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Impact of the compulsory school vaccination against hepatitis B in adolescents: exploratory-descriptive study

Impacto da obrigatoriedade escolar de vacinação contra hepatite B em adolescentes: estudo exploratório-descritivo

 Mara Cristina Ribeiro Furlan1, Leidyani Karina Rissardo2, Raquel Gusmão Oliveira3, Ana Lúcia Mendes Ferrer4, Sonia Silva Marcon5

 1 Universidade Estadual de Maringá, Paraná, Brasil. 2 Centro Universitário de Maringá, Paraná, Brasil. 3 Centro Universitário de Maringá, Paraná, Brasil. 4 Secretaria de Saúde de Maringá, Paraná, Brasil. 5 Universidade Estadual de Maringá, Paraná, Brasil.

 Abstract. Introduction: In adolescence, the risk of sexually transmissible diseases has increased, becoming necessary the implementation of prevention measures. Objective: to investigate the impact of the law of compulsory immunization on the immunization coverage against Hepatitis B in adolescents in the municipal district of Maringá-Pr. Method: This is a descriptive-exploratory study, of retrospective character, regarding the number of doses of the vaccine against Hepatitis B administered in the group of 10-19 years of age, from 2001 to 2008. Data was obtained from the records “Evaluation of Immunization Program (EIP) – municipal module” and analyzed through Analysis of Variance and Tukey tests. Results: Statistical difference was observed in the immunization coverage against Hepatitis B before and after the compulsory nature of the immunization certificate, and also among the months with greater interest for the vaccine in the period from October to February, which is school registration time.  In the 15-19 year old group, an increase on the immunization coverage was observed from 2004 to 2006, with expressive drop in 2007 and 2008 when the two major high education institutions ceased to ask for updated immunization records in the registration. Implications on Nursing: The results show the importance of health education for the adolescents and, in the mentioned scenario, the need for discussion of the results found with the directors of high education institutions, in order to make them aware of the importance of including the immunization records among the documents demanded in the registration.  

Keywords: Vaccination; Hepatitis B; Adolescent; Immunization Programs.  

Resumo. Introdução: Na adolescência aumenta o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, tornando  necessária a implementação de medidas de prevenção. Objetivo: Investigar o impacto da lei de obrigatoriedade vacinal sobre a cobertura vacinal contra hepatite B em adolescentes no município de Maringá - PR. Método: Estudo exploratório-descritivo, de caráter retrospectivo, e refere-se ao número de doses da vacina contra hepatite B administrada na faixa etária de 10 a 19 anos no período de 2001 a 2008. Os dados foram obtidos a partir dos registros no banco “Avaliação do Programa de Imunização (API) - módulo municipal” e analisados pelos testes estatísticos Análise de Variância e Tukey. Resultados: Foi observada diferença estatística na cobertura vacinal contra hepatite B antes e após a obrigatoriedade do atestado vacinal e também entre os meses, com maior procura pela vacina no período de outubro a fevereiro, época de matrícula nas instituições de ensino.  Na faixa etária de 15 a 19 anos foram observados aumento crescente da cobertura vacinal no período de 2004 a 2006 e, ao contrário, queda expressiva nos anos de 2007 e 2008, quando as duas maiores instituições de ensino superior da cidade deixaram de exigir o atestado de atualização vacinal na matrícula. Implicações para a enfermagem: Os resultados mostram a importância da educação dos adolescentes em saúde e, no cenário em questão, a necessidade de a Enfermagem expor os resultados encontrados aos gestores das instituições de ensino superior, de modo a sensibilizá-los sobre a importância de incluir o atestado vacinal entre os documentos exigidos na matrícula.  

Palavras-chave: Vacinação; Hepatite B; Adolescente; Programas de imunização.

 

Introdução

A hepatite B é um dos maiores problemas de saúde pública do mundo. Acredita-se que essa doença seja responsável por um milhão de mortes a cada ano e haja 350 milhões de portadores crônicos no mundo. No Brasil estima-se que 15% da população já foram expostos ao vírus da hepatite B, e que 1% sofra de hepatite B crônica (1:186).

         A transmissão dessa doença se dá por via parenteral, sobretudo pela via sexual, sendo assim considerada uma doença sexualmente transmissível (2:6) Os adolescentes são vulneráveis a riscos de contrair doenças sexualmente transmissíveis, por comportamentos como multiplicidade de parceiros sexuais, uso irregular do preservativo, consumo de bebida alcoólica e de drogas ilícitas. Ademais, eles sentem-se invulneráveis às doenças e se expõem a riscos sem prever consequências (3).

A principal medida de prevenção da hepatite B é representada pela vacina, que é administrada em três doses com intervalo de um mês entre a primeira e a segunda dose e de seis meses entre a primeira e a terceira, sendo necessário, para a imunização, realizar o esquema vacinal completo. A vacina, após administração do esquema completo, produz imunidade em 90% a 95% dos casos (2:31).

         Em 1991 a Organização Mundial de Saúde (OMS), devido ao grande número de infectados, recomendou a vacinação contra a hepatite B, e em 1992 estabeleceu como meta que todos os países incluíssem esta vacina em seus programas de vacinação infantil até 1997 (4).

No Brasil, devido à grande incidência na região, em 1991 o Estado do Amazonas foi o primeiro a oferecer a vacina contra hepatite B para menores de 1 ano. O Estado do Acre implantou a vacinação em 1992. Em 1995 a vacina foi oferecida para menores de 4 anos nos estados de Santa Catarina, Espírito Santo e Paraná e em 1996 a vacinação foi expandida para o restante do país para menores de um ano(5:4).

No ano de 1999 a faixa etária para a vacinação contra hepatite B foi ampliada para menores de 15 anos, pois a adolescência é considerada fator de risco para a aquisição dessa morbidade, por ser ela uma doença sexualmente transmissível. Para o Governo do Estado do Paraná, a proteção dos adolescentes antes que iniciem as relações sexuais ou tenham oportunidade de adotar condutas ou incorporar-se a trabalhos de risco era a melhor estratégia e, a curto ou médio prazo, reduziria a incidência de hepatite B aguda (5). Em 2001, a faixa etária para vacinação foi estendida para menores de 20 anos em todo o país(6:5) .

Entre os adolescentes da faixa etária compreendida entre 11 e 19 anos, a adesão à vacinação tem sido considerada um grande desafio (7). Em Alfenas/MG, um estudo com indivíduos ente 7 e 16 anos que frequentavam uma instituição de cuidados mostrou que 90,62% desses sujeitos estavam com atraso no primeiro registro da vacina contra hepatite B (8).

Com o intuito de melhorar a cobertura vacinal para todas as idades, em abril de 2004 o Ministério da Saúde instituiu os calendários de vacinação da criança (0 a 10 anos), do adolescente (11 a 19 anos), do adulto (20 a 59 anos) e do idoso (a partir de 60 anos), tornando obrigatória a vacinação em todo o território nacional. Estabeleceu ainda que, para efeito de matrículas em creches, pré-escolas, no ensino fundamental, no ensino médio e nas universidades o cumprimento da obrigatoriedade deveria ser comprovado por meio de atestado de vacinação emitido pelos serviços de saúde credenciados (9).

No ano seguinte essa lei foi revogada, mas antes disso, em 13 de abril de 2005, a prefeitura do Município de Maringá - PR aprovou uma lei similar, fazendo com que o comprovante de vacinação para matrículas escolares continue sendo obrigatório no município (10).

Este trabalho objetivou avaliar o impacto da obrigatoriedade de vacinação preventiva à hepatite B para matrícula em instituições de ensino de Maringá - PR sobre a adesão de adolescentes a essa medida. 

 Metodologia

O presente estudo - exploratório-descritivo e de caráter retrospectivo - foi realizado na cidade de Maringá - PR a partir de dados secundários. O município possui 332.566 habitantes, dos quais 52.452 são adolescentes (11). O serviço público de imunização da cidade conta com 37 salas de vacinas, sendo uma localizada na Secretaria Municipal de Saúde, duas em hospitais públicos, três em equipes do Programa Saúde da Família, cinco em maternidades e as restantes em unidades básicas de saúde.

Foram coletados dados da Avaliação do Programa de Imunização – API de Maringá - PR referentes a 111.227 doses de vacinas contra hepatite B aplicadas em adolescentes no município nos anos de 2001 a 2008. Esse banco de dados permite localizar o tipo e número de doses administradas mensalmente de cada vacina, em cada faixa etária. Também foram utilizados os boletins da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná enviados anualmente à Secretaria Municipal de Saúde de Maringá - PR, nos quais constam o número de terceiras doses da vacina contra hepatite B administradas em cada idade, a cobertura vacinal e o número de adolescentes a ser vacinado no ano seguinte. Cabe salientar que o esquema básico da vacina prevê três doses, sem necessidade de reforço. 

Para efeitos de análise os adolescentes vacinados foram divididos em duas faixas etárias: de 11 a 14 e de 15 a 19 anos, conforme registros no banco de dados.

No ano de 1999 a vacina contra Hepatite B foi expandida para a idade de 11 a 14 anos, porém os anos que foram analisados no estudo vão de 2001 a 2008, pois nos anos de 1999 e 2000 há uma diferença no número de vacinados entre o banco de dados API – Maringá - PR e o do Departamento de  Informática do SUS – DATASUS, que tem como um dos objetivos “manter o acervo das bases de dados necessárias ao sistema de informações em saúde” (12).  O DATASUS mostra que, na população de 11 a 19 anos, em 1999 foram aplicadas 4523 doses de vacina contra hepatite B no município de Maringá, enquanto no API – Maringá não há registros de doses administradas no mesmo ano para essa faixa etária.

Para o cálculo de cobertura vacinal foi considerados o número de terceiras doses da vacina contra hepatite B administradas mensalmente por faixa etária e a população a ser vacinada em cada mês. Este cálculo foi empregado em todos os anos do estudo, visto que a cada ano o número de adolescentes a serem vacinados, ou seja, a população residual, é diferente daquele do ano anterior. 

 A fórmula usada para o cálculo foi:

Cobertura vacinal =  população residual a ser vacinada para o mês “x” / vacinados com a 3ª dose de hepatite B no mês “x”  X 100

         Calculada a cobertura vacinal mês/ano, aplicou-se o teste de Análise de Variância (ANOVA), o qual permite que as médias de duas variáveis sejam comparadas, mostrando se essas médias variam por acaso ou por alguma intervenção. De acordo com o teste, se o p-valor for menor de 0,05 rejeita-se a hipótese de que as médias sejam iguais (13:39).

O Teste de Tukey fornece as médias encontradas pelo ANOVA em ordem crescente e mostra se existe alguma diferença estatisticamente significante entre elas. As diferenças significativas são indicadas quando aparecem letras diferentes em frente a duas médias ou mais, enquanto a presença de letras iguais indicará semelhança estatística entre estas (13:71).

Após as análises foram confeccionados gráficos e tabelas para a apresentação dos resultados.

O desenvolvimento do estudo ocorreu em conformidade com o preconizado pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e o seu projeto foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa do Cesumar - COPEC, tendo sido aprovado em julho de 2009 (Parecer 296/2009). 

 Resultados e discussão

         Quanto à implantação da vacina contra hepatite B na idade de 11 a 14 anos em 1999 e à obrigatoriedade do atestado vacinal para matrícula em instituições de ensino no ano de 2004, pode-se observar que, de acordo com a Análise de Variância, houve diferença da cobertura vacinal contra hepatite B tanto nos meses quanto nos anos de 2001 a 2008. Pelo teste de Tukey (tabela 1) observou-se que há diferença estatística na cobertura vacinal alcançada antes e após a obrigatoriedade do atestado vacinal, porém é observado que a cobertura vacinal foi maior nos anos que antecederam a obrigatoriedade da vacina do que nos posteriores, ou seja, a obrigatoriedade parece não ter tido efeito sobre a cobertura vacinal contra hepatite B entre os adolescentes de 11 a 14 anos.

         Ao analisar a vacinação contra hepatite B em adolescentes de 15 a 19 anos, faixa etária para a qual a extensão da vacina ocorreu em 2001, observou-se diferença estatística pela Análise de Variância de cobertura vacinal entre os anos e meses. Na tabela 1 visualiza-se que há diferença entre os dados anteriores e os posteriores à implantação da obrigatoriedade do atestado vacinal, mas, diferentemente da primeira faixa de idade, nesta última há impacto significativo da obrigatoriedade, constando aumento de cobertura vacinal após a intervenção.  

TABELA 1 – Comparação, pelo teste de Tukey, da cobertura vacinal contra hepatite B antes e após a obrigatoriedade vacinal nas faixas etárias de 11 a 14 anos e de 15 a 19 anos. Maringá-PR, 2009.

OBRIGATORIEDADE VACINAL

11 a 14 Anos

15 a 19 anos

ANTES

7,638977b

10,10692a

APÓS

4,052504a

27,65462b

Fonte: API- Secretaria de Saúde de Maringá-PR

         Em relação aos anos, na tabela 2 constata-se que 2001 e 2002 são estatisticamente semelhantes em relação à cobertura vacinal contra hepatite B na faixa de 11 a 14 anos, porém diferem dos demais anos, possuindo as maiores coberturas vacinais contra hepatite B. Isso pode estar relacionado à implantação da vacina no mês de julho de 1999, quando houve uma repercussão maior na mídia, convocando os adolescentes para a vacinação nos anos próximos.      

Ainda na tabela 2, verifica-se que, na faixa de 15 a 19 anos, o ano de maior cobertura vacinal contra hepatite B foi o de 2006, o qual, ademais, não se assemelha a nenhum outro ano. A segunda maior cobertura é a de 2005, a qual também está em um grupo de anos diferente dos demais . Em seguida, no terceiro grupo de maior cobertura vacinal encontram-se os anos de 2002 e 2004, que são semelhantes entre si e em relação aos anos de 2003, 2007, 2008 e 2001. 

TABELA 2– Comparação, pelo teste de Tukey, da cobertura vacinal contra hepatite B anualmente na idade de 11 a 14 anos e de 15 a 19 anos na cidade de Maringá de 2001 a 2008. Maringá-PR, 2009.

ANOS

11 A 14 ANOS

15 a 19 anos

2001

8,45365b

0,98049b

2002

10,50362b

15,42568ac

2003

3,95966a

13,9146a

2004

3,37201a

24,21144c

2005

4,51747a

35,26223d

2006

3,57744a

63,27663e

2007

4,03896a

8,92073ab

2008

5,29499a

7,32344ab

Fonte: API- Secretaria de Saúde de Maringá-PR 

         Além disso, o impacto da obrigatoriedade vacinal é visto na administração da terceira dose contra hepatite B em relação aos meses. De acordo com a tabela 3, pelo Teste de Tukey, observa-se que na idade de 15 a 19 anos a maior cobertura vacinal encontra-se nos meses de dezembro e novembro, que são semelhantes entre si, seguidos por fevereiro, outubro e janeiro. Esses meses são aqueles em que as Instituições de Ensino fazem a maior parte de suas matrículas.

            Outro resultado mostra que, mesmo a cobertura vacinal sendo maior antes da lei de obrigatoriedade para a faixa de 11 a 14 anos, essa faixa etária sofre o efeito mensal da implantação da lei, de forma que os meses de janeiro, fevereiro, novembro e dezembro possuem as maiores coberturas vacinais e são iguais estatisticamente (tabela 3). Isso mostra que a lei leva os adolescentes a procurar o serviço, ou seja, que, por força da intervenção legal, a cobertura pelo imunobiológico nessa idade não caiu ainda mais após 2003.

            Um estudo realizado em San Diego, Califórnia, mostra a efetividade da lei de obrigatoriedade vacinal para estudantes de 11 a 12 anos. Seus resultados revelam que a cobertura vacinal contra hepatite B em 1998, antes da intervenção, foi de 15,8%, e no ano seguinte esse índice subiu para 68,5%. Ainda, dos 12.074 adolescentes em desacordo com a lei, 10.814 (89,6%) estavam em processo de conclusão da série de três doses da vacina (14).

         Para o controle de vacinação em escolas municipais de São Paulo, um software elencava os estudantes que não estavam com a vacinação em dia e gerava uma mensagem enviada aos pais solicitando a vacinação da criança. Na implantação do programa, 236 (82,5%) estudantes estavam com seu esquema vacinal incompleto, mas em menos de 30 dias 50 (21,2%) crianças atualizaram suas cadernetas de vacinação, o que mostra a eficácia do programa (15) 

TABELA 3– Comparação, pelo teste de Tukey, da cobertura vacinal contra hepatite B mensalmente na idade de 11 a 14 anos e de 15 a 19 anos na cidade de Maringá-PR de 2001 a 2008. Maringá-PR, 2009

MESES

11 A 14 ANOS

15 A 19 ANOS

Janeiro

1,050684abc

6,70758ab

Fevereiro

1,123405bc

9,74375ab

Março

0,325111ab

5,25664ab

Abril

0,322081ab

3,7825a

Maio

0,4398335ab

4,27744a

Junho

0,3810623ab

3,93199a

Julho

0,259464a

4,232705a

Agosto

0,518854ab

4,68667ab

Setembro

0,51175ab

3,89252a

Outubro

0,531628ab

7,76532ab

Novembro

1,532516c

14,85395bc

Dezembro

1,541968c

20,27327c

Fonte: API- Secretaria de Saúde de Maringá-PR

         Um estudo realizado na Flórida mostrou que menos de 30% dos estudantes de 12 a 14 anos haviam recebido todas as doses de vacina contra hepatite B. Os pais, quando questionados sobre a situação vacinal dos filhos, alegaram, em sua maioria, que os filhos não estavam vacinados porque a vacina não era obrigatória (8).

            No tocante a Maringá, visualiza-se na figura 1 que, na faixa de 11 a 14 anos, antes da intervenção a cobertura vacinal foi maior, mas em 2003 houve queda da vacinação. A cobertura vacinal voltou a subir em 2005 e se manteve no mesmo patamar até 2008. Já na faixa etária de 15 a 19 anos o impacto vacinal se mostra mais evidente, com aumento crescente da cobertura vacinal de 2004 a 2006. Em contrapartida, uma queda brusca de vacinação é observada a partir de 2007, mantendo-se até o ano seguinte.

            Essa queda pode estar relacionada com a falta de cumprimento da lei de obrigatoriedade vacinal por parte das Instituições de Ensino Superior. Nos serviços de saúde percebe-se que a partir de 2007 houve diminuição significativa dos estudantes que requereram a declaração de imunização, enquanto nas instituições de ensino de pré-escolares, ensino fundamental e médio a exigência continua.

Fonte: API- Secretaria de Saúde de Maringá-PR

FIGURA 1 – Cobertura vacinal contra hepatite B na idade de 11 a 14 e de 15 a 19 anos na cidade de Maringá-PR mensalmente nos anos de 2001 a 2008 Maringá-PR, 2009. 

            A Diretoria de Assuntos Acadêmicos da Universidade Estadual de Maringá, responsável pela matrícula na instituição, alegou ter deixado de exigir a comprovação de atualização do esquema vacinal devido à revogação da lei em âmbito nacional e a queixas de muitos alunos de que sua matrícula ficara pendente pelo fato de terem deixado em casa a carteira de vacinação. No entanto, diante da queda da cobertura vacinal contra hepatite B na faixa etária de 15 a 19 anos, o enfermeiro responsável pelo ambulatório médico e uma docente do Departamento de Enfermagem discutiram a questão com os responsáveis pela matrícula, ficando acordado que a partir de 2011 o atestado de vacinação voltará a fazer parte dos documentos exigidos para a matrícula na instituição.

Um estudo realizado com graduandos de odontologia constatou que pouco mais da metade (51,75%) estava com o esquema de vacinação contra hepatite B completo, 13,97% haviam tomado duas doses e 8,73% tinham tomado uma única dose da vacina. Deve-se ressaltar que 6,18% afirmaram nunca ter sido vacinados e 19,36% dos estudantes não tinham informação a esse respeito (16). Outro estudo mostra que somente 31,3% dos estudantes de enfermagem completaram esquema de três doses da vacina contra hepatite B (17).

Estudo realizado estudantes das áreas de medicina, odontologia e enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco mostrou que apenas 49% deles afirmaram estar vacinados contra hepatite B, 34,4% afirmaram não ter tomado nenhuma dose e 18,5% não sabiam informar (18).  Estes resultados levaram os autores a sugerir a obrigatoriedade da comprovação da vacinação contra o vírus da hepatite B no ato da matrícula de estudantes da área da saúde (18).

Essas pesquisas mostram que mesmo entre estudantes da área da saúde, em que é comum obter-se informação sobre a gravidade de se contrair hepatite B, a maior parte dos indivíduos não toma a vacina contra a patologia. Além disso, é preciso considerar que grande parte dos estudantes de nível superior não está na área da saúde, o que agrava ainda mais essa situação. Isso deixa clara a importância da cobrança das instituições de ensino superior quanto à declaração de imunizado no ato da matrícula na cidade de Maringá. Além de estarem cumprindo a lei municipal, os estudantes que receberem essa vacina ajudarão no aumento da cobertura das vacinas que fazem parte do calendário de imunização do adolescente e do adulto, já que os estudantes englobam essas duas faixas etárias.

            A cobertura vacinal dos adolescentes de 11 a 14 anos na cidade de Maringá atualmente é de 82,90%. Apesar de esse índice não ser o preconizado pelo Ministério da Saúde, o qual estabelece que 100% dos adolescentes sejam vacinados contra hepatite B, ele é bem maior do que o encontrado na faixa etária de 15 a 19 anos, que é de 64,80%. Esse índice já chegou a 100% em 2006, mas foi decrescendo até chegar ao atual (19).

               Esses valores mostram que, além do cumprimento da lei de apresentação da declaração de imunizado para a realização das matrículas escolares, outros meios devem ser empregados para aumentar a cobertura vacinal na adolescência. Um desses meios é a educação em saúde, medida indispensável para a adesão dessa população à vacinação. Na cidade de San Diego, Califórnia, a taxa de aceitação da vacina contra hepatite B em clínicas de DSTs era de 66%. Para aumentar esse índice a principal clínica ofereceu a todos os clientes uma sessão de orientação de 5 minutos sobre os benefícios da vacinação, e como consequência, a aceitação da vacina subiu para 77% (20).

A experiência acima sugere que a equipe de enfermagem, quando atende adolescentes no serviço de saúde, deve esclarecê-los sobre os benefícios da vacinação, orientá-los quanto ao risco de contrair hepatite B e outras doenças preveníveis por vacina, explicar-lhes que são necessárias três doses desta vacina para que seja conferida imunidade contra hepatite B, agendar e orientar os retornos necessários.

         A pouca participação de adolescentes nas campanhas de vacinação, e mesmo na atualização do esquema vacinal, deve-se principalmente à desinformação (51%) e à falta de indicação médica (38%) (21). Os enfermeiros coordenam os serviços de imunização nos municípios e são responsáveis pelas atividades nas salas de vacinação, portanto lhes cabe manter com os adolescentes uma relação empática e informá-los quanto à importância da vacinação.

         Cabe ainda aos profissionais de saúde trabalhar com os adolescentes que não buscam o serviço. Pouco se houve falar em programas de prevenção de doenças voltados especificamente aos adolescentes, questão que é extremamente relevante trabalhar com os jovens, pois grande parte dos problemas de saúde mais comuns nessa população está, de algum modo, ligada ao comportamento de risco (22).

A Estratégia de Saúde da Família (ESF) tem papel fundamental na implantação e implementação de programas para a educação em saúde, já que é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial. É de sua incumbência atuar com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação e reabilitação de doenças e agravos mais frequentes e na manutenção da saúde da comunidade (23). Em sua atuação, transcendendo a fronteira das unidades básicas de saúde, deve conhecer seu território de abrangência e trabalhar em parceria com escolas, faculdades, cursos e outros locais onde haja concentração de adolescentes.

         A vacinação no ambiente escolar é uma estratégia que garante a administração do esquema completo da vacina contra hepatite B na quase totalidade dos indivíduos que recebem a primeira dose (24), por isso a equipe da ESF deve criar grupos de adolescentes e estratégias de abordagem aos jovens, trabalhar com dinâmicas e buscar os faltosos para o cumprimento dos esquemas de vacinação.  

Considerações

            Na adolescência aumenta o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, entre elas a hepatite B, e a vacinação é meio eficaz de preveni-las. Os resultados deste estudo mostram existir uma relação importante entre cobertura vacinal nessa fase da vida e a obrigatoriedade de comprovação da atualização do esquema vacinal para efetivação de matricula nas instituições de ensino. Isto explica, por exemplo, a queda observada na cobertura vacinal contra hepatite B na faixa etária de 15 a 19 anos depois que as duas maiores instituições de ensino superior de Maringá deixaram de exigir tal documento em suas matrículas.

            No contexto deste estudo, a obrigatoriedade constitui lei municipal, por isso esforços devem ser envidados para essa lei seja cumprida em todos os níveis de ensino. Neste sentido, os órgãos competentes devem fazer a fiscalização necessária, de modo a garantir a proteção dos jovens contra doenças preveníveis por imunização.

            Por outro lado, não podemos deixar de considerar que, além da obrigatoriedade vacinal, a educação em saúde constitui outro fator determinante para que o adolescente tome conhecimento dos benefícios da vacinação. Neste trabalho o profissional enfermeiro tem papel fundamental, pois, por regra, é ele que coordena as atividades de imunização nos municípios e é também responsável pela supervisão e educação continuada dos profissionais de enfermagem, os quais por sua vez, fazem o atendimento direto nas salas de vacina. Cabe, pois, ao profissional enfermeiro discutir com sua equipe a importância de sensibilizar os jovens quanto à gravidade da doença e à necessidade da vacina e do esquema completo com três doses para conferir imunidade contra a patologia. Da mesma forma, deve estar atento para os aprazamentos e realizar busca ativa daqueles que não completaram o esquema vacinal e, sobretudo, dos que não procuraram o serviço para a obtenção de alguma dose.

         Para tanto se faz necessário criar estratégias de atendimento à saúde dos adolescentes, como, por exemplo, a abordagem de questões relacionadas a comportamentos que podem levar a contrair doenças sexualmente transmissíveis e o papel da imunização na prevenção dessa doenças, atuando-se preferencialmente nos locais de concentração de jovens. 

Referências

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11. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativa da população 2008 [citado em: 18 ago 2008]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br

12. Secretaria de Vigilância em Saúde [Página na Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; [acesso em 2009 agosto 25]. Disponível em: http://www.datasus.gov.br  

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Contribuição dos autores:
-Concepção e desenho: todos                                   -Análise e interpretação: 1,2,3,4
-Escrita do artigo: todos                                          -Revisão crítica do artigo: 1,5
-Aprovação final do artigo:3,4,5                                 -Colheita de dados: 1
-Provisão de pacientes, materiais ou recursos: 1,2,4      -Expertise em Estatística: - 4
-Obtenção de suporte financeiro: 1                                      -Pesquisa bibliográfica: 1,2,4
-Suporte administrativo, logístico e técnico: -
 

Endereço para correspondência: Mara Cristina Ribeiro Furlan: Rua Tucuruí, 1564. Parque das Grevíleas 3. Maringá, Paraná, Brasil. CEP: 87025-170. E-mail: m_rfurlan@hotmail.com