência, identificando os indicadores de qualidade conforme preconizados nos preceitos normativos e legais do SUS. Portanto, esse estudo trata-se de um recorte da referida pesquisa com o foco na visão das mulheres sobre a assistência recebida.

Conhecer a percepção das mulheres sobre a assistência ofertada na fase perinatal dando vozes a essas mulheres logo após o parto, ou seja, enquanto vivenciam as experiências no pós-parto torna-se fundamental para compreender suas necessidades, os aspectos da atenção recebida com enfoque na qualidade do serviço de saúde.

            A partir destas considerações, procuramos responder os seguintes questionamentos: Como as parturientes percebem a assistência recebida no hospital de referência do SUS?  Como foi o acesso das mulheres ao serviço desde o pré-natal até o acompanhamento no alojamento conjunto? Como as mulheres percebem a presença ou não de um acompanhante no período de nascimento?

Ressaltamos a relevância do estudo, pois instigará discussões que irão apontar caminhos e estratégias para melhorar a assistência nos serviços de saúde e conseqüentemente contribuir para satisfação da população com relação à assistência perinatal e como conseqüência, a promoção do bem-estar da criança e da mãe.

Com o objetivo de otimizar a assistência aos serviços de saúde, o acesso e o acolhimento articulam-se e complementam-se na implementação de práticas em serviços de saúde, na perspectiva da integralidade do cuidado. O acesso como a possibilidade da consecução do cuidado de acordo com as necessidades tem inter-relação com a resolubilidade e extrapola a dimensão geográfica, abrangendo aspectos de ordem econômica, cultural e funcional de oferta de serviços8.

            Tais prerrogativas, inscritas na atenção integral, vão ao encontro da humanização do parto, em que deve existir maior preocupação com a subjetividade da mulher, seus anseios, dúvidas e angústias. Desta forma, devemos lembrar que parir é algo próprio da mulher e que deve existir maior preocupação com a sua subjetividade, seus anseios, dúvidas e angústias9.

É neste contexto que propomos como objetivo: descrever a percepção de mulheres acerca da assistência durante o processo de nascimento do seu filho.           

Metodologia  

            Estudo descritivo com enfoque na abordagem qualitativa, realizado em outubro e novembro de 2008, com treze mães escolhidas de forma aleatória, tendo como critérios de inclusão: mulheres que se encontravam internadas no alojamento conjunto ou que visitaram diariamente os filhos que estavam internados na Unidade Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal, de um hospital de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) de Fortaleza-Ce. A abordagem qualitativa foi escolhida por possibilitar a compreensão das experiências, com seus aspectos subjetivos implicados nas reações e comportamentos dos sujeitos investigados10.

A coleta dos dados foi realizada pela técnica do grupo focal com dois encontros. A discussão foi guiada pelos seguintes temários: percepção das mulheres sobre a recepção na emergência obstétrica; percepção sobre a assistência na sala de parto e no alojamento conjunto; a presença do acompanhante durante o parto.  No primeiro encontro, participaram onze mulheres, momento em que se discutiram os dois primeiros temários. No segundo encontro, seis mulheres expressaram idéias sobre o último temário. Dentre estas, quatro participaram do primeiro grupo focal.

            As informações colhidas no grupo focal foram organizadas e interpretadas a partir do método de análise de conteúdo proposto por Bardin11, do tipo análise categorial temática. De acordo com este método, a análise se organiza em torno de três momentos: pré-análise, transcrição das conversas gravadas, na leitura flutuante dos conteúdos, e na retomada do contexto dos objetivos do estudo; exploração do material, operação de codificação, com a constituição do corpus a partir da transformação dos dados brutos; e recorte do texto em unidades de registro (a frase) 11. A partir destas, foram formadas as subcategorias para agrupamento e elaboração das categorias. Em seguida, os dados, foram descritos e interpretados à luz da literatura pertinente.

            Foram respeitados os critérios éticos que envolvem pesquisas com seres humanos, conforme a Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, que se refere à pesquisa envolvendo seres humanos12. Os participantes foram esclarecidos sobre os objetivos do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, sob o parecer no 04252522-5. 

Análise e discussão das experiências das mulheres

Dentre os temas discutidos com as mulheres no grupo interativo destacamos a assistência recebida no hospital em estudo por ocasião do parto e nascimento, considerando que estas recentemente, passaram por essa experiência. Assim, apresentamos suas percepções em cada passagem nos setores de obstetrícia. 

1. Percepção sobre a recepção na emergência obstétrica

As mulheres falam de suas experiências no momento da chegada na emergência obstétrica destacando o modo como foram atendidas e falam também de si e da trajetória seguida. Apresentamos as idéias convergentes e diferentes sobre os pontos discutidos entre elas:  

“Eu cheguei na emergência e fui bem atendida, eles me examinaram , me atenderam muito bem,  me subiram logo, tudo direito” (P3).

“Assim que eu cheguei, eu passei pela emergência e fui muito bem atendida, eles me examinaram bem rápido, mandaram pra cá pra cima e fizeram logo o meu parto” (P4).

“Eu fui muito bem assistida na hora que eu cheguei na emergência, minha transferência foi muito rápida” (P6).            

            Estas mulheres relataram ter tido um bom atendimento na emergência, o que para elas significa receber atenção e uma assistência dedicada por parte dos profissionais, como também um rápido encaminhamento para a sala de parto.

No entanto, uma das entrevistadas colocou-se de maneira diferente: 

“Na admissão... quando eu cheguei na emergência obstétrica foi difícil a vaga. Eu não achei que fui bem recebida. Os profissionais são muito arrogantes. A começar pela médica, pela auxiliar. Eu fiquei muito apavorada. Eu chorava desesperadamente” (P1).           

As experiências foram diferenciadas e enfocam além dos aspectos técnicos, o relacionamento interpessoal. Esta interação profissional/usuário às vezes se dá de maneira positiva enquanto outros profissionais demonstram apatia ou mesmo “arrogância”, conforme destaca uma participante do estudo.

O nascimento de um filho é um momento único na vida de cada mulher, no qual ela está fragilizada, com dores e necessitando de apoio emocional, o qual deve ser oferecido pelos profissionais de saúde que estão prestando o cuidado a parturiente.

A humanização inclui abordar a paciente proporcionando uma atitude receptiva, demonstrando respeito à parturiente, como uma pessoa única que também é responsável pelo seu bem-estar. Portanto, os profissionais de saúde devem possuir além da técnica, a empatia e terem habilidades de comunicar-se com as usuárias de maneira que melhore a assistência promovendo um cuidado humanizado13.

Os desafios do processo de humanização da assistência na enfermagem implicam em superação da importância dada à competência técnico-científica; superação dos padrões rotineiros cristalizados de produzir atos em saúde, como da superação dos modelos convencionais de gestão, dos modelos corporativos das diferentes categorias profissionais e na construção da real humanização como um processo coletivo possível de ser alcançado e implementado14.

Vale ressaltar que o relacionamento interpessoal são geradores de vínculo e ao mesmo tempo possibilitam o atendimento e ou encaminhamento dos problemas de saúde dos usuários.  

2. Percepção das mulheres sobre a assistência na sala de parto e no Alojamento Conjunto

As mulheres discorrem sobre a assistência recebida na sala de parto e no alojamento conjunto, comentando sobre a sua condição de saúde e algumas condutas profissionais no campo das relações, e ainda fazem certo comparativo entre os setores: 

“Eu passei 5 dias internada no alojamento conjunto, pelo tempo que eu passei aqui foi bom. Na sala de parto eu fui muito bem atendida, elas tiveram muita paciência comigo. Foi tudo bem e foi rapidinho” (P7).

“Aqui na enfermaria foi totalmente diferente, as auxiliares já conversam, todas elas que entram na enfermaria se identificam, perguntam se tão precisando de alguma coisa. A maioria aqui atendeu muito bem” (P1).

“O meu parto foi uma cesariana... houve alteração das plaquetas, mas eles foram muito atenciosos. O anestesista foi muito atencioso, na hora me deu ânsia de vômito e ele já tava com o remédio pronto pra aplicar, então foi excelente. Na hora do parto eu adorei, me deram a assistência perfeita” (P6). 

Nos relatos apresentados, as mulheres ficaram satisfeitas com o atendimento na sala de parto e internação obstétrica, identificando os profissionais, bem como a maneira como se relacionam.

A Enfermagem tem papel preponderante na assistência à mulher em processo de parturição. Foi evidenciado nos discursos os diversos papéis da enfermagem, o quanto é solicitada nas variadas condições de atendimento das necessidades das mulheres que acabaram de ter um filho. Cabe salientar que essa categoria profissional deve estar atenta e refletir continuamente sobre suas atitudes de cuidar, de modo a ser capaz de atender essas demandas e desempenhar as diversas funções que lhe são dadas, ampliando a escuta qualificada, pois esta promoverá também um cuidado diferenciado.

A comunicação e a interação são importantes ferramentas desse trabalho, por meio da qual o trabalhador introduzirá mudanças na relação de poder existente, tanto entre categorias profissionais quanto entre profissional-usuário15.

Vale ressaltar a importância do contato físico, da identificação do profissional, da atenção e do diálogo, pois são fatores relevantes de conforto, uma vez que transcende as barreiras entre o profissional e o cliente, estabelecendo uma relação de confiança, trocas e de apoio emocional16.

Além de tudo, é preciso ampliar o acesso e promover a autonomia dos usuários decidindo sobre sua condição de saúde; é preciso um agir pautado na humanização que traz em si atitudes acolhedoras.  

3. O olhar das mulheres sobre a presença do acompanhante na sala de parto

Instigamos a presença desse temário por fazer parte da perspectiva de humanização do parto. A implementação da presença de um acompanhante durante o parto é uma das recomendações da Organização Mundial da Saúde para a Humanização do Nascimento17.

A lei que permite a presença de acompanhante durante o parto e o pós-parto em qualquer hospital da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) foi sancionada em 200518. A presença de uma pessoa de confiança facilita o trabalho de parto, pois tem um efeito psicológico fundamental contribuindo para que a mulher fique mais tranqüila. Hospitais particulares e algumas maternidades públicas já adotam a prática da humanização do parto. Entre as vantagens do parto humanizado estão a diminuição do estresse da mulher, melhoria nas condições de amamentação, redução do risco de doenças para a criança. A prática do parto humanizado reduz os custos hospitalares porque diminui as cesarianas, o número de anestesias e as complicações pós-parto.

Para estas participantes a presença de um acompanhante favorece o bem-estar, pois traz segurança e apoio emocional: 

“Seria interessante a presença de um acompanhante no caso do parto, na sala de parto, eu acho que a pessoa se sentiria mais segura. A mãe, o esposo, principalmente a mãe dá mais segurança” (P 6).

“[...] não deixaram a acompanhante ficar comigo, não deixaram eu ficar com nenhum pertence (..). Eu sou do interior e isso me deixou muito apavorada” (P1).

“A minha amiga chegou aqui, ela tava com nove meses e tava grávida de um bebê com mais de 4 quilos [...] A tia dela trabalha lá no centro cirúrgico e ela ajudou né, e foi acompanhante dela e tudo” (P 8).

 

Estudo realizado sobre a participação paterna durante o nascimento revela que a presença do pai nos centros obstétricos ainda é vista pelos profissionais como perturbadora das atividades rotineiras. Isso implica também a passividade do pai no processo de nascimento19.   A expectativa dos profissionais sobre a participação do acompanhante na sala de parto foi revelada de forma negativa em outro estudo, os profissionais apresentaram rejeição inicial, medo do desconhecido, preconceito da suposta violência dos acompanhantes e falta de habilidades para lidar com uma interação afetiva junto à parturiente e seu acompanhante20.

Vale ressaltar que uma das entrevistadas concebeu o bebê em outra unidade hospitalar de menor complexidade em Fortaleza e depois foi encaminhada a este hospital de referência em face das condições de saúde do recém-nascido. No discurso que segue, constatamos a insatisfação com relação ao atendimento e a importância da presença do acompanhante durante o trabalho de parto: 

“Se eu tivesse um acompanhante eu acho que teria sido melhor porque eles erraram muito comigo. Eles deixaram meu bebê nascer de parto normal, eu sofri muito pra ter ele. Eu acho que a minha mãe teria falado lá na hora [...] Eu tive infecção na minha gravidez, meu bebê nasceu com 4 quilos e 400 não era pra ter nascido de parto normal [...]” (P 9).           

Estudo comprova que apesar dos benefícios do acompanhamento para as parturientes no momento em que necessitava de apoio, colaborando para uma experiência satisfatória, evitando prejuízos à elas e aos seus bebês, foi observado o despreparo de alguns profissionais em lidar com sua presença durante o trabalho de parto, até mesmo pela ausência de infra-estrutura para receber este acompanhante21. 

Alguns discursos divergem quanto à presença do acompanhante, tal situação foi percebida quando relatam as dificuldades que poderiam existir com a presença do acompanhante: 

“Se eu tivesse um acompanhante comigo, eu acho que atrapalharia mais, porque eu ficaria mais tensa, e não iria conseguir... porque eu ia me sentir mais envergonhada sabe” (P7).

“Quando eu cheguei, não tinha nem condição de ter algum acompanhante. Era muita gente, médico, enfermeiro, anestesista, porque foi grave né? e é muita gente” (P8).           

Percebemos nos discursos das mulheres o significado sobre a presença de um acompanhante durante o nascimento do filho. Nesse sentido, torna-se importante conhecer a opinião de cada mulher para que esta seja atendida em suas necessidades, diferentemente de uma imposição da equipe. Como mostram as experiências registradas, nem todas as mulheres desejam a presença do acompanhante.

Considerações Finais

Partindo do entendimento sobre o que as mulheres pensam em relação à assistência ao parto em um hospital especializado (atenção terciária) apreendemos que esta experiência vivida é permeada de significados e retratam suas trajetórias destacando-se os aspectos técnicos e relacionais que perpassam o cuidado, no qual se destaca a presença constante da enfermagem.

As mulheres demonstraram satisfação com o atendimento, pelo fato de considerarem uma oportunidade terem sido atendidas com prontidão. Isto traz um significado de gratidão para elas, como se não fosse um direito adquirido, o acesso à maternidade com todas as condições favoráveis para um nascimento saudável.

No grupo focal, as mulheres demonstraram sentir-se à vontade para expressar sentimentos e experiências. Percebemos, ainda, nos discursos das parturientes, fragilidades quanto à maneira de cuidar dos profissionais, à diferença entre cada setor, embora tenham mostrado satisfação, principalmente pela atenção recebida. 

Destarte, que esta pesquisa sinaliza a importância de ouvir as mulheres quanto à presença e apoio do acompanhante. Pois, para algumas parturientes, é confortável ter um membro da família no momento do parto, fato não compartilhado por todas as mulheres. Neste sentido, é preciso atentar para a subjetividade de cada uma, o respeito às diferenças e a disponibilidade da equipe em oferecer suporte técnico emocional em um momento singular da parturiente.

            A percepção das usuárias traz informações que possibilitam aos profissionais e aos gerentes desses serviços, repensar o atendimento prestado e, desse modo, satisfazer as expectativas dessas usuárias. Nos últimos anos tornou–se essencial que os gerentes dos serviços de saúde passassem a focar a atenção com o desenvolvimento de estratégias capazes de proporcionar a compreensão das necessidades de seus usuários, empregar uma política que melhore a qualidade das instituições. Portanto, cabe ressaltar, que a qualidade nesses serviços está intimamente relacionada à satisfação da população assistida.

Observamos que, apesar do enfermeiro não se destacar diretamente nos discursos das usuárias, nas entrelinhas aparece como profissional que promove uma relação horizontalizada. Portanto, entendemos que, por meio de ações interdisciplinares e na intenção de um cuidado integral percebemos a possibilidade de participação das mulheres nas escolhas e decisões sobre a saúde, promovendo autonomia da mesma. 

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