Online braz j nurs

Growth and feeding practices to newborn with very low weight along the first year of life – descriptive study

 A prática alimentar e o crescimento do bebê nascido com muito baixo peso ao longo do primeiro ano de vida – estudo descritivo

 Anelize Helena Sassá1; Kayna Trombini Schmidt2; Elen Ferraz Teston3; Sonia Silva Marcon4

 1,2,3,4 - Universidade Estadual de Maringá, Paraná, Brasil.

 Abstract. Introduction: Very low birth weight (VLBW) premature infants, after hospital discharge, require careful evaluations of their health condition, once they are vulnerable to risks and damages due to their immaturity. Objective: To investigate the evolution of VLBW babies during their first year of life. Method:  A prospective descriptive-exploratory study, of the cohort type, accomplished with seven children evaluated through home visits: 15 days after the hospital discharge, and at 3, 6, and 12 months of life.  During visits the babies' anthropometry was carried out, and information about breastfeeding, feeding practices and health conditions was collected. Results: The average weight and gestational age at birth were 1295g and 30 weeks respectively, and they had 49 days average time of hospital admission. T Right after discharge, five babies receiver mother’s milk in association to infant formula, and at the second home visit, two of them were exclusively on mother’s milk.  All of the children, at some time, presented growth percentile below average, and two babies needed to return to hospital, twice. Implications for nursing: Follow-up of these babies after hospital discharge is essential for the early diagnosis of alterations in the growth and development process, besides favoring the support and attendance to the particularities of such clientele.
Keywords:
nursing, child, growth, breastfeeding.

 Resumo. Introdução: O prematuro nascido com muito baixo peso (MBP) requer, após a alta hospitalar, avaliações atentas do estado de saúde, já que se encontra vulnerável a riscos e danos advindos da sua imaturidade. Objetivo: Investigar a evolução de crianças nascidas com MBP durante o primeiro ano de vida. Método: Estudo descritivo-exploratório-prospectivo, do tipo coorte, realizado com sete crianças avaliadas por meio de visitas domiciliares 15 dias após a alta hospitalar e aos três, seis, e 12 meses de vida.  Durante as visitas foi realizada a antropometria dos bebês e coletadas informações sobre amamentação, práticas alimentares e condições de saúde. Resultados: A média de peso e idade gestacional ao nascer foram, respectivamente, de 1.295g e 30 semanas e o tempo médio de internação foi de 49 dias. Logo após a alta hospitalar, cinco bebês recebiam leite materno associado à fórmula infantil, e por ocasião da segunda visita domiciliar, dois destes estavam em aleitamento materno exclusivo. Todas as crianças, em algum momento, apresentaram percentil de crescimento inferior ao esperado e dois bebês necessitaram de reinternação por duas vezes. Implicações para a enfermagem: Estes fatos implicam a necessidade de acompanhar essas crianças após a alta hospitalar para o diagnóstico precoce de alterações no crescimento e desenvolvimento, acompanhamento que, ademais, favorece o apoio e assistência às particularidades dessa clientela.

Palavras-chave: enfermagem, criança, crescimento, amamentação. 

Introdução

O peso ao nascer é o melhor indicador do padrão de saúde imediato e futuro do recém-nascido (RN), estando diretamente relacionado à sobrevivência e ao prognóstico infantil (1).  O aumento da sobrevida de RNs cada vez menores e imaturos, em especial dos recém-nascidos de muito baixo peso (RNMBP), ou seja, aqueles com peso de nascimento menor que 1.500g, traz consigo a necessidade de elaborar e implementar estratégias que garantam a qualidade de vida e saúde desses bebês.

O prognóstico dessas crianças ao longo da vida é diretamente influenciado pelo grau de imaturidade fisiológica e anatômica de seus sistemas no nascimento, assim como por suas condições clínicas e pelo tratamento intensivo a que são submetidos durante a hospitalização (2,3). Além disso, fatores psicológicos, sociais e ambientais – como alimentação, higiene, habitação, saneamento básico e acesso aos serviços de saúde – refletem-se consideravelmente nas condições de vida das crianças (4,5)

Em face desse contexto, a continuidade da atenção à saúde do prematuro de MBP após a alta hospitalar deve ser valorizada e oferecer o suporte adequado a essas crianças através da prevenção de riscos e danos e do atendimento precoce de possíveis agravos de saúde (6). Conhecer o processo de crescimento e desenvolvimento dessas crianças garante ao profissional de saúde o manejo adequado das reais necessidades dessa clientela, assim como subsidia intervenções direcionadas às intercorrências particulares dos bebês.   

O acompanhamento adequado dessas crianças é realizado com de curvas de crescimento e desenvolvimento específicas ou por meio das curvas padrão, com vista a corrigir a idade cronológica até que completem dois anos de idade (7). A idade corrigida (idade pós-concepção) traduz o ajuste da idade cronológica em função do grau de prematuridade (8). Considerando-se que o ideal seria nascer com 40 semanas de idade gestacional, deve-se descontar o número de semanas que faltaram para atingir essa idade gestacional (9).

O acompanhamento após a alta possibilita o diagnóstico precoce de riscos nutricionais e morbidades, permitindo o estabelecimento de condutas curativas dirigidas aos processos patológicos presentes e ao estabelecimento de condutas preventivas adequadas a cada idade (8).

Com base no exposto, este estudo teve o objetivo investigar a evolução de crianças nascidas com MBP durante o primeiro ano de vida.                                                                                     

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo-exploratório-prospectivo, do tipo coorte, realizado com crianças nascidas com muito baixo peso (MBP) entre 1º de maio e 31 de outubro de 2008, incluídas no Programa de Vigilância do Bebê de Risco (PVBR) do município.

Este estudo é parte integrante da pesquisa aprovada pelo CNPq (Edital MCT/CNPq 15/2007 – Universal) intitulada “Condições de vida e saúde de bebês de risco e suas mães em Maringá – PR, ao longo do primeiro ano de vida”.

O município de Maringá conta com 308 mil habitantes e o número de nascidos vivos de mães residentes caiu de 4.521 em 2000 para 4.177 em 2007. Em contrapartida, o percentual de crianças nascidas com peso inferior a 2.500 gramas passou de 7,27% em 2000 para 8,76% em 2007, e segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde, o número de crianças incluídas no PVBR passou de 616 em 2003 para 800 em 2008 (10).

O PVBR existe no município desde 2000, e tem como propósito acompanhar todos os bebês que apresentam fatores diversos, considerados de risco, tais como: baixo peso ao nascer (BPN < 2500g), pontuação Apgar inferior ou igual a sete no 5º minuto de vida, prematuridade (idade gestacional inferior a 37 semanas), idade materna menor que 18 anos, presença de anomalias, e outros critérios, que incluem, por exemplo, filho de mãe HIV positivo ou de mãe que use drogas e a condição socioeconômica.

A equipe de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do município visita todos os hospitais diariamente para preenchimento da ficha de nascidos vivos. Quando identificado o nascimento de uma criança que apresente um ou mais critérios considerados de risco, esta é incluída no PVBR ainda durante a internação hospitalar, sendo preenchida uma ficha de admissão em duas vias. Uma dessas fichas é arquivada no Setor de Vigilância do município e a outra é encaminhada para a unidade básica de saúde de referência, conforme endereço da família, para que a criança tenha seu crescimento e desenvolvimento acompanhados durante 12 meses.

Para o desenvolvimento da pesquisa, todos os bebês nascidos entre 1º de maio a 31 de outubro de 2008 tiveram suas fichas semanalmente fotocopiadas, e a partir das informações nelas contidas foram realizados contatos telefônicos ou visitas domiciliares (VDs) às mães ou familiares responsáveis pela criança, a fim de convidá-los a participar do estudo.

Os bebês de MBP cujas famílias aceitaram a participação foram acompanhados até os doze meses de vida, por meio de VDs realizadas por equipes constituídas por enfermeiros assistenciais, docentes e discentes (graduação e pós-graduação) do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. Para que as VDs fossem realizadas de forma sistematizada, as equipes passaram por oficinas de treinamento e aperfeiçoamento, e cada família foi sempre visitada pela mesma equipe.

As VDs foram realizadas em quatro momentos distintos: até 15 dias após a alta hospitalar, aos três, seis e 12 meses de vida.  Foi levada em consideração a data da alta hospitalar em vez da data do nascimento, visto que crianças nascidas com MBP muitas vezes permanecem hospitalizados por longos períodos.

Durante as visitas eram realizadas entrevistas com a mãe, tendo como instrumento um questionário do tipo misto contendo questões referentes à família, à mãe e à criança. Além disso, eram realizados o exame físico e a antropometria dos bebês, com verificação do peso, estatura e perímetro cefálico (PC), a fim de avaliar as condições de crescimento da criança. Especificamente para o presente estudo, foram utilizadas as informações referentes a crescimento, evolução ponderal, aleitamento materno e outras práticas alimentares, além de agravos à saúde no primeiro ano de vida. Após o término do acompanhamento de cada bebê, os registros contidos nos instrumentos utilizados com a família foram digitados num banco de dados do Programa Excel 2007 para obtenção de frequência simples.

Para a análise dos dados sobre crescimento foram utilizadas a idade corrigida dos bebês e as curvas de crescimento do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) propostas pela Organização Mundial de Saúde em 2006. Para o CDC o percentil considerado adequado é aquele que, nas curvas de crescimento, apresenta-se entre três e 97 (11).

Os bebês foram identificados pela letra B e enumerados conforme a data de nascimento para a diferenciação dos casos.

Foram excluídas as crianças cujas famílias haviam mudado de endereço ou cidade, pela inviabilidade de realizar o acompanhamento até os 12 meses de vida, bem como aquelas com informações incompletas nos registros das VDs e as que foram a óbito.

O estudo foi desenvolvido em consonância com as diretrizes disciplinadas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (12), sendo o projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá (Parecer N.º 451/2008).   

Resultados

            No período estudado, 387 bebês foram incluídos no PVBR do município de Maringá – PR, dos quais 26 eram recém-nascidos (RN) com MBP. Dentre estes, sete bebês participaram deste estudo, sendo excluídos dois por recusa da família em participar, quatro por não haver as informações necessárias nos registros das fichas, seis por mudança de endereço ou de cidade da família, impossibilitando a continuação do acompanhamento, e sete devido ao óbito da criança.

A amostra de mães constituiu-se de seis mulheres, pois, embora sete bebês tenham sido estudados, dois eram gemelares. A idade materna variou entre 19 e 40 anos (idade média de 28 anos) e todas tinham companheiro e com ele residiam. Quanto à escolaridade, a maioria (quatro) cursou o ensino médio, uma cursou o ensino fundamental incompleto e outra o superior completo. Apenas uma delas apresentava doença crônica prévia, tratando-se de hipertensão arterial.

            Quanto à caracterização dos bebês (tabela 01), o peso de nascimento variou de 995g a 1.470g, com média de 1.295g, e a IG de nascimento variou entre 27 a 35 semanas, sendo que apenas um nasceu com IG superior a 30 semanas.

            Na alta hospitalar, a média de peso das crianças foi de 1.797g e a idade corrigida (IC) variou entre 34 semanas e dois dias e 39 semanas e cinco dias. A média de tempo de internação foi de 49 dias.

Tabela 1 – Caracterização dos RNMBP conforme variáveis de nascimento, alta hospitalar e intervalo entre a primeira visita domiciliar e a alta hospitalar. Maringá – PR, 2008.

 

Variáveis

B1 ♂

B2 ♂

B3 ♂

B4 ♀

B5 ♀

B6 ♂

B7 ♂

Nasc.

Peso Nasc.

1320g

1310g

1250g

1255

1470g

1465g

995g

Id. Gest. Nasc.

28s

28s

30s

35s

30s

30s

27s

Apgar 5º min

9

8

9

9

9

9

8

Tipo de Parto

Cesáreo

Cesáreo

Cesáreo

Cesáreo

Cesáreo

Cesáreo

Cesáreo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alta

Peso na alta

1715g

1895g

1840g

1840g

1835g

1825g

1635g

Dias de Vida

45

50

54

34

39

39

63

Id. Corrigida

34s2d

35s

37s4d

39s5d

37s

37s

31

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1ªVD após alta*

11dias

6dias

2dias

4dias

7dias

7dias

31dias

   Legenda:  ♂ = Sexo Masculino, ♀ = Sexo Feminino, VD = visita domiciliar.   
 *Intervalo de dias entre a alta hospitalar e a primeira VD.
 

           

 

 

 

 

 

 

 

        O intervalo entre a alta hospitalar e a data da primeira visita realizada às famílias variou de dois a 31 dias, sendo que cinco visitas foram realizadas até sete dias após a alta, uma aos 11 dias e uma aos 31 dias após a chegada do bebê ao domicílio.

Dois dos bebês necessitaram de reinternação durante o primeiro ano de vida. O bebê B2 foi internado duas vezes num espaço de 30 dias (intervalo entre a primeira e a segunda visitas), sendo uma internação relacionada a encarceramento de hérnia inguinal e a outra devida a bronquiolite e infecção do trato urinário (ITU), por um período de dois e sete dias respectivamente. O bebê B3 também passou por duas internações, das quais a primeira se deu com aproximadamente dois meses de vida, por broncoaspiração, e a segunda, após os seis meses, por suspeita de coqueluche. Essas internações tiveram duração de dois e quatro dias respectivamente.

Quanto ao acompanhamento da atenção básica, nenhum bebê recebeu atendimento diferenciado e apenas três deles foram visitados por profissionais de saúde da unidade básica no período da segunda visita deste estudo, ou seja, quando os bebês estavam com idades próximas a três meses de vida.

            A prática do aleitamento materno (AM) foi verificada em cinco bebês no momento da primeira visita após a alta hospitalar, dos quais um estava em aleitamento materno exclusivo (AME) e quatro associavam o aleitamento à fórmula infantil (FI). No momento da segunda visita, dois bebês estavam em AME, três estavam em AM associado à FI e uma das crianças já havia completado seis meses de vida, tendo iniciado a alimentação complementar (AC).

O bebê B7 apresentou o menor peso ao nascer e o maior tempo de internação na unidade neonatal, recebendo alta com uso exclusivo da FI e mantendo esta até a segunda visita, realizada quando ele tinha quatro meses. No sexto mês de vida, a FI foi substituída por leite de vaca e iniciou-se a AC. Vale ressaltar que este bebê foi o que permaneceu por mais tempo com percentis abaixo de três, e que somente aos 10 meses de idade corrigida (um ano de vida) alcançou as curvas de normalidade.

Com um ano de vida, um bebê ainda recebia leite materno, enquanto quatro recebiam leite de vaca e dois mantinham o uso da FI.

Todas as crianças, em algum momento durante o primeiro ano de vida, apresentaram percentil de crescimento abaixo de três, fato que foi mais frequente nos percentis de peso e comprimento e no período da segunda visita.

Cabe salientar que os dois bebês que tiveram seus percentis calculados na primeira visita após a alta hospitalar apresentaram a maioria dos percentis inferior ao esperado, tendo completado 40 semanas de idade corrigida há poucos dias, o que, em tese, justifica ou permite o ocorrido (percentil menor que três).

            Aos sete meses de idade corrigida o bebê B1 apresentou percentil menor que três tanto para peso quanto para comprimento. Já aos nove meses de idade corrigida estes pencertis melhoraram consideravelmente, entretanto o percentil do IMC passou a menor que três, o que pode ser justificado pela discrepância entre os percentis de peso e comprimento no mesmo período (15 e 97 respectivamente). Cabe salientar que esse bebê recebeu alta hospitalar com peso de 1.715g e idade corrigida de 34 semanas e dois dias, o que podemos considerar um período sensível para o estabelecimento efetivo do aleitamento materno no domicílio, devido à possibilidade de insegurança materna e também à incapacidade de coordenação plena da sucção, deglutição e respiração, o que, a longo prazo, pode ter interferido em seu crescimento. Não obstante, esse bebê foi um dos que passaram do AM associado à FI ao AME, e daí então para a utilização de AC, sendo o único a permanecer em AM ainda com um ano de vida. Cabe ressaltar a importância de a família, neste período, não utilizar mais o AM como a principal forma de alimentação, oferecendo AC completa para suprir as necessidades nutricionais da criança. 

Discussão

O processo de crescimento é um dos mais vulneráveis às condições de nascimento e aos fatores socioambientais, como a alimentação, higiene, saneamento básico e acesso ao atendimento à saúde. Tratando-se de bebês com características anatomofisiólogicas singulares relacionadas ao MBP ao nascer, o acompanhamento do crescimento desses bebês mostra-se imprescindível para a melhor compreensão desse processo, assim como para os diagnósticos de alterações nutricionais e distúrbios do crescimento que possam repercutir negativamente na saúde da criança (13).

A alta hospitalar de bebês considerados de risco que permaneceram internados em unidades neonatais tem sido recomendada assim que sejam atendidos os seguintes critérios: ganho de peso contínuo, estabilidade fisiológica para manutenção da temperatura corporal em ambientes abertos e para alimentação oral plena, vínculo efetivo entre pais e bebês, preparo da família para realizar os cuidados no domicílio e a existência do acompanhamento ambulatorial e/ou domiciliar frequente nos primeiros dias após a alta, para garantir o ganho de peso adequado do bebê e o apoio a essas famílias (14).

Estudos indicam que os prematuros nascidos com MBP geralmente atendem aos requisitos para condição de alta por volta da 35ª à 37ª semana de idade gestacional corrigida (IGc), e os nascidos com peso menor que 1.000g estão prontos para a alta entre a 37ª e a 42ª semana de IGc (15). Tal afirmação aproxima-se dos resultados obtidos neste estudo, no qual três bebês, com peso de nascimento entre 1310g e 1470g, receberam alta hospitalar entre a 35ª e a 37ª semana de IGc, e os que nasceram com peso entre 995g e 1255g receberam alta entre a 38ª e 42ª semana de IGc.

A alta precoce é um recurso eficiente não apenas para o bebê, mas também para a redução de custos institucionais e governamentais ao permanecer menos tempo internado; entretanto, o sucesso desta conduta somente é possível caso o bebê esteja saudável e seus pais estejam motivados e apresentem as competências necessárias para o cuidado domiciliar (15).

Ainda assim, cabe lembrar que o olhar atento à criança nascida prematura e com MBP não deve restringir-se à hospitalização e ao processo de alta. Essas crianças caracterizam-se como uma população de maior risco para morbimortalidade e necessitam de acompanhamento extra-hospitalar especializado, mesmo que na alta tenham atendido a todos os critérios recomendados (16).

Os períodos de investigação deste estudo contemplaram momentos importantes do primeiro ano de vida da criança, como: os primeiros dias após a alta hospitalar, em que a família e o bebê precisam se adaptar a uma nova rotina de cuidados e afazeres; o terceiro mês de vida, quando há risco de desmame precoce e introdução inadequada de outros alimentos (17); o sexto mês de vida, quando deve ser iniciada a alimentação complementar; e o momento dos doze meses, quando se espera o alcance do crescimento e desenvolvimento mais próximo do ideal e a alimentação plena e adequada, igual à da família (8). Entretanto, apesar de o Ministério da Saúde recomendar pelo menos uma VD na primeira semana após a chegada do bebê ao domicílio, e, caso o RN tenha sido classificado como de risco, que esta visita aconteça nos primeiros três dias após a alta hospitalar (18), as famílias estudadas não receberam nenhum tipo de acompanhamento, de modo que apenas três bebês receberam visita do profissional da saúde da unidade básica no período da segunda visita, o que corrobora com a conclusão de outros autores sobre o apontamento de falhas e fragilidades no acompanhamento de saúde desses bebês, trazendo insatisfação inclusive para as famílias (19,20).

Entre os bebês pesquisados, dois necessitaram de reinternações ao longo do primeiro ano de vida. Ambos apresentaram injúrias respiratórias, sendo que 50% de suas internações deveram-se a essas causas. O nascimento prematuro e o MBP estão diretamente relacionados à maior probabilidade de reinternação, principalmente por afecções do trato respiratório, consequentes das alterações pulmonares adquiridas devido à prematuridade (16). Essas morbidades, em longo prazo, podem interferir diretamente nas condições de saúde das crianças, comprometendo sua qualidade de vida (2).

Além de constituírem-se num grupo de maior risco para morbidades, crianças nascidas prematuras e com MBP geralmente são pequenas em peso e estatura, apresentando crescimento compensatório tardio, atingindo os percentis de normalidade nas curvas de referência entre dois e três anos de idade (9). O crescimento compensatório (catch up) é caracterizado por uma velocidade acelerada no crescimento que ocorre após um período de crescimento lento ou ausente, o que permite que nascidos pré-termo, que apresentam peso, comprimento e perímetro cefálico abaixo do percentil mínimo de normalidade nas curvas de crescimento pós-natal, consigam equiparar o seu crescimento ao de lactentes nascidos a termo nos primeiros anos de vida (9). Nos resultados desta pesquisa cinco bebês apresentaram percentis de peso e estatura abaixo de três no momento da segunda visita, realizada em períodos correspondentes a três a seis meses de vida.

O atraso no crescimento e desenvolvimento está diretamente relacionado ao início da alimentação após o nascimento. Embora seja uma conduta frequentemente utilizada nessa população, devido às terapêuticas necessárias logo no início da vida, o retardo no início da alimentação ou o uso de nutrição parenteral durante a hospitalização diminuem a absorção de proteínas, causando desnutrição precoce em um momento crítico da vida do bebê prematuro de MBP (3,1). Essa desnutrição pode ser prolongada, estando diretamente relacionada com déficits de crescimento em longo prazo.

Neste contexto, o incentivo à prática do aleitamento materno torna-se uma das prioridades, já que esta prática está relacionada ao crescimento e desenvolvimento adequados, constituindo-se em fonte de alimentação ideal. O aleitamento materno deve ser praticado exclusivamente durante os seis primeiros meses de vida da criança, para então se introduzirem alimentos complementares simultaneamente à continuidade do AM até os dois anos (21).

Tratando-se de crianças nascidas com MBP, manter a produção láctea materna durante o longo período de internação do bebê tem sido um desafio enfrentado pela equipe, pois, mesmo a mãe seguindo as orientações recebidas para manutenção da lactação, muitas vezes esta não consegue evitar a diminuição da produção do leite (22). Considera-se a ausência da sucção do recém-nascido ao peito como principal razão para a diminuição da lactação, além do cansaço físico e da insegurança por parte da mãe diante da hospitalização do bebê (22). Além disso, as mães demonstram preocupação e sentem-se cada vez mais impotentes ao observar a diminuição do volume de leite. Atribuem esse contexto às condições físicas do filho e também a seu próprio estado físico e emocional, fatores que contribuem para agravar sua produção láctea (23). Neste contexto, vale lembrar que para essas mães obterem sucesso na manutenção da lactação durante o período de hospitalização na unidade neonatal é preciso que elas se sintam seguras e tenham orientação e apoio da família e dos profissionais de saúde (23).

  Apesar dos esforços em manter o AME, sabe-se que muitos prematuros recebem alta hospitalar com prescrição de fórmulas especiais de leite de vaca, devido às dificuldades encontradas durante o processo da amamentação (24). Neste estudo seis bebês estavam recebendo FI nos primeiros dias após a alta, sendo que um deles não recebeu leite materno em nenhum momento após a alta hospitalar. O leite materno oferece proteção extra ao bebê nascido pré-termo e lhe dá maiores chances de alcançar o crescimento e desenvolvimento normais (24). Para tanto, é importante que a equipe de saúde esteja preparada para apoiar, incentivar e assistir a prática do AM, especialmente após a alta, já que a mãe estará distante do apoio e do suporte oferecidos à díade mãe-filho no âmbito hospitalar (22).

No momento da segunda visita, seis bebês estavam em AM, que se reduziu para três na terceira visita e apenas um na quarta visita (um ano de idade). Cabe ressaltar que este último foi o bebê que recebeu alta com 1.715g, em AM associado à FI, passando para AME e tornando-se o único a receber leite materno aos 12 meses de vida. Este fato sugere que, embora a prática de AM em bebês nascidos com MBP seja difícil de ser iniciada e mantida, é possível de ser realizada, conferindo em fator especial de atenção na assistência de enfermagem. 

Implicações para a enfermagem

As crianças avaliadas neste estudo, embora tenham apresentado déficits de crescimento em algum momento de seu primeiro ano de vida, evoluíram para a normalidade, apresentando percentis adequados no final do período da pesquisa.

As reinternações, embora em parte sejam justificadas pela fragilidade da população em estudo, também são merecedoras de atenção e reflexão sobre o cuidado domiciliar prestado pela família e pela equipe de enfermagem, pois 50% delas foram intercorrências evitáveis se atendidas precocemente (encarceramento de hérnia inguinal e broncoaspiração), indicando a necessidade de ações educativas continuadas, de orientação e esclarecimento às famílias, de modo a capacitá-las para o cuidado no domicílio.

Embora o aleitamento materno não tenha sido a alimentação predominante até o sexto mês de vida nos casos estudados, deve-se considerar as dificuldades que envolvem amamentar os bebês nascidos com MBP, devido a várias limitações, como a manutenção da lactação materna por meio de ordenha e as próprias restrições do bebê, que podem influenciar no estabelecimento da amamentação e contribuem como fatores desestimulantes para as mães.  Não obstante, percebe-se que as mães foram orientadas durante o período de internação, já que duas delas conseguiram fazer a transição do uso de AM associado à FI utilizada na alta para o AME registrado na segunda visita. Nas unidades neonatais a orientação sobre a amamentação fica sob a responsabilidade da equipe de enfermagem, que deve apoiar e incentivar as mães, sempre respeitando suas dificuldades.

O nascimento prematuro é um problema de saúde pública, já que é responsável por contribuir para o aumento do índice de mortalidade infantil, sendo este um importante marcador para avaliar a qualidade da assistência à saúde.  Dessa maneira, garantir sua sobrevivência no ambiente intra-hospitalar não é suficiente. Por se tratar de uma população de alto risco para morbimortalidade, é necessário que esses bebês e suas famílias encontrem suporte nos serviços de atenção primária após a alta hospitalar. Salientamos que o acompanhamento adequado do crescimento e desenvolvimento de bebês egressos das unidades neonatais, principalmente no seu primeiro ano de vida, propicia a detecção precoce de problemas passíveis de intervenção pela equipe de saúde. 

Referências

1.        Oliveira AG, Siqueira PP, Abreu, LCde. Cuidados Nutricionais no Recém-nascido de Muito Baixo Peso. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum. 2008; 18(2): 148-154.

2.        Tronchin DMR, Tsunechiro MA. Prematuros de muito baixo peso: do nascimento ao primeiro ano de vida. Rev Gauch Enferm. 2007; 28(1): 79-88.

3. Gianini NM, Vieira AA, Moreira MEL. Avaliação dos fatores associados ao estado nutricional na idade corrigida de termo em recém-nascidos de muito baixo peso. J Pediat. 2005; 81:34-40.

4. Spyrides MHC, Struchiner CJ, Barbosa MTS, Kac G. Efeito das práticas alimentares sobre o crescimento infantil. Rev Bras Saude Mater Infant. 2005;  5(2): 145-153.

5. Schlindwein CF. Curvas de crescimento de pré-termos de muito baixo peso adequados e pequenos para a idade gestacional nos dois primeiros anos de vida. [dissertação][Porto Alegre]; Faculdade de Medicina/UFRS; 2008. 67f.

6. Viera C, Mello D, Oliveira B. The follow-up of the family of the premature and low-birth-weight infant discharged from the NICU: a literature review. Online Brazilian Journal of Nursing [serial on the Internet]. 2008 October 13; [Cited 2010 June 7]; 7(3). Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/1724

7. Niklasson A, Wikland KA. Continuous growth reference from 24th week of gestation of 24 months by gender. BMC Pediatrics [serial on the Internet]. 2008 February. [Cited 2010 September 18]; 8(8). Available from: http://www.biomedcentral.com/1471-2431/8/8

8. Brasil. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Gerência de Saúde Comunitária Atenção à saúde da criança de 0 a 12 anos. Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da Conceição, 2009. 200p.

9. Rugolo, LMSS. Growth and developmental outcomes of the extremely preterm infant. J Pediatr   [serial on the Internet]. 2005  March; [Cited  2010  August 12] ;  81(1). Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572005000200013&lng=pt

10. Brasil. Data SUS. Informações de Saúde. Estatísticas Vitais. Nascidos Vivos. [online]. 2010. [Cited 2010 June 25]. Available from: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0205&VObj=http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinasc/cnv/nv

11. Guerra A. As novas curvas da OMS para a avaliação do crescimento do lactente e da Criança. Acta Pediatr Port. 2006; 37:109-12.

12. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196/96. Brasília: Ministério da Saúde; 1996.

13. Rao SC, Tompkins J. Growth curves for preterm infants. Early Human Development. 2007; 83:643–51.

14. Comité de Estudios Fetoneonatales (CEFEN). Recomendación para el alta de prematuros. Arch Argent Pediatr. 2006; 104(6):560-562.

15. Merritta TA, Pillers D, Prows SL. Early NICU discharge of very low birth weight infants: a critical review and analysis. Seminars in Neonatology 2003; 8:95–115.

16. Hayakawa LM Schmidt KT, Rosseto EG, Souza SNDH,Bengozi TL. Incidência de reinternação em prematuros com muito baixo peso nascidos em um hospital universitário. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2010; 14 (2): 324-329

17. Alvez AML, Silva EHAA, Oliveira AC. Desmame precoce em prematuros participantes do método Mãe Canguru. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2007; 12(1): 23-8.

18. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2005:80-88.

19. Santander CA, Macon SS, Lopes MCL. Acompanhamento dos recém nascidos de risco de uma Unidade Básica de Saúde de Maringá-PR. Rev RENE. 2010; 11(1): 114-124.

20. Vieira CS, Mello DF. O seguimento da saúde da criança pré-termo e de baixo peso egressa da terapia intensiva neonatal.Texto Contexto Enferm. 2009; 18(1): 74-82.

21. Vivancos RBZ, Leite AM, Furtado MCC, Góes FSN, Haas VJ, Scochi CGS. Alimentação do recém-nascido após alta hospitalar de uma Instituição Amiga da Criança. Acta Paul Enferm. 2008; 21(3): 439-43.

22. Gomes J, Rossetto E, Souza S, Scochi C. The prevalence of breastfeeding in prematures with very low birth weight – a systematic review. Online Brazilian Journal of Nursing [serial on the Internet]. 2009 May 25; [Cited 2010 September 18]; 8(2). Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/2159

23. Silva RV, Silva IA. A vivência de mães de recém-nascidos prematuros no processo de lactação e amamentação. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2009; 13(1): 108-115.

24. Scochi CGS, Ferreira FY, Góes FSN, Fujinaga CI, Ferecini GG, Leite AM. Alimentação láctea e prevalência do aleitamento materno em prematuros durante a internação em um  hospital amigo da criança de Ribeirão Preto – SP, Brasil. Cienc Cuid Saude. 2008; 7(2):145-54.

 

Contribuição dos autores:

Concepção e desenho: 1,2,3,4                        Análise e interpretação: 1,2,3

Escrita do artigo: 1,2,3,4                                 Revisão crítica do artigo: 1,2,4

Aprovação final do artigo: 1,2,4                      Coleta de dados: 1,2,3.

Obtenção de suporte financeiro: 4                 Pesquisa bibliográfica: 1,2,3

 

Endereço para correspondência: Anelize Helena Sassá: Rua João Dias do Nascimento, 201. Jandaia do Sul, Paraná, Brasil. CEP: 86.900-000. E-mail: anelizehs@hotmail.com